Um estudo da ONU indica que o crescimento da economia mundial será de 3,4% para 2008. De acordo com os economistas da Conferência da ONU para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad), pode haver um cenário pessimista - baseado em um agravamento da crise imobiliária nos Estados Unidos e em uma acelerada queda do dólar. Neste caso o crescimento econômico global seria de apenas 1,6%.
Os especialistas da ONU estimam que uma queda de 15% nos preços do setor imobiliário afetaria a demanda e representaria 2% a menos de crescimento para os EUA, o que levaria o país a uma virtual estagnação em 2008. O perigo concreto é de que a dimensão adquirida por essa crise provoque uma recessão da maior economia mundial, o que afetaria o comércio global e seria um "duro golpe" para muitos países pobres, pois colocaria um fim no "boom" dos preços das matérias-primas que beneficiou essas nações nos últimos anos.
Outra ameaça é uma dramática queda do dólar que, para alguns analistas, pode chegar a 20%. Desde 2002, o dólar perdeu até 35% frente a outras unidades monetárias de referência, sendo um quarto dessa baixa ocorrida apenas entre janeiro e dezembro do ano passado. Desta forma, uma maior queda da moeda americana levaria irremediavelmente a uma diminuição da demanda de produtos do resto do mundo. O risco se multiplica para os países em desenvolvimento que têm a maior parte de suas reservas internacionais em dólares.
Sobre as políticas necessárias na Europa para evitar o pior dos cenários, são necessários “estímulos monetários e tributários" para acelerar a demanda interna e evitar um arrefecimento. O relatório da Unctad critica ainda o papel dos bancos centrais nessa crise, pois "embora tenham adotado várias medidas para atenuar a pressão financeira", não atuaram sobre as raízes do problema. Este estaria relacionado, segundo o documento, aos "graves desequilíbrios entre os países com grande superávit financeiro - China, Japão e grandes produtores de petróleo - e aqueles com enorme déficit, principalmente os EUA".
Já o Banco Mundial tem previsão que a economia mundial deverá voltar a abrandar em 2008, sendo esperado um crescimento de 3,3%. Estes valores são explicados pelo abrandamento econômico registrado nos países desenvolvidos, nomeadamente os Estados Unidos. As previsões do BM indicam que estes países vão crescer 2,2% em 2008. Já os países em desenvolvimento vão crescer 7,1% no mesmo período.
No entanto, o BM alerta para os riscos de um dólar fraco, de uma recessão nos Estados Unidos e da crescente volatilidade dos mercados financeiros. Estes fatores podem lançar uma “sombra” sobre a economia global. Estes riscos podem diminuir as receitas das exportações e a entrada de capital nos países em desenvolvimento, e reduzir o valor dos investimentos em dólares no estrangeiro.
A instabilidade nos mercados financeiros deverá persistir até ao final de 2008 mas os custos para as grandes instituições financeiras deverão permanecer "suportáveis". Os impactos da crise do setor imobiliário norte-americano no consumo privado deverão continuar a ser limitados.
Diante de previsões, existem riscos globais em 2008. Um relatório elaborado como base para os debates na Reunião Anual do World Economic Forum, em Davos, Suécia, destaca as principais áreas de risco na economia mundial, em 2008.
O relatório é baseado em informações de uma rede de mais de 100 dos maiores líderes empresariais, tomadores de decisão, cientistas e outros grandes acadêmicos que, ao longo de 2007, fizeram parte da Rede de Riscos Globais do World Economic Forum.
O relatório “Riscos Globais 2008” analisa quatro questões emergentes que vão ter impacto na economia e sociedade global na próxima década. Embora muitos destes riscos fossem inevitáveis, eles podem ser mais bem compreendidos, geridos e abrandados.
Risco financeiro
Uma nova precificação de risco em mercados financeiros foi prevista por alguns analistas no início de 2007, mas a escala e a natureza da crise financeira sistêmica de 2007-2008 têm levantado dúvidas fundamentais a respeito das vulnerabilidades inerentes ao modelo atual dos mercados financeiros.
