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REVISTA DA MADEIRA - EDIÇÃO N°121 - NOVEMBRO DE 2009

Construção

Avaliação do desempenho da madeira na construção

Existe um grande interesse pelas construções em madeira, porém há um desconhecimento quanto à utilização racional da madeira como material construtivo, que pode ser fruto de processos culturais remanescentes desde a colonização. Ou seja, idéias sobre utilização, processos de produção do material, conservação e técnicas que não evoluíram na prática e principalmente no imaginário e na memória das pessoas.

De maneira geral, as construções feitas em madeira são observadas, no Brasil, com certa suspeita com relação à questão ambiental, no que se refere à utilização da madeira como matéria-prima extraída de florestas, associado ao desmatamento, incêndios e transformação de áreas em desertos e ainda com relação às características de durabilidade. Quando a madeira é utilizada de forma inadequada, devido à falta de conhecimento técnico acaba gerando construções que não atingem a vida útil esperada.

Há, ainda, questionamento a respeito do preço, qualidade e outras características peculiares do material, tais como resistência, facilidade de trabalho e manuseio, disponibilidade de mão-de-obra de projeto, execução e de serviços e manutenção, aparentemente deficientes.

Pode-se afirmar que estes aspectos não estão claramente definidos tanto para profissionais quanto para clientes e objetivou-se com este artigo mostrar algumas informações para que por meio da abordagem de sistemas possam ser tomadas decisões para dirimir e reduzir problemas e dúvidas relacionadas a esse assunto.

Desta forma, foi feita uma pesquisa cujos questionários foram direcionados para engenheiros, arquitetos, marceneiros, carpinteiros e público em geral..Embora a preocupação do arquiteto seja com o primeiro subsistema, ele não pode se separar dos problemas do construtor, dos operadores do edifício e dos usuários principalmente.

Cabe ao profissional da área de projeto o delineamento do uso da madeira com relação aos limites peculiares desse material, bem como juntamente com a definição de novos parâmetros de uso, a elaboração de uma nova cultura diretamente ligada aos novos usos e tecnologias, principalmente caracterizada pela desmistificação e rompimento com dogmas que permanecem já há muito tempo.

O escopo deste estudo foi avaliar o desempenho da madeira na construção civil, observar as características de sua utilização como material construtivo, compilando por meio de uma pesquisa de opinião, várias informações, definindo sua performance, como ela é observada e imaginada pelas pessoas, permitindo traçar um perfil desse material.

O trabalho procura analisar a possibilidade de aprimoramento dos produtos de madeira e serviços, e reforçar as possibilidades de uso desse material em todas as áreas da construção civil.

Características

Através de uma pesquisa realizada com engenheiros, arquitetos, marceneiros, carpinteiros e público em geral no setor, o custo da madeira teve 53% de indicação como sendo mais caro que outros materiais. É importante ressaltar que a madeira teve 27% de indicação contra 19% da pedra, 11% do metal e 16% da alvenaria com relação à durabilidade. A aparência pode ser o item mais importante no momento da escolha de materiais. Tem-se uma indicação de 66% para a madeira como material de melhor aparência, ou seja, mais bonito. Para reformas considerando consertos, trocas e reformulação de espaços a madeira teve indicação de 48% contra 30% da alvenaria.

Itens, tais como facilidade de revestimento sobre a superfície, facilidade de pintura, conservação do material, troca e reposição de partes, capacidade de trabalho do material (corte e maleabilidade), resistência a intempéries, resistência a fungos e insetos, resistência química (corrosão e oxidação), resistência ao fogo, disponibilidade de mão - de- obra especializada e de empresas de fornecimento e por último, durabilidade do material, tiveram indicação praticamente equilibrada, com pouca variação de porcentagem. Pode-se concluir que, para o público em geral a madeira caracteriza-se como um material semelhante aos outros materiais.

Respeito ao ambiente

O item respeito ao ambiente com apenas 12% de indicação, denota a pouca familiarização que os profissionais (engenheiros, arquitetos, marceneiros e carpinteiros questionados) têm com o assunto.

A madeira de florestamento e reflorestamento pode ser considerada como o material que mais promove o respeito ao ambiente, com o seqüestro de carbono da atmosfera e seu alto grau de sustentabilidade, levando em conta geração de empregos, aproveitamento e reciclagem de materiais e melhoramento genético de espécies com crescente aproveitamento de área e tempo de produção (manejo sustentável).

Em contraposição, o concreto e a alvenaria suprem as supostas deficiências da madeira e outros materiais quanto à segurança, com indicação de 33%, juntamente com o item durabilidade e resistência, com 32% de indicação.

