Não é de hoje que se sabe que a maior presença do Brasil no comércio exterior depende obrigatoriamente da ampliação da capacidade estrutural e logística dos portos.
Mas só agora, ao que parece, o governo federal despertou para esse fato, a levar-se em conta a saudável disposição da recém-criada Secretaria Especial dos Portos (SEP) de cumprir velhas promessas de dar atenção especial à infra-estrutura.
Sabe-se, porém, que por mais que se gastem as verbas previstas no Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), dificilmente, em 2008, haverá uma mudança significativa nos números da movimentação dos portos, além do que já está previsto. Até porque, na cadeia logística, uma parte depende da outra e, para que o crescimento seja representativo, é preciso que o País cresça de forma integrada, fazendo funcionar a chamada multimodalidade, o que significa integrar rodovias, ferrovias, portos, aeroportos, zonas retroportuárias, armazéns alfandegados e hidrovias.
É claro que a iniciativa privada continuará a fazer a sua parte com eficiência, especialmente as empresas especializadas em transporte e logística, que há anos vêm investindo grandes recursos para ampliar sua capacidade operacional. Não é à toa que a maioria apresenta um crescimento anual ao redor de 25%.
Mas é preciso que o poder público também cumpra seu papel, pois há de chegar o dia em que haverá o tão anunciado caos logístico. Mesmo porque não há sentido em colocar-se uma carreta com sensores e outros equipamentos avaliada em R$ 300 mil para trafegar em rodovias esburacadas e mal policiadas ou para que fique dias estacionados junto ao porto à espera de ordem para descarregar ou carregar.
Um trabalho recente do Centro de Estudos em Logística (CEL) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) mostrou que as empresas brasileiras deixam de ganhar cerca de R$ 40 bilhões em razão dos gargalos logísticos do País. Segundo o estudo, apenas com a reposição de peças mais de R$ 800 milhões são gastos por ano, num período em que a economia não permite mais o simples repasse para os clientes.
Para que esse desperdício diminua, não basta o anúncio de que mais recursos serão canalizados para a infra-estrutura. O Tesouro tem sido lento na liberação de recursos para os ministérios e nem essa verba é totalmente aproveitada porque falta capacidade gerencial para planejar e tocar obras. Os investimentos com recursos privados têm sido dificultados, em alguns casos, pelo atraso na regulamentação, como são exemplo notório as parcerias público-privadas (PPP).
Estudo anterior do CEL/UFRJ, de 2005, já havia apontado que o Brasil tem apenas 26,4 quilômetros de vias de transporte por quilômetro quadrado de superfície, o que nos deixa não só longe dos EUA, com 447, como do México, com 57,2, e da China, com 38,8.
Isso mostra que há décadas o investimento na infra-estrutura não vem acompanhando as necessidades econômicas e sociais do País. E que os gargalos só não são mais dramáticos porque a economia há duas décadas vem crescendo pouco. Portanto, o que se espera é que, em 2008, o País vire um grande canteiro de obras. Se a economia dá sinais de que pode crescer mais nos próximos anos, a infra-estrutura logística não pode transformar-se em obstáculo. Pelo contrário. É preciso recuperar o tempo perdido.
Milton Lourenço é diretor-presidente da Fiorde Logística Internacional, de São Paulo-SP. |