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REVISTA DA MADEIRA - EDIÇÃO N°130 - FEVEREIRO DE 2012

Móveis & Tecnologia

Uso da computação gráfica no desenvolvimento de lay-out para marcenarias

O desenvolvimento do conhecimento humano e a evolução dos materiais colaboraram para a otimização dos processos industriais e aprimoraram as máquinas, equipamentos e ferramentas. Isso permite que as indústrias de móveis tenham uma produção adequada com condições ideais para o meio ambiente e de trabalho para os operários. Porém, essa situação ainda não ocorre para a maioria das indústrias desse ramo de atividade.

Nesta situação e na falta de difusão dos conhecimentos técnico-científicos começaram a surgir conseqüências negativas devido às ações inadequadas na produção de móveis.

Estas conseqüências negativas podem ser listadas como: acidentes de trabalhos por falta de treinamento adequado para utilização destas máquinas, problemas de saúde causados por uma postura incorreta para execução do trabalho, aumento do cansaço e insatisfação do trabalhador em função de um ambiente insalubre e mal planejado.

A partir do lay-out juntamente com o fluxo de produção de uma empresa, é possível avaliar a seqüência de ações no ambiente para se chegar ao produto final. Porém, todo esse percurso influencia diretamente no trabalhador e também na qualidade do produto final, pois o caminho para se produzir determinada peça de móvel pode ser melhorado para que o mínino de deslocamento ocorra, reduzindo assim o desgaste físico do trabalhador por movimentação das peças, evitando também acidentes.

É sabido que normalmente as atividades são exercidas com o trabalhador em pé, manuseando cargas, alimentando máquinas e depositando as peças processadas no piso das marcenarias. Conclui-se que os trabalhadores executam suas operações com uma elevada freqüência de repetições das fases do ciclo durante a jornada de trabalho, além da constante adoção de posturas incômodas, com manuseio periódico de cargas e giro constante das articulações.

Uma vez que as funções dos trabalhadores demandam grandes gastos de energia, é de suma importância adequar o seu ambiente de trabalho para que esse ambiente não contribua para seu desgaste físico e mental. Um lay-out ideal adequaria a movimentação do trabalhador no ambiente. Concomitantemente com a criação de um lay-out ideal, a criação de setores bem definidos para produção dos móveis, mapas de risco no local e sinalizações para as áreas, auxiliariam numa prevenção de acidentes e uma melhor organização do ambiente.

Muitas das empresas não possuem capital suficiente para investimentos financeiros em sua propriedade, dificultando ajustes para melhorias, sendo assim, havendo a necessidade de estudos que apontem soluções simples com o mínimo de dispêndio possível.

O ramo moveleiro brasileiro, segundo dados apresentados pela Associação Brasileira da Indústria do Mobiliário (ABIMÓVEL), é constituído predominantemente por empresas tradicionalmente familiares e de capital nacional, com cerca de 13.500 empresas formais, a maioria com menos de dez empregados.

O estudo do lay-out é de fundamental importância para assegurar perfeito entrosamento interno e funcionamento harmônico do ambiente. Um ambiente de trabalho disposto de forma ideal garante a estética do local e um fluxo racional do processo.

Na maioria das vezes, quando se compara o ambiente de trabalho, das marcenarias, com as Normas Regulamentadoras do Ministério do Trabalho e Emprego, verifica-se que em muitos casos existem diversas inadequações podendo afetar muito a saúde e a segurança do trabalhador. A falta de informação dos funcionários e dos proprietários, as necessidades constantes de aumento de produtividade e de redução de custos e as rápidas e constantes mudanças na Legislação são as principais causas da falta de adequação às normas.

Sendo assim, teve como objetivo focar no lay-out das máquinas, pois seria de grande valia para a otimização dos espaços encontrados melhorando assim a movimentação dos operários no ambiente. O estudo beneficiará tanto o trabalhador quando o empregador, uma vez que irá valorizar a saúde física do trabalhador e não acarretará em licenças médicas.

Tendo isto em mente e utilizando-se das Normas regulamentadoras, é possível adequar os postos de trabalho com intuito de evitar problemas para o empregado e para o empregador. Quanto mais se ajustar o homem ao seu ambiente de trabalho, menores serão os problemas gerados por essa interação

Portanto, o estudo do trabalho em indústrias fabricantes de móveis e a conseqüente aplicação prática de seus resultados podem levar a condições mais seguras e saudáveis no ambiente de trabalho, melhorando sensivelmente a adaptação da atividade à pessoa que a realiza e proporcionando-lhe um trabalho com maior conforto, bem-estar, produtividade e qualidade.

Métodos

O estudo realizou, ao todo, 14 levantamentos, sendo 8 pertencentes às indústrias de Cruzília/MG e 6 indústrias moveleiras pertencentes à cidade de Lavras – MG, selecionadas aleatoriamente a partir de um banco de dados. Cada empresa foi caracterizada de acordo com os levantamentos qualitativos e quantitativos. Foram utilizadas máquinas fotográficas para obtenção de vídeos e fotos das operações realizadas no fluxo de produção, e trena para dimensionamento dos postos de trabalhos e das máquinas envolvidas no processo de fabricação de móveis, a fim de produzir uma planta baixa das empresas avaliadas.

O fluxo de produção, caminhamento dos operadores e do produto na marcenaria, foi verificado e anotado a partir de observações no local e por informações dadas pelos proprietários e funcionários das empresas.

