Desde a Conferência Mundial sobre Meio Ambiente tem surgido uma pressão maior da mídia, da comunidade internacional e das organizações não-governamentais (ONGs) no sentido de se buscar uma exploração mais equilibrada dos recursos ambientais. As empresas sentem a pressão para adotar uma postura socialmente responsável na condução dos seus negócios, buscando uma mudança de valores empresariais, que irão guiar as futuras estratégias.
A certificação florestal surgiu como um mecanismo a ser adotado pelas empresas, promovendo a utilização ambientalmente correta e socialmente benéfica dos recursos florestais. Aliada a estas questões, a viabilidade econômica é um ponto-chave para o uso sustentável das florestas tropicais, com vista à industrialização e comercialização dos produtos madeireiros.
Existem duas modalidades implementadas pelos sistemas de certificação (FSC ou ABNT/CERFLOR): a certificação do manejo florestal e a certificação de cadeia de custódia (CoC). No caso da certificação do manejo florestal são certificadas operações de manejo florestal que cumprem com os princípios e critérios dos sistemas de certificação.
No entanto, para conseguir atingir o consumidor, a certificação do manejo florestal requer um sistema que garanta a rastreabilidade da origem de um produto, desde a floresta certificada até o consumidor final. Este tipo de certificação é conhecido como certificação de cadeia de custódia (chain-of-custody - CoC). Para o consumidor final, a certificação florestal constitui-se numa garantia que o produto é proveniente de uma floresta que foi manejada de acordo com critérios ambientais e sociais. Atender a estes critérios pode se tornar um diferencial de mercado para muitas empresas. Adicionalmente, pode contribuir para o fortalecimento de sua imagem e se tornar um mecanismo para melhorar suas relações com as diversas partes interessadas do seu campo organizacional.
A indústria moveleira é um dos setores produtivos que tem adotado a certificação florestal nos últimos anos, mesmo que timidamente. É composta, em sua maioria, por micro e pequenas empresas e, apenas cerca de 500 empresas, podem ser enquadradas como médias e grandes. Vários fatores contribuíram para o seu desenvolvimento a partir de 1990 como a abertura da economia e a ampliação do mercado interno, além do baixo custo da madeira reflorestada.
Em relação à indústria brasileira de madeira e móveis, a certificação florestal tem representado um dos importantes gargalos para a competitividade no mercado externo, pois as exigências da certificação do manejo florestal sustentável e da origem da matéria-prima ganham espaço e criam “padrões de mercado”, como conseqüência da pressão de organizações ambientalistas e de grupos de compradores e varejistas, especialmente na Europa e nos Estados Unidos. Desta forma, a obtenção de uma certificação florestal constitui, também, um fator de competitividade para a indústria moveleira, principalmente, quando suas empresas se lançam ao mercado externo.
No geral, as empresas certificadas em cadeia de custódia superam as unidades de manejo florestal certificadas. Enquanto são 11 unidades de manejo florestal certificadas pelo ABNT/CERFLOR e 65 pelo FSC, as empresas certificadas em cadeia de custódia são 10 pelo ABNT/CERFLOR e 252 pelo FSC (dados atualizados até fevereiro de 2009). Isto indica que a mesma unidade de manejo fornece produtos a mais de um processador de matéria-prima e aos vários clientes da cadeia até chegar ao consumidor final.
Facilidades
A empresa moveleira para obter a certificação florestal deve desenvolver um sistema interno de gestão que garanta a rastreabilidade da matéria-prima certificada. Esta rastreabilidade vai da chegada da matéria-prima na empresa até à confecção do produto final e sua disponibilidade ao consumidor. O selo verde é atestado por uma certificadora (credenciada junto ao FSC ou ao ABNT/CERFLOR) após a inspeção na empresa, seguindo os requisitos exigidos pelos sistemas de certificação.
Para a maioria das empresas moveleiras, a certificação florestal é favorecida pelo fato de que grande parte de seus fornecedores principais de matéria-prima já são certificados pelo FSC. Ressalta-se que a principal matéria-prima utilizada pelas empresas moveleiras são as chapas, principalmente MDF, OSB e aglomerado.
