A produção de oleoresina em escala comercial é uma atividade essencialmente extrativista e rentável, em função do alto valor agregado de seus principais subprodutos: o breu e a terebintina.
Em termos mundiais, coníferas (particularmente Pinus spp.) vêm sendo quimicamente estimuladas para a produção de resina desde a década de 70. No Brasil, a extração de resina teve início na década de 80 em florestas de Pinus elliottii implantadas com a utilização dos incentivos fiscais das décadas de 60 e 70. Atualmente, o Brasil juntamente com a Indonésia compõe o segundo lugar em exportação mundial de goma resina, sendo que a China ocupa o primeiro posto nesse ranking. Para a safra de 2007/2008, a produção total brasileira de goma resina está estimada em 106.366 toneladas, movimentando mais de 40 milhões de dólares americanos; a maior produção de goma resina de P. elliottii ocorre em São Paulo (45.928 ton) e no Rio Grande do Sul (19.600 ton) (www.aresb.com.br). A produção anual média por indivíduo varia de 2,0 a 7,0 Kg. Na década de 90 o valor de mercado de uma tonelada de resina bruta girava em torno de US$ 300,00, sendo que atualmente este valor supera US$570,00 (www.aresb.com.br, acesso em 27/08/2008).
P. elliottii Engelm. é uma conífera pertencente à família Pinaceae de gimnospermas, característica pela produção de resina em todos os seus gêneros. Nativa do sudeste dos EUA, essa espécie, amplamente cultivada em plantações subtropicais do Brasil, Índia e China, é usada principalmente na produção de resina e na indústria moveleira.
A resina sintetizada por espécies de coníferas é um exemplo de fonte natural abundante de terpenos. Terpenos são metabólitos secundários que constituem a maior família de produtos naturais existente, com cerca de 30.000 compostos; apresentam importantes funções na planta: atuam na atração de polinizadores e dispersores de sementes, na sinalização e defesa contra injúria, contra a herbivoria (repelentes), nas interações químicas entre plantas, atuam também como reguladores de crescimento, exercem papel essencial na fotossíntese e são componentes estruturais de membranas celulares. Além disso, alguns terpenos constituem metabólitos farmacologicamente importantes e outros são extensivamente empregados na indústria química fina de sabores e fragrâncias.
A resina das coníferas é composta de terebintina (fração volátil) e de rosina (ou breu), a fração não-volátil. Tanto a terebintina quanto o breu apresentam grande demanda pelo comércio internacional. A produção mundial de óleo de terebintina em 1995 foi de cerca de 230.000 toneladas, e vem aumentando a cada ano. A terebintina pode ser fracionada para gerar seus constituintes majoritários ( e -pineno) em estado puro, os quais constituem adequados substratos precursores para a produção biotecnológica de Aromas Naturais, (compostos orgânicos voláteis encontrados em alimentos e perfumes -florais e frutíferos - por exemplo), muito empregados na indústria de aromatizantes e flavorizantes, a qual consome aproximadamente 30.000 toneladas de pinenos por ano, na produção de uma diversa gama de produtos.
A resina de Pinus tem abundante aplicação industrial incluindo a produção de borrachas sintéticas, colas, materiais adesivos, material à prova d água, tintas de impressora, revestimentos de papel, emulsificadores de polimerização, entre outros.
Papel ecológico
O significado ecológico da síntese da resina está diretamente relacionado ao mecanismo de defesa da planta contra os insetos predadores da casca e seus fungos patogênicos, agentes responsáveis pelas principais doenças que afetam as espécies de coníferas. Populações de besouros da casca (Coleoptera: Scolytidae), ou bark beetles, são muitas vezes as mais importantes e agressivas pestes em florestas de coníferas em seus habitats originais. Estes se utilizam das galerias formadas no interior dos troncos das árvores hospedeiras, como ambiente de reprodução e posterior dispersão de indivíduos juvenis, e inoculação de fungos associados, para os quais o besouro funciona como vetor. A partir do estabelecimento do primeiro orifício no tronco da árvore hospedeira, ocorre a exsudação da oleoresina, que funciona como o principal mecanismo de resistência (além da casca) aos organismos invasores, em função da sua toxicidade e ação deterrente. Após a evaporação dos compostos voláteis (terebintina) constituintes da resina em contato com a atmosfera, os compostos responsáveis por sua viscosidade (breu) polimerizam selando o ferimento e aumentando a possibilidade de aprisionamento dos organismos invasores.
É importante salientar que os bark beetles (e seus fungos associados) são predadores das espécies de Pinus em seu habitat natural, não representando perigo (ou sequer ocorrência) na nossa condição climática (o que torna possível a extração comercial de resina nessa região), sendo aqui possivelmente a vespa da madeira a mais agressiva entidade predadora deste gênero.
