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REVISTA DA MADEIRA - EDIÇÃO N°112 - ABRIL DE 2008

Pináceas

O futuro das madeiras de reflorestamento

Até pouco tempo, os projetistas, arquitetos, engenheiros, artesões tinham à disposição uma enorme variedade de madeiras de altíssimo valor tecnológico, ecológico, econômico e social: os louros, os cedros, as perobas, as cabreúvas, imbúias, jacarandas e muitas outras, chamadas de lei, de grande e invejável qualificação, mundialmente admiradas e comercializadas. Sem esquecer a araucária, a alavanca do progresso econômico de muitas regiões do Sul do País. Este ciclo áureo “ARAUCÁRIA - PEROBA” - se assim pode ser denominado - chegou ao fim e impõe agora uma profunda reflexão - não sem batermos no próprio peito - sobre o futuro, diga-se, sobre um novo ciclo, que forçosamente terá que ser iniciado, sob pena de faltar madeira. Ou pior ainda, ter que ser comprado dos vizinhos a peso de ouro, sem falar da previsível vingança da natureza.

Com uma defasagem de 250 anos em relação à Europa e de 100 anos referente à América do Norte, vai ter que ser feito o que eles fizeram: criar um novo ecossistema florestal sustentável, onde só se corta o que antes se plantou ou depois se planta. Este novo cíclo – uma solução em curto prazo - poderia ser denominado na forma popular de “PINUS E EUCALIPTO”.

A médio e longo prazo o Brasil terá que dispor de pelo menos duas a três dúzias de essências florestais diversificadas, para suprir todas as necessidades e gostos, como ocorre hoje nos países acima mencionados. A seleção das mesmas é competência da Ciência Florestal. O conhecido pesquisador da Embrapa, Ramalho Carvalho apresenta uma lista com 54 espécies viáveis para este novo ciclo. Para ser alcançada esta meta, será preciso muita investigação e muito aprendizado. Terá que ser valorizado o trabalho de pesquisa do IPT, da CIENTEC e de outros centros, incluídas as Universidades, geradoras de tecnologia e ciência.

Uma louvável iniciativa são os EBRAMENS “os Encontros Brasileiros da Madeira e Estruturas de Madeira”, da Escola de Engenharia de São Carlos, realizados periodicamente. Louváveis também são as múltiplas iniciativas de simpósios, seminários, encontros, cursos de extensão no Brasil todo. Com uma atividade florestal - madeireira sustentável, não apenas garante-se matéria prima para as obras, garante-se também a preservação da floresta nativa, especialmente na Região Sul.

O Brasil tem tudo para ser uma perene fonte da matéria prima madeira, um celeiro inesgotável, com resultados econômicos respeitáveis. Existe solo, sol, água, gente e tecnologia em abundância. O retorno é garantido, o homem e a natureza são beneficiados. A situação exige ação imediata. Observemos as nossas estradas. Um formigueiro de estufas ambulantes com enorme emissão de dióxido de carbono. A vegetação, e especialmente as florestas, têm uma fantástica capacidade de sequestrar este gás e reduzir os riscos para o meio ambiente. Por que não investir maciçamente em floresta e empresas afins? A natureza agradece... Muitos postos de trabalho serão criados e o homem fica no campo. Ter-se-á então matéria prima suficiente para estruturas, a construção civil em geral e outras finalidades.

Futuramente, de certo, existirão diversos ecossistemas floresta: parques de florestas nativas com um mínimo de ingerência do homem; florestas nativas manejadas sustentavelmente com função ecológica, econômica e social; florestas plantadas de mono - ou heterocultura com função eminentemente econômica e efeitos colaterais benéficos para o meio ambiente. As pináceas plantadas no Brasil, a partir da segunda metade do século atual, têm sua origem na região sulina dos EUA, especificamente nos Estados de Alabama, Georgia e Texas. São conhecidos como “southern pine” ou “southern yellow pine”.

