A resistência da madeira, baixo peso e baixo consumo energético são propriedades essenciais. Ela é capaz de suportar sobrecargas de curta duração sem efeitos deletérios. Contrário à crença popular, grandes peças de madeira têm boa resistência ao fogo e melhor que outros materiais em condições severas de exposição ao fogo. Do ponto de vista econômico, a madeira é competitiva com outros materiais com base em custos iniciais e apresenta vantagens quando comparada ao custo a longo prazo.
A idéia equivocada de que a madeira possui uma pequena vida útil tem negligenciado o uso como material de construção. Embora a madeira seja susceptível ao apodrecimento e ataque de insetos sob algumas condições, é um material muito durável quando utilizado com tecnologia e tratamento químico, pois pode ser efetivamente protegido contra deterioração por período de 50 anos ou mais. Além disso, a madeira tratada com preservativos requer pouca manutenção e pintura.
Espécies de Pinus vêm sendo introduzidos no Brasil há mais de um século para variadas finalidades. Muitas delas foram trazidas pelos imigrantes europeus como curiosidade, para fins ornamentais e para produção de madeira. As primeiras introduções de que se tem notícia foram de Pinus canariensis, proveniente das Ilhas Canárias, no Rio Grande do Sul, em torno de 1880.
Por volta de 1936, foram iniciados os primeiros ensaios de introdução de Pinus para fins silviculturais, com espécies européias. No entanto, não houve sucesso, em decorrência da má adaptação ao nosso clima. Somente em 1948, através do Serviço Florestal do Estado de São Paulo, foram introduzidas, para ensaios, as espécies americanas conhecidas nas origens como "pinheiros amarelos" que incluem P. palustris, P. echinata, P. elliottii e P. taeda. Dentre essas, as duas últimas se destacaram pela facilidade nos tratos culturais, rápido crescimento e reprodução intensa no Sul e Sudeste do Brasil.
Desde então um grande número de espécies continuou sendo introduzido e estabelecido em experimentos no campo por agências do governo e empresas privadas, visando ao estabelecimento de plantios comerciais. A diversidade de espécies e raças geográficas testadas, provenientes não só dos Estados Unidos, mas também do México, da América Central, das ilhas caribenhas e da Ásia foi fundamental para que se pudesse traçar um perfil das características de desenvolvimento de cada espécie para viabilizar plantios comerciais nos mais variados sítios ecológicos existentes no país.
Pinus no mundo
Enquando a madeira de Pinus é utilizada intensivamente na construção de habitações unifamiliares dos EUA, Canada, Japao e países do norte europeu, as propostas brasileiras não vingam, sendo desalentados para os seus autores, pois não vêem suas expectativas serem atingidas e não são recompensados por sua pesquisa, trabalho e empenho.
A falta de tecnologia apropriada ao processo construtivo tem gerado o uso inadequado da madeira. Assim gerando ao consumidor final um olhar ruim de um material de enorme potencial.
Este quadro desanimador é decorrente essencialmente da ausência de domínio das técnicas, dos métodos e dos processos da tecnologia da madeira; um corpo normativo capaz de subsidiar o usa da madeira visando a qualidade do produto; uma industria madeireira forte; associada a tecnologia incorporada a produção florestal; recursos humanos capacitados atuando na área.
O preconceito contra a habitação de madeira é de origem fundamental cultural, em conseqüência do desconhecimento da tecnologia da madeira no Brasil. Embora algumas vantagens ditas inerentes ao material sejam utilizadas como argumentação contra os preconceitos existentes no Brasil, como a facilidade de manuseio, material proveniente de reserva renovável, grande resistência mecânica, em vista da baixa densidade, etc; estas devem ser cautelosamente utilizadas. A argumentação inconsistente contribui tanto quanto os preconceitos para a manutenção do atual estado de desenvolvimento tecnológico, pois também caracteriza o desconhecimento da tecnologia da madeira.
Pinus no Brasil
Hoje no Brasil a madeira de Pinus é considerada uma madeira de baixa resistência, porem nos últimos anos a utilização de Pinus na indústria madeireira brasileira tem sido crescente. As estimativas indicam que 35% do volume de madeira serrada produzida é formado de madeira desse gênero e no país existem, aproximadamente, 1,5 milhões de hectares de plantações. Portanto, tratam-se de espécies fundamentais para o fornecimento de matéria-prima, com destaque as Regiões Sul e Sudeste .
Apesar desta grande potencialidade, no Brasil pouco é utilizado para finalidades nobres dessa madeira por problemas de conhecimento, utilização e cultura. A floresta de Pinus é diferenciada pelo seu “multi-uso” porque, após o corte, sua madeira pode ser destinada à indústria laminadora, que a utiliza para fabricação de compensados; para industria de Madeira Laminada Colada, que utiliza para fins estruturais; para a indústria de serrados, que a transforma em madeira beneficiada ou é convertida em móveis; para a indústria de papel e celulose; para a indústria de MDF; para fins de construção civil como telhados e, mesmo o seu resíduo, tem sido aproveitado como biomassa para geração de vapor e energia.
Devido a nossa grande diversidade de organismos xilófagos em nosso pais a madeira de Pinus deve sim ser tratada e preservada para que tenha um melhor desempenho durante sua vida útil.
A preservação da madeira de Pinus, da forma como ela é praticada hoje, consiste da impregnação da madeira com substâncias tóxicas aos organismos xilófagos, a fim de que estes não possam mais utilizar como alimento para sua sobrevivência e multiplicação. Com essa pratica podemos garantir assim com a madeira de Pinus uma utilização de no mínimo de 20 anos sem ataques de organismos xilófagos.
A idade da madeira é maior que a história da humanidade. As idades da pedra, ferro e bronze são parte do progresso da humanidade, mas a madeira - uma fonte renovável - tem permanecido sempre em moda. Como material de construção, a madeira é abundante, versátil e facilmente obtida. Sem ela, a civilização como conhecemos teria sido impossível. Quase metade da área do Brasil é floresta. Se tecnologicamente manipulada e protegida de desastres naturais causados por fogo, insetos e doenças, as florestas vão durar para sempre. Conforme as árvores mais velhas são retiradas, são substituídas por árvores novas para reabastecer a oferta de madeira para as gerações futuras. O ciclo de regeneração, ou campo de sustentação, pode facilmente superar o volume que está sendo utilizado. A sua industrialização é o próximo passo para a sua melhor utilização e competem aos arquitetos, engenheiros, madeireiros e outros que trabalham com a madeira estabelecer o elo que falta entre as tecnologias avançadas no campo da construção e as madeiras cultivadas no Brasil. Essa corrente é que vai determinar realmente a tecnologia e o uso da madeira em todo seu potencial.
Autor: Carlito Calil Neto, Mestre, Engenheiro Industrial Madeireiro, Doutorado na Escola de Engenharia de São Carlos, da USP |