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REVISTA DA MADEIRA - EDIÇÃO N°122 - JANEIRO DE 2010

Eucalipto

Comparação da qualidade da madeira de eucalipto para fins energéticos

Em decorrência da rapidez e uniformidade de crescimento, bem como da tolerância a geadas, Eucalyptus dunnii Maiden afigura-se como uma das principais espécies para o sul do Brasil, tendo-se destacado de forma generalizada nos diversos ensaios a que foi submetida, atingindo níveis de produtividade de até 109,6 m3/ha.ano, em parcelas experimentais.

Considerada de baixa durabilidade, com densidade básica ao redor de 610 kg/m3, e de qualidade inferior à de Eucalyptus saligna e E. microcorys, a madeira oriunda de povoamentos naturais tem sido utilizada para construções leves e para serraria. No Brasil, entretanto, sob condições de povoamentos implantados, sua madeira apresenta densidade básica e composição química semelhantes à de Eucalyptus grandis, com teor de lignina ligeiramente inferior, e produz celulose de boa qualidade.

Ainda que essas características silviculturais e tecnológicas qualifiquem-na como uma das mais adequadas para regiões frias, quando se considera o nível reduzido de informações disponíveis, decorrente de sua introdução relativamente recente, datada de 1964, depreende-se que algumas ações específicas de pesquisa são necessárias para a otimização do uso da espécie. Com tal propósito, o presente trabalho analisa e compara a qualidade da madeira de três procedências, como subsídio ao melhoramento de Eucalyptus dunnii, para fins energéticos.

Sob um delineamento em blocos ao acaso, compreendendo 28 repetições, instalou-se um ensaio de comparação de Eucalyptus dunnii Maiden, em Colombo, PR. As coordenadas geográficas do local do experimento são 25o20'S e 49o14'W. A altitude é de 920 m e o clima, sempre úmido, do tipo Cfb. A temperatura média do mês mais quente é inferior a 22oC e a do mês mais frio, superior a 10°C, ocorrendo mais de cinco geadas anuais. O solo, de baixa fertilidade, caracteriza-se como Cambissolo A proeminente. Sob o espaçamento de 3,0 m x 2,0 m, as parcelas constituiam-se de 25 plantas, com bordadura simples.

Após a medição de quatro blocos componentes do ensaio, aos quatro anos e meio de idade, as árvores de cada parcela foram classificadas em três classes diamétricas, tendo-se abatido uma árvore por classe, num total de doze por procedência. Discos, com cerca de 2,5cm de espessura, foram coletados na base, ao DAP e a 25, 50, 75 e 100% da altura comercial, correspondente ao diâmetro de 6,0cm, com casca.

De cada disco, foram obtidas quatro cunhas, com ângulo interno de 30°, para as análises de laboratório. Duas delas, opostas, foram utilizadas para as determinações de densidade básica, desenvolvidas pelo método da balança hidrostática. As demais cunhas, excluindo-se aquelas relativas ao DAP, foram utilizadas para formar duas amostras compostas, por árvore. A primeira amostra composta foi destinada à destilação seca da madeira e, posteriormente, à análise química imediata do carvão produzido. A segunda foi empregada para a análise do teor de lignina, segundo a Norma ABCP M 10/71, com duas repetições.

A destilação seca da madeira foi desenvolvida em forno mufla, com aquecimento elétrico. A temperatura máxima foi 500°C, com ciclo total de carbonização de três horas. A análise química imediata do carvão foi desenvolvida com duas repetições.

A densidade básica média dos discos foi calculada através da média aritmética dos valores obtidos para as respectivas cunhas.

A densidade básica média da árvore foi estimada através da média ponderada das densidades relativas às diferentes posições, utilizando-se, como fator de ponderação, o quadrado dos respectivos diâmetros. Às posições intermediárias, por representarem duas toras sucessivas, foi atribuído peso dois. A fórmula utilizada foi a seguinte:

Db=DO(dO²) + D25 (2d25²) + D50(2d50²) + D75(2d75²) + D100(d100²)
dO²+2d25²+2d50²+2d75²+d100²

Onde:

Db = densidade básica média da árvore;
D0 = densidade básica relativa à base da árvore;
D100 = densidade básica relativa a 100% da altura comercial;
d0 = diâmetro relativo à base da árvore;
d100 = diâmetro relativo a 100% da altura comercial da árvore. O delineamento estatístico utilizado foi o de blocos inteiramente casualizados, tendo-se considerado cada árvore uma repetição.

