Mercado interno e exportações enfrentam realidades diferentes
A indústria florestal da América Latina vem explorando seus principais diferenciais competitivos, que vão do clima, tecnologia, pesquisa e desenvolvimento, à certificação. Todas essas vantagens aliadas dão a vários países da região, mas em especial ao Brasil, uma posição de destaque. O ciclo de corte de florestas em terras brasileiras é de 7 anos, contra 25 nos Estados Unidos, ou 38 na Suécia e Finlândia. Além de produzir em tempo menor, as florestas nacionais também produzem cada vez mais. A produtividade passou dos 20 metros cúbicos em 1970 para os mais de 50 metros cúbicos atuais. O resultado desse desenvolvimento, aliado ao clima e terras favoráveis ao desenvolvimento das espécies cultivadas, é que o custo de produção é o menor em todo o mundo. Em fibras curtas, a tonelada produzida consome US$ 300, enquanto que países como Suécia, China e Estados Unidos precisam absorver valores acima dos US$ 500 por tonelada.
Além de conseguir produzir o “Bom, Bonito e Barato”, a indústria florestal conta ainda com o surgimento de novos mercados. A produção de biomassa, energia renovável e a biotecnologia, que estão diretamente ligadas às tendências de produzir e viver das próximas décadas, são uma crescente oportunidade de negócios para o setor, conforme destaca o analista chefe do setor de Papel & Celulose do Itaú Securities, Marcos Assunção, em sua palestra na 1ª Conferência da Indústria Florestal Latino Americana, realizada de 30 de setembro a 1º de outubro, em São Paulo (SP). As florestas energéticas, por exemplo, podem contar com um plantio mais adensado, com mais plantas por hectare, que podem ser colhidas em 2 ou 3 anos, além de terem IMA maior se comparado com as florestas convencionais.
Ainda, vários mercados atingidos pela indústria florestal vêm apresentando expansão de consumo nos últimos anos e, pelas perspectivas futuras, devem continuar em ritmo acelerado no futuro. A indústria de papel e celulose, por exemplo, tem um alto potencial de crescimento. O Brasil consome menos de 50 quilos per capta do produto, enquanto que em alguns países como Coréia, Japão e Suécia, o volume passa dos 200 quilos per capta. Não é a toa que a lista de empresas que estão investindo nesse segmento é grande, com várias plantas sendo planejadas e construídas para os próximos anos.
Outro segmento que vive em franca expansão é o de painéis de madeira. Desde que a primeira chapa de madeira reconstituída foi produzida, há mais de 40 anos, o segmento investe em novas linhas, plantas e, por mais que enfrente crises pontuais, segue com um potencial de crescimento sem comparação com outros países. A produção brasileira passou da marca dos pouco mais de 2 milhões e meio de metros cúbicos em 2000 para quase 6 milhões e meio este ano. E se alguém duvida do futuro deste segmento, basta lembrar que ele é o que mais abusa do crescimento de poder aquisitivo da população de baixa renda, que passa a construir novos lares, a gastar mais com sua casa, seja comprando móveis no varejo popular, ou que, numa faixa um pouco mais alta, passa a investir em pisos laminados na decoração de imóveis. Prova disso está na curva projetada de investimentos habitacionais, da Fundação Getúlio Vargas. Até 2005, os gastos com o morar cresciam de forma constante, mas lenta, oscilando na faixa dos R$ 50 bilhões por ano. A partir de 2006, com o crescimento de renda das faixas mais baixas da população, os números saltaram, superando a marca dos R$ 150 bilhões em 2010, com projeções para chegar aos R$ 450 bilhões a partir de 2020.
Exportações
Se o mercado interno se mostra atrativo para a indústria florestal, o mercado mundial ainda tenta se reencontrar depois da crise de 2008. As exportações brasileiras de produtos florestais ainda não retomaram seus índices anteriores e o cenário atual, com custos elevados gerados pela infra-estrutura de transportes do país, e com a cotação do dólar, dificultam a competitividade nacional ao redor do mundo.
As exportações de produtos florestais da América Latina, lideradas pelo Brasil, que representa 56% do total do continente, seguido pelo Chile com 27% e Argentina com 6%, vinham apresentando crescimento constante nesta década. De 2005 a 2008 as vendas externas de papel e celulose, madeira e produtos de madeira passaram dos quase US$ 12 bilhões para mais de US$ 16 bilhões. Se, por um lado, a crise internacional, que teve seu ápice no final de 2008, afetou o Brasil de forma bem mais branda do que se imaginava (com o mercado interno reagindo e sustentando as vendas de muitas empresas) as dificuldades, burocracias e os custos de quem exporta, tornam a venda internacional um negócio muito pouco ou nada lucrativo. Em 2009 os volumes de exportação latino-americanos regrediram 25%.
