A atividade de colheita florestal passou por um significativo processo de mecanização nas ultimas décadas. Na década de 40 praticamente não havia emprego de máquinas nas operações de colheita florestal. As operações de corte eram realizadas de forma rudimentar com uso de machado, foices e serras. A extração também se baseava em métodos rudimentares utilizando o trabalho braçal e animal. Nas décadas de 50 e 60 começaram a surgir algumas atividades mecanizadas na colheita florestal, porém, estas eram realizadas com auxílio de máquinas oriundas dos setores industrial e agrícola. Este cenário modificou-se a partir da década de 70, quando o processo de modernização das operações de colheita florestal começou a se despontar. Neste período surgiram as motosserras profissionais e outras máquinas como os skidders e os autocarregáveis.
Na década de 80 as principais inovações pertinentes à atividade de colheita florestal foram: os Feller Bunchers de disco, Skidders, Harvesters, Dellimbers, Slachers. A partir daí, o processo de mecanização avançou de forma cada vez mais crescente, tendo consolidado nos anos 90, com a abertura das importações. Neste novo cenário, surgiram máquinas com design mais ergonômico, incluindo as motosserras; tratores derrubador e acumulador; Skidder hidráulico com pinça e tratores autocarregáveis.
Atualmente, a mecanização na atividade de colheita apresenta-se o seguinte perfil: as grandes empresas que dispõem de máquinas leves, médias e pesadas, altamente sofisticadas; as pequenas empresas que normalmente empregam métodos rudimentares baseados em mão-de-obra pouco qualificada e as empresas de porte médio que utilizam maquinários pouco sofisticados e mão-de-obra especializada.
As principais máquinas utilizadas no Brasil para realização das operações de colheita florestal serão descritas a seguir.
Existe uma grande quantidade de máquinas destinada às operações de corte florestal incluindo, portanto, aquelas relacionadas aos processos de derrubada, desgalhamento, destopamento e traçamento da madeira.
Motosserra
É uma máquina portátil destina as operações de derrubada, desgalhamento, destopamento e traçamento. A sua estrutura é constituída basicamente por duas partes: o corpo, incluindo o motor, carburador e o sistema elétrico e o conjunto de corte composto pela corrente, sabre e pinhão. O corte semimecanizado apresenta alguns aspectos negativos em relação ao sistema mecanizado como, por exemplo, maiores riscos de acidentes, condições ergonômicas desfavoráveis e baixa produtividade. No que tange os aspectos positivos, podemos citar os menores custo de aquisição e manutenção em relação aos sistemas mecanizados e a capacidade de executar todas as operações de corte florestal, com o diferencial de poder atuar em áreas de difícil acesso em relação às condições topográficas.
O Harvester é uma máquina que tem capacidade de executar, simultaneamente, as operações de derrubada, desgalhamento, traçamento, descascamento e empilhamento da madeira. É composto por uma máquina base de pneus ou esteira, uma lança hidráulica e um cabeçote. O Harvester é projetado para trabalhar no sistema de toras curtas, onde normalmente o processo de extração se dá por meio do Forwarder.
Feller-Buncher
O Feller-Buncher ou trator florestal cortador-acumulador consiste de um trator de pneus ou esteira com cabeçote que realiza o corte (derrubada) e o acumulo de árvores. O cabeçote de corte pode ser de disco, sabre ou tesoura. É uma máquina projetada para trabalhar no sistema de toras compridas ou de árvores inteiras, onde normalmente o processo de extração é realizado por meio de Skidders.
É uma máquina que integra as funções do Feller- Buncher e do Harvester, realizando a derrubada de cada árvore e acumulando-as em seu cabeçote até formar um feixe. As árvores são processadas simultaneamente, isto é, elas são desgalhadas, traçadas e destopadas todas juntas. Neste tipo de máquina é mais comum a quebra de cabeçote em virtude da sobrecarga proporcionada pelo feixe de árvores destinadas ao processamento.
Delimber
É uma máquina que tem como finalidade promover o desgalhamento das árvores abatidas. O Delimber trabalha normalmente nas margens das estradas, realizando o pré-processamento das árvores arrastadas pelos Skidders, preparando, portanto, a madeira para toragem.
Processadores
Os processadores são conhecidos como máquinas que realizam a toragem da madeira. Os processadores mais comuns são a Garra traçadora e o Slacher. No caso da garra traçadora, a madeira é traçada e automaticamente empilhada, ficando preparada para o processo de carregamento. O slacher é um equipamento composto de uma grua com garra e um traçador mecânico equipado com um sistema de corte. Realiza portanto o traçamento das toras e o carregamento.
