Durante os últimos 10 anos, as empresas brasileiras do setor de base florestal, sustentadas no crescimento interno e nas cotações internacionais, montaram fortes estratégias com o objetivo de acompanhar o crescimento generalizado de outros setores da economia. Dentro desse contexto, a busca de uma economia de escala levou diversas empresas a aquisições e fusões com similares e também à realização de investimentos que aumentassem sua produção e, consequentemente, sua competitividade. Como resultado, o País cresceu em importância como exportador de produtos como ferro-gusa, ferroligas, aço, celulose, painéis e móveis.
A súbita mudança de ordem econômica ocorrida no cenário mundial a partir de setembro de 2008 provocou marcantes alterações na economia nacional e quebrou um ciclo de otimismo vivido pelo setor de base florestal brasileiro, especialmente nos últimos 5 anos. A área de florestas plantadas anualmente, que crescera, em média, quase 20% ao ano entre 2003 e 2008, aponta para uma queda superior 50% agora, em 2009. Um exemplo é o empreendimento de base florestal programado para Minas Gerais, com investimentos estimados em 1,2 bilhões de dólares, foi sumariamente cancelado, sem previsão de retorno, pelo menos em médio prazo.
Embora todas as atividades econômicas tenham sido afetadas pela recessão global, a indústria siderúrgica foi de início, a mais duramente castigada. Os efeitos da crise sobre as ferroligas não foram tão imediatos, mas, já agora se fazem sentir com a redução da produção e a pior das conseqüências: a perda de grande número de postos de trabalho.
Dentro de um sistema de produção integrado, a perda de mercado do produto final, seja ele ferro-gusa, ferroliga ou aço, acaba refletindo em toda a cadeia produtiva. Um forte exemplo está no mercado de carvão vegetal que atingiu um patamar superior R$ 180,00 (equivalentes a US$ 114.00) /mdc em junho e julho de 2008, e chegou em 2009, a modestos R$ 82,00, (equivalentes a US$ 36.00) /mdc. Trata-se de uma queda de 55%. Hoje já existe uma recuperação.
Os estudos de cenários futuros têm sido crescentemente utilizados na área de planejamento estratégico de pequenas e grandes empresas, por oferecer um referencial de alternativas em face das quais as decisões serão tomadas. Num cenário de crise mundial, quando aumentam as incertezas em quase todas as atividades econômicas, cresce também a necessidade de análise e reflexão sobre as perspectivas futuras de cada ramo de negócios, mesmo tendo-se em conta que o futuro é algo incerto e indeterminado. As projeções futuras baseiam-se, fundamentalmente, nas tendências históricas observadas na última década.
A siderurgia a carvão vegetal brasileira é única no mundo e, por depender da cadeia produtiva de base florestal, constitui importante fator de inclusão social na medida em que gera empregos e renda em todas as camadas sociais. Importante é também ressaltar que os benefícios da silvicultura sistematizada não se limitam apenas aos aspectos socioeconômicos. De fato, todos os vegetais em processo de crescimento retiram gás carbônico da atmosfera, porém, pelas suas dimensões, pela superfície foliar e pelo ciclo de colheita, as árvores fazem isso com particular eficiência. Num sistema de rendimento sustentável, para cada 01 hectare em processo de colheita, existem mais 06 em fase de crescimento, retirando carbono da atmosfera e amenizando as variações climáticas. O carvão vegetal é um biocombustível sólido renovável. Em tempos de efeito estufa e aquecimento global, a siderurgia a carvão vegetal deveria receber apoio irrestrito.