Incorporando estes dados coletadas, foi possível criar o lay-out individual utilizando o software AutoCAD 2010®. Com o embasamento técnico, somando as NR’s específicas para tal empreendimento e as informações coletadas e agrupadas, foi feita uma análise crítica e assim, foi criado o lay-out “ideal” para cada indústria moveleira, respeitando o fluxo de produção e restrições de cada estabelecimento.

Como resultado foram constatadas várias inadequações nas indústrias moveleiras das duas cidades estudadas no tocante à disposição das máquinas em relação ao espaço físico e ao fluxo de produção de cada empresa. Das empresas avaliadas, a maioria era tradicionalmente familiar e de capital nacional, onde o local de trabalho não era adequado para as atividades exercidas. O ambiente físico aloca o maquinário sem nenhum planejamento.

De acordo com a NR 12 – Máquinas e Equipamentos que comenta sobre instalações e áreas de trabalho, cita que são necessários espaços adequados entre máquina e área de circulação.

“As áreas de circulação e os espaços em torno de máquinas e equipamentos devem ser dimensionados de forma que o material, os trabalhadores e os transportadores mecanizados possam movimentar-se com segurança” – NR 12 .

Do mesmo modo que o local de trabalho não possui uma harmonia ajustada para alocação do maquinário, este também não possui local próprio para depósito de matéria¬ prima, e muito menos para os resíduos. Estes muitas vezes são deixados próximos as máquinas que os deram origem, aumentando a falta de organização e principalmente diminuindo o espaço de transição do trabalhador de uma máquina para outra .

Observando a falta de organização e a fim de promover uma maior harmonia no ambiente, foi proposto a colocação de sinalizações no local, advertindo e orientando os trabalhadores no ambiente, bem como a especificação de setores de acordo com a matéria prima e produção de cada empresa.

A ausência de setores específicos é bem nítida, uma vez que em nenhuma das indústrias foi verificado um local adequado para alimentação. Os banheiros, quando não são utilizados como depósito, encontram-se inapropriada conforme NR 24 – Condições Sanitárias e de Conforto nos Locais de Trabalho, a qual estabelece os aspectos mínimos de higiene e de conforto nas instalações sanitárias,vestiários e refeitórios.

Na Figura , é apresentado um lay-out de produção, contendo o fluxo de produção a partir dos dados obtidos. Será apresentado apenas 1 exemplo por considerará-lo um modelo de estudo.

Nesse caso existem dois processos de produção. O primeiro é para produzir móveis para sala e quartos e segue a seqüência

1 : Entrada de matéria-prima, depósito, 5 – Esquadrejadeira,

2 – Plaina, 14 – Coladeira de Borda, depois monta o material e deposita para despache. Para produção de móveis de cozinha, confere na seqüência 2 : Entrada de matéria¬prima, depósito, 2 – Esquadrejadeira,

3 – Bancada Montagem,

4 – Bancada Limpeza, depósito e despache.

A Figura anexa apresenta o lay-out “ideal” que foi gerado com o auxilio do AutoCAD 2010® com o novo fluxo de produção e melhor disposição das máquinas utilizadas no processo.


F É apresentado o lay-out elaborado para o caso exemplo acima citado.

Neste novo lay-out, propôs-se um ambiente harmônico de acordo com a necessidade real. Algumas máquinas encontram-se fora do fluxo de produção, devido ao uso assíduo de madeira MDF (“Medium Density Fiberboard”). Isto devido a dificuldade de obtenção de madeira maciça.

Assim sendo, nesse novo contexto, tem-se dividido o local em dois setores (I e II), sendo o primeiro para produção de móveis para armário e quartos, e o segundo setor produzindo móveis para cozinha em geral. Criaram-se setores próprios para deposição de matéria prima inicial e produto final.

Algumas máquinas estão fora do fluxo de produção por conta do material utilizado ser MDF. Este tipo de matéria prima não necessita passar pelas máquinas que a madeira maciça utilizava. Esse ajuste permitiu maior espaço para a utilização das máquinas realmente úteis para a produção. Estas máquinas inutilizadas poderiam ser vendidas para obter novas aquisições e melhorar a produção.

Como conclusão, espera-se que estes ajustes tragam benefícios para as marcenarias, tais como, diminuição de deslocamento dos trabalhadores evitando acidentes, melhoria no deslocamento de peças, melhor iluminância no ambiente e otimização do espaço existente.

Importante lembrar que esses simples ajustes de posicionamento tiveram baixos custos, com pequenas adequações no processo existente. Este fato viabiliza projetos desta natureza, uma vez que a aplicação de grande quantidade de recursos é vista como a grande dificuldade para melhoria na produção.

Os ajustes só serão incorporados na indústria caso o proprietário acate as observações e indicações feitas pelo estudo, para assim, trazer os benefícios esperados.

Assim, existe também a necessidade da conscientização dos empresários e trabalhadores da indústria moveleira para a mudança de situações prejudiciais observadas, como ingestão de alimentos nos ambientes de trabalho, falta de asseio, falta de higiene nos banheiros, vestiários e refeitórios, além da falta de programa de manutenção predial.

Este trabalho servirá de base para novos estudos para a adequação mais especializada criando-se mapas de risco, bem como PPRA de acordo com a NR 9 – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais.

Autores:

Douglas Alvarenga Botrel (douglasbotrel@yahoo.com.br) -IEF/MG; José Reinaldo Moreira da Silva (jreinaldo@dcf.ufla.br) -DCF/UFLA