REVISTA DA MADEIRA - EDIÇÃO N°116 - SETEMBRO DE 2008

O Brasil apresenta grande disponibilidade de madeira proveniente de reservas tropicais e de reflorestamento que podem ser utilizadas para fabricação vigas de madeira laminada colada (MLC), sendo uma alternativa atraente para viabilizar a utilização de madeiras de reflorestamento. O elevado custo de produção associada a cultura brasileira em não utilizar madeiras em aplicações estruturais dificultam o avanço da produção e comercialização. Por esta razão, muitos fabricantes de MLC estão utilizando emendas dentadas “finger-joint” e trabalhando com diferentes tipos de adesivos na produção de MLC, com o objetivo de reduzir os custos de produção e obter um melhor aproveitamento da madeira.

O termo, madeira laminada colada (MLC), quando aplicada a elementos estruturais refere-se ao material obtido a partir da colagem de topo e de face de pequenas peças de madeira, na forma reta ou curva, com as fibras de todas as lâminas paralelas ao eixo da peça.

As lâminas, de comprimento suficientemente grande, são obtidas através da emenda longitudinal de tábuas e podem ser coladas face a face e borda a borda para a obtenção da altura e largura desejada, podendo ainda ser arqueadas para obter uma forma curva durante a colagem. A geometria das emendas dentadas deve possuir comprimento de 26 ou 28 mm produzidos em perfis horizontais ou verticais.

Um dos principais questionamentos na produção de emendas dentadas para produção de MLC está na utilização correta do adesivo, do processo de colagem e principalmente no tratamento da madeira. Um dos principais produtos utilizados para o tratamento preservativo da madeira é o arseniato de cobre cromatado (CCA). No entanto, a utilização do CCA no tratamento da madeira gera algumas dúvidas quanto a resistência de colagem em emendas dentadas antes e/ou após tratamento químico. Desta forma, o estudo da resistência de colagem das emendas dentadas para uso em MLC utilizando-se um adesivo bi-compomente é necessário para entender e compreender o processo de colagem envolvido antes e após o tratamento preservativo. De acordo com a Norma NBR 7190 para projetos de madeira e estruturas de madeira, o tratamento preservativo da madeira para fabricação de MLC deve ser realizado para garantir a durabilidade e proteção microbiológica, sem que ocorram alterações resistência antes e/ou após o tratamento preservativo. Neste caso, a resistência de colagem deve apresentar resultados no mínimo iguais ou superiores a 90% do valor da resistência característica da própria madeira, quando submetida aos mesmos ensaios.

Os adesivos aquosos a base de isocianato (EPI) estão ganhando cada vez mais a aceitação do mercado mundial para uma grande variedade de aplicações estruturais e não estruturais, sendo uma alternativa viável para colagem de emendas dentadas. No Brasil, alguns trabalhos científicos foram realizados no Laboratório de Madeiras e Estruturas de Madeiras - USP em São Carlos relatando a utilização desta classe de adesivo para colagem de emendas dentadas e posterior fabricação da MLC. Neste trabalho foi estudada a resistência de colagem das emendas dentadas e das vigas estruturais utilizando-se duas espécies de madeiras, sendo uma conífera Pinus ssp e uma folhosa Lyptus antes e após o tratamento preservativo com CCA.

Materiais & Métodos

Duas espécies de madeiras foram utilizadas neste trabalho, sendo uma conífera.

Pinus ssp e uma folhosa Lyptus. A umidade média das lâminas antes e após o tratamento preservativo com CCA foi de 12 %. As colagens foram realizadas antes e após o tratamento preservativo utilizando-se o adesivo bi-componente Wonderbond® EPI EL-70 juntamente com o endurecedor Wonderbond® EPI WS 742 na proporção de 100 partes/massa do adesivo e 20 partes/massa do endurecedor. Na colagem das emendas dentadas foi utilizada uma gramatura de 200 g m-2 de adesivo e uma pressão de 10 MPa. Após sete dias de cura do adesivo, os testes de resistência à tração em emendas dentadas possuindo dimensões estruturais com e sem tratamento preservativo foram realizados utilizando-se um equipamento de tração da marca Metriguard, modelo 442. Todos os testes foram realizados no Laboratório de Madeiras e Estruturas de Madeiras- LaMEM-USP.

Os resultados obtidos mostram que não há diferença estatisticamente significativa na resistência de colagem para as emendas dentadas coladas antes e após o tratamento preservativo com CCA. Nos testes de tração normal antes e após tratamento preservativo foram obtidos valores equivalentes de resistência a tração e ao cisalhamento tanto para o Pinus quanto para o Lyptus. O adesivo bi-componente Wonderbond® EPI EL-70 juntamente com o endurecedor Wonderbond® EPI WS-742 mostrou-se uma boa alternativa técnica e econômica para a produção de emendas dentadas e MLC em substituição ao adesivo tradicionalmente utilizado.

Fontes: Maurício Pinheiro de Oliveira (maurício.oliveira@hexion.com); Ângelo Roberto de Andrade (ângelo.deandrade.hexion.com); Milton Campos (milton.campos@hexion.com); Hexion Química – Pesquisa & Desenvolvimento. Carlito Calil Jr. (calil@sc.usp.br) LaMEM- USP; Carlito Calil Neto FEIM-UNESP