Na última década, o consumo de carvão atingiu seu ponto máximo em 2005, quanto foram produzidos e consumidos mais de 38 milhões de mdc(¹). São bem conhecidos os altos rendimentos alcançados pela silvicultura brasileira, no entanto, as plantações florestais homogêneas não são capazes de suprir toda a demanda das empresas, havendo um déficit anual médio de quase 50% (no mínimo 100 mil ha) que é suprido com resíduos e manejo de florestas naturais. Torna-se, portanto, necessária a implementação de medidas que incentivem a expansão dos plantios florestais de modo a suprir a crescente demanda industrial de madeira e derivados. Além da demanda evidente, é muito provável que haja também uma grande demanda reprimida, isto é, uma escassez da matéria-prima que impede o aparecimento de novas indústrias.
As plantações florestais brasileiras, notadamente aquelas que utilizam espécies arbóreas de rápido crescimento, impulsionam cadeias produtivas que agregam valores aos produtos e trazem reflexos importantes para a economia do país.
Nos últimos 5 anos, a variação do consumo anual tem sido relativamente pequena, e, mesmo com uma acentuada queda no último trimestre, em 2008 foram consumidos no país cerca de 33 milhões de mdc.
Como se observa, o consumo de material de origem nativa ainda é bastante elevado. Como têm crescido as restrições legais ao seu uso, é correto presumir que, dentro de no máximo 10 anos, somente será consumido carvão vegetal originário de florestas plantadas ou de matas naturais em regime manejo sustentável.
De acordo com os prognósticos, a produção de carvão vegetal, a partir de 2010, já terá uma boa reação e no ano seguinte, 2011, o consumo deve retornar aos níveis de 2007.
Vale ainda ressaltar que os produtos siderúrgicos brasileiros elaborados com carvão vegetal, desfrutam de ótimo conceito nos mercados mundiais. Isso significa que, tão logo haja uma retomada de crescimento, esses produtos voltarão a ter seus mercados garantidos, com as naturais tendências de crescimento em médio e longo prazos. Ademais, tanto pelo seu apelo ambiental quanto pelas suas qualidades intrínsecas, os produtos siderúrgicos brasileiros estão plenamente habilitados à conquista de novos mercados.
Minas Gerais é o estado brasileiro com maior área de florestas plantadas e consome cerca de 60% de todo o carvão vegetal produzido no país. Conforme os dados da AMS, confirmados pelo Inventário Florestal realizado pela Universidade Federal de Lavras, a área de florestas energéticas do Estado está em torno de 1.219 mil hectares, distribuídos por rotação conforme tabela.
Outros pólos como Carajás e Espírito Santo também geram uma grande demanda. Mais recente o Mato Grosso do Sul é um novo polo guseiro do Brasil. Existem, atualmente, 03 empresas funcionando naquele estado, e a capacidade instalada total é de 750.000 toneladas de ferro-gusa por ano e a demanda anual de carvão vegetal é da ordem 2.250.000 mdc. O carvão originário de resíduos naturais ainda vai continuar sendo utilizado devendo se estabilizar com um consumo de 225.000 mdc, equivalente a 10% do total. Ainda assim, para atender toda essa demanda são necessários 13.500 hectares de florestas plantadas por ano e, por conseguinte, um maciço total de 81.000 hectares, considerando-se que a 1ª rotação será colhida com uma idade de 6 anos.
As três empresas possuem juntas, 17.000 hectares de eucaliptos, havendo, portanto, um déficit total de 64.000 hectares.
As florestas energéticas existentes hoje no país não são suficientes para atender à demanda atual de carvão e menos ainda a uma expectativa de crescimento, por mais moderado que seja. Mesmo considerando-se as diferentes rotações em que se encontram os povoamentos e as variações regionais de rendimentos, o déficit de florestas energéticas no Brasil pode ser estimado em torno de 600 mil hectares.
A siderurgia a carvão vegetal constitui mais uma peculiaridade brasileira de notório significado social e ambiental. Plantar florestas significa aproveitamento de terras ociosas, combate ao aquecimento global e, sobretudo, geração de milhares de empregos num país e num mundo carente de oportunidades.
Fonte: Matéria elaborada pela equipe de redação da Revista da Madeira