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REVISTA DA MADEIRA - EDIÇÃO N°121 - NOVEMBRO DE 2009

Agrossilvilcultura

Dividir espaço com outras culturas pode ser rentável

Os Sistemas agroflorestais podem ser definidos como a combinação de cultivos de essências florestais com culturas agrícolas anuais ou pastagem, de maneira simultânea ou seqüencial. Estes sistemas podem variar tanto em sua estrutura e função, como em suas condições sócio-econômicas e ecológicas. Quanto a estrutura esta pode variar sua composição (árvores, plantas herbáceas, animais), o arranjo espacial do componente arbóreo (densidade e distribuição das plantas), a estratificação vertical e o arranjo temporal dos componentes. No que se refere a função, esta pode ser desde a produção de bens (madeira, fruto, semente, forragem, lenha, etc.) como a de serviços a outras espécies ou ao sistema como um todo (quebra-ventos, cercas-vivas, conservação do solo). O âmbito sócio – econômico varia de acordo com o nível de utilização de insumos no manejo, intensidade ou escala do manejo e os objetivos.

Suas bases fundamentam-se na silvicultura, agricultura, zootecnia, no manejo do solo e em outras disciplinas ligadas ao uso da terra. Seus objetivos são: produção de alimento, de produtos florestais madeireiros e não madeireiros (móveis e medicamentos), produção de matéria orgânica, melhoria da paisagem, incremento da diversidade genética, conservação ambiental, formação de cercas-vivas, quebra-ventos e sombra para criação animal.

O sistema agroflorestal ou agrossilvicultural apresenta grandes vantagens em relação aos sistemas convencionais de uso da terra, pois permite maior diversidade e sustentabilidade. Do ponto de vista ecológico, a coexistência de mais de uma espécie numa mesma área permite uma melhor utilização da água e dos nutrientes. A ciclagem dos nutrientes tende a ser mais rápida e os nutrientes são melhor aproveitados pelas culturas intercalares. Do ponto de vista agronômico, deve-se levar em conta as demandas que as árvores e as culturas agrícolas detêm em termos de espaço, nutrientes e água e é necessário que se façam os cálculos de como as árvores poderiam interferir na produção agrícola. A partir dos resultados desses cálculos pode-se avaliar se o consórcio das duas espécies produz mais do que seria obtido se as duas espécies fossem cultivadas separadamente.

As espécies arbóreas, a serem utilizadas em sistemas agroflorestais, devem ter características como adaptação a solos com problemas de fertilidade, boa produtividade, capacidade de rebrota e resistência a podas e pastejo, resistência a doenças. Diversas espécies do gênero Eucalyptus apresentam grande potencial para serem utilizadas em sistemas agroflorestais principalmente em áreas de cerrado onde essas espécies tiveram uma boa adaptação. Mesmo os sistemas agroflorestais modernos, tendo incorporado diversas espécies exóticas ao ecossistema original, mantêm os padrões básicos de diversidade e complexidade.

O uso de espécies de eucalipto em sistemas agroflorestais já vem sendo feito há algum tempo. Em vários países, buscam-se programas de reflorestamento social, nos quais o eucalipto está sendo utilizado extensivamente em plantios de pequenas propriedades rurais. No Brasil, uma experiência bem sucedida é o programa adotado pela Fazenda Bom Sucesso, da Companhia Mineira de Metais, no município de Vazante. Tal experiência tem motivado uma verdadeira peregrinação de pesquisadores e empresários, e é apontada como uma inovação e revolução aos conceitos silviculturais que se tem praticado convencionalmente nas empresas florestais.

Para que se tenha sucesso nesse empreendimento, precisa-se considerar o espaçamento da espécie florestal. Nesses sistemas normalmente são usadas menores densidades de plantio e diferentes arranjos espaciais das espécies florestais em campo. Práticas de manejo em eucalipto, caracterizadas por espaçamentos iniciais largos, desbastes precoces e pesados e podas altas, revelam-se superiores aos tradicionais, com a produção de madeira de boa qualidade, com bons resultados econômicos. Além disso, permitem a penetração de altos níveis de radiação no sub-bosque, o que, por sua vez, favorece o desenvolvimento satisfatório de outras espécies, também com valor econômico, associadas.

Se a consorciação com leguminosas for cabível por vários anos, devem ser evitadas as espécies anuais que impliquem contínua movimentação do solo. Apesar destas restrições, pode-se indicar, em princípio, como mais adequada para a associação a soja comum, que favoreceu o crescimento da espécie florestal, além de proporcionar o ingresso relativo à produção de grãos. Assim, a soja pode ser indicada para consórcios agroflorestais em que se vise à cobertura e ao melhoramento do solo. Suas respostas a tecnologias de alto nível, bem como, sua eficiência na fixação de nitrogênio, são amplamente conhecidas.

Um exemplo de consórcio agroflorestal, é o plantio de arroz, utilizando-se a prática do cultivo mínimo e o plantio de soja, no segundo ano, com as correções de solo e adubações necessárias, mantendo-se os cuidados mínimos com a cultura de eucalipto. Colhida a soja, planta-se o capim-braquiária, principalmente a Brachiaria brizantha, como componente forrageiro para o gado. Quando o capim já está estabelecido, solta-se o gado em regime de recria e/ou engorda. O sistema de consórcio silvo-pastoril vai até o décimo ano, quando se procede ao corte da madeira. Após o ciclo completo de colheita, inicia-se novo ciclo, repetindo-se as culturas e os procedimentos, com o aproveitamento da brotação do eucalipto. Para tanto, retira-se o gado da área, colhe-se a madeira e aplica-se herbicida nas entrelinhas para o cultivo do arroz, soja ou outra cultura agronômica.