Aspectos anatômicos
Dentre as coníferas, as espécies de Pinus contêm a mais elaborada rede interconectada de ductos localizados através da madeira e da casca. Os ductos resiníferos são estruturas alongadas constituídas por células que delimitam uma cavidade (dentro da qual a resina sintetizada é estocada); ocorrem no xilema secundário de Pinus horizontal e verticalmente. A produção de resina em coníferas pode ser de dois tipos: a constitutiva ou primária pré-formada e estocada na planta, e a induzida ou secundária, sintetizada em resposta a algum estímulo (como ferimento, por exemplo), sendo que espécies de Pinus demonstram produzir as duas qualidades de oleoresina.
Por que Pinus elliottii?
Qualidade e quantidade dos componentes da resina são atributos decisivos na escolha da espécie de Pinus para a extração em nível comercial. Os critérios de qualidade do breu são geralmente avaliados segundo padrões utilizados no comércio internacional, mas não definidos como padrões definitivos e/ou obrigatórios. Já a terebintina comprada pela indústria química como fonte de isolamento para subseqüente conversão em óleo de pinho, fragrâncias, e compostos aromatizantes, entre outros derivados é avaliada com base na sua composição detalhada, sendo que há maior demanda por aquela que contém conteúdo superior de pineno na sua constituição.
P. radiata possui a maior quantidade (melhor qualidade) de pineno constituinte da terebintina (mais de 95%), mas é muito pobre em termos de rendimento (produtividade) de resina. Por esse motivo, P. elliottii, com a segunda melhor qualidade de terebintina (aproximadamente 90% de pineno) e o segundo melhor rendimento de resina das espécies de Pinus estudadas (inferior apenas a P. caribaea, com alta quantidade, mas qualidade inferior de terebintina) é ampla e preferencialmente cultivado e indicado para a prática da extração em escala comercial. Dessa forma, embora todos os pinheiros sejam capazes de produzir resina, tanto a qualidade quanto a quantidade da terebintina e do breu podem variar consideravelmente entre as espécies de Pinus, em função do componente genético (próprio de cada espécie) que exerce papel importante na determinação da produção e composição da resina.
Além disso, composição e a quantidade da oleoresina pré-formada dependem do status fisiológico da planta, estação sazonal, e das condições bióticas e abióticas as quais a planta está submetida.
Extração de resina
O grande volume de publicações acerca dos processos fisiológicos que caracterizam a produção de resina em espécies de Pinus data das décadas de 70 e 80. Além disso, todos os relatos referem-se à resinagem em uma condição ambiental diversa daquela aqui observada: a de clima temperado. Embora em franco desenvolvimento, dois gargalos tecnológicos importantes limitam a produção de resina de P. elliottii em florestas brasileiras: a necessidade de importação de um adjuvante ativo da pasta indutora (CEPA) e a heterogeneidade de produção média relativamente baixa das florestas em utilização.
Tendo em vista o alto valor de mercado atribuído à oleoresina e seus derivados (breu e terebintina), bem como a crescente importância sócio-econômica desta atividade (relativamente recente) no Sul do Brasil, desde 2002 tem sido conduzidas pesquisas no setor florestal resineiro, buscando caracterizar a produção de resina quanto à variação sazonal (e regional) de rendimento e composição da resina, identificar adjuvantes químicos capazes de otimizar a produção de resina, e selecionar indivíduos elite (com produção de resina muito acima da média populacional) para posterior propagação. Além da avaliação do efeito sazonal e de diferentes pastas estimuladoras (formuladas com bases em fundamentos fisiológicos), têm sido avaliadas as influências do DAP (diâmetro à altura do peito) e do padrão de estria na produção de resina. Até o momento foram testados mais de 10.000 indivíduos arbóreos de P. elliottii var. elliottii com idade aproximada de 27-28 anos. Os experimentos têm sido conduzidos nas instalações da Empresa Âmbar Florestais, Município de São José do Norte, extremo sul do RS.
As principais inovações estão relacionadas à possibilidade de extensão temporal/sazonal do processo de extração de resina (possivelmente em função do “micro-clima” gerado em função da existência de grandes corpos-d’água próximos às florestas estudadas), e à utilização da auxina sintética 2,4-D, em substituição ao CEPA (componente de custo mais elevado na formulação atual da pasta comercial), entre outros adjuvantes testados e selecionados com êxito.
Por fim, as perspectivas da pesquisa na área resineira do Sul do Brasil, visam o estabelecimento de uma área de produção de sementes oriunda do material selecionado até o momento para produção de resina e qualidade de madeira, e o desenvolvimento de técnicas diagnósticas eficientes e precoces para a detecção dessas características, com vistas na otimização do tempo atualmente necessário para essa avaliação (12 anos, aproximadamente) e principalmente, no aproveitamento da área ocupada por essa espécie na região e a redução do impacto possivelmente gerado pela mesma.
Fonte: Dra. Kelly Cristine da Silva Rodrigues: Assessora de Pesquisa e Desenvolvimento Âmbar Florestal Ltda; Biologia – Licenciada, Bacharel, Mestre em Botânica – UFRGS; Doutora em Ciências Programa de Pós-Graduação em Biologia Celular e Molecular - UFRGS