Máquinas de extração
A extração florestal refere-se a primeira movimentação da madeira, normalmente realizada do local de corte até a estrada ou um pátio temporário. A extração pode ocorrer por meio do baldeio, quando a madeira é transportada apoiada sobre uma plataforma, sem contato com o solo ou pelo arraste, onde parte ou, o todo, da carga é transportada em contato com o solo. As principais máquinas relacionadas ao processo de extração serão descritas a seguir.
Forwarder /autocarregável
Embora executem as mesmas funções, estas máquinas apresentam realidades diferentes com relação ao custo e produtividade. Os Forwarders são máquinas florestais destinadas ao baldeio, diferentemente dos autocarregáveis que são tratores agrícolas adaptados para realizar a mesma operação. Estas máquinas têm a função de promover o carregamento da madeira (toretes) dentro do talhão e o descarregamento nas margens das estradas ou pátio temporário. Como nestes casos a madeira é transportada sem contato com o solo, os danos em relação aos processos de erosão e assoreamento são menores quando comparados ao arraste com os Skidders.
Skidders
Estas máquinas têm a função de realizar a extração do feixe de toras ou de árvores, da área de corte até as margens das estradas ou pátio temporário. São projetadas, portanto, para trabalhar nos sistemas de toras compridas ou de árvores inteiras. Embora apresente desvantagem pelos danos ao solo, os Skidders apresentam um aspecto positivo em virtude do melhor rendimento em relação ao Forwarders, principalmente em condições de florestas mais produtivas.
Quanto à forma de arraste, os Skidders podem dividir em dois grupos, onde a madeira pode ser arrastada por meio de uma garra (Skidder com garra) ou através de um sistema de guincho (Skidder com cabo).
Trator agrícola acoplado a um Guincho arrastador
Este método de extração é aplicado em condições topográficas desfavoráveis. Consiste no arraste dos feixes de toretes por um meio de um guincho acoplado a tomada de potência (TDP) de um trator agrícola. Para a realização desta atividade, os operadores descem primeiramente com os cabos de aço até as pilhas de madeira onde é feito o engate. A partir daí, dá-se início à operação de guinchamento. Durante a realização desta atividade ocorrem severos danos as cepas e também ao solo.
Trator agrícola acoplado a uma carreta
O sistema é composto por um trator agrícola e uma carreta, sendo este implemento utilizado como compartimento de carga. Neste caso a operação de carregamento é realizada de forma manual, uma vez que o equipamento não apresenta gruas e lanças hidráulicas. É um método bastante comum em pequenas propriedades rurais em virtude do baixo custo.
Máquinas de carregamento/descarregamento
Nos sistemas mais rústicos, o carregamento é realizado por meio de cabos de aço acionados por tratores agrícolas ou pelo próprio veículo destinado ao transporte da carga. Este método normalmente é empregado para o carregamento de toras nativas.
O caminhão autocarregável é uma outra alternativa para realização desse processo. Realiza o carregamento dentro do talhão, o transporte da madeira e, finalmente, o descarregamento no local de consumo. É também uma alternativa para pequenos produtores que normalmente são impossibilitados de adquirirem equipamentos modernos e mais adaptados ao processo de colheita florestal.
As máquinas florestais mais utilizadas nestas operações são os carregadores florestais. Estes equipamentos podem ser caracterizados por uma máquina base, de pneus ou esteira, dotados de um braço e uma grua hidráulica para o carregamento e descarregamento da madeira.
Considerações finais
A colheita florestal por empregar uma grande quantidade de maquinários nas suas mais diversas operações, acaba apresentando um custo bastante expressivo, principalmente nas grandes empresas. Este pode representar, juntamente com a atividade de transporte florestal, mais de 50 % dos custos da madeira posto fábrica. Isto reflete a grande importância do processo de planejamento no contexto da colheita florestal. As operações que integram esta atividade devem, portanto, ser planejadas no aspecto técnico, econômico, operacional e ambiental. Dessa forma, torna-se possível adequar os modais de colheita às realidades de cada empresa, o que permite além de um processo sustentável e economicamente compatível, a manutenção de um fluxo contínuo de madeira no sentido campo-fábrica.
Autores: Luís Carlos de Freitas - Professor da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB); Carlos Cardoso Machado - Professor da Universidade Federal de Viçosa (UFV); Gilmar Correia Silva - Professor da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB)