Hoje, o destino do lixo doméstico, das empresas e indústrias é um dos grandes problemas a serem equacionados por governos, ambientalistas, empresários e sociedade em todo o mundo. A grande saída para minimizar os efeitos de toneladas de lixo jogadas diariamente em aterros é a reciclagem. Os países industrializados já entraram neste campo há muito tempo, pois apresentam um esgotamento mais avançado de suas fontes de recursos naturais e precisam reutilizar com mais eficiência seus materiais. Mas a luta continua.
Pesquisas recentes apontam para o descarte de 1 milhão de sacos plásticos por minuto no planeta, enquanto cada brasileiro produz em média 1 quilo de lixo por dia. Se considerarmos somente o lixo que a cidade de São Paulo deposita nos aterros em uma semana, teremos o suficiente para encher o Estádio do Maracanã, no Rio – o maior do mundo!
Embora as primeiras experiências de compostagem (produção de adubo orgânico a partir do lixão não reciclável) tenham sido realizadas no País ainda na década de 60, o lixo efetivamente tratado nestes últimos 40 anos praticamente é incipiente. Atualmente, algumas poucas usinas de compostagem com biodigestores funcionam em São Paulo, nas cidades de São André e São José dos Campos, interior do Estado, e em algumas capitais do País.
Os números da reciclagem são mais animadores. O índice de reaproveitamento de latas de alumínio no País, por exemplo, atingiu a marca de 78%, o segundo maior do mundo, superado apenas pelo Japão. A operação reúne desde empresas produtoras de alumínio e seus parceiros até recicladores, sucateiros e fornecedores de insumos e equipamentos para a indústria de reciclagem.
O reaproveitamento de derivados da celulose não é diferente. Entidades do setor estimam que 77,4% do volume de papel ondulado (para embalagens) consumido no Brasil tenham sido reciclados no ano de 2005. A vantagem é que estes produtos são 100% recicláveis e biodegradáveis e ainda contribuem para a redução do desmatamento das florestas. As grandes empresas incorporaram esta visão e cada vez mais recorrem à impressão de suas publicações em material reciclado, o que lhes rende dividendos na imagem corporativa.
No ramo dos vidros, desde 1986 a indústria brasileira desenvolve um programa de reciclagem permanente de educação e instalação dos chamados “papa vidros” em diversos locais públicos. Atualmente, são produzidas por ano 890 mil toneladas de embalagens de vidro e cerca de 25% desse total provêm de matéria reciclada.
Nos últimos anos, um novo lixo começa a criar volume nos aterros: trata-se dos resíduos tóxicos como mercúrio, chumbo, manganês, cádmio e outros elementos químicos provenientes de uso crescente da tecnologia. Assim como o lixo hospitalar, que aumenta com a melhoria do atendimento na rede pública, ou do lixo industrial, que cresce com o PIB, esse resíduo exigirão do governo e empresas um tratamento especializado que ainda está longe de se materializar.
A usina verde
Uma das iniciativas pioneiras no campo da reciclagem é a Usina Verde, tecnologia brasileira de tratamento térmico de resíduos com geração de energia. Em operação desde maio de 2005, o protótipo está transformando 30 toneladas diárias de lixo em 440 kW de energia no campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro, na Ilha do Fundão. Para chegar a este estágio, foram necessários seis anos de pesquisa e desenvolvimento em equipamentos e técnicas específicas.
A Usina Verde investiu R$ 19,5 milhões no projeto que está despertando a atenção de prefeitos de todo o País. Empreendimento brasileiro de capital privado, foi constituído em 2001 pelo grupo Arbi e quatro gestores privados. A usina-protótipo já recebeu a visita de representantes de vários municípios brasileiros e já está em andamento o projeto semelhante em um município do interior paulista.
A instalação de cada módulo leva dois anos a um custo de R$ 23 milhões, ocupando área equivalente a um campo de futebol. A vantagem é que as unidades podem ser instaladas próximo de áreas povoadas, pois os exaustores eliminam os odores exalados pelo lixo e reduz significativamente a produção de restos.
O retorno do negócio se dá em seis ou sete anos após o início da produção de energia. Os recursos podem ser obtidos junto às linhas de financiamento do BNDES.
Vistas como negócio, estas unidades permitem um recurso adicional: a venda dos certificados de redução de emissões de gases de efeito estufa (créditos de carbono) no mercado internacional.
Fonte: Elaborada pela Equipe Jornalística da Revista da Madeira