Atualmente, o Pará é o estado que mais explora madeira no Brasil. Além disso, é importante destacar que toda essa atividade, investimento, transformação, ocorre quase que de forma aleatória. A indústria responde às forças do mercado, com a meta clássica de qualquer empresa: maximizar lucros em curto prazo. Não há visão clara dos custos e benefícios dessa atividade e falta, acima de tudo, uma reflexão sobre como racionalizar e dividir danos e custos que a atividade madeireira traz.
A madeira é um dos produtos de maior destaque na pauta de exportação paraense, ocupando o terceiro lugar no ranking de produtos exportados. O aumento da eficiência do processo industrial da madeira, também teria efeito direto na quantidade da área florestada necessária para manter os atuais níveis de produção. Por exemplo, apenas 35% de cada tora são transformados em produto serrado, mas essa eficiência poderia ser aumentada para 55% através de melhoramento simples na manutenção de máquinas e no treinamento de mão-de-obra.
De acordo com estes dados, 65% da tora é desperdiçada, transformando-se em resíduo não aproveitado pela indústria. A Legislação Brasileira aponta a auto-responsabilidade das empresas na remoção, estocagem e tratamento de resíduos gerados pelos processos de produção, a partir de procedimentos adequados para a conservação do meio ambiente.
O termo resíduo de madeira por muitas vezes é associado a palavra problema, pois geralmente sua disposição ou utilização adequada gera custos altos que muitas vezes se quer evitar. Porém, o conhecimento da quantidade, da qualidade e das possibilidades de uso deste material pode gerar uma alternativa de uso que viabilize o seu manuseio.
O aproveitamento de resíduos da industrialização da madeira pode contribuir para a racionalização dos recursos florestais, bem como para gerar uma nova alternativa econômica para as empresas do Pará, aumentando a geração de renda e de novos empregos. No segmento madeireiro, o aproveitamento de resíduos gerados pela extração e industrialização da madeira pode beneficiar desde indústrias de processamento primário até fábricas de móveis.
Os resíduos da extração e a industrialização de madeira são geralmente utilizados para: conversão em energia através da queima; uso doméstico e produção de carvão; queima a céu aberto.
Além do desperdício de recursos naturais e do impacto ao meio ambiente, estes usos tradicionais não levam em conta o potencial econômico destes materiais.
Segundo o Inventário Florestal Nacional, lenha é o tipo de resíduo oriundo da indústria de base florestal de maior representatividade, correspondendo a 71% da totalidade dos resíduos. Por lenha entendem-se os resíduos como costaneiras, refios, aparas, casca e outros. A serragem vem a seguir, correspondendo a 22% do total e, finalmente, os cepilhos ou maravalhas, correspondendo a 7% do total.
No setor moveleiro, a maior perda se dá no beneficiamento da madeira, chegando, em alguns casos, ao extremo de até 80% de uma árvore desperdiçada entre o corte na floresta e a fabricação do móvel. Em 1991 o Brasil foi responsável por 4% da produção mundial de toras para serraria e laminação, correspondendo a um total de 37.968.000m3. Deste material, 49,29% foi transformado em produto, sendo que o restante (50,71%) corresponde aos resíduos gerados pela industrialização, ou seja, um volume de 19.255.000 m³.
As dificuldades para uma maior utilização dos resíduos centram-se em:
• uma parte desses resíduos é utilizada para a geração de energia, que cria uma competição no preço desse material;
• a geração é proporcionada, na maior parte, por serrarias e laminadoras de pequeno e médio porte espalhadas por várias regiões dificultando a coleta e o transporte;
• não há levantamentos atualizados sobre a localização, quantidade e qualidade dos resíduos gerados por essas empresas.
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Conforme observado nas informações acima, os resíduos da indústria madeireira e moveleira têm sido subutilizados, sendo que no Brasil sua principal utilização consiste na queima para obtenção de energia. Um dos motivos para esta má utilização está no fato de que a matéria-prima para estas indústrias no Brasil, historicamente, não são restritivas.
Outros fatos também expressivos são as restrições logísticas e econômicas para o transporte de resíduos, principalmente considerando o porte e a distribuição destas indústrias. Utilizações mais criativas, que agreguem valor a estes resíduos poderiam modificar esse panorama, produzindo uma nova demanda de produtos e serviços, gerando fonte de renda viável e geração de emprego.
