O Brasil é o terceiro país, entre aqueles localizados nos trópicos, em termos de área plantada, sendo superado pela Índia que possui 18,9 milhões e a Indonésia com 8,8 milhões de hectares com plantios florestais. Quase 100% das áreas reflorestadas foram plantadas com espécies de eucalipto ou coníferas. Em termos de silvicultura dos eucaliptos e coníferas de rápido crescimento, houve um grande avanço nas áreas de melhoramento genético e nutrição florestal, culminado em plantios de alta produtividade, adaptabilidade e qualidade desejada de produtos florestais.
Técnicas modernas, como micropropagação vegetativa, são usuais na maioria das empresas florestais brasileiras. Nas áreas de tecnologia e qualidade da madeira também houve avanços significativos, principalmente nos segmentos de celulose e energia, e ultimamente os de madeira serrada.
A silvicultura de espécies tropicais que nos ocorrem diferentes ecossistemas brasileiros é bastante recente e demonstra um claro descompasso em relação aquela desenvolvida para o eucalipto e coníferas de rápido crescimento. Parte do descompasso é decorrente da falta de conhecimento sobre a fenologia das espécies, produção de sementes e mudas e sistemas de plantio. Da mesma forma, praticamente inexistem plantios comerciais com essas espécies, o que contribui para mistificar a sua utilização.
Atualmente inúmeras universidades e institutos vêm realizando pesquisas com as espécies brasileiras, visando obter os conhecimentos necessários para viabilizar a sua silvicultura. Algumas experiências de plantio dessas espécies começam a despontar, tanto no Amazônia como na região da Mata Atlântica.
O reflorestamento, com uso de espécies nativas ou exóticas pode ser feito para uma série de finalidades, que normalmente são econômicas e financeiras (comercial), mas podem ser para uso de recuperação, para proteção e, com grande ênfase atual, para usos múltiplos.
Neste sentido, torna-se necessário especificar de maneira mais precisa possíveis, os objetivos para os quais se devem considerar: o tipo, quantidade e qualidade dos produtos e outros benefícios desejados; necessidade temporal na qual os diversos produtos serão necessários e aspectos paralelos ao plantio, tais como a existência de incentivos de órgãos ambientais, dentre outros.
Clima
Um dos fatores básicos para o êxito do cultivo de espécies florestais consiste no uso de materiais genéticos adequados à ecologia das diferentes regiões. De um modo geral, é impossível para ecologistas mensurar todos os fatores ambientais que determinam o habitat natural das espécies, sendo necessário priorizar alguns destes fatores.
Dentre as diversas exigências ecológicas das espécies, os fatores climáticos têm sido um dos mais importantes utilizados para teste de seleção de espécies. Considerando, portanto, que o clima exerce forte influência na fisiologia de plantas, sendo determinante primário da produtividade biológica, estudos climáticos devem prestar grande contribuição para a compreensão da distribuição padrão das plantas.
A distribuição natural de várias espécies florestais de valor econômico e sua correlação com fatores climáticos vem sendo estudada em diversas partes do mundo. No caso de plantas, os resultados de muitos estudos indicam que os fatores climáticos tipicamente definem limites para sua distribuição em grande escala.
Decorrente do fato da distribuição geográfica de espécies vegetais estarem limitadas, até certo ponto, pela natureza particular de cada espécie e pelos aspectos climáticos, deduz-se existir uma correspondência entre o clima e a vegetação. Portanto, o clima com seus múltiplos fatores podem condicionar a possibilidade de cultivo de uma espécie ou procedência. O princípio básico ideal que deve sustentar uma indicação é colocar todas as espécies em áreas apropriadas.
Neste sentido, a escolha é baseada principalmente em seu comportamento nos plantios, na mesma área ou em regiões próximas, ou na ausência destes, no estudo de analogias climáticas, comparando as condições climáticas locais das áreas de origem das espécies ou onde as mesmas obtiveram sucesso. Dentre as características, as que mais vêm recebendo atenção são:
Temperatura: médias das máximas e mínimas de cada mês, máximas e mínimas absolutas, média anual;
Precipitação: não só a total, mas também a distribuição ao longo do ano e médias anuais;
Ocorrência de geadas: ocorrência ou não de geadas, bem como sua intensidade;
Deficiência hídrica.