A diversificação do risco pode ter fortalecido a estabilidade em bons tempos, mas a ameaça de risco financeiro sistêmico continua intensa. Neste ano, a recessão nos EUA é possível e os economistas estão divididos se o crescimento asiático baseado no consumo será suficiente para impulsionar a economia global. Na Europa, o tamanho do setor financeiro do Reino Unido cria vulnerabilidades, enquanto grandes déficits em conta corrente em algumas economias da Europa central e oriental podem se mostrar insustentáveis em 2008.
As mudanças no mercado financeiro nas duas últimas décadas levaram à descentralização da propriedade de riscos, o que criou mais oportunidades para o risco transitar entre empresas e mercados.
Segurança Alimentar
Em 2007, vários alimentos básicos alcançaram preços recordes e as reservas globais de alimentos atingiram os menores níveis dos últimos 25 anos, o que tornou a oferta de alimentos vulnerável a crises internacionais ou desastres naturais – em alguns casos ocasionando as “revoltas de comida”, que já ocorreram em 2007. Para o futuro, Riscos Globais 2008 sugere que os fatores por trás da insegurança alimentar global – crescimento populacional, mudança de estilo de vida, o uso de safras para produzir biocombustíveis e mudanças climáticas – devem se aprofundar na próxima década, gerando, em longo prazo, uma tendência global de reversão dos preços de alimentos e levando a um conjunto de desafios complexos para a eqüidade global.
Abastecimento
Avanços em tecnologia e em logística global, em conjunto com a redução de barreiras comerciais, impulsionaram uma expansão histórica do comércio internacional e intra-regional nos últimos 20 anos. Esses avanços levaram, em geral, a mais eficiência e prosperidade global. Mas, a hiperotimização das cadeias de abastecimento também poderá aumentar as vulnerabilidades de rompimentos e de concentração de riscos. Em geral, essas vulnerabilidades nem sempre são totalmente compreendidas. Embora as cadeias de abastecimento possam compartilhar os riscos entre várias partes, elas também podem agregar riscos.
Todas as empresas e governos que dependem de fornecedores externos enfrentam rompimentos em suas cadeias de suprimentos. A construção de uma nova cultura nesta área, junto com uma abordagem internacional para gerir os riscos das cadeias de abastecimento em setores públicos e privados, está entre os primeiros passos as serem tomados para mitigar os riscos.
Energia
A disponibilidade de fontes energéticas é fundamental para a economia global, mas é cada vez mais difícil garantir um fornecimento seguro e sustentável – e em conformidade com os compromissos globais de reduzir emissões de gases que causam o efeito estufa. Com previsões de que a demanda por petróleo deve aumentar 37% até 2030, o relatório vê um espaço limitado para a queda de preços de energia na próxima década. Esta pode ser uma boa notícia para produtores de petróleo e gás, mas cria um descompasso inerente entre as partes que suportam os riscos e que ganham as recompensas, que só devem ser resolvidos por meio de um diálogo mais aberto em todos os níveis.
“Riscos Globais 2008 aponta para um futuro de desafios imensos, mas também de oportunidades para os tomadores de decisão em governos e empresas mostrar a sua capacidade de liderança”, afirma o professor Klaus Schwab, fundador e chairman do World Economic Forum. “A análise da conectividade dos riscos globais presente no relatório reflete a necessidade de se criar uma estrutura de colaboração para enfrentar a esses desafios
O abastecimento de energia é uma questão crucial. A economia global mostrou grande elasticidade diante dos aumentos nos preços da energia desde 2004. Mas podemos estar perto de atingir os limites desta elasticidade. Nas próximas duas décadas, o fornecimento de combustíveis fósseis primários ficará mais restrito, o que provocará um crescimento na vulnerabilidade do mercado global para os choques de preços. “Essa estrutura deve buscar o investimento e a inovação em energia mais limpa, e, finalmente, criar um preço econômico para o carbono”.
No caso do Brasil, a Confederação Nacional da Indústria, aponta estimativas para crescimento de 5,0% da economia brasileira em 2008, que crescerá impulsionada pelo consumo interno, pelo cenário favorável aos investimentos e pela demanda externa aquecida.
O estudo prevê que a expansão no ano que vem será liderada pela indústria, que terá um crescimento de 5%, superior aos 4,8% da agropecuária e os 4,5% do setor de serviços. Estima também que o ritmo de crescimento das exportações será menor, e as vendas externas alcançarão US$ 175 bilhões.
De acordo com o estudo, o consumo das famílias terá um incremento de 6,2% em 2008, e será aquecido pelo emprego e o aumento da renda das famílias. A previsão da CNI é que a taxa média de desemprego atingirá 9% da população economicamente ativa, abaixo dos 9,5% estimados para 2007 e dos 10% registrados em 2006. Os técnicos da CNI também prevêem que 2008 será um bom ano para os investimentos, que devem crescer 14%.
A economia brasileira reencontrou-se com o crescimento acelerado em 2007 – ano em que o PIB cresceu 5,3%. A economia não crescia a taxas superiores a 5% desde 2004. O ritmo de expansão deste ano é o dobro da média observada nos últimos dez anos. Seguindo o padrão observado em períodos de alto crescimento, a indústria de transformação liderou a expansão do PIB e deve expandir-se 5,8%.
Os ganhos em 2007 são expressivos:
a) o PIB cresce com inflação sob controle; b) o crescimento vem acompanhado de melhor distribuição de renda; c) o mercado de trabalho é fonte de boas notícias: a taxa de formalização da mão-de-obra alcança o nível mais alto da década e a taxa de desocupação, em contraste, situa-se no nível mais baixo; d) os juros reais recuam e o volume de crédito aumenta o que amplia a capacidade de consumo das famílias e reduz o custo financeiro das empresas; e) a situação externa melhora, com expressiva ampliação das reservas internacionais e a virtual eliminação da dívida externa.
Assegurar esse ritmo de crescimento é o desafio que se coloca para 2008. Não obstante a profusão de bons indicadores em 2007 há fatores que ameaçam a continuidade do crescimento. Em primeiro lugar, a taxa de câmbio (R$/US$) valorizou-se bem mais que a média das demais moedas, com impactos sobre a competitividade de importantes segmentos da indústria.
Em segundo lugar, o aumento dos gastos públicos segue maior que o crescimento da economia, o que pressiona por maior arrecadação.
A tributação excessiva reflete a ausência de avanços no controle e na qualidade do gasto público. Em terceiro lugar, o crescimento mais robusto da economia requer investimento em infra-estrutura.
Atualmente, a qualidade e confiabilidade dos serviços de infra-estrutura são críticos para a competitividade dos produtos brasileiros. Em suma, o crescimento acelerado do PIB em 2007 não significa a consolidação de um novo patamar de crescimento econômico. Para tanto, o desafio é aprimorar o ambiente de negócios, de modo a incentivar o investimento privado.
Para 2008 espera-se que a inflação medida pelo IPCA fique em 4,1%, não ultrapassando a meta de inflação para o ano. Ainda haverá alguma persistência da pressão altista do grupo alimentos – mesmo que menor – devido a alta dos preços internacionais das commodities em 2007 e em 2008, que ainda não mostrou todo seu efeito na inflação doméstica.
Somado a isso, a demanda continuará crescendo a taxas robustas, o que fará com que o Banco Central redobre a atenção sobre possíveis contágios de inércia inflacionária, caso o descompasso entre oferta e demanda se agrave.
O valor das importações deve expandir-se 25% em 2008, totalizando US$ 150 bilhões. Esse expressivo crescimento é sustentado pela forte demanda interna e pelo baixo preço em reais dos produtos importados. O saldo comercial deve ser de US$ 25 bilhões em 2008, bastante inferior aos US$ 40 bilhões ocorridos em 2007.
Fonte: Elaborada pela Equipe Jornalística da Revista da Madeira. |