No Brasil, a variação negativa de 2009, dividida por tipo de produto exportado, foi bastante acentuada. A venda de madeira serrada, por exemplo, sofreu queda dos US$ 679.549.362 para US$ 398.921.676 (-41,30%), entre dezenas de outros exemplos. Do total de produtos de origem florestal exportados pelo Brasil, a queda foi dos US$ 2.759.325.324 para US$ 1.678.630.225, uma variação negativa de 39,17%.
Em 2010 a taxa mensal de exportação de madeira e produtos de madeira vem retomando parte do terreno perdido, mas ainda está bem distante dos números recordes somados em 2008 e 2007. De acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, a venda externa do segmento entre janeiro e agosto deste ano somou US$1.265.086.653 contra US$1.080.888.232 em 2009, crescimento de 17,04%. Numa visão mais próxima, é possível verificar como cada segmento está buscando soluções para a queda nas vendas internacionais. A venda de madeira compensada ou contraplacada subiu, neste mesmo período de comparação, dos US$218.321.648 para US$282.625.722 (+29,45%), madeiras e manufaturas de madeira tiveram aumento dos US$377.526.068 para US$480.583.101 (+27,30%), enquanto que as vendas de madeira serrada tiveram um aumento mais lento, subindo dos US$254.903.642 para US$268.802.492 (+5,45%).
A saída
Mesmo com todos os desafios e dificuldades que o empresário brasileiro enfrenta para buscar espaço no mercado internacional, há várias portas para quem souber investir com um foco certo, como defende Håkan Ekström, presidente da Wood Resources International, com sede em Seattle, nos Estados Unidos. Em sua palestra, nominada “Indústria Florestal da América Latina: Tendências de Exportação e Custo Competitivo das Fibras”, ele aponta que quatro grandes oportunidades de mercado devem mudar o cenário mundial da indústria florestal: uma enorme infestação nas florestas de pínus do Canadá, provocada pro uma praga; a demanda crescente de biomassa e pellets de madeira na Europa; o desequilíbrio na demanda no fornecimento de fibras na China; e o aumento nos custos de exportação da Rússia.
O problema canadense fez com que o governo local criasse o Mountain Pine Beetle Action Plan, um plano de coordenação e ação para guiar governo, comunidades, indústria e todos os envolvidos em soluções para diminuir os impactos gerados pela infestação. Entre os objetivos estão à sustentação econômica de longo prazo para a comunidade afetada e a recuperação da mata afetada, além da proteção de florestas que estão suscetíveis à epidemia, mas que ainda não foram afetadas.
A demanda crescente de biomassa e pellets de madeira em praticamente todos os países europeus, tendência que também deverá ganhar mais força em todo o mundo no futuro, abre um mercado com excelente potencial para fornecimento constante. O consumo de pellets na Suécia, por exemplo, saltou de 0,5 milhões de toneladas em 1997 para mais de 2 milhões de toneladas este ano. E as projeções indicam que o país deve consumir cerca de 2,5 milhões em 2011 e 2,7 milhões em 2012. Como oferta e demanda regem preços, o custo de produtos do segmento também cresceu nos últimos anos.
O aumento no custo de exportação da Rússia se deve à legislação local que vem aumentando a taxação do produto. Apenas como exemplo, vale citar que a tarifa de conífera saltou dos 20% em 2007 para 80% em 2009, reduzindo drasticamente a competitividade do país no exterior. As exportações de madeira russa chegaram a somar mais de 50 milhões de metros cúbicos em 2006. No ano passado, esse número caiu para pouco mais de 20 milhões de metros cúbicos, queda de cerca de 60% em apenas três anos.
Já a China abre oportunidades por um simples motivo. A indústria do país cresce num ritmo que o abastecimento do setor florestal interno não consegue suprir. As importações de produtos florestais entre 2005 e 2010 devem dobrar se confirmadas as projeções para o final desse ano. Há cinco anos elas somavam US$ 15 bilhões e podem ultrapassar a marca dos US$ 30 bilhões este ano.
Futuro é da biomassa
O mercado de biomassa deve crescer não apenas na Europa nos próximos anos, mas em todo o mundo. O Velho Continente deu um passo à frente nos investimentos na área de biomassa sólida, enquanto que Estados Unidos e Brasil focaram suas ações na geração de energia a base de etanol.
• O uso de biomassa como geração de energia na indústria deve dobrar até 2050;
• A geração de eletricidade a partir de biomassa deve crescer entre 5% e 6% até 2030;
• No Brasil, a expectativa de crescimento na participação da biomassa como fonte de energia passa dos 6% atuais para 15% até 2020.
Matéria Elaborada pela Equipe de Redação da Revista da Madeira.