A participação das empresas
As regiões tradicionalmente exploradoras de madeira, como é o caso da Amazônia, enfrentou sérios problemas com relação ao aproveitamento de resíduos florestais e madeireiros, gerados pelo processamento inadequado da indústria florestal. O potencial de uso dessa enorme quantidade de resíduos vinha sendo subestimado pela indústria madeireira regional, que consiste de uma fonte potencial de matéria-prima básica para inúmeras aplicações, tais como em pequenos objetos de madeira POM, móveis rústicos, produção de chapas e geração de energia, dentre os mais significativos.
A manufatura de POM's é uma forma eficaz de utilização dos resíduos de madeira. Para este processamento não há a necessidade de instalação de maquinário específico, pois as máquinas e mão-de-obra já existentes nas indústrias são suficientes para a confecção desses pequenos objetos. O INPA desenvolveu recentemente o Projeto Pequenos Objetos de Madeira ¬ POM, com o apoio do CNPq e do SEBRAE, a partir da necessidade dos vários segmentos envolvidos no processo de fabricação de POM's.
Foi considerada a funcionalidade das espécies madeireiras, tempo para confecção dos objetos, preferências do consumidor, e potencialidades das indústrias. Os desenhos e projetos manufaturados são simples, porém atrativos, com baixo custo de processamento, de maneira que despertassem o interesse dos empresários, em termos de custo/ benefício, e que fossem rapidamente assimilados pelos consumidores, em termos de qualidade.
Na área de beneficiamento da madeira, técnicas de desdobro da madeira foram desenvolvidas com bastante sucesso. Com isso, já foram construídos alguns protótipos de móveis, apresentando boa qualidade. Um uso mais nobre de resíduos madeireiros certamente traria vantagens econômicas ao possibilitarem a confecção de produtos com preço competitivo, além de vantagens sociais, como a geração de novos empregos com o surgimento das atividades decorrentes de sua aplicação. Considerando o aumento do valor agregado a um material que seria normalmente desperdiçado, isso poderá representar um benefício sócio-econômico para comunidades de locais remotos da região, por meio do aumento da renda per capita derivada da comercialização de móveis rústicos, ou até peças com desenho mais elaborado, caso haja maiores investimentos.
Nos últimos anos tem-se notado que os empresários já demonstram preocupação com o controle de perdas de material no processo de fabricação. No entanto, é muito importante que se visualize como este controle é feito. Quando se retorna para a análise do processo produtivo dentro do aspecto que descreve a forma de desenvolvimento do produto. Apenas uma pequena parcela das fábricas possui alguém designado para a tarefa projetual ou um departamento de projeto, o que leva a concluir que este controle é realizado de forma não planejada dentro do processo de execução do produto.
Sugere-se que esta falta de planejamento seja responsável por possíveis desperdícios de matéria-prima e, nesse ponto, esbarra-se nas problemáticas relevantes para o setor.
Embora os representantes do setor declarem fazer controle dentro dos processos produtivos evitando perda de matéria-prima, a expressiva maioria ainda não consegue ter aproveitamento total em suas fábricas descartando resíduos menores (sobras de serragem, pedaços muito pequenos ou defeituosos etc.). O reaproveitamento dos resíduos é feito internamente na fabricação de peças complementares e/ ou pequenos artefatos de madeira. Contudo sempre há parcelas de tamanho ou características inadequadas que acabam sendo descartadas por 68% dos produtores.
Atualmente, o aproveitamento de resíduos de madeira constitui uma significativa fonte de geração de renda e energia elétrica para comunidades da Região Amazônica. Como proposta para enfrentar a problemática decorrente dos desperdícios de matéria-prima sugere-se: caracterizar e quantificar os desperdícios de madeira no processamento industrial; identificar os graus de desperdício associados a cada etapa do processo produtivo; identificar tecnologias e processos para minimizar estes desperdícios; destacar aqueles que apresentem maiores graus de viabilidade econômica e técnica nas condições do estado do Pará. Também é importante identificar mercados consumidores locais, nacionais e internacionais para produtos derivados do aproveitamento de resíduos, cuja produção observe princípios de proteção ambiental.
Autor: Bruno da Costa Feitosa: Graduado em Engenharia de Produção pela Universidade do Estado do Pará e pós-graduando em Logística Empresarial pela Universidade da Amazônia