A produção de pisos de madeira no Brasil vem crescendo expressivamente nas últimas décadas. Esse aumento pode ser atribuído principalmente ao crescimento da produção de pisos “engenheirados”, que passaram a ser difundidos no mercado e amplamente empregados na construção civil. Por sua vez, o piso maciço é produzido normalmente com madeiras nobres e mantém-se ainda com destaque, porém, com produção menor e sem crescimento significativo nos últimos dez anos.
O termo “piso engenheirado” é de uso recente, o qual é um produto fabricado a partir de painéis compensados ou painéis de fibras de alta densidade (HDF – high density fiberboard) revestidos com lâminas decorativas de madeira ou papéis melamínicos. No processo de fabricação de pisos “engenheirados” (laminados), são utilizadas lâminas de madeira coladas como em painel compensado, formando a base do piso. Na fase seguinte, o compensado passa por processo de calibração e lixamento, para ajuste da espessura, e recebe a camada de lâminas de madeira decorativa na face. A fase final consiste de cortes longitudinais em larguras finais do piso, perfilamento longitudinal e transversal para encaixes e aplicação de material de acabamento superficial.
Os pisos de madeira, tanto maciços quanto engenheirados, são produtos provenientes de recursos naturais renováveis. Ao comparar piso de madeira com carpete, um estudo constatou que é necessário 0,85 megawatts para produção de uma tonelada de pisos de madeira, contra 3,59 megawatts para uma tonelada de carpet, produzido a partir de material sintético e não renovável.
Quanto às vantagens em termos de custo-benefício dos pisos de madeira em relação aos outros materiais, principalmente quanto à beleza, variedade de estilos e cores das diferentes espécies de madeira. Por outro lado, os pisos “engenheirados”, por serem produtos colados de madeira, apresentam uma série de vantagens em relação aos pisos de madeira maciça. A primeira refere-se ao melhor aproveitamento da madeira no processo de obtenção de lâminas, sem a geração de resíduos, tanto na forma de serragens no processamento primário quanto na forma de cepilhos no processo de re-manufatura.
A segunda refere-se à maior estabilidade dimensional das peças. O princípio de laminação cruzada, aliada à restrição imposta pela linha de cola às diferentes alterações dimensionais das camadas adjacentes, resulta em produto com maior estabilidade dimensional, quando comparado à madeira maciça sob influência do fator anisotrópico.
As principais espécies utilizadas na produção de pisos engenheirados (laminados) no Brasil são: amescla (Trattinickia burserifolia), assacu (Hura crepitans), faveira (Parkia spp.), caju-açu, cajuí (Anacardium spp.), ucuúba (Virola spp.), entre outras, para “miolão” ou base do piso, e lâminas faqueadas de marfim (Balfourodendrum riedelianum), ipê (Tabebuia spp.), angelim (Hymenolobium spp.), sucupira (Bowdichia nitida), muiracatiara (Astronium spp.), entre outras, para capa.
A matéria-prima básica, tradicionalmente oriunda de florestas, está sendo gradativamente substituída por produtos sólidos e reconstituídos, provenientes de plantios de espécies arbóreas de rápido crescimento, cujas espécies utilizadas apresentam, entre outras vantagens, alta produtividade, redução da idade de corte, segurança de abastecimento, homogeneidade de matéria-prima, custo competitivo, produção regionalizada, além da possibilidade de múltiplos usos da floresta e seus produtos.
No Brasil, algumas espécies de eucaliptos provenientes de plantios podem ser alternativas promissoras para a produção de pisos “engenheirados”, em substituição às espécies tropicais provenientes de floresta da região amazônica. Entre as espécies do gênero Eucalyptus e a do gênero Pinus, a madeira de eucalipto apresenta consideráveis vantagens sobre a madeira de pinus (coníferas), devido à melhor aparência, maior resistência e rigidez para usos estruturais, além da extrema plasticidade do gênero.
Este trabalho teve como objetivo avaliar as propriedades físicas e mecânicas dos compensadosdo tipo “combi”, produzidos com lâminas de Eucalyptus grandis e Eucalyptus maculata como capa e contracapa e Pinus taeda como miolo, coladas com resina fenol-formaldeído e melamina-uréia-formaldeído, visando a sua utilização como pisos laminados com montagem direta.
Os resultados demonstram uma redução acentuada na espessura dos painéis produzidos com 100% de lâminas de Pinus, em comparação aos painéis tipo “combi”, produzidos com lâminas de E.grandis e E. maculata nas capas e contracapas, e miolo com lâminas de Pinus. Essa diferença pode ser atribuída à menor densidade da madeira de Pinus em comparação à madeira de E. grandis e E. maculata, e, conseqüentemente, à menor resistência oferecida à compressão durante o processo de prensagem à alta temperatura.
A madeira de E. grandis e E. maculata, com maior densidade, além de ter maior resistência à compressão, possui maior força de expansão para retorno em espessura durante o processo de estabilização dos painéis na câmara de climatização. Esse resultado é de grande importância para a produção de piso laminado com “montagem direta”, tendo em vista possibilitar o ajuste da espessura final do produto e o acabamento superficial em única etapa de calibração e lixamento.
O processo de “montagem direta” elimina a etapa de colagem de lâminas decorativas, posterior às etapas de montagem da base do piso laminado (miolão), calibração e lixamento do painel compensado.
Fonte: Setsuo Iwakiri, Andréa Berriel Mercadante Stinghen, Elenise Leocádia da Silveira Nunes, Esoline Helena Cavalli Zamarian, Márcia Keiko Ono Adriazola: Depto. de Engenharia e Tecnologia Florestal, UFPR - setsuo@ufpr.br. |