Mudanças muito rápidas estão ocorrendo no suprimento de madeira, com uma migração do hemisfério norte para hemisfério sul, devido à escassez neste primeiro e à utilização crescente de madeira oriunda de plantios em substituição às madeiras nativas.
Já é uma realidade a utilização crescente de toras de menor diâmetro e de madeiras mais jovens, havendo a busca constante de procedimentos para otimizar este processamento por diversas empresas do setor. Quanto ao mercado, a utilização de peças coladas ou reconstituídas, em substituição à madeira maciça, vem se tornando imperativo, tanto pela tecnologia desenvolvida, quanto pela escassez de madeira sólida.
Os principais direcionadores de preços e consumo para madeira de eucalipto são a ausência de defeitos, dimensões adequadas ao uso final, estabilidade do produto e a disponibilidade. As principais características desejáveis para o produto foram apontadas como a resistência mecânica, trabalhabilidade, estabilidade dimensional e aparência. A integração perfeita da cadeia produtiva madeira x processo x mercado é de extrema importância para a sustentabilidade de qualquer empreendimento industrial de base florestal. As mudanças e tendências citadas direcionam a oportunidade para a utilização de madeira oriunda de reflorestamento, principalmente o eucalipto. Para a produção de madeira para serraria, as árvores de eucalipto devem ter diâmetros avantajados e fustes longos e retos e produzirem madeira com critérios de qualidade bem definidos em questão de uniformidade, resistência, estabilidade. A idade e trabalhabilidade. A idade de corte das árvores é um dos fatores preponderantes na qualidade da madeira serrada. Não basta obter árvores de grande diâmetro, mas árvores com madeira adulta, para se garantir estabilidade e a resistência necessárias.No Brasil existe uma crença de que a madeira de eucalipto não oferece condições para o aproveitamento como madeira serrada, produção de lâminas e produtos acabados. Acreditam que as peças acabadas sofrem empenamentos e outras distorções e que o estigma de que o móvel é de eucalipto certamente causa suficiente para desvalorização do produto. Tal crença se deve, em parte, à presença de certas características desfavoráveis da madeira, tais como elevada retratabilidade, propensão ao colapso durante a secagem e à presença de tensões de crescimento, que levam a rachaduras e empenamentos. Tais características não são exclusivas do eucalipto, uma vez que a maioria das espécies nativas também apresenta problemas de processamento e unsinabilodade. A verdade é que a tamanha versatilidade escondida na madeira de eucalipto reside no tratamento adequado dispensado no processo de formação da árvore e no processamento da matéria-prima.
Os exemplos das possibilidades de uso da madeira de eucalipto em marcenaria e movelaria existem desde longa data, estendendo-se por diferentes regiões do mundo.
História
Historicamente, existem depoimentos favoráveis atribuídos aos empresários da área moveleira dos Estados Unidos, mostrando a aceitação da madeira de eucalipto naquele país, já no início do século XX.
Nos depoimentos, há referencias de que a madeira de eucalipto produziria um mobiliário comparável aquele obtido das melhores madeiras. Desde a década de 50, na Austrália, África do Sul e Argentina, são fabricados móveis com algumas espécies de eucalipto, que produzem madeiras leves, aspectos atraentes, fácil trabalhabilidade manual, mecânica e com boas características para tratamentos superficiais principalmente para colagem e polimento.
No Brasil, já existem algumas experiências, com resultados promissores. A companhia CAF Santa Bárbara, tradicional produtora de florestas e de carvão vegetal para uso siderúrgico, instalou, há alguns anos, uma unidade industrial de madeira serrada, com capacidade para 1750 m³/ mês, no município mineiro de Martinho Campos. Resultados iniciais revelaram que o faturamento com a madeira serrada de eucalipto era, no mínimo, quatro vezes maior que o obtido com seu produto tradicional, o carvão vegetal. Nova unidade industrial para madeira serrada de eucalipto já está funcionando no município de Teixeira de Freitas, no sul da Bahia, com maior capacidade instalada e dotada de equipamentos modernos.
As espécies mais utilizadas são Eucalyptus grandis e o E. cloeziana que, embora não fossem plantados para tal fim, apresentam bom desempenho nas fases de desdobro e secagem, bem como boa aceitação no mercado. O E. grandis apresenta boa aparência e fácil trabalhabilidade e características muito semelhantes ao mogno, em termos de propriedades físico-mecânicas, principalmente densidade, resistência e elasticidade. Mesmo apresentando uma densidade um pouco mais elevada, a madeira serrada de Eucalyptus cloeziana tem apresentado uma boa aceitação no mercado, com características muito próximas do ipê, peroba e pau-marfim, com elevada estabilidade dimensional e boa durabilidade natural, sendo muito resistente ao apodrecimento e ao ataque de cupim de madeira seca. Estudos preliminares revelam a potencialidade dessas duas espécies para fabricação de moveis.
A TECFLOR Industrial instalou uma grande unidade industrial para madeira serrada de eucalipto no município de Nova Viçosa, no sul da Bahia, com capacidade instalada de 75.000 m³/ano para processar a madeira de Eucayptus grandis, especialmente plantada para fins de serraria. A empresa testou mais de 50 clones de eucalipto, implantou as melhores técnicas de silvicultura e manejo e realizou inúmeros testes para melhor qualificar a madeira, diferentes usos. É sem dúvida um dos maiores empreendimentos no setor e, por certo, um dos marcos na área de produtos sólidos, oferecendo ao mercado um produto da mais alta qualidade.
Uma experiência bastante positiva é também a participação da KLABIN FLORESTAL. Através de um programa de manejo diferenciado de uma parte de suas florestas, atualmente a empresa mantém uma parceria com várias empresas que se instalaram no município-sede da empresa, Telêmaco Borba, e a KLABIN disponibiliza mensalmente, em regime sustentado, o equivalente a 1 milhão de toneladas de madeira, com idade superior a 20 anos. A madeira produzida é de Eucalyptus grandis, com excelente qualidade para serraria e laminação para serraria e laminação.
O Centro Tecnológico do Mobiliário CETEMO/SENAI instalado no município gaúcho de Bento Gonçalves, tem realizado vários trabalhos com a madeira de eucalipto, adaptando-a ao setor moveleiro, estudando-lhe o comportamento na usinagem, colagem e vários tipos de acabamento. Os resultados são extremamente animadores, principalmente em se tratando das espécies grandis, saligna, urophylla e dunnii, pela baixa densidade fácil trabalhabilidade, boa aparência, resistência, durabilidade e fácil adaptação aos processos de colagem e acaba mento superficial.
Outras empresas, centros tecnológicos, institutos de pesquisa e universidades vêm pesquisando exaustivamente as potencialidades do eucalipto como produtor de madeira e novas experiências têm sido realizados em vários cantos do País. Paulatinamente, tem-se observado uma maior oferta de madeira no mercado, cada vez mais profissionalizada, apontando para um lento crescimento de sua participação no mercado moveleiro.
A madeira de Eucalyptus grandis é uma das mais promissoras pelos seguintes motivos: a ) já possui a maior área plantada no Brasil; b) é uma espécies por demais conhecida, difundida e pesquisada; c) já apresenta uma disponibilidade imediata de florestas em idade de corte; d) é uma madeira leve, de boa resistência mecânica, capaz de receber os mais variados tipos de acabamento. A madeira de eucalipto não apresentou quaisquer problemas nos processos de colagem e pintura e é perfeitamente compatível com os produtos usuais no mercado.
Setembro/2002
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