Recentemente um estudo do Ministério da Alemanha do Meio Ambiente retratou que o fornecimento de energia global para a produção industrial de bens tem como base a dependência no uso dos combustíveis fósseis e no carvão onde a combustão energética contribui para o aumento na concentração de gases perniciosos ao efeito estufa, o aumento acentuado na temperatura global e o esgotamento ambiental.
O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) confirma que as temperaturas médias globais têm aumentado durante os últimos 1000 anos: a maioria das mudanças aconteceram no século XX com a industrialização e o aumento acentuado da população mundial. Em 1905, quando a atividade industrial era menor, a temperatura média do planeta era de 13,78 ° C. Hoje, está em torno de 14,50° C. Até o fim do século XXI, vai crescer para algo entre 16,50 e 19° C. As mudanças climáticas já se impõem como um dos principais desafios mundiais do século XXI.
Precisamos com urgência reduzir a dependência dos combustíveis fósseis e das emissões do dióxido de carbono. Caso contrário, teremos danos irreversíveis para a humanidade como o aumento do nível do mar causador de inundações como a que aconteceram recentemente em Santa Catarina, de erosão nas comunidades costeiras como no Rio de Janeiro, aumento na temperatura com secas mais intensas e furações, e a redução da produtividade em regiões agrícolas. Problemas que convergem para uma solução sustentável com a produção e o uso das energias renováveis como a eólica, solar, geotérmica, hidráulica, ondas e mares e bioenergia e biomassa. Além de uma redução significativa nas emissões de CO2, o uso de energias renováveis ajudam em atender a diversidade de combustíveis como o etanol do Brasil, uma maior segurança energética e das metas de crescimento econômico. Padrões de energia renovável como a bioenergia e a biomassa oferecem uma inteligente solução climática acessível, com um histórico comprovado de benefícios sociais, econômicos e ambientais.
Prevendo os problemas energéticos do futuro, os maiores líderes mundiais se pronunciaram acerca da importância da produção e do uso da biomassa para a geração de energia. O Presidente dos Estados Unidos Barack Obama declarou que “nós sabemos que o país que desenvolver uma energia limpa, renovável, vai liderar o século 21”. Em sentido similar o Presidente Hu Jintao da segunda econômica mundial, a China retratou que “a energia da biomassa se tornou a quarta fonte de energia mais importante do mundo e cabe a China integrar-se ao desenvolvimento essa energia.“
Somando-se aos pronunciamentos dos líderes das duas maiores economias mundiais, a Agência Internacional de Energia apontou que a demanda global de energia será de 16,5 bilhões de tep em 2030, permanecendo-se o cenário atual de políticas de energia. Em uma perspectiva de controle das emissões de GEEs, toma-se como referencial a estabilização da concentração de CO2 atmosférico em 450 ppm, a base energética renovável passaria para 33% da oferta mundial de energia, em 2030.
Recomenda-se que as indústrias venham em utilizar mais a biomassa para atender à demanda de energia térmica. Eles também podem ser exportadores líquidos de combustíveis em excesso, calor e eletricidade para sistemas de abastecimento adjacente. Energias Renováveis podem ajudar a acelerar o acesso à energia, particularmente para os 1,4 bilhões de pessoas sem acesso à eletricidade.
Segundo a Diretiva 2001/77/EC da União Européia, relativa à promoção da eletricidade produzida a partir de fontes de energia renováveis, biomassa representa: “a fração biodegradável de produtos e resíduos da agricultura , floresta e indústrias conexas, bem como a fração biodegradável dos resíduos industriais e urbanos”.
O termo biomassa inclui assim uma variedade de fontes, além da madeira, dos resíduos do comércio e exploração da madeira, indústrias de mobiliário, conta também com os produtos resultantes de indústrias de energia.
O potencial da biomassa mundial pode ser suficiente para atender a demanda de energia global em 2050.
POTENCIAL
Não há problemas técnicos na mudança da matriz energética dos combustíveis fósseis para biomassa. Na última década, o número de países que exploram biomassa para o fornecimento de energia tem aumentado e o uso mundial de biomassa para energia dobrou nos últimos 40 anos. O potencial futuro para a energia da biomassa depende da disponibilidade de terra. Atualmente, a quantidade de terra dedicada ao cultivo de biomassa energética é de apenas 25 milhões de hectares ou 0,19% da área terrestre. O Brasil desponta com o maior potencial (fontes de recursos e matéria-prima) de desenvolvimento de projetos sustentáveis de produção de biomassa.
O Brasil possui a matriz energética mais renovável do mundo industrializado com 46,4% de sua produção proveniente de fontes como recursos hídricos, biomassa e etanol. As usinas hidrelétricas são responsáveis pela geração de mais de 75% da eletricidade do País. A demanda por energia no Brasil deverá crescer em média anual de 5,2% até 2018, chegando a 681,7 mil gigawatts-hora e um forte crescimento do consumo de eletricidade a partir de 2013, amparado nas excelentes perspectivas de crescimento para a economia brasileira no mesmo período e com a forte expansão da demanda. A bioenergia é produzida a partir de uma variedade de fontes de biomassa, incluindo resíduos florestais, agrícolas, industriais e da pecuária; resíduos sólidos urbanos e orgânicos e de plantações florestais e culturas energéticas
Assim sendo, a biomassa residual (florestal, industrial ou agrícola) deve ser mais valorizada, pois permite a produção de energia térmica e elétrica. Esta valorização tem uma série de vantagens pois corresponde a uma redução das emissões de carbono, uma fonte de energia renovável e ainda permite uma valorização econômica de um produto.