Solo
Na avaliação da qualidade de um ecossistema deve-se ter em mente que uma série de fatores está intensamente envolvida no processo produtivo. A fertilidade e os aspectos físicos do solo aparecem neste contexto, como extremamente importantes, visto que os solos brasileiros são naturalmente pobres. A avaliação da fertilidade do solo é normalmente realizada com base em atributos como teor de nutrientes, vegetação natural e uso agrícola, morfologia do perfil, textura do solo, profundidade e afloramento de rocha.
A dimensão da importância do solo na seleção de espécies florestais é de difícil determinação. Sabe-se que quanto mais se conhecer suas características, menores poderão ser os problemas de inadaptação de uma espécie.
Diversos insucessos na introdução de espécies no Brasil ocorreram porque as características edáficas do sítio foram desconsideradas. Um exemplo é a escolha inadequada da espécie Gmelina arborea, introduzida na região da Floresta Amazônica na década de 70, onde a presença de uma floresta exuberante sugeriu aos silvicultores da época, que os solos daquela região eram potencialmente férteis e, portanto, aptos à introdução de plantios comerciais de espécies de rápido crescimento, sendo verificado, mais tarde, um grande erro de avaliação de fertilidade.
Para exame da aptidão de determinadas espécies arbóreas às condições locais de sítio, os seguintes recursos poderão prestar valiosa ajuda:
Análise de plantações já existentes nos locais em questão. Neste sentido, é importante a análise das culturas bem sucedidas, bem como, daquelas mal sucedidas;
Investigação das árvores pioneiras autóctones, de suas exigências ecológicas e de seu comportamento silvicultural;
Análise das publicações a respeito.
O crescimento em altura e a sobrevivência das plantas são as características mais importantes para a avaliação da adaptação de uma espécie de essência florestal. O crescimento em altura é um dos parâmetros mais importantes para a sobrevivência das árvores em competição, sendo um dos índices mais seguros para determinar se a espécie foi ou não plantada em local apropriado.
Por outro lado, alguns autores relatam que a altura das plantas está relacionada mais com a capacidade produtiva do local onde cresce do que com qualquer outro parâmetro e que, por essa razão, pode ser usada como índice de qualidade local num povoamento equiâneo. Por estar menos sujeita às variações ambientais, a altura é uma característica mais precisa do que o diâmetro, na escolha de uma espécie.
Outro parâmetro que assume relevante papel na avaliação da adaptação de determinada espécie florestal é a taxa de sobrevivência. Entretanto, o estabelecimento e a sobrevivência das plantas podem ser prejudicados por falhas técnicas na produção e no plantio das mudas ou por ataque localizado de formigas ou outras pragas (Hypsipilla grandella em mogno) e doenças (mal das folhas em seringueira). Esses fatores fazem com que determinado material apresente baixa sobrevivência num dado local. Dessa forma, a avaliação isolada da sobrevivência pode conduzir a interpretações tendenciosas quanto à adaptação de um dado material. Todavia, esse parâmetro tem sido empregado por vários autores, como medida de adaptação de espécies e procedência florestais.
Independentemente da finalidade da madeira a ser produzida, a altura, o diâmetro, a sobrevivência e o volume são parâmetros importantes para a avaliação do desempenho de determinada espécie florestal. Em última análise, o volume é a característica mais importante, considerando que é derivado das outras características mencionadas e com as quais apresenta correlação alta e positiva.
Potencial
As regiões tropicais são caracterizadas, grosso modo, como locais de grande intensidade luminosidade, precipitação pluviométrica abundante e solos relativamente pobres. Mas é justamente nessas regiões que se observam os altos índices de biodiversidade, tanto animal como vegetal. As florestas Amazônicas e a Atlântica são exemplos dessa exuberância. Todavia, uma das características principais desses ecossistemas é a intensa ciclagem de nutrientes, que faz com que a biomassa possa ser ciclicamente produzida.
Dentre as espécies, merecem atenção os resultados obtidos para a castanheira que apesar de ser uma espécie tradicionalmente utilizada para produção de frutos/sementes, possui um potencial silvicultural expressivo.
