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REVISTA DA MADEIRA - EDIÇÃO N°125 - NOVEMBRO DE 2010

Mudas

Doenças em mudas de pinus

A grande demanda por madeira de pínus na Região Sul do Brasil, no final do século 20, fez com que se intensificassem os plantios florestais dessa árvore e, conseqüentemente, houve um grande aumento na produção de mudas. Nos viveiros, sejam eles tecnificados ou não, em função das condições ambientais, podem ocorrer problemas fitossanitários, principalmente aqueles provocados por fungos fitopatogênicos. A principal doença que ocorre nos viveiros de pínus é o tombamento de mudas, entretanto, as podridões de raízes podem ocorrer. Durante um ano, o Laboratório de Fitopatologia da Embrapa Florestas, recebeu várias amostras de mudas de pínus que apresentavam sintomas de seca e encurvamento de ponteiros, que progrediam até a morte das mudas.

Esses sintomas têm preocupado os viveiristas, em função do desconhecimento do agente causal e das perdas econômicas ocorridas. Um estudo procurou-se identificar o agente causal da morte de mudas de Pinus taeda L. em viveiros.

Mudas doentes de P. taeda foram coletadas em viveiros localizados em São José dos Pinhais, PR, e Irani, SC, com sintomas típicos de seca e encurvamento de ponteiros para isolamento em meio de cultura e montagem de câmara úmida. Fragmentos de raízes com sintomas foram rapidamente imersos em álcool 70 % e depois mergulhados por 30 s em solução de hipoclorito de sódio 1 %. Em seguida, os fragmentos desinfestados foram plaqueados em meio BDA (batata-dextrose-ágar) e colocadas para incubação a temperatura ambiente de laboratório. Algumas mudas foram colocadas em câmara úmida em sacos plásticos umedecidos com água destilada esterilizada e mantidas em condições de laboratório, para estimular a esporulação do fungo presente. Após sete dias de incubação, as colônias formadas em meio BDA e as estruturas fúngicas desenvolvidas nas câmaras úmidas foram repicadas para novas placas com meio BDA para purificar os fungos presentes.

Para verificar e acompanhar detalhadamente a formação das estruturas reprodutivas do fungo, fez-se a técnica de microcultivo.

O fungo foi cultivado em discos de meio BDA, com 1,5 cm de diâmetro, colocado entre lâminas e lamínula e mantido em placas de Petri, incubado a temperatura e luminosidade ambientes. Periodicamente, foram feitas as observações microscópicas do desenvolvimento das estruturas fúngicas. Quando as estruturas reprodutivas foram visualizadas, fez-se a montagem de lâminas semi-permanentes com uma gota de lactofenol-azul de algodão 0,05 % sobre o micélio e esporos do fungo.

Para comprovar a patogenicidade dos isolados, foram utilizadas 235 mudas sadias de P. taeda, com cerca de quatro meses de idade. Dessas 139 mudas, foram inoculadas 96 por meio da imersão de raízes podadas em uma suspensão de cerca de 106 conídios/mL de um isolado de Fusarium obtido do isolamento. Mais 43 foram podadas e plantadas em substrato infestado pela rega da mesma suspensão de conídios e as 96 restantes foram podadas e imersas em água destilada esterilizada, utilizadas como tratamento controle. Após esse procedimento, as mudas foram plantadas em tubetes e mantidas em casa-de-vegetação por 60 dias e o sintoma de murcha e seca do ponteiro foi avaliado a cada dez dias.

Nas mudas em câmara úmida, surgiram colônias esbranquiçadas sobre as raízes e na região do colo, que quando observadas ao microscópio, mostraram ser estruturas típicas do gênero Fusarium. Na região do colo, apareceram massas esbranquiçadas constituídas pelos esporodóquios desse patógeno. Em meio BDA, o principal fungo isolado foi o Fusarium.

As mudas de P. taeda inoculadas apresentaram sintomas a partir de 10 dias da inoculação. Na parte aérea, ocorreu redução no crescimento da muda, descoloração das acículas para um tom verde-amarelado, seguida de murcha. Em seguida, a parte apical da muda começou a secar e curvar-se para baixo. Cerca de 60 % das mudas inoculadas por meio de imersão de raízes e 48 % das plantadas em substrato contaminado reproduziram os sintomas típicos da doença, 60 dias após a inoculação. No sistema radicular, ocorreu redução no desenvolvimento e necrose das raízes atacadas, quando comparadas com raízes de plantas sadias. Seguindo-se os postulados de Koch, o reisolamento do fungo por meio do plaqueamento de fragmentos das raízes doentes, em meio BDA, recuperou o isolado de Fusarium sp., comprovando a associação do patógeno com a doença.

As colônias de Fusarium apresentaram coloração vinácea em meio BDA, inicialmente no centro e depois tingindo todo o meio (Figura 1D), formando primeiramente microconídios, asseptados, mas ocasionalmente com um septo, hialinos, fusiformes a clavados, formados em microconidióforos simples, laterais, formados sobre a hifa aérea, podendo estar reunidos e formar uma falsa cabeça (Figura 1E). Após duas semanas foram observados os macroconídios, fusóides, freqüentemente com uma célula apical pontiaguda curva e uma célula basal pedicelada, normalmente com três a quatro septos (Figura 1F). No microcultivo, observou-se a formação dos microconídios. Não houve a formação de clamidósporos, após 30 dias de cultivo. Pelas características observadas, a espécie que mais se aproxima seria Fusarium subglutinans (Wollenw. & Reinking). Um estudo taxonômico de identificação encontra-se em andamento.

Várias espécies de Fusarium foram associados ao gênero Pinus no Brasil, principalmente com patologia de sementes e em tombamento de mudas. Homechin et al. constataram F. moniliforme, F. oxysporum e F. semitectum em lotes nacionais de sementes de P. elliottii var. elliottii e F. oxysporum em sementes de P. taeda. A partir de um teste de patogenicidade com plântulas de P. elliottii var. elliottii, esses autores verificaram somente a capacidade de F. oxysporum causar sintomas necróticos no colo e nas raízes, sem testar a patogenicidade de F. moniliforme.

Com relação aos sintomas de murcha e morte provocados por Fusarium sp. Em mudas de P. taeda, no presente estudo, sintomas similares já haviam sido registrados em mudas de P. elliottii var. elliottii por Krugner et al., porém relacionando F. oxysporum como o agente causal. O fungo desse estudo não possui as características de F. oxysporum. Assim, verificou-se a capacidade de Fusarium sp. causar podridão de raízes em mudas de P. taeda. De acordo com a literatura, postula-se que a fonte de inóculo inicial da doença possa ter se originado pela transmissão do patógeno através de sementes infestadas para o viveiro.

Autores: Albino Grigoletti Júnior - Engenheiro Agrônomo, Doutor, Pesquisador da Embrapa Florestas; Cristiane Paris - Acadêmica em Biologia, PUCPR; Celso Garcia Auer - Engenheiro Florestal, Doutor, Pesquisador da Embrapa Florestas.