RESULTADOS

As médias obtidas para as diferentes procedências, para a densidade básica média da árvore e para o teor de lignina, encontram-se na Tabela 2. A Figura 1 mostra a variação da densidade no sentido da base para o topo, em termos médios, por procedência. Os rendimentos em carvão, obtidos através da destilação seca da madeira, assim como os teores de carbono fixo, voláteis e cinzas, obtidos na análise imediata do carvão produzido.

A análise dos resultados obtidos não revelou diferenças estatísticas significativas, entre as procedências, para as variáveis estudadas. Depreende-se, portanto, que as características ligadas à qualidade da madeira não são relevantes para a seleção de procedências, entre aquelas consideradas no presente trabalho.

Em decorrência de sua produtividade superior (203 m3 /ha, aos quatro anos e meio de idade), Urbenville - NSW afigura-se como a mais adequada para condições similares às de Colombo-PR  Moleton - NSW e Dorrigo-NSW - podem ser consideradas uma única procedência — produziram 133 e 138 m3/ha, respectivamente, também aos quatro anos e meio, sob condições experimentais.

Através da média aritmética dos resultados obtidos para as diferentes procedências, verifica-se que a espécie apresenta densidade básica inferior (0,444 g/cm3), para a bracatinga oriunda de povoamentos naturais (0,538 g/cm3), para Eucalyptus viminalis, com quatro anos de idade (0,488 g/cm3). Esperam-se, entretanto, densidades superiores em idades mais avançadas, que relatam valores da ordem de 0,517 g/cm3, para Eucalyptus dunnii, com oito anos de idade.

Observam-se, para Moleton - NSW e Dorrigo - NSW, tendências decrescentes da base até a posição relativa a 25% e, posteriormente, crescentes até o topo. Para Urbenville - NSW, a densidade básica decresceu até a posição relativa a 50% da altura comercial, atingiu o nível máximo a 75% e voltou a decrescer.

Com relação ao teor de lignina, a média estimada (22,38%) encontra-se sensivelmente próxima, para a idade de oito anos (22,60%) e, no entanto, inferior àquelas encontradas para a bracatinga (23,70%) e para Eucalyptus viminalis (26,20%). O rendimento em carvão (31,30%) foi inferior e o teor de cinzas (2,22%) superior àqueles obtidos para a bracatinga (32,29% e 1,9%, respectivamente) e para Eucalyptus viminalis (33% e 1,73%, respectivamente); o teor de carbono fixo (81,42%) mostrou-se superior ao de Eucalyptus viminalis (78,80%) e inferior ao da bracatinga (85,40%), e o teor de voláteis (15,64%) foi superior ao da bracatinga (12,70%) e inferior ao de Eucalyptus viminalis (19,50%).

À vista das considerações anteriores, depreende-se que Eucalyptus dunnii, aos quatro anos e meio de idade, produz madeira de qualidade inferior, como fonte de energia, à de Eucalyptus viminalis e de bracatinga. Entretanto, os altos níveis de produtividade observados compensam esse fato e classificam-na como uma das principais alternativas para o sul do País. É recomendável o desenvolvimento de um programa de melhoramento que compreenda a otimização de sua madeira como fonte de energia.

Autores: José Carios Duarte Pereira - Eng. Agrônomo, M.Sc., Pesquisador da EMBRAPA - Centro Nacional de Pesquisa de Florestas ; Antonio Rioyei Higa - Eng. Florestal, M.Sc., Pesquisador da EMBRAPA - Centro Nacional de Pesquisa de Florestas ; Jarbas Yukio Shimizu - Eng. Florestal, Ph.D., Pesquisador da EMBRAPA - Centro Nacional de Pesquisa de Florestas; Rosana Clara Victoria Higa - Eng. Agrônoma, B.Sc., Pesquisadora da EMBRAPA - Centro Nacional de Pesquisa de Flore