A madeira é um dos mais antigos materiais utilizados nas embalagens, devido a sua grande eficiência logística em cargas industriais de grandes volumes. A madeira é importante para garantir a correta movimentação, armazenamento e o transporte seguro dos produtos comercializados. Entretanto, o uso deste versátil material requer entendimentos relativos às normas de tratamento fitossanitário. Se sua empresa utiliza embalagens de madeira como paletes, caixas ou componentes de madeira para proteção de seus produtos, sugerimos atenção a alguns aspectos.
Atualmente o uso da madeira para fabricação das embalagens inclui fortemente questões técnicas, legais, ambientais e econômicas, seja esta embalagem preparada exclusivamente com madeira ou apenas de algumas partes desse tipo de material.
Sobre os aspectos técnicos e econômicos, o uso da madeira precisa ser dimensionado sob a ótica do custo versus benefício, já que a embalagem precisa garantir qualidade do produto da indústria até o consumidor final pelo mínimo custo possível a operação.
Dentre as questões legais e ambientais relacionadas ao uso da madeira destacam-se a geração de resíduos, o descarte, o reuso e principalmente os tratamentos fitossanitários para o uso adequado da madeira nas embalagens. Estas leis são orientadas no Brasil pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), em aderência com as necessidades do mercado destino e seu ambiente de distribuição.
Para melhor entender o uso da madeira nas atuais embalagens voltadas para o mercado nacional e internacional, apresentam-se a seguir informações que alertam como são realizados os tratamentos fitossanitários da madeira para embalagem e suas simbologias. Reconhecer estas regulamentações é muito importante para as empresas usuárias deste material, antes mesmo de se desenvolver qualquer embalagem. Estas informações, grafismos e pictogramos podem significar o sucesso ou o fracasso de uma operação comercial internacional.
De forma resumida, este artigo descreve as exigências do “Comitê Interino de Medidas Fitossanitárias”, regido pela FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação). Desde março de 2002, está disponível uma das principais normas internacionais editadas pela FAO: “Norma Internacional de Medida Fitossanitária”, conhecida como NIMF nº15. Esta norma aponta diretrizes para obter a certificação fitossanitária das embalagens, suportes e componentes de acomodação fabricados em madeira e utilizados para acondicionar produtos destinados à exportação e ao comércio internacional.
Basicamente, ao utilizar-se da madeira em estado natural como principal material na embalagem, a mesma deverá receber tratamento contra pragas quarentenárias que ao se instalem nos países-destino podem causar danos ao meio ambiente e ao ecossistema. No Brasil, as Portarias 499/99, NT. 108 e 278/04 exigem vigilância nas alfândegas, portos e fronteiras quando na entrada das embalagens de madeira, visando impedir a entrada de pragas exóticas. Os principais tratamentos da madeira exigidos pela norma NIMF 15 são:
Fumigação com Brometo de Metila (Sigla Internacional: MB)
A fumigação consiste na exposição da madeira ao gás brometo de metila nas concentrações de 80g/m² e de 48g/m² referentes à importância e a exportação dos produtos, ambos pelo tratamento de 24 horas de isolamento seguido de mais 3 horas de aeração da embalagem de madeira. Após o tratamento químico, a madeira recebe um certificado de expurgo emitido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), comprovando o exigido pela norma.
Tratamento térmico
(Sigla Internacional: HT)
O tratamento térmico deve ser progressivo e deve ser cumprido obedecendo à portaria 499/99 146/00, NT. 108, 278/04 e NIMF nº 155 que determina a exposição da madeira no mínimo por meia hora a uma temperatura de 56ºC, capaz de eliminar pragas. Duas horas após este tratamento a madeira encontra-se liberada para uso, tendo também o selo do MAPA (AQF).
As embalagens de madeira, suportes e material de acomodação que tiverem seus procedimentos de aplicação registrados junto a Coordenação de Fiscalização de Agrotóxicos, serão reconhecidas e liberadas mediante normatização específica do MAPA. É importante saber que os selos de certificação recebidos pelas embalagens submetidas aos tratamentos fitossanitários específicos devem cumprir às exigências do comitê da FAO.
Nestes selos constam informações necessárias aplicadas nas embalagens com marca internacional e seguem a ordem: sigla do país, credenciamento da empresa que realizou o tratamento na madeira e o tipo de tratamento empregado. A figura a seguir apresenta o selo internacional gravado nas embalagens de madeira:
As informações gravadas nas embalagens estão de acordo com o Comitê Interino de Medidas Fitossanitários da FAO e são entendidos conforme a seguir. É importante saber que não há especificações quanto ao tamanho da marca. O importante é que estes dados estejam legíveis e visíveis nas embalagens.
IPPC = Convenção Internacional de Proteção de Plantas;
XX = Sigla do País de acordo com as normas ISSO (Brasil é BR).
000 = Número do credenciamento da empresa que realizou o tratamento;
YY = Tipo do tratamento submetido à madeira, HT (Tratamento Térmico) e MB (Brometo de Metila).
Outros Aspectos
Entende-se que madeira bruta é o cerne do tronco da árvore, ou em grosso modo, é a parte dura, compacta e fibrosa do tronco, dos ramos e das raízes. Assim, a partir deste conceito básico, nota-se que a madeira para a embalagem é um material de alta resistência à compressão, empilhamento máximo e alta absorção dos choques recebidos no ambiente externo de distribuição a que os produtos são submetidos.
Não se pode deixar de comentar sobre embalagens fabricadas com as madeiras que passaram por processos de modificação de sua estrutura original classificadas como: madeira reconstituída em painéis de madeira de fibra (MDF, MDP, HDF e outros) e painéis de partículas (OSB, MDP e outros). Esses painéis não necessitam de tratamentos fitossanitários, onde devido ao seu processo industrial (temperatura, pressão e uso de resinas) ocorre à esterilização das partículas, fibra e lascas da madeira. Planejar a concepção ideal das embalagens é atualmente uma atividade estratégica para cada indústria. Entretanto poucas são as empresas que estão sensibilizadas a entenderem os ganhos e os impactos positivos que as embalagens podem proporcionar a operação como um todo.
A madeira é continuará a ser, seja no estado bruto ou em produtos de madeira reconstituída, um importante material para o manuseio seguro, o armazenamento e o transporte de mercadorias. Entre as principais qualidades da madeira já apresentadas, ainda se destacam sua elevada capacidade de reutilização, a logística reversa e a reciclagem.
Mesmo sem a adoção plena da engenharia reversa, a embalagem de madeira é estrategicamente uma ferramenta poderosa para redução de custos totais para escoamento da produção. Entretanto, o empresário precisa estar atento para os demais componentes que são agregados ao sistema de embalagem de seus produtos como as fitas de arqueação, as fitas adesivas plásticas e diversas cantoneiras aplicadas.
Trabalhos desenvolvidos recentemente pela CONSUFOR demonstram que a adoção de sistemas de embalagem inteligente pode reduzir significativamente os custos de produção e distribuição. Nesse sentido, o constante monitoramento das melhores práticas de mercado ajustadas às necessidades específicas de cada produto/negócio é de fundamental importância para manter a competitividade, garantindo margens de lucro que remunerem adequadamente o capital investido no negócio.
Autor: Emílio Martinez, consultor associado da CONSUFOR. Designer de Produto e Especialista em Projeto e Produção de Embalagem |