Forte presença

A cobertura florestal do mundo gira em torno de 45 milhões de km2, ou seja, 4,5 bilhões de hectares. Quase 5 vezes o território brasileiro. As coníferas formam 45 % deste total, ou seja, 18 milhões de km2, sendo a maior parte destas madeiras macias de acículas, constituidas por pináceas, algo como 13 milhões de km2. O grosso das coníferas localiza-se no hemisfério norte, a partir da latitude 40 até o limite da vegetação. São famosos os “mares” das coníferas da Taiga siberiana, do Alasca, do Canadá, dos EUA, da Europa Central e Norte. A diversidade botânica é reduzida: grandes áreas de florestas com relativamente poucas famílias e espécies. Fala-se de uma relação de 1 x 400, comparado com as florestas de folhosas, especialmente tropicais e subtropicais. Cita-se também espécies de coníferas existentes nas regiões tropicais e subtropicais, como é o caso da araucária. Nas regiões citadas, não são raros exemplares antiquíssimos de pináceas com 100 ou mais metros de altura e diâmetros de 10 metros. O exemplar mais antigo conhecido, é um PINUS ARISTATA nos EUA com 4600 anos, alias a árvore mais antiga da Terra.

Botanicamente locam-se as pináceas conforme segue:

Divisão: Gimnospermae.

Classe: Coniferopsida.

Ordem: Coniferae.

Família: Pinaceae.

Outras Famílias: Taxodiaceae (Seqóia); Cupressaceae (Cipreste); Podocarpaceae (Pinheirinho bravo); Araucaraceae (Pinheiro).

Gêneros de pináceas: Abies; Picea; Larix; Pseudotsuga; Tsuga; Pinus.

Espécies do gênero Pínus: total 95. Exemplos: elliottii; taeda; caribéa; hondurensis; oocarpa; silvestre; nigra.

A estrutura anatômica das coníferas é bem mais simples e primitiva que madeiras de folha larga, indicador de maior idade cósmica. Fala-se entre 200 a 300 milhões de anos. 95% do tecido lenhoso das pináceas são formados por condutores e sustentatores, chamados traqueóides. Parte das pináceas apresenta canais resiníferos. A resina pode ser extraído e serve de matéria prima para tintas e outros produtos químicos. A massa específica do material lenhoso compacto gira em torno de 1,5 g/cm3. A massa específica aparente – meap - da madeira, incluidos os vazios, varia de 0,3 a 0,6 g/cm3, uma faixa bastante estreita, onda a média das pináceas fica por volta de 0,45. O teor da lignina situa-se em torno de 30%, tecido mais compacto que a celulose, principal componente lenhoso. A idade cosmica das folhosas, botanicamente mais complexas é estimada em 70 milhões de anos.

O principal gênero botânico das pináceas é o ABIES (Abete) Representa cerca de 40 espécies. Ocorre na Europa Central e América do Norte.

Como exemplo está o Abies alba: chamado de abete branco. Próprio da Europa Central. Forma a famosa Floresta Negra na Alemanha. Chega a 50m de altura com fuste reto e DAP [diâmetro medido a 1,5m do solo] de 1,5m. Alcança idades até 800 anos. Côr clara, branca fosca, anéis marcantes. Baixo teor de resina.

Massa específica aparente a 15% de umidade em estado adulto: meap 15% = 0,45 g/cm3 [gramas por centímentro cúbico].

Módulo de elasticidade a 15% de umidade em estado adulto: E 15% = 10500 N/mm2. [Newtons por milímetros quadrados].

Baixa retração e, portanto excelente estabilidade dimensional. Fácil de trabalhar: serrar, aplainar, furar, colar, pregar, pintar. Durabilidade natural média para baixa. Facil de aplicar produtos preservantes, que aumentam considerávelmente a resistência contra fungos e insetos.

Espécies similares:

Abies amábilis (EUA)

Abies grandis (EUA)

Abies sibirica (Rússia)

Grande disponibilidade e bom preço nos países de ocorrência. Não existe no Brasil.

Usos: estruturas externas e internas em geral; decoração interna; móveis e utensílios variados; instrumentos musicais; barris; papel e celulose; chapas em geral; muito procurada como arvore natalina em residências, praças e igrejas; retém por muitas semanas as acículas.

Outro gênero é o PICEA: (Spruce) Existem cerca de 40 espécies. Ocorrem em toda a Europa, onde é a pinácea mais frequente, nos EUA e no Canadá.

Exemplo: Picea abies. [Fichte, Abete]. Parecida com a Abies alba. Alturas até 60 m. Crescimento relativamente rápido. DAP até 1,5 m. Idades até 600 anos. Cor clara branca acetinada. Baixo teor de resina.

Meap 15% adulta = 0,43 g/cm3.

E 15% adulta = 11.000 N/mm2.

Baixa retração e excelente estabilidade dimensional. Fácil de trabalhar. Durabilidade natural média. Fácil para tratar com preservantes, que aumentam em muito a vida útil.

