A feira Movelsul – maior evento do setor de móveis do País, que aconteceu em março, em Bento Gonçalves (RS), comprovou o alto padrão de qualidade conquistado pela indústria nacional, com destaque para acabamento, acessórios e design. Em termos de tendências, estão de volta os padrões amadeirados e utilizados com os veios em horizontal, a combinação de tons frios e quentes nos acabamentos, o incremento do uso de alumínio nos acessórios, a presença de fibras naturais em componentes e a utilização de vidro pintado como elemento decorativo nos próprios móveis. “Hoje não é mais aceita a ditadura das cores e há liberdade para combinações. Isto explica a ausência de tendências em cores”, explica o designer José Merege.
“Os florais estão presentes nos tecidos, nas portas de cozinhas e chegam aos móveis de escritórios. Percebe-se já uma tendência para desenhos com formas geométricas em portas de cozinhas e armários, que são obtidos através de equipamentos para impressão a laser”, observa Adriane Peccin Milani, designer do setor há 12 anos.
Os designers destacam uma tendência para soluções que imprimam maior comodidade no uso dos móveis como, por exemplo, roupeiros mais altos e com maior profundidade. Os armários ganham novos acessórios para melhor distribuição das roupas e utensílios e as cozinhas, portas refrigeradas para otimização do espaço.
O setor moveleiro nacional foi responsável em 2007 por um faturamento de R$ 21,31 bilhões no mercado interno e um bilhão de dólares em exportações. Um universo de 16 mil empresas em todo o país gera 206 mil empregos diretos. Segundo dados do Sindmoveis – Sindicato das Indústrias do Mobiliário de Bento Gonçalves-RS -, a cidade sede da Movelsul Brasil, lidera a produção nacional de móveis planejados (comercializados em lojas próprias) e é um dos maiores do país na produção de móveis seriados. O setor moveleiro representa 56% da economia do município, participa com 38% do faturamento do setor no estado e com 10% no país.
A Movelsul Brasil 2008 encerrou com saldo positivo para os negócios e para a imagem dos produtos no Brasil e exterior. ”O retorno que recebemos do público e dos expositores tem sido extremamente positivo”, confirma Edson Pelicioli, presidente da Feira.
Há muito que a Movelsul Brasil – a maior feira internacional de móveis da América Latina, através do seu prêmio Salão Design Movelsul, demonstra sua preocupação com as reservas florestais brasileiras, através do Prêmio Ibama/Movelsul de Madeiras Alternativas.
Desde a quinta edição do prêmio de design, junto com o Ibama, é incentivada a criação de móveis usando madeiras renováveis, desde que não sejam conhecidas, como cedro, freijó, louro, pinus, eucaliptos, etc. Os vencedores, além de conhecer o trabalho do Ibama e visitar uma área da Amazônia, recebem um troféu de madeira criado pelo designer goiano Maurício Azeredo.
Mas a edição 2008 contou com outra novidade. Ainda no Salão Design, esta décima-primeira edição lança o prêmio Mérito Social para projetos que levam em consideração a participação de comunidades carentes, indicando o local de origem, a organização social, o projeto de sustentabilidade e o uso de matérias-primas naturais, como cascas, fibras, raízes, sementes, etc., ou recicladas.
Para Edson Pelicioli, presidente, “a Movelsul Brasil é uma feira visitada por profissionais do Brasil e exterior. Estamos nos aproveitando de sua grandeza, para reforçar a mensagem de que necessitamos mudar nossa cultura para o bem da nossa civilização. Esta é uma forma de nos engajarmos nessa corrente mundial”.
Salão Design Movelsul
Paolo Bergomi, presidente da comissão julgadora, ressaltou que essa edição foi marcada pela diversidade e qualidade. O cuidado com a fabricação dos protótipos enviados demonstra o respeito dos designers com esse prêmio. O Salão Movelsul é entendido como um investimento para os designers. Sobre a participação estudantil, Paolo entende que “são eles que possuem a capacidade de voar, já que não possuem compromisso com a indústria, mas vimos muitos projetos com viabilidade de fabricação”.
Os critérios para as escolhas foram ergonomia, forma, funcionalidade, impacto ambiental, inovação, perspectiva mercadológica, relação custo-benefício e viabilidade de produção. Dos 940 projetos inscritos na primeira fase, 69 passaram para a segunda, com o julgamento dos protótipos em tamanho natural.
