Nos últimos anos, a pressão ambiental para aproveitamento de resíduos é cada vez maior, o que vem fazendo com que inúmeros pesquisadores venham estudando a utilização destes subprodutos como forma maximizar o aproveitamento das matérias-primas. Uma das possíveis formas de aproveitamento de resíduos pode ser realizada a partir de sua adição parcial e/ou total em chapas aglomeradas. Os painéis aglomerados podem ser produzidos a partir de qualquer material ligno-celulósico que lhes confiram elevados resistência mecânica e massa específica pré-estabelecida, no entanto, a qualidade final do produto, pode ser limitada pela escolha do material.
A utilização de resíduos de madeira, como maravalha, costaneira, serragem e outros, diminuem o custo de matéria-prima e elimina o impacto ambiental que seria causado se estes resíduos fossem “atirados” ao meio ambiente. Além da madeira, outras fontes de fibras oriundas de resíduos que podem ser utilizadas são: bagaço de cana-de-açúcar, pape reciclável, palha de arroz, casca de arroz, dentre outros.
A utilização de matérias primas alternativas para a fabricação de painéis aglomerados vem ganhando destaque e, já é objeto de diversos estudos em varias partes do mundo. Uma dessas matérias-primas seria o emprego do resíduo gerado no beneficiamento de arroz. A casca de arroz é revestimento ou capa protetora formada durante o crescimento do grão, de baixa densidade e elevado volume. É um material fibroso, cujos maiores constituintes são celulose (50%), lignina (30%),e resíduos inorgânicos (20%), sendo o principal deles a sílica. Na tentativa de encontrar uma utilização para o resíduo desse produto agrícola, alguns pesquisadores investigam a possibilidade de usar a casca de arroz como matéria-prima para a produção de chapas aglomeradas.
O cultivo de arroz ocupa o segundo lugar em área plantada no mundo, ficando atrás apenas do trigo. O maior produtor é a China, seguida da Índia, Indonésia, Bangladesh, Vietnã e outros. O Brasil ocupa o décimo lugar, com cerca de 12 milhões de toneladas por ano, o que equivale a aproximadamente 2% da produção mundial. O estado do Rio Grande do Sul é responsável por mais da metade da produção nacional. O expressivo volume desse resíduo concentrado na metade Sul do Estado facilita a logística de sua utilização. Considerando que a casca, corresponde a aproximadamente 20% do peso do grão, só no RS são geradas anualmente mais de um milhão de toneladas deste resíduo. Uma fábrica de chapas aglomeradas de médio porte consome de 150 a 200 mil toneladas de matéria-prima (madeira) anualmente. Então, esse volume seria suficiente para suprir a demanda de mais de uma unidade industrial. Logo, painéis que apresentem em sua constituição casca de arroz surgem como alternativa para um dos graves problemas do setor agrícola. Por ser de difícil decomposição e pelo alto percentual de sílica que possui esse resíduo constitui um problema ambiental e de saúde pública, principalmente na Regiões onde o cultivo de arroz se faz em larga escala.
Atualmente o painel aglomerado convencional é o gênero de painéis mais produzidos no Brasil e no mundo, com a produção mundial superando os 100 milhões de metros cúbicos. O Brasil é apenas o nono na lista de principais produtores, produzindo menos de 2% do que é produzido no mundo, a qual tem como principais produtores Estados Unidos (21%), Canadá (12%) e Alemanha (11%). Mais de 95% de toda produção nacional é utilizada apenas para o abastecimento do mercado interno.Neste sentido, com a utilização do resíduo gerado no processo de beneficiamento arroz para manufatura de chapas aglomeradas, parte da utilização de madeira como matéria-prima poderia ser utilizada na produção de compostos de maior valor agregado, como compensados e OSB. Outra ponto favorável à utilização da casca de arroz esta relacionado a sua alta durabilidade natural, a que lhe é conferida principalmente pelo seu elevado teor de sílica.
No estudo, foram produzidos painéis utilizando partículas de madeira de Eucalyptus grandis com a inclusão parcial da casca de arroz em diferentes proporções, colados com as resinas Uréia-Formaldeído (UF) e Tanino-Formaldeído (TF). Para caracterizar qualitativamente os painéis produzidos, foram avaliadas as propriedades físico-mecânicas e a resistência a fungos e cupins xilófagos. Uma das principais limitações encontradas aos painéis produzidos com a inclusão da casca de arroz foi a colagem das partículas(ligação interna), a qual influi diretamente nas demais propriedades mecânicas do painel. Acredita-se que a má colagem das partículas deva estar relacionada a estrutura cilíndrica e oca da casca de arroz, que podem ter atuado como uma barreira durante a aplicação da resina, tendo por resultado uma colagem não uniforme. Entretanto, verificou-se que a utilização parcial da casca de aroz em pequenas proporções, até 10%, pode produzir painéis com características semelhantes àquelas confeccionados exclusivamente com partículas de madeira.
Autor: Rafael Rodolfo de Melo - Eng. Ftal. M.Sc. - Doutorado em Ciências Florestais pela Universidade de Brasília - DF.
Discussão retirada do trabalho de dissertação do autor, “Avaliação das propriedade físico-mecânicas e resistência a biodeteriorades de painéis aglomerados confeccionados em diferente proporções de madeira e casca de arroz”, apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Florestal da Univ. Fed. De Santa Maria- RS.