O desenvolvimento de sistemas agroflorestais vem despertando crescente interesse, graças principalmente aos benefícios de ordem ecológica que, a par dos de ordem econômica, podem oferecer nas regiões tropicais úmidas e nas semi-áridas, como a Amazônia e o Nordeste brasileiro. Entretanto, também nas regiões temperadas, subtropicais ou tropicais subúmidas, de tecnologia relativamente avançada, como o Sul e o Sudeste do Brasil, a aplicação daqueles sistemas pode ser desejável, tanto mais se levarmos em conta o alto grau de ocupação de suas áreas agricultáveis. Nestas condições, projetos agroflorestais em terras hoje ocupadas apenas com florestas ou apenas com lavouras e pastagens, constituem opção cabível e objetiva para se aumentar, simultaneamente, a produção de madeira e de alimentos. No plano microeconômico, beneficia-se o empresário florestal, porque com a receita produzida pelo cultivo intercalar, terá recursos para atender boa parte dos custos de implantação e manutenção inicial de seus povoamentos. O empresário agrícola e o pecuarista, por vez, além de provarem condições ambientais mais propícias para suas lavouras e criações, garantem um suprimento de madeira ou energia, para uso próprio ou para comércio.

Assim, com a adoção desse tipo de alternativa agrícola pode-se permitir aos pequenos agricultores maior flexibilidade na comercialização de seus produtos e racionalização da mão-de-obra. Porém, apesar da crescente conscientização ambiental, da escassez e conseqüente elevação dos preços dos produtos florestais, a maioria dos pequenos e médios produtores rurais ainda desconhece os benefícios e/ou vantagens comparativas dos plantios florestais.

Segundo a VCP, que possui plantios em escala comercial no Rio Grande do Sul, esse inovador modelo de produção, que possibilita ao produtor fomentado diversificar suas fontes de renda, começa a ser adotado por outras empresas que atuam no segmento de produção de celulose e papel em diversas regiões do país.

Sistemas agroflorestais

Sistemas agroflorestais ou agrossilviculturais são sistemas de produção consorciada envolvendo um componente arbóreo e um outro, que pode ser animal ou cultivo agrícola, de forma a maximizar a ação compensatória e minimizar a competição entre as espécies, com o objetivo de conciliar o aumento de produtividade e rentabilidade econômica com a proteção ambiental e a melhoria da qualidade de vida das populações rurais, promovendo, assim, o desenvolvimento sustentado.

Um Sistema Agroflorestal tem os mesmos atributos de qualquer outro sistema:

• Componentes: são os elementos físicos, biológicos e sócio-econômicos.
• Limites: definem bordas físicas: entradas (energia solar, mão-de-obra, insumos) e saídas (alimento, madeira e produtos animais), constituem a energia ou matéria trocada entre sistemas.
• Interações: são as relações entre os componentes do sistema.
• Hierarquia: indica a posição do sistema com relação a outros sistemas.

Classificação

Uma das principais características dos sistemas agroflorestais é o uso do componente arbóreo em sistemas agrícolas. Portanto, este componente é usado como referencial para a classificação dos sistemas.

O uso das árvores no sistema agrícola possibilita aumentar a diversidade dos sistemas monoculturais, controlar as condições microclimáticas para os outros componentes e melhorar ou conservar as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo. A classificação dos SAF's é feita seguindo os seguintes critérios:

Estrutural

Refere-se à composição, arranjo espacial do componente arbóreo, estratificação vertical e ao arranjo temporal dos componentes. Nos SAF's existem três grupos de componentes a serem manejados: o florestal, que pode ser representado pelas árvores, palmeiras ou outras plantas lenhosas perenes com origem florestal; o agrícola, com plantas herbáceas ou arbustivas, incluindo plantas forrageiras; e o animal, tanto de pequeno porte quanto de grande porte.

O arranjo espacial contempla a densidade de plantio e a distribuição das plantas na área. As árvores podem ser plantadas em stands densos, como no método taungya e no “home garden”, ou abertos, como no uso de árvores de sombra em pastagem.

A distribuição das árvores na área pode ser de forma misturada com os outros componentes, como nos sistemas de condução de regeneração natural da espécie florestal (sistema tradicional da bracatinga, no sul do Brasil), ou em zonas, podendo estas serem estreitas (microzonais), como é no caso do “alley cropping”, ou plantio entre fileiras de árvores, e do método taungya, ou largas (macrozonais), nos quais as árvores podem ser plantadas em fileiras, faixas ou blocos distantes uns dos outros, como nas cercas-vivas, quebra-ventos, bancos de proteína, e nos plantios de árvores em terraços para conservação de solo.

Funcional

Refere-se à principal função ou papel do componente arbóreo no sistema, que poderá ser de produção de bens (madeira, fruto, semente, forragem, lenha, etc.) ou de serviços (quebra-ventos, cercas-vivas, conservação do solo) a outras espécies ou ao sistema como um todo.

Sócio – econômico

Refere-se ao nível de utilização de insumos no manejo e intensidade ou escala do manejo e aos objetivos comerciais. Os SAF´s podem atender a diferentes escalas de produção, atingindo os níveis comerciais, intermediários e de subsistência, e podem utilizar diferentes níveis tecnológicos e de manejo, como alto, médio e baixo.

Ecológico

Refere-se às condições ambientais e de sustentabilidade ecológica dos sistemas, ao assumir que certos tipos de sistemas podem ser mais apropriados a determinadas condições ecológicas.

Fonte: Elaborada pela Equipe Jornalística da Revista da Madeira