Espécies similares:

Picea obovata - Sibéria

Picea sitchensis - EUA

Grande disponibilidade nos mercados locais a preços acessíveis. A madeira estrutural mais usada na Europa. Não existe no Brasil.

Usos: estruturas externas e internas em geral; móveis e utensílios internos; forração e assoalhos de casas; casas tipo “Blockhaus” e similares; passarelas; postes de transmissão; instrumentos musicais; chapas aglomeradas; celulose e papal. Cultivada como árvore natalina de menor valor que a Abies alba.

O LARIX é o terceiro: (Larch; Laerche) Existem em torno de 17 espécies. Ocorre na Europa, América do Norte e Rússia. Aceita e prefere altitudes. Perde as acículas na pausa vegetativa.

Exemplo: Larix decidua. Ocorre especialmente na Europa, com preferência nas regiões montanhosas dos Alpes. Alturas até 50 m. DAP 1,2 m. Idade até 800 anos. Cor: alburno branco e cerne marcante avermelhado. Estética muito apreciada. Vida útil longa. Excelente durabilidade natural. Baixa retração e fácil de trabalhar.

Meap15% adulta = 0,58 g/cm3.

E 15% adulta = 13.800 N/mm2.

Espécies similares:

Larix leptolepsis - Japão

Larix sibirica - Rússia

Larix occidentalis - Américas.

Boa disponibilidade nos mercados locais. Não existe no Brasil.

Usos: Laminados; docaração interna de alto padrão; móveis; esquadrias; postes de transmissão; barris; estruturas internas e externas de alto nível, como passarelas e similares.

O PSEUDOTSUGA é o quarto: [Fir; Pine]. Ocorrência natural EUA e Canadá. Existem 5 espécies com 53 variedades.

Exemplo: Pseudotsuga menziessii. Nos EUA - Douglasfir. Na Alemanha - Douglastanne ou Douglasie, reflorestada. Altura até 100 m. DAP até 3 m.

Meap 15% adulta = 0,51 g/cm3.

E 15% adulta = 12.500 N/mm2.

Na Europa boa adaptação como espécie plantada, trazida dos EUA, de rápido crescimento e usos consagrados. Retração baixa e consequentemente boa estabilidade dimensional. Bom de trabalhar como serrar, aplainar, lixar, colar, pintar... Boa resistência natural. Não apresenta resina. Cor de boa estética, branco- amarelado.

Espécies similares:

Pseudotsuga macrocarpa - EUA

Pseudotsuga japonica - Japão

Boa disponibilidade nos mercados locais a preços assessíveis. Não existe no Brasil.

Usos: estruturas internas e externas; laminados; forração externa e interna de bom padrão; assoalhos; barcos; passarelas; esquadrias; chapas; dormentes; celulose e papel.

O TSUGA é o quinto: [Fir, Pine, Spruce]. Existem 5 espécies conhecidas. Ocorrência especialmente nos EUA, estendendo-se até Alasca.

Exemplo: Tsuga heterophylla - EUA, [Alasca], Canadá. Nome local: Western hemlock. Alturas até 50 m; DAP até 2m; Fuste reto e cilíndrico. Cor amarelada - cinzenta com bela estética. Não contém resina. Sobe até 1600 m de altitude.

Meap 15% adulta = 0,48 g/cm3.

E15% adulta = 10.500 N/mm2.

Baixa retração e excelente estabilidade dimensional. Durabilidade natural regular. Fácil de trabalhar e fácil de tratar com preservantes.

Espécies similares:

Tsuga canadensis - Canada

Tsuga brunoniana - India.

Boa disponibilidade nos mercados locais de ocorrência. Não ocorre no Brasil.

Usos: estruturas internas e externas; laminados e decorração interna; compensados; assoalhos; barris; caixaria; celulose.

No caso do PINUS [Pine, Kiefer, Pinus], existem em torno de 95 espécies, largamente difundidas. Grande adaptação a climas e solos. Ocorre nas Américas, Asia, Europa e Africa [plantada]. Árvore e madeira considerada a mais universal.

Exemplo 1: Pinus sylvestris. [Kiefer, Pine] EUA, Europa Central, Norte e Leste, Ásia. Prefere regiões frias ou temperadas. Alturas até 40 m. DAP até 1 m. Fuste nem sempre reto. Suscetível às pesadas tempestades. Idade até 800 anos. Médio teor de resina. Baixa retração e boa estabilidade dimensional. Fácil de trabalhar. Cor: cerne avermelhado, alburno branco. Cerne com boa durabilidade natural. Alburno fácil de tratar com preservativos.

