A construção civil tem se mostrado um grande e atrativo mercado para o setor da madeira, após as limitações impostas pela crise econômica internacional, a partir de 2008. Vários segmentos são beneficiados pelo aquecimento da construção civil no mercado interno, incluindo chapas de compensado, madeira serrada, portas, pisos, esquadrias. Com demanda controlada e capacidade produtiva adequada, aposta do setor é que preços dos materiais se mantenham estáveis em 2012
Diferente dos demais custos da construção civil, como a mão de obra que está cada vez mais cara, os preços dos insumos se mantêm num patamar inferior e não têm preocupado os construtores. Prova disso é a variação do item materiais e equipamentos do INCC (Índice Nacional de Custo da Construção), que registrou, no ano passado, alta de 4,94%, resultado abaixo do próprio INCC geral (6,56%) e da mão de obra (8,10%).
Este panorama deve se manter nos próximos seis ou 12 meses em razão, principalmente, da capacidade produtiva, que tem sido satisfatória, conforme observa o consultor do setor da construção, Melvyn Fox . Segundo ele os custos dos produtos têm ficado abaixo da inflação. Isso ocorre porque a demanda vem sendo atendida pela produção, que ganhou aportes nos últimos meses.
Os custos dos materiais de construção são formados, basicamente, pelo preço de suas matérias-primas, pelos fatores econômicos como demanda e mercado externo, e pela capacidade de produção da indústria. O gerente de orçamentos da construtora Sinco, Luiz Fernando Castilho, lembra que a recorrente falta de mão de obra capacitada também atinge as indústrias e o produtor se vê obrigado a repassar esse custo aos compradores. Boa notícia, no entanto, é o fato de a isenção do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para materiais de construção ter sido prorrogada até dezembro de 2012, o que garante que os preços dos insumos não serão impactados para cima em decorrência da volta desse tributo.
Além desses aspectos, com a recente valorização do dólar, várias indústrias de insumos se direcionaram novamente para o mercado externo, segundo Robson Colamaria, diretor-executivo da CompraCon (Associação de Compras da Construção Civil no Estado de São Paulo). Sobre as tendências de comportamento dos preços, o diretor afirma que "o setor espera um aumento em ritmo menos acelerado, pois o mercado parece ter chegado a um patamar de custo de metro quadrado construído incompatível com o que o consumidor ou investidor estaria em condições de pagar".
Para o diretor-executivo do Sinduscon-Rio (Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado do Rio de Janeiro), Antonio Carlos Mendes Gomes, materiais como chapa de compensado, aço, concreto e vidro encontram-se sem alterações significativas. "Encontram-se perfeitamente dentro das estimativas inflacionárias atuais e, portanto, não são agentes de maior impacto para a elevação de custos", diz.
Outro fator que tem chamado a atenção do setor é a crescente importação de materiais. De 2006 a 2010, o saldo comercial entre exportações e importações de insumos passou de superávit de US$ 2,5 bilhões - resultado registrado em 2006 - para déficit de US$ 1,6 bilhão, no ano passado. E segundo a Abramat (Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção), a balança comercial fechou o ano de 2011 com déficit de R$ 2 bilhões.
"Isso é fato: a importação continuará subindo e será importante para regular nossos preços e aumentar a competitividade. No entanto, ela não é o principal fator para manter os preços baixos", explica Fox. "Ter custos baratos depende essencialmente da manutenção da produção em alta e do atendimento, na totalidade, à demanda", completa.
Custos da construção
Composto pela variação dos preços de materiais, serviços e mão de obra, o INCC-M (Índice Nacional de Custo da Construção do Mercado) tem mostrado que sua principal causa de elevação não é o custo dos insumos, mas sim o peso dos serviços e, principalmente, da mão de obra.
Segundo o superintendente-executivo da AbimcI (Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente), Jesiel Adam de Oliveira, dentro da construção civil a madeira compensada, destinada às fôrmas de concreto, é a mais importante para o setor madeireiro. "Estamos com a expectativa de que a demanda, no mercado interno, sofra queda, mas não tão acentuada", diz.
Segundo ele, o setor era, caracteristicamente, exportador. Com a crise internacional e o mercado interno ativo, a maioria dos fabricantes se voltou para o mercado nacional. Quanto às matérias-primas, ele aponta encarecimento. "Notamos que o insumo principal, a madeira, está subindo de preço, assim como a resina. E isso tem influenciado no preço final."
Ana Maria Castelo, da FGV, considera a madeira um dos itens mais complicados da cadeia, por originar vários produtos, como portas, pisos, janelas, fôrmas para construção, entre outros, que exigem a legalidade ambiental. "Isso é fundamental para a adequação dos preços", salienta.
No País, a madeira de pinho de reflorestamento está concentrada no Paraná e em Santa Catarina. No Pará, há reflorestamento de paricá. "Por uma série de razões e restrições, a madeira nativa vem diminuindo a participação no mercado", diz Oliveira. A madeira, não necessariamente, é processada perto das áreas de plantio, mas, na região Sul do País, boa parte das empresas se utiliza de florestas próprias.
No setor de acabamento, os pisos de madeira - divididos basicamente em maciços e engenheirados - são feitos em fábricas concentradas no Pará e no Mato Grosso. De acordo com o gerente-executivo da ANPM (Associação Nacional dos Produtores de Pisos de Madeira), Ariel de Andrade, a capacidade produtiva brasileira do setor é de cerca de 20 milhões de metros quadrados por ano e o setor é bastante voltado à exportação. "A tendência de demanda, principalmente no mercado interno, é de aumentar - devido ao bom momento da construção civil no Brasil. Para as exportações, a tendência é estagnação ou queda", prevê Andrade. |