O Censo 2010 no Brasil revelou que o país já ultrapassou a marca dos 180 milhões de habitantes. A pesquisa, que tinha sua última edição realizada em 2000, tem o objetivo de fazer uma análise precisa das condições de vida, dimensão populacional do país, e de especificidades de consumo, para que seja possível planejar ações para atender às carências e demandas da população. Com esse mesmo objetivo, a FAO (entidade das Nações Unidas focada em florestas e agricultura) divulga a cada 5 anos o Global Forest Resources Assessment, que aponta a situação atual e tendências em dezenas de temas, que vão da área de cobertura florestal, condições, uso, valores e processos utilizados na exploração florestal. Foram levantadas, para a edição 2010 do estudo, informações em 233 países e territórios. O trabalho, o mais abrangente em todo o mundo, aponta ainda inúmeros outros pontos de interesse do setor florestal brasileiro. Conheça, a seguir, alguns deles.
O total de florestas em todo o mundo cobre uma área de pouco mais de 4 bilhões hectares, numa média de 0.6 hectares per capita. Os cinco países com maior área de florestas são, em ordem, a Rússia, Brasil, Canadá, Estados Unidos e China que, juntos, contam com mais de 50% da área de florestas em todo o mundo. Porém, no outro lado da corda, a realidade é bem diferente. Dez países entre os pesquisados não têm nenhuma floresta e 54 deles têm florestas em menos que 10% de sua área, índices considerados baixíssimos principalmente pelas questões de biodiversidade e ecossistema.
Outro ponto que merece destaque é que as taxas de desmatamento estão diminuindo na última década. Porém, esta melhora está baseada no aumento do número de novos plantios, e não na diminuição da derrubada de florestas nativas. Os índices de derrubada ainda são preocupantes e revelam que o maior motivo para isso é a abertura de áreas para o plantio agrícola. Entre 2000 e 2010 foram convertidos cerca de 13 milhões de hectares de floresta por ano para outros usos, ou perdidos por causas naturais. Na década de 90, esse número tinha somado aos 16 milhões de hectares por ano. Brasil e Indonésia são os países que tiveram a maior perda líquida de florestas nos anos 90. Este quadro veio se revertendo desde então e, nesta última década, ambos países centraram esforços no sentido de reduzir significativamente o desmatamento e, de acordo com os números, estão atingindo esse objetivo.
Quando colocamos as áreas de reflorestamento na conta, percebe-se uma diminuição no ritmo de desmatamento. Nos anos 90, o planeta perdeu 8,3 milhões de hectares por ano. Nesta década, a redução na área de florestas caiu para 5,2 milhões de hectares por ano. Esse número ainda não é pequeno. É praticamente o tamanho de um país como a Costa Rica. Mas, em porcentagens, isso representa uma queda de cerca de 37% no desmatamento.
Perfil das florestas
As florestas nativas somam 36% do total de área de florestas em todo o mundo, mas tiveram uma redução de mais de 40 milhões de hectares desde 2000. As áreas plantadas somam 264 milhões de hectares nos cinco continentes, equivalente a 7% do total. Entre 2000 e 2010, esta classificação teve aumento de cerca de 5 milhões de hectares por ano, principalmente por causa do reflorestamento, sendo que 25% do total plantado corresponde a espécies não nativas. Os demais 57% de áreas florestais são classificados como “florestas naturalmente regeneradas”.
O aumento das áreas de reflorestamento, no entanto, não significou, neste período, maior demanda na comercialização da madeira. Prova disso é que a retirada de madeira não teve grandes variações de 2000 a 2005. Em todo o mundo, o volume total chegou aos 3,4 bilhões de metros cúbicos anuais, no período entre 2003 e 2007, semelhante aos índices registrados em 1990. O número, no entanto, considera apenas os dados de exploração legal.
Se o volume de madeira que está sendo retirada das florestas teve pouca variação, pode-se dizer praticamente o mesmo dos valores da madeira. Apesar de flutuar bastante, o montante somado pela indústria florestal em todo o mundo gira em torno dos US$100 bilhões anuais no período entre os anos de 2003 e 2007. Na análise dos últimos 20 anos, podemos dizer que a tendência foi estável nos primeiros 10 anos, com poucas alterações entre 1990 e 2000. Porém, nos anos seguintes, até 2005, a tendência de valorização ganhou força, com o aumento de cerca de 5% no valor médio anual. Agora, nestes últimos cinco anos, os valores estão voltando aos patamares anteriores, com pequenas quedas médias.
Um mercado que fatura 100 US$ bilhões por ano não poderia deixar de ser um grande empregador. A indústria florestal emprega, ao redor do mundo, mais de 10 milhões de pessoas. O número, apesar de grande, caiu cerca de 10% entre 1990 e 2005, provavelmente pelos ganhos de produtividade. Europa, Ásia Oriental e América do Norte foram as regiões com maio queda da empregabilidade no período, variando dos 15% aos 40%.