Meap 15% adulta = 0,52 g/cm3.

E15% adulta = 12.000 N/mm2.

Espécies similares:

Pinus nigra - Europa do Sul

Pinus sibiriano - Rússia

Pinus strobus - EUA

Grande disponibilidade nos países de occorência a preços assessíveis. Não existe no Brasil.

Usos: estruturas internas e externas; decoração interna e forrações; esquadrias; assoalhos; laminados; postes; dormentes; chapas; celulose.

Exemplo 2: Pinus radiata. [Pine, Pinus, Radiatapine]. Originário dos EUA. Largamente reflorestado em diversos países com grande espectro de adaptação a climas e solos. Destaques: África do Sul, Austrália, Nova Zelândia, Chile, Portugal... Rápido crescimento com rotação de 25 anos. DAP = 45 cm. Alturas = 30 a 35 m. Baixa retração e boa estabilidade dimensional. Fácil de trabalhar. Durabilidade natural média. Fácil de tratar com preservativos.

Meap 15% a 25 anos = 0,42 g/cm3.

E15% a 25 anos = 8.500 N/mm2.

Espécies similares:

Pinus elliottii - Brasil

Pinus taeda - Brasil

Grande disponibilidade nas regiões onde é plantado. Reflorestamentos no Brasil modestos.

Usos: estruturas internas e externas; decoração e forração interna; móveis; laminados e compensados; chapas aglomeradas (MDF); caixaria; celulose.

Exemplo 3: Pinus elliottii. (Pinus eliote, Elliottiipine, Slashpine). Originário do Sul dos EUA. Reflorestado universalmente em grande escala. Planta robusta com enorme espectro de adaptação a climas e solos. Rápido crescimento com rotações de 22 anos no Brasil. Alturas até 35 m com DAP = 45 cm em média. Bom teor de resina. Cor branca, anéis marcantes e boa estética. Durabilidade natural média. Fácil de preservar. Boa trabalhabilidade. Baixa retração e excelente estabilidade dimensional.

Meap 15% a 22 anos = 0,48 g/cm3.

E15% a 22 anos = 9.500 N/mm2.

Espécies similares:

Pinus taeda - Brasil

Pinus caribéa - Brasil

Pinus radiata - Chile

Boa disponibilidade no País e em outros países onde é plantado.

Usos: estruturas externas e internas; forração interna; assoalhos; decoração; laminados; chapas; resinagem; pré-fabricação de casas; celulose com restrições por motivo do alto teor de resina.

Exemplo 4: Pinus taeda. (Loblolyine, Taedapine, Pinus). Originário do Sul dos EUA. Planta robusta com grande espectro de adaptação a solos e climas. Plantado junto com Pinus elliottii. Fornece 30% mais volume de madeira que o Pinus elliottii em 20 anos. DAP 50 cm. Baixo teor de resina. Excelente para celulose. Cor branca, anéis largos e boa estética. Durabilidade natural média. Fácil de preservar. Excelente trabalhabilidade. Baixa retração e excelente estabilidade dimensional.

Meap 15% a 22 anos = 0,39 g/cm3.

E15% a 22 anos = 7.000 N/mm2.

Espécies similares:

Pinus elliottii - Brasil

Pinus radiata - Chile

Boa disponibilidade no Sul do Brasil. Grandes áreas de reflorestamento no Sul do Brasil.

Usos: conforme Pinus elliottii, porém, muito apto para celulose devido ao baixo teor de resina. Também preferido para móveis e painéis colados.

No Brasil existem em torno de 30 mil km2 de florestas plantadas de Pinus spp. Pode-se citar: Pinus elliottii, Pinus taeda, Pinus caribéa, Pinus hondurenses, e mais algumas espécies de menor expressão. A procura do mercado interno é grande. A exportação está em fase de crescimento: painéis colados, portas, componentes para a construção e móveis e outros. Os compradores externos são os EUA, Canadá, Europa central, ocidental, do sul e ainda outros. Estima-se que em poucos anos vai faltar madeira de Pinus. Portanto é necessário o aumento de plantios. Pode-se pensar em termos de 150 mil km2 como estoque permanente. De qualquer forma madeira tem futuro garantido. É relevante em termos econômicos, energéticos, sociológicos e ecológicos.

Fonte: Eugen Stumpp - Professor e Pesquisador da Universidade de Caxias do Sul / Engenheiro Industrial madeireiro / MSc. e Dr. em Engenharia Civil – construção e ambiente.