O ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, admitiu que há derrubada de florestas na Amazônia para uso como pasto. Reconheceu, ainda, que o governo trata do tema somente "em tese", torcendo para que o rebanho que “come a floresta” não se destine ao aumento das exportações brasileiras.
Hoje a Amazônia Legal responde por 36% do rebanho nacional e um terço das exportações, segundo relatório compilado pela ONG Amigos da Terra - Amazônia Brasileira. Virtualmente todo o crescimento do rebanho nacional entre 2003 e 2006 aconteceu naquela região. "Como ministro da Agricultura, quero crer que não precisamos disso (ataque à floresta) para exportar carne." O Brasil é alvo constante de questionamentos de países desenvolvidos sobre as origens de seus produtos agrícolas, envolvimento de trabalho degradante e outros problemas. A temática ambiental também sempre surge nessas discussões.
O complexo de carnes foi destaque, com aumento de 12,8% nas vendas de carne bovina. Em 2007, o Brasil embarcou 1,62 milhões de toneladas de carne bovina em direção a 150 países, um número 6% superior ao ano anterior.
Em suas projeções, o Ministério da Agricultura espera um crescimento de 31,5% na produção bovina até 2017/2018. Segundo o ministro, há espaço para o aumento sem interferência em biomas protegidos, como a Amazônia e o Pantanal. O cerrado participa do cálculo como área para pastagem.
Isso apesar de ser um bioma rico em biodiversidade e altamente ameaçado: estima-se que 40% dele já tenham sido alterados pela ação humana, e as pressões do agronegócio sobre a savana central brasileira só crescem.
"Estamos conscientes de que com a área que temos podemos ampliar a nossa produção agropecuária dentro das necessidades que teremos nos próximos dez anos sem precisar derrubar nenhuma árvore", disse. Entre as medidas citadas pelo ministro está o incentivo de áreas de pastagens degradadas.
O problema é justamente convencer pecuaristas a voltar a esses espaços, abandonados quando a quantidade de nutrientes no solo diminui consideravelmente. Para isso, seria preciso incentivos públicos financeiros para a compra de adubo e fertilizantes. "Temos de ter um uso mais intensivo, mais racional. Precisamos criar programas para uso de pastagem degradada, é uma proposta que precisa ser implementada", afirmou o ministro da Agricultura.
A recuperação de áreas degradadas era justamente uma das tarefas que cabiam àquela pasta dentro do Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento, coordenados pela Casa Civil. A ação nunca chegou a ser implementada.
Corte de crédito a quem desmata
O bloqueio de financiamento público para atividades que desmatem é um dos seis pontos da ação imediata de combate à devastação listada pelo governo. A medida alcançará créditos do Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), além de financiamentos do Banco do Brasil, do BNDES e do Basa (Banco da Amazônia). "O Pronaf terá de se adequar às garantias de que o produtor beneficiado não está desmatando", disse a ministra Marina Silva (Meio Ambiente).
Estudo recente do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), no entanto, estimou em quase R$ 2 bilhões os empréstimos concedidos entre o início do governo Lula e outubro de 2007 a pecuaristas na Amazônia. Até o final do ano passado, norma interna do Basa dispensava a regularidade ambiental na concessão de empréstimos.
Decreto editado pelo governo em dezembro manda as agências oficiais suspenderem o crédito "de qualquer espécie" para atividade agropecuária e florestal em imóvel em área embargada por desmatamento ilegal. A proibição alcança atividade comercial ou industrial vinculada a esse tipo de produção. Entre as ações listadas pelo governo também está o monitoramento mensal das áreas embargadas e o reforço da Polícia Federal no combate ao desmatamento. A partir de 21 de fevereiro, 800 agentes da PF reforçarão a fiscalização.
Crescimento no Norte
De acordo com avaliação dos integrantes do Sindicato das Indústrias Madeireiras do Norte do Mato Grosso (Sindusmad), 2007 foi um ano de retomada para o setor madeireiro na região Norte.. Para o presidente José Eduardo Pinto, o segmento apresentou sinais de avanço, com o aquecimento do mercado interno.
Segundo ele, a atividade cresceu comparada a 2005 e 2006, quando foi atingida por operações como a Curupira. "Foi um ano difícil, com problemas. Trabalhamos em cima de nós, que foram desatados e estão gerando perspectivas em 2008, para fazermos a engrenagem de o setor virar mais rápido", declarou.
O presidente elencou ainda, que o aquecimento do mercado interno, motivado pelo bom momento também de outros setores, como a construção civil, colaborou. "2007 foi o ano da inversão. 2005 foram difícil, 2006 o setor esteve travado, um ano novo onde a Sema começou a operar. Em 2007, a engrenagem começou a virar ainda bastante aquém do que necessitamos. O mercado interno aqueceu um pouco", acrescentou.
Entre os avanços conquistados pelo setor ano passado destaca-se, na avaliação dos sindicalistas, o bom relacionamento com Secretarias de Meio Ambiente e Fazenda, a prorrogação das licenças ambientais, participação em feiras de máquinas, móveis e produtos do setor, criação de trabalhos nas câmaras setoriais, entre outras.
O vice-presidente Jaldes Langer, também presidende do Centro das Indústrias Produtoras e Exportadoras de Madeira de Mato Grosso (Cipem), acrescentou que "agimos na mesma demanda que os sindicatos têm. Somos o reflexo de tudo que acontece no Estado. Não podemos nos queixar do passado, estamos no mercado, com sérias dificuldades, mas todos os setores passam por um processo de superar estas situações e ter isso como aprendizado", concluiu.
Fonte: Elaborada pela Equipe Jornalística da Revista da Madeira. |