O Salão Design Movelsul foi criado com o objetivo de incentivar a criatividade e a inovação tecnológica por meio do design e de contribuir para o desenvolvimento do setor moveleiro. Desde a sua criação em 1988 contabiliza a participação de 5.665 projetos. Em 2008 foram 940 inscrições de 14 países e prêmios em torno de R$ 100 mil.
Segundo o diretor do Salão Design, Daniel Camera, além de fomentar o design, o Salão também visa a gerar negócios. Nos 20 anos de concurso vários projetos foram industrializados e os profissionais projetados no âmbito das empresas. Na edição 2008, o exemplo mais expressivo vem da categoria “Estudantes”. Os autores do Projeto Foz – Abrigo De Proteção Ao Usuário Do Transporte Coletivo - já foram procurados por três empresas interessadas em industrializar o modelo proposto.
Por iniciativa da Movelsul 2008, a partir desta edição a feira passa a incentivar também o envolvimento da comunidade de Bento Gonçalves-RS com a produção do design. O lançamento do Projeto Design – Manifestações da Comunidade quer incentivar a mostra de manifestações espontâneas e expressivas de objetos em geral que utilizem a ferramenta design. O projeto envolve desde escolas de primeiro e segundo graus, universidades, cursos técnicos, ONGs, artistas, artesões e entidades.
Floresta Movelsul
Preocupados com os perigos do aquecimento global, os organizadores criaram o projeto Floresta Movelsul, que consiste na distribuição de sementes de árvores nativas aos visitantes para compensar a emissão de carbono nos cinco dias da Feira. As sementes foram entregues nos dois halls de entrada do Parque de Eventos.
A Floresta Movelsul é um dos novos projetos desta edição da feira, criado com o objetivo de neutralizar impactos ambientais gerados pelo evento. O projeto distribuiu 30 mil sementes e 3.000 mudas de árvores nativas para os visitantes.
O plantio da Floresta Movelsul iniciou em ato que reuniu o atual presidente da feira e 15 ex-presidentes para o plantio de 16 mudas de árvores nativas, simbolizando cada uma das 16 edições da feira. Outra providência ambiental é a reciclagem dos crachás e o tratamento da água utilizada no período de montagem da feira.
Projeto Comprador
A quinta edição do Projeto Comprador na Movelsul reuniu 25 importadores e mais de 100 empresas em 500 rodadas de negócios entre expositores da feira e importadores previamente contatados.
Os resultados não são mensurados à curto prazo já que muitos negócios por vezes levam tempo a se concretizar, mas são facilmente contabilizados pelas empresas. “Graças ao Projeto Comprador abrimos mercado no Chile há seis anos e desde então o cliente vem nos comprando mensalmente”, conta Diana Dalla Costa, da Móveis Ferrarte de Bento Gonçalves-RS. Nos contatos efetuados nesta edição, em 10 reuniões de negócio do projeto Comprador, a executiva aposta nos contatos com a África do Sul, Venezuela, Bolívia e Republica Dominicana.
Uma das exigências desta edição foi selecionar importadores que nunca haviam participado do projeto, com o objetivo de ampliar mercados no exterior. Mas como a defasagem cambial e o aumento da matéria-prima no país pressionaram os preços, alguns mercados ficaram impraticáveis. “Em função destas duas variáveis os preços subiram até 40%. Em países com moeda equiparada ao dólar a competitividade fica impraticável”, afirma Clóvis Pires, que representou a Estobel, fabricante de estofados de Farroupilha-RS. Segundo ele, no Equador e Venezuela há ainda a concorrência com os móveis da China e Malásia.
Importando móveis do Brasil há 12 anos e participando do Projeto Comprador pela primeira vez, Igor Lubkov buscou alternativas de design e melhores preços para abastecer uma rede de 11 lojas no Equador que vende desde móveis populares a clássicos. “Acredito que vamos fechar negócios com três empresas das 12 contatadas. Temos a limitação dos preços que não estão muito interessantes em função da desvalorização do dólar perante o real”, confirma o importador, que no ano passado negociou US$ 7 milhões em móveis brasileiros.
Fonte: Elaborada pela Equipe Jornalística da Revista da Madeira. |