A durabilidade dos materiais demonstra como os precedentes culturais influenciam na definição da performance desses materiais. A madeira teve uma média de 37 anos como tempo de duração. O concreto e alvenaria seguidos do metal tiveram 75 anos e 72 anos de duração, respectivamente. Tem-se novamente transparecendo a cultura já estabelecida sobre a durabilidade dos materiais.

Construção em madeira

O ambiente mais adequado para construção em madeira, de acordo com profissionais entrevistados, foi campo e montanha com 73%, seguido de praia com 22% e apenas 5% para área urbana.

Para o tipo de área da cidade, 80% afirmaram poder se construir em qualquer área, 13% em área nobre e 7% em áreas da periferia. A performance simbólica está invariavelmente constatada neste item. Idéias como casa de campo e casa de praia de madeira já fazem parte do imaginário geral e coletivo da cultura brasileira. Poder-se-ia com um pouco de informação estender essa abordagem a outras áreas e ambientes, abrindo o leque de opções.

Para o item construção ecologicamente correta teve-se 41% de indicação para a madeira. O concreto e a alvenaria somaram 12% e 30% respectivamente, um total de 42%. Cabe aqui fazer um aprofundamento da pesquisa para tentar entender como o concreto e a alvenaria contribuem significativamente para uma construção ecologicamente correta, fazendo questionários somente sobre este assunto, pois aparentemente existem equívocos.

Qualidade e preço

Comparando qualidade e preço que pode permitir uma avaliação do custo e benefício, têm-se os seguintes dados: observa-se que 54% dos profissionais consideram a madeira de reflorestamento mais barata e 13% consideram que tem preço igual. Porém, é significativo que 30% tenham a madeira de florestamento como uma alternativa mais cara. Em termos de qualidade, a madeira de reflorestamento está com uma boa representação. Somando 91% tem-se qualidade igual e melhor com índices de 68% e 23%, respectivamente.

Apenas 9% dos entrevistados indicaram a madeira de reflorestamento como pior que a nativa. Em questões que envolvem o conhecimento a respeito da madeira de reflorestamento, 83% dos profissionais afirmaram não saber ou não ter conhecimento sobre o processo de utilização da madeira, contra apenas 15% que afirmam conhecer esse processo.

Os entrevistados afirmam que a madeira pode ser utilizada em qualquer estilo ou nenhum estilo em particular num índice de 54%. Para o estilo rústico 37% afirmam que a madeira é o material apropriado. Novamente a performance simbólica atua no sentido de determinar parte da decisão no momento de escolha do material.

Existem diversas aplicações para a madeira quando se trata de construção. Devido a este fato, vários tipos de madeiras podem se adequar a diferentes tipos de uso. A peroba teve o maior índice de indicação, totalizando 31%, o eucalipto ficou com 26% das indicações e a madeira de pinus com 16%. As duas espécies que são largamente produzidas pelo florestamento e reflorestamento não tiveram valores significativamente altos de indicação. O item outros, com 15%, demonstram a utilização de madeiras diversas, característica da biodiversidade de nossas florestas, porém, sem um aproveitamento controlado. Nesse item foram citadas várias outras espécies de madeira.

Características dos materiais

As fases apontadas são: acessórios e acabamentos com 32%, estrutura de telhados com 31%, estruturas com 18% e forros e pisos com 11%, ficando fundações com 8% do total. Estes índices diferem enormemente dos índices indicados pelos arquitetos e engenheiros para características semelhantes.

A opinião e percepção das características por parte de prestadores de serviço nas áreas de marcenaria e carpintaria podem influenciar na tomada de decisão e na escolha de materiais.

Apesar de 95% dos entrevistados saberem a diferença entre madeira de reflorestamento e madeira nativa, apenas 48% se preocupam em se informar mais sobre o assunto, contra 38% que se interessam. Surpreende constatar que 14% das pessoas não apresentaram interesse pelo assunto. Se por um lado 76% das pessoas apontam a madeira de reflorestamento como tendo qualidade pior que a madeira nativa, contra apenas 5% indicando a madeira de reflorestamento como tendo melhor qualidade, motivo para investigação, tem-se por outro lado 85% dos mesmos profissionais indicando a madeira de reflorestamento como sendo mais barata que a nativa. Talvez a explicação do fato seja conseqüência do item questionado sobre funcionamento do processo de utilização de madeira de reflorestamento, em que 29% das pessoas têm conhecimento, e 71% dos profissionais atestam não ter conhecimento sobre o assunto, ressaltando que os preços praticados no mercado para madeira de florestamento, principalmente para a de Eucalipto, são iguais ou maiores que os das madeiras nativas.

Autores: Ricardo Pedreschi - Mestre em Engenharia Agrícola DEG/UFLA; Francisco Carlos Gomes - Professor do Departamento de Engenharia Agrícola UFLA; Lourival Marin Mendes - Professor do Departamento de Ciências Florestais UFLA