No enquadramento florestal, a biomassa consiste na fração biodegradável dos produtos (madeireiros) e dos desperdícios de atividade florestal, desde o processo de extração florestal até a fase da industrialização. No que tange aos resíduos florestais podemos considerar todos os materiais orgânicos que sobram na floresta após a colheita como os resíduos lenhosos - sobras de madeira, com ou sem casca, os galhos grossos e finos, as folhas, os tocos, as raízes, a serapilheira e a casca.
Os resíduos florestais, obtidos a partir de um manejo correto dos projetos de reflorestamento, pode incrementar a produtividade energética futura das florestas. No caso brasileiro, estima-se que a indústria de celulose e papel gere aproximadamente 5 Mtoe de resíduos sem aproveitamento energético. Entretanto, boa parte dos resíduos permanece no campo, na forma de galhadas e restos de tronco após o corte das árvores.
Os principais resíduos da indústria madeireira são: a) a serragem, originada da operação das serras, que pode chegar a 12% do volume total de matéria-prima; b) os cepilhos ou maravalhas, gerados pelas plainas, que podem chegar a 20% do volume total de matéria-prima, nas indústrias de beneficiamento; c) a lenha ou cavacos, composta por costaneiras, aparas, refilos, cascas e outros, que pode chegar a 50% do volume total de matéria-prima, nas serrarias e laminadoras. O desperdício no setor madeireiro ainda é muito grande, apesar dos avanços tecnológicos. Estima-se que do volume total de uma tora, seja aproveitado cerca de 40% a 60%,significando que a cada 10 árvores cortadas, apenas 5 serão aproveitadas comercialmente.
A Associação Brasileira das Indústrias de Biomassa e Energia Renovável desenvolveu o Atlas de Biomassa Residual do Brasil. Temos um potencial de resíduos florestais de 157.992.556 m³. Em comparativo (TJ) para a geração de energia térmica temos 1.244.253 TJ o suficiente para atender toda a demanda interna de energia. Se fossemos comparar com o uso de fontes não renováveis, evitaria o consumo de carvão em 56.877.331 m³ e produziria 71.096.664 ton. de pellets ou biomassa e estaria evitando a emissão de 189.591.060 ton. de CO2.
Resíduos na Extração Florestal. Em casos de colheitas de florestas de segunda ou terceira rotação, se o manejo das brotações não foi adequado, fica muito difícil o corte da árvore na posição a mais baixa possível. Se for com base na produção útil de madeira comercial colhida teremos 5,29% de perda no processo de extração. Essas quantidades todas foram medidas e os valores médios expressos em m³ sólido de resíduos lenhosos por hectare. Os resultados estão a seguir exemplificados: Galhos grossos (acima de 2 cm): 3,05 m³/ha . Madeira com casca de ponteiros com diâmetro abaixo de 7 cm: 8,7 m³/há. Árvores finas: 4,7 m³/há. Madeira esquecida no mato: 1,6 m³/ha. Madeira perdida no toco, pois a média de 7,5 cm não foi seguida: 0,63 m³/ha.
Resíduos em processo de madeira serrada, compensados e mdf. Segundo os dados da Associação Brasileira das Indústrias de Madeira Processada Mecanicamente as perdas no processo de transformação da tora com casca em lâminas verdes de pinus envolvem o descascamento da tora (14%), lâminas de refugo (28%) e rolete (14%). Tora com Casca de 10 m³ passando para o processo de retirada de casca perde 1,4 m³ de casca. Passando para a fase de lâmina verde transforma em resíduo a lâmina refugo onde perde mais 2,4 m³ e o rolete que consome mais 1,2 m³. Na fase da lâmina seca temos a perda ou transformação de resíduos no refino 0,6 m³ e na lâmina refugo 0,1m³. Na fase final de lâmina acabada para o compensado lixado temos uma nova perda de 0,04 m³ no pó de lixa. Portanto, no uso de uma tora com casca de pinus de 10 m³ temos na fase final do compensado lixado um produto com 3,76 m³ constituindo um fator elevado de perda no processo produtivo de lâminas e compensados de pinus. Na produção de compensados em 2009 o Brasil atingiu o patamar de 7.1215.000 m³. Em consonância aos dados acima (FAO 43,5%, perda média de 56,5% equivalente a 0,565 m³ de resíduo) deve ter consumido para o processo industrial de compensados o total aproximado de toras 16.600.000 m³ gerando um desperdício e resíduos de 9.385.000 m³ (perda residual no processo de madeira serrada).
Resíduos do Processo Industrial da Madeira. A produção nacional da madeira em tora totalizou 122.159.595 m³, sendo 87,5% proveniente de florestas cultivadas e 12,5% coletada em vegetações nativas. A produção de madeira na atividade extrativista (15.248.187 m³) foi 7,9% maior que a de 2008. Em 2009, foram produzidas no total 82.850.417 m³ de lenha, 1,5% a menos que em 2008, e 5.018.271 toneladas de carvão vegetal, produção 19,0% menor que a de 2008.
Autor:
Celso Oliveira, Presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Biomassa e Energia Renovável. Consultor no Desenvolvimento de Projetos Industriais de Bio Wood Pellets. Diretor da Brasil Biomassa e Energia Renovável e da sociedade Luso-Brasileira European Energy SRL. |