O sucesso do setor florestal brasileiro deve-se ao alto desempenho das diversas áreas que compõem a cadeia produtiva, desde a floresta, passando pela colheita, processamento, até sua venda. É evidente que as condições de clima e solo, a disponibilidade de mão-de-obra e de grandes áreas para o plantio, entre outras, propiciaram esse desenvolvimento.
Entretanto, não podemos esquecer que a ciência florestal teve papel decisivo e divide esse sucesso com as empresas do setor. Segundo o professor Rolf Grammel, para se tornar um grande produtor de madeira, o Brasil teria que manter as florestas nativas, desenvolver técnicas de colheita de baixo impacto e implantar novas florestas.
Uma série de fatores contribuiu para que houvesse uma rápida modernização e tecnificação do setor. Mundialmente, cresceram a procura por produtos e serviços baseados nas chamadas “tecnologias limpas”. Esta pressão forçou a implantação de sistemas, onde o homem deixasse de ser apenas a força bruta e passasse a ser operador - incorporou-se o conceito da ergonomia.
Posteriormente, foi incorporado o conceito da sustentabilidade, ou seja, a habilidade de uma empresa florestal utilizar madeira, infra-estrutura e outros bens e garantir o uso para futuras gerações. A sustentabilidade financeira, do comércio e da produção, também serve de base para a empresa poder atingir seu objetivo, e essas foram as bases para se obter a certificação dos produtos de madeira. Fica claro o desafio de garantir as exigências sociais, econômicas e ecológicas.
A indústria de máquinas e veículos modernizou-se e passou a disponibilizar modelos cada vez mais confiáveis, automatizados e ambientalmente adequados. Um exemplo disso foi a evolução ocorrida, devido às recentes descobertas, dos danos causados pelas máquinas, durante a colheita. Introduziu-se o conceito de pneus de baixa pressão, dentre outras inovações, com o objetivo de diminuir a compactação do solo. Também se aumentou o comprimento das gruas, permitindo um aumento na distância entre os ramais, reduzindo, com isso, a área trafegada.
A evolução dos equipamentos e dos sistemas de colheita e transporte de madeira levou em consideração um complexo conjunto de fatores, formados pelas condições climáticas, produtividade, eficiência, disponibilidade mecânica, custo de produção por unidade volumétrica de madeira, em atividades equivalentes, assistência técnica, disponibilidade de peças e manutenção, impacto ambiental, danos à floresta remanescente, treinamento, segurança. O tipo de povoamento e objetivo da colheita de madeira também influenciou enormemente esta evolução.
Na década de 50, a operação de derrubada, traçamento e preparo da madeira, normalmente era feita com traçadeira e machado. Já nos anos 60, com a chegada das motosserras, estas operações passaram a ser semi-mecanizadas. Nesta mesma época, os tratores florestais, tipo Skidder, bem como outras máquinas florestais, começaram a ser utilizados em larga escala. No Brasil, os primeiros tratores derrubadores empilha-dores, tipo Fellerbuncher, começaram a ser desenvolvidos no fim da década de 70.
Porém, somente após a abertura das importações, nos anos 90, é que as últimas inovações também puderam ser incorporadas pelo setor florestal brasileiro. A partir dessa época, passou-se a usar o termo “colheita de madeira”, para diferenciar as florestas plantadas, da exploração das florestas nativas. Em poucas décadas, abandonamos os sistemas manuais ou semi-mecanizados, e passamos para os sistemas altamente mecanizados. Essa evolução não foi simples.
Não bastava substituir homens por máquinas, mas havia todo um conjunto de ações a ser observado. Se por um lado, as atividades manuais, pesadas, com altos índices de acidentes de trabalho e com grande número de trabalhadores, desapareciam, por outro lado surgiam novos problemas. Ao trafegar, as máquinas podiam compactar o solo e danificar a brotação. Surgiu a necessidade de treinamento, pois a eficiência das máquinas depende do operador. O planejamento das operações passou a ter importância fundamental e passou-se a adotar os primeiros conceitos modernos de logística, com a incorporação de tecnologias de informação, tais como GIS, GPS e mapas eletrônicos.
A introdução de máquinas de alta capacidade de produção, tais como o Harvester, Fellerbuncher, Slingshot, Forwarder e Skidder, permitiu que as operações de corte, preparo da madeira e baldeio, fossem realizadas, ininterruptamente, sete dias por semana. A otimização viabilizou o alto investimento, porém a viabilidade técnica e a aceitação destas máquinas dependem, em grande parte, da capacidade de realizar o trabalho, causando mínimos impactos na floresta e no solo.
Entretanto, os altos índices de mecanização ainda continuam restritos, principalmente, às grandes empresas, em reflorestamentos homogêneos, em terrenos relativamente planos e em solos com boa capacidade de sustentação. Considerando que o processo de terceirização tende a se consolidar e que num futuro próximo, parte da madeira deverá ser produzida por pequenos e médios proprietários, torna-se um desafio desenvolver tecnologias adequadas, para viabilizar a colheita e o transporte, nessas condições.
Também é um desafio desenvolver tecnologias adequadas para florestas, em regiões com topografia acidentada, bem como para viabilizar a utilização das florestas nativas ou dos futuros reflorestamentos, que deverão ter múltiplas espécies e nos quais não será permitido o corte raso.
Verificamos que os sistemas de colheita e de transporte de madeira ainda têm um longo caminho a ser seguido. Isto indica a necessidade de desenvolver tecnologias adequadas, para necessidades específicas. Tudo isso sem esquecer que o setor florestal brasileiro precisa ganhar dinheiro!
Autor: Paulo Torres Fenner, professor de Colheita e Transporte na UNESP de Botucatú. Email: fenner@fca.unesp.br.