Atualmente ela é explorada na Amazônia, apesar de ser protegida por lei, a partir de cortes ilegais, assim através de licenças especiais fornecidas para áreas inundadas da região, principalmente Tucuruí.
O taxi branco, uma leguminosa de alto valor energético, apresenta volumetria comparável às espécies introduzidas. Neste caso, e diante da demanda de matéria-prima para o setor de energia, principalmente ao longo da Estrada de Ferro Carajás (EFC) esta espécie poderá vir a somar com aquelas que hoje são plantadas ao longo dessa estrada.
O freijó tem demonstrado bom comportamento silvicultural em sistemas agroflorestais e para esse sistema produtivo é sem dúvida uma das espécies mais recomendadas. Uma das poucas espécies a possuir plantio comercial em média escala é o morototó que vinha sendo utilizado por uma fábrica de palitos de fósforos às proximidades de Belém. Não obstante essa empresa ter findado suas atividades na região, a espécie possui características bastante desejáveis, principalmente para a indústria de compensados, marcenaria e carpintaria.
Na região sudeste trabalhos realizados por pesquisadores mostram que algumas das espécies da Mata Atlântica possuem bom crescimento, forma e qualidade da madeira desejavam para inúmeros produtos. Nessa região, onde praticamente não há mais cobertura original, a demanda de produtos madeireiros vem sendo suprimido pelas derrubadas na Amazônia e sul da Bahia. Todavia, é cada vez maior a pressão sobre essas fontes de matéria-prima e em médio prazo talvez não seja mais possível obter esses produtos dessas regiões, principalmente se eles ainda o forem obtido no sistema atual.
Crescimento de diferentes espécies em plantio experimentais na região sudeste brasileira
Os dados referem-se a um plantio realizado em área da Reserva Florestal de Linhares, situada no município de Linhares-ES. Naquela época, imaginava-se fazer o plantio das espécies regionais da forma que eram os plantios com coníferas de rápido crescimento e eucaliptos. Ao longo dos anos esses plantios foram sendo desbastados e conduzidos para outras pesquisas, sendo que atualmente na mesma área existe um ensaio agroflorestal.
A boleira é uma espécie que possui crescimento semelhante aos melhores materiais de eucaliptos introduzidos na região. É utilizada na fabricação de caixas e embalagens de frutas produzidas localmente. É uma espécie que não apresenta problema fitossanitário e possui boa forma florestal (fuste).
O guapuruvú desponta como grande potencial e na região centro oeste, uma espécie Amazônica. O Schizolobium amazonicum (paricá ou pinho cuiabano) já vem sendo plantado comercialmente. Tanto o pinho cuiabano quanto o guapuruvú apresentam incrementos em altura e diâmetro capazes de prever sua exploração já aos 15 anos de idade.
A farinha seca é uma espécie de crescimento moderadamente rápido, chegando atingir, em condições naturais, 20 - 30 metros de altura e diâmetro de 50 - 80 cm. Sua madeira é leve, compacta e presta para obras internas como forros, divisórias e laminados.
O jacarandá da Bahia é uma espécie que apresenta um bom crescimento inicial, todavia em plantios puros é severamente atacada por um tipo de broca que causa sérios danos á planta, levando-a morte. Consideramos um erro o plantio nessas condições e não obstante o índice de mortalidade ser alto, está sendo possível conhecer e seu ritmo de crescimento. É uma espécie que vem sendo testados em condições de sombreamento parcial - sistemas agroflorestais, ou em plantio em clareiras no interior de florestas secundárias - com incrementos razoáveis e suficientes a se estimar o seu corte aos 40 anos de idade.
O jequitibá rosa apresenta um crescimento muito bom em altura e DAP, como também uma variabilidade genética acentuada entre árvores. Aos 132 meses de idade essa espécie já apresentava um volume de 198 m³/ha. Sua madeira é leve grã direita, textura média e é empregada na construção civil, movelaria, folhas faqueadas, fabricação de brinquedos e saltos de sapatos.
Nestor Prado Jr. Engenheiro Florestal e especialista em Gestão e Manejo Ambiental de Sistemas Florestais
|