Pelo FSC, cinco fornecedores principais da indústria moveleira são certificados, o que garante um suprimento considerável de matéria-prima certificada para as empresas moveleiras. Porém, das 20 mil empresas moveleiras que são estimadas que existam no Brasil, somente 29 estão certificadas pelo FSC, concentrando-se principalmente nos Estados da Região Sul e no Estado de São Paulo, que juntos atingem 76% das empresas moveleiras certificadas no país. Não há empresa moveleira certificada pelo sistema de certificação ABNT/CERFLOR.
A concentração das exportações de móveis brasileiros nos pólos de São Bento do Sul, em Santa Catarina, e em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, é um fator que faz com que os empresários destas regiões vejam na certificação florestal uma oportunidade de agregar a variável ambiental em seus produtos. No entanto, mesmo nestes pólos, verifica-se que o número de empresas certificadas é baixo em relação ao total.
No geral, pode-se afirmar que há um desconhecimento do que seja a certificação florestal por parte da grande maioria das empresas moveleiras brasileiras, mesmo naquelas que são exportadoras e que seriam potenciais interessadas numa certificação. Em estudo realizado no Pólo Moveleiro de Ubá, verificou-se que das 20 empresas exportadoras da época, apenas 15% conhecia o que era a certificação florestal e verificou-se que este conhecimento era apenas superficial, apesar das empresas comprarem matéria-prima que continham o selo FSC.
Enquanto empresas que necessitam de madeira maciça, como as madeireiras, por exemplo, têm dificuldade para encontrar fornecedores certificados, a indústria moveleira se dá “ao luxo” de comprar matéria-prima certificada (MDF, aglomerado, OSB, dentre outros) e não certificar sua cadeia de custódia. A perda para a indústria moveleira não é somente deixar de promover todo um sistema que se pauta por princípios ambientais e sociais, mas, sobretudo, deixar de associar sua imagem institucional a selos reconhecidos internacionalmente (FSC e ABNT/CERFLOR) e aproveitar oportunidades de mercado, principalmente no exterior.
Em estudo realizado com as empresas moveleiras certificadas do Brasil, para 67% delas a certificação florestal representava o principal fator para buscar novos mercados, como os de alguns países europeus. Uma das empresas pesquisadas na época declarou que “a certificação parece ser o caminho natural no mercado de móveis para exportação e que, em um curto espaço de tempo, deixará de ser um diferencial e passará a ser requisito para mercados mais desenvolvidos e exigentes”.
A divulgação da certificação florestal junto aos empresários das empresas moveleiras e a parceria junto aos fornecedores certificados se tornam necessárias para alavancar a certificação nesta indústria. A certificação florestal necessita entrar na pauta de assuntos estratégicos de entidades representativas do setor como a Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário (ABIMÓVEL), pois certificar as empresas moveleiras não será apenas um compromisso ambiental e social, mas também uma forma de obter bons negócios e diferenciar-se no mercado.
As empresas moveleiras podem conhecer mais da certificação florestal nos sites institucionais do FSC e do ABNT/CERFLOR ou nos sites das certificadoras credenciadas pelos sistemas de certificação (SGS, SCS, Imaflora-Smartwood, BVQI, SKAL e IMO). Podem também buscar maiores informações junto às universidades que possuem o curso de Engenharia Florestal e que efetuam pesquisas relacionadas à certificação florestal ou entrar em contato com empresas que prestam consultoria nesta área.
No que diz respeito ao consumidor brasileiro, verifica-se que não existe uma demanda por móveis certificados e, mais do que isso, há um desconhecimento sobre a certificação florestal. Desta forma, cabe às indústrias moveleiras brasileiras utilizar-se do marketing ambiental para despertar nestes consumidores um desejo de consumir de forma correta em termos ambientais e sociais. Os desafios são muitos, mas a certificação pode ser um fator de sucesso para quem se arriscar a atingir os potenciais clientes mais sensíveis à sustentabilidade.
Autores: Ricardo Ribeiro Alves - Doutorando em Ciência Florestal, - niversidade Federal de Viçosa (UFV); Laércio Antônio Gonçalves Jacovine - Professor do Departamento de Engenharia Florestal - Universidade Federal de Viçosa (UFV); Rosilene Einloft - SGS Qualifor