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REVISTA DA MADEIRA - EDIÇÃO N°109 - DEZEMBRO DE 2007

Aviação florestal

Incêndios florestais – Combate aéreo

Os incêndios florestais provocam grandes prejuízos, tanto humanos (perda de vidas) quanto ambientais (danos na fauna e na flora), tendo também conseqüências econômicas consideráveis: destruição de "habitat", prejuízos florestais, custos para combater o fogo. Em qualquer incêndio florestal é necessário haver combustível para queimar, oxigênio para manter as chamas e calor para iniciar e continuar o processo de queima. Essa inter-relação entre os três elementos básicos da combustão é conhecida como “triângulo do fogo”. Entre outros métodos de combate os aviões e helicópteros tem se mostrado bastante eficientes e podem ser usados para lançar água ou de retardantes químicos sobre o fogo.

O fogo é um dos agentes que provoca os maiores danos às florestas de todo o mundo. Florestas naturais, plantações florestais e outros tipos de vegetação estão constantemente expostos à ocorrência de incêndios de diferentes intensidades. Em muitos países a situação tem se agravado devido ao aumento da população, acúmulo de material combustível e incêndios de causas humanas.

As queimadas florestais estão intimamente relacionadas com as condições meteorológicas. Dependendo dos índices pluviométricos, o número de incêndios pode variar de ano para ano. A coleta de dados sobre as condições meteorológicas das regiões ao longo dos anos, 10 ou mais, é fundamental para caracterizar os incêndios florestais.

No Brasil não existiam estatísticas globais sobre ocorrências de incêndios florestais, entretanto a partir de 1983 muitas empresas que não faziam registros regulares das ocorrências passaram a fazê-los. O nível de informações foi melhorando, sendo que a partir de 1987 os dados passaram a ser mais confiáveis. Até então as estatísticas de ocorrência de incêndios florestais no Brasil eram muito escassas e fragmentadas, porém com o trabalho do IBAMA os dados passaram a ser coletadas de forma conjunta e centralizadas.

Desta forma os dados possibilitaram verificar que entre 1998 e 2002 foram registrados 19377 incêndios, os quais queimaram 85735,02 hectares. Os resultados mostraram que 68,87% dos incêndios e 90,76% das áreas afetadas ocorreram entre julho e outubro, a principal estação de incêndios. Podemos visualizar comparativamente o número de focos de calor no Brasil no período de 1999 a 2007, onde novamente verifica-se que a maior incidência de focos concentra-se nos meses de junho, julho, agosto, setembro, outubro e novembro.

FOGO

A palavra fogo, de um modo geral, é o termo aplicado ao fenômeno físico resultante da rápida combinação entre o oxigênio e uma substância qualquer (madeira, por exemplo), com produção de calor, luz e, geralmente, chamas. Fogo, ou mais precisamente combustão, é, portanto, uma reação química de oxidação.

A reação da combustão completa da madeira, que poderia ser generalizada para todo o material combustível da floresta, envolve três elementos básicos: combustível, oxigênio e calor. Em qualquer incêndio florestal é necessário haver combustível para queimar, oxigênio para manter as chamas e calor para iniciar e continuar o processo de queima. Essa inter-relação entre os três elementos básicos da combustão é conhecida como “triângulo do fogo”.

A ausência, ou redução abaixo de certos níveis, de qualquer um dos componentes do triângulo do fogo inviabiliza o processo da combustão.

O fogo pode ser combatido de várias formas, algumas delas utilizando-se de agentes extintores, conhecidos como ignífugos, que podem ser definidos como: produtos que, por sua ação física ou química, dificultam ou inibem a combustão dos materiais que venha a recobrir. Os ignífugos podem ser de curta (supressores) ou longa (retardantes) duração.

A água é o agente extintor mais usado em todo mundo, mas em muitos casos já se adicionam produtos químicos nesta água para o auxilio no combate. Em algumas situações também é usado espuma, mas com um maior custo.

Quando falamos em combate a incêndios florestais, a prevenção é a primeira linha a ser adotada, sendo com menor custo e sem danos às propriedades.

Se a ocorrência de incêndios em áreas florestadas ou reflorestadas pudesse ser totalmente prevenida, todos os danos produzidos pelo fogo, além dos custos de combate, seriam evitados.

Uma ferramenta importante à prevenção é a análise envolvendo o risco de incêndios, onde se tomam melhores providências e o monitoramento é intensificado, por isso existem alguns cálculos para quantificar o risco de incêndios, como, por exemplo, a Fórmula de Monte Alegre, Esta fórmula é amplamente usada no Brasil. Recomenda-se ajustar a equação para cada diferente clima, de acordo com a região estudada.

Tradicionalmente o combate aos incêndios florestais pode ser realizado de diversas formas ou métodos. Quando a intensidade do fogo permite a aproximação da brigada à linha de fogo adota-se o método direto. Mas quando não é possível o método direto e a intensidade do fogo não é muito grande então é adotado o método paralelo ou intermediário. Já no caso de incêndios de grande intensidade é usado o método indireto. E nos incêndios de copa, de grande intensidade e área e em locais de difícil acesso às brigadas de incêndio pode ser usado o combate aéreo, com o emprego de aviões e helicópteros, especialmente construídos ou adaptados para o combate ao incêndio.

COMBATE AÉREO

Aviões e helicópteros podem ser usados para lançar água ou de retardantes químicos sobre o fogo. Para se ter uma idéia somente nos EