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REVISTA DA MADEIRA - EDIÇÃO N°116 - SETEMBRO DE 2008

Móveis & Tecnologia

Comércio mundial de móveis pode chegar a US$102 bilhões em 2008

Em 2007, as estimativas do instituto italiano de pesquisas Csil Milano, uma das principais referências no mundo em estudos e informações sobre o setor moveleiro, eram de que o comércio mundial de móveis chegaria a US$ 97 bilhões (crescimento em torno de 7%). Já para 2008, espera-se um aumento de 5,15%, de modo que o comércio mundial de mobiliário atinja US$ 102 bilhões. Os dados constam do "World Furniture Outlook 2008", o panorama mundial do setor moveleiro publicado anualmente pelo instituto, e que já está em sua oitava edição.

Um dos aspectos de destaque do Outlook deste ano, que já chamava também atenção na edição de 2007, é a crescente abertura dos mercados mundiais de móveis. "O mais importante fenômeno estrutural da década passada foi o crescimento no grau de abertura nos mercados de móveis, medido pela razão entre importação e consumo", enfatizam os técnicos do Csil Milano no relatório divulgado à imprensa. "O crescimento da razão importação/consumo foi rápido, atingindo 25% em 2001 e quase 30% em 2006. As previsões do Csil são de que nos próximos anos este crescimento se mantenha em torno de 30%".

Pela análise constante do Outlook 2008, uma conseqüência desta maior abertura dos principais mercados mundiais à importação de móveis nos últimos 10 anos é que o comércio internacional de mobiliário vem crescendo mais rapidamente que a produção mundial e até mesmo que o comércio internacional de manufaturados.

A competitividade da indústria de madeira brasileira vem se ampliando nos últimos anos. Os investimentos realizados nos anos de 1970, em ativos florestais, criaram uma sólida base para o desenvolvimento, com base em baixo custo e alta produtividade florestal. Os custos de produção no Brasil, dada elevada produtividade das florestas plantadas, situam-se bem abaixo dos concorrentes internacionais dos países desenvolvidos.

As unidades de conservação deverão alcançar 130 milhões de hectares (ha) em 2020, contra 66 milhões de ha em 2002. A maior contribuição para este crescimento virá do governo federal, que deverá duplicar suas áreas de conservação, como resultado da intensificação da política ambiental com base na preservação dos recursos florestais, com a finalidade de proteger a biodiversidade, os ecossistemas especiais e os biomas ameaçados. A maior parte dessas UCs deverá ser criada na região Amazônica, mas ao longo de toda a costa brasileira deverão ser criadas outras, de menor dimensão. A estrutura de oferta de produtos de madeira depende da disponibilidade de recursos florestais abundantes e de políticas públicas. Alguns países em desenvolvimento vêm aproveitando as oportunidades existentes no mercado internacional para se firmarem como fabricantes de produtos de madeira, tais como a Malásia, Indonésia, Nova Zelândia, Chile e Brasil.

O mercado mundial de produtos florestais é ainda muito concentrado nos países desenvolvidos, em especial nos Estados Unidos, que possui entre 25% e 30% da fabricação mundial. A China tem se destacado como um produtor emergente em vários segmentos, embora sua participação nos principais mercados da cadeia madeireira seja bem menor que em outros mercados de commodities industriais – cimento e aço, por exemplo – e continuará abaixo da participação dos Estados Unidos no futuro previsível, exceto talvez em painéis de madeira.

A madeira ainda é utilizada, principalmente, nos países em desenvolvimento e nos menos favorecidos, como matéria-prima para o aquecimento e geração de energia. Poucos países desenvolveram alternativas para o uso de florestas energéticas, como o Brasil, que utiliza eucalipto para a produção de carvão vegetal para a indústria siderúrgica. Na maioria dos casos, ainda há uma exploração extensiva de florestas nativas para a produção de lenha e carvão. China e Índia destacam-se nesse segmento, do mesmo modo que países africanos, como a Etiópia.

O comércio internacional é muito pouco expressivo, em decorrência do baixo valor agregado e à forma de utilização desse combustível. Países com tradição florestal, em regiões muito frias, tais como os escandinavos, são os principais importadores de madeira para uso energético. Entre os maiores exportadores, destacam-se fornecedores mais próximos, como os países bálticos, a Europa Central e a França.

Alguns países emergentes também têm procurado expandir sua participação nesse mercado, a exemplo da Malásia e da Nova Zelândia. Outros países dessas regiões seguem os mesmos passos dos já citados, registrando exportações crescentes, tais como: China e Indonésia, na Ásia, e Austrália e Papua Nova Guiné, na Oceania. Na América do Sul, Uruguai e Chile possuem exportações com alguma expressão. No caso do Brasil, cujas exportações são principalmente de madeira tropical, a tendência é de queda ou estagnação, em decorrência do combate ao desmatamento da Amazônia.

Quanto às perspectivas do mercado mundial para os próximos anos, pode-se afirmar que a concentração empresarial da produção e do comércio internacional deve se aprofundar, principalmente nos segmentos mais sofisticados da cadeia produtiva, tais como painéis tipo MDF (Medium Density Fiberboard, em inglês), celulose e papel, móveis e produtos de maior valor agregado de madeira.

Perfil do setor

Segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário, existem mais de 16.000 empresas do setor moveleiro espalhados pelos estados brasileiros empregando aproximadamente 206.000 pessoas. Essas empresas localizam-se em sua maioria na região centro-sul do país, constituindo, em alguns estados, pólos moveleiros, a exemplo de Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul; São Bento do Sul, em Santa Catarina; Arapongas no Paraná; Mirassol, Votuporanga e São Paulo, em São Paulo; Ubá em Minas Gerais, Linhares no Espírito Santo. Dentre as empresas do setor, 60% referem-se a móveis residenciais, 25% os móveis de escritório e 15% a móveis institucionais, escolares, médico-hospitalares, móveis para restaurantes, hotéis e similares. São empresas familiares, tradicionais e na grande maioria de capital inteiramente nacional.

As exportações brasileiras de móveis fecharam o ano de 2007 com um aumento de 2,7% em comparação ao ano anterior. As vendas externas do setor totalizaram US$ 994.298.446.

Os Estados Unidos comprou o equivalente a US$ 246.054.061, queda de 17,5%, sendo responsáveis por 25% do total das vendas externas dos móveis brasileiros. Além dos Estados Unidos, as exportações brasileiras se concentram basicamente entre França e Reino Unido.

O Rio Grande do Sul, segundo maior estado exportador do setor, com 29% do total exportado pelo país, vendeu de janeiro a dezembro US$ 284.103.667, 6,8% a mais em comparação a igual período de 2006. O Reino Unido responsável por 14% das vendas externas do móvel gaúcho comprou U$$ 40.279.630, um aumento de 4,9% no acumulado do ano. As vendas para os Estados Unidos totalizaram nos doze meses de 2007, U$$ 30.621.005, queda de 30,6% ante 2006.

Santa Catarina, responsável por 37% das vendas externas de móveis encerrou o ano em leve declínio de 0,9%. São Paulo teve um aumento de 9,2% em suas exportações de móveis.

Paraná apresentou índice positivo em 2007, 5,2%; Bahia fechou em queda de 8,3%; Minas Gerais vem se destacando, encerrou 2007 com um aumento de 18,4% nas exportações do setor moveleiro.

Já no mercado interno, o desempenho foi melhor, com crescimento em torno de 12,6%, puxado pelo aquecimento da construção civil.

São Paulo possui a maior concentração de empresas moveleiras do país com mais de 3700 empresas, seguido pelo Rio Grande do Sul com 2443 e Paraná com 2133.

Investimentos

Referência para muitos países da América do Sul como Equador, Uruguai, Argentina e Chile, o setor de base florestal brasileiro deve crescer a passos largos nos próximos anos. Essa é a expectativa dos empresários baseado em um estudo que revela a possibilidade de investimentos na ordem de US$ 20 bilhões de dólares até 2015.

A indústria de base florestal, principalmente a vinculada aos setores de papel e celulose, siderurgia e de painéis reconstituídos (aglomerado, MDF e OSB), tem buscado nos últimos anos o aumento de escala de seus negócios.

Para o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente (Abimci), Antônio Rubens Camilotti, o momento é favorável para os investidores, já que a procura por produtos de madeira provenientes de florestas plantadas é alta. "Os empresários estão atentos a esse novo momento e estão planejando seus negócios em longo prazo", afirma Camilotti.

Estudos apontam que aspectos como o crescimento dos mercados doméstico e internacional, bem como vantagens competitivas do setor de base florestal brasileiro, frente aos competidores internacionais, têm criado um ambiente altamente favorável para a expansão das florestas plantadas no Brasil. Atualmente, 80% da madeira consumida para fins industriais provém de plantações florestais.

Os investimentos no Brasil condizem com a análise do especialista em mercados internacionais de produtos florestais, o americano Bernard Fuller, presidente da Cambridge Forest Products Associates (CFPA). Para ele, o setor imobiliário norte-americano deve se recuperar até 2009. "Essa recuperação irá restabelecer a rentabilidade, assim várias novas produções e consumos recordes serão atingidos em 2010-11", afirmou Fuller em artigo publicado na revista Wood Based Panel.

Crise nos EUA

O colapso no mercado imobiliário americano está levando a uma revolução no mercado de madeiras. Segundo levantamento da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e da Comissão Econômica da ONU para a Europa, a queda na construção civil nos Estados Unidos e mesmo em algumas partes da Europa está reduzindo as exportações de madeira do Brasil e de outros países latino-americanos.

Para o Brasil, o mercado chinês e a demanda interna incentivada pelo setor imobiliário são os fatores que estão permitindo que a produção de madeira tropical continue crescendo.

Segundo os dados coletados pela FAO, 2007 registrou a maior queda em construções de casas nos Estados Unidos. Os impactos no setor de madeira foram sentidos imediatamente. "Empresas em todo o mundo fecharam suas usinas temporariamente ou reduziram horas trabalhadas", afirmou Ed Pepke, autor do relatório.

Segundo o texto, produtores de madeira da América Latina foram obrigados a cortar a produção que era destinada ao mercado americano. "Alguns estão esperando para ver como ficará o mercado para decidir se fecham de vez seus negócios ou esperam uma retomada do crescimento da economia americana para voltar a exportar", diz o levantamento. Para Pepke, as exportações do Brasil estariam entre as mais afetadas.

A queda não ocorre por acaso. Nos Estados Unidos, 2,2 milhões de casas foram construídas em 2006. Hoje, são menos de 700 mil e esse número continua caindo. Uma recuperação não está prevista nos próximos dois anos. O problema é que 70% das importações e produção de madeira vão para o setor da construção.

O resultado é que, pela primeira vez em seis anos, o mercado de madeira e papel caiu nos países ricos. Entre 2006 e 2007, a queda foi de 1,4% no consumo de madeira. Mas, nos EUA, a redução foi de 7% em apenas um ano.

Hoje, a produção mundial de itens de madeira (móveis, madeira compensada e mesmo toras) movimenta por ano cerca de US$ 300 bilhões. Em 2007, as exportações foram de US$ 100 bilhões. Os americanos são de longe os maiores importadores, seguidos por Reino Unido, Alemanha e França.

No setor de móveis, a queda já foi de 3,5%, afetando exportadores latino-americanos. Nos últimos dois anos, exportadores da região foram responsáveis por 50% de todo o fornecimento de madeira com alto valor agregado ao mercado americano.

Fonte: Elaborada pela Equipe Jornalística da Revista da Madeira