Preocupação
Outro ponto importante apontado pelo estudo é que houve um progresso significante no desenvolvimento de políticas florestais, leis e programas de conservação de florestas. Dos 233 países pesquisados, 143 têm uma declaração de política florestal e 156 têm uma lei específica sobre o assunto. E boa parte desses países fez atualizações e melhorou as regras existentes nos últimos cinco anos. Cerca de 75% do total de florestas existentes em todo o mundo são hoje protegidas por leis ou regras de conservação.
A responsabilidade com as florestas tem sido tema recente de debates mundiais, e traz consigo outros assuntos relevantes para o futuro do planeta, como o crédito de carbono, biomassa e ecossistemas. Com esse foco, o estudo revela um mercado com tamanho bastante grande. Estimativas apontam que as florestas do mundo armazenam 289 gigatoneladas (Gt) de carbono somente em sua biomassa. No período de 2005 a 2010, o cálculo aponta para a queda de 0,5 GT de biomassa por ano, principalmente por causa da redução de área de florestas em todo o mundo. Mesmo assim, as necessidades de exploração responsável das matas em todo o mundo apontam para valores cada vez mais controlados.
Avaliando o desempenho do setor florestal mundial por continentes, é possível dizer que a América do Sul sofreu a maior perda de volume de florestas entre 2000 e 2010. Ao todo, a região perdeu 4 milhões de hectares por ano, principalmente por causa de desmatamentos no Brasil. Na seqüência, a África teve sua área de matas reduzida em 3,4 milhões de hectares por ano, enquanto que a Oceania perdeu 700 mil hectares por ano e a Ásia viu sua área reduzida em 600 mil hectares por ano. Nas Américas do Norte e Central, o volume de florestas permaneceu praticamente o mesmo entre 2000 e 2010 e, na Europa, a área continua aumentando, mas em um ritmo menos acelerado. De 1990 a 2000, o continente ganhava cerca de 900 mil hectares por ano de florestas. Nesta última década, os países do Velho Continente somaram 700 mil hectares por ano a mais de florestas.
Esta expansão da Ásia, a estabilidade das Américas do Norte e Central, e a redução no ritmo de desmatamento dos demais continentes se devem, em boa parte, aos manejo sustentável de florestas. Na África, por exemplo, o progresso por meio do manejo das florestas melhorou muito na última década, em comparação com os anos 90.
A área florestal da Ásia é cerca de 16 milhões de hectares maior em 2010 do que era em 1990, resultado de esforços em larga escala focados no reflorestamento, principalmente na China. Problemas, claro, existem. Neste período, houve redução da área de florestas nativas e aumento de ocorrências de pragas e insetos, principalmente entre 1990 e 2000. Por outro lado, como destaque positivo para a Ásia, estão o aumento de florestas direcionadas à conservação de diversidade, e a redução nas áreas de queimada.
Já para a Europa, o estudo, que lembra da importância da Rússia (detentora do maior volume de florestas em todo o mundo) para os números do continente, aponta para a estabilidade dos últimos 20 anos. Enquanto a área de florestas está expandindo com o foco no manejo sustentável, áreas ligadas à biodiversidade perderam espaço na atenção dos europeus. Os números que mais tiveram redução estão ligados à mão-de-obra e aos valores da extração de madeira da década de 90.
Nas Américas do Norte e Central, o período entre 1990 e 2010 foi marcado essencialmente pelo aumento das florestas de manejo sustentável, mesmo com dados negativos ligados a incêndios e pragas de incetos, que reduziram a empregabilidade do setor. Já na América do Sul, o progresso por meio do manejo sustentável cresce, mas ainda não domina o setor florestal do continente. As taxas de desmatamento ainda continuam a ser de grande preocupação, mesmo com os progressos atingidos principalmente nos últimos cinco anos. Por outro lado, vários pontos positivos merecem atenção, como o aumento de áreas destinadas à conservação de biodiversidade e áreas protegidas. Além disso, a área de florestas plantadas vem aumentando seu espaço e pode suprir à crescente demanda de madeira no futuro.
Na análise do Brasil, o Global Forest Resources Assessment 2010 aponta que o país, detentor da segunda maior área florestal do mundo, sofre com a falta de uma instituição nacional que centralize informações do segmento. Desta forma, há uma redução na disseminação de idéias e técnicas que poderiam incentivar o crescimento do setor florestal como todo.
As florestas plantadas no Brasil (sendo os dados de 2009 e 2010 estimativas) crescem em ritmo acelerado. As áreas cobertas com pínus e eucalipto, as duas espécies mais populares no país, passaram dos 1.769.000 hectares em 1990 para 1.923.000 em 2010, e dos 2.964.000 para 4.913.800 hectares no mesmo período, respectivamente. Na soma com todas as principais espécies plantadas, o volume de florestas no Brasil saltou dos 4.984.141 hectares para 7.417.580 este ano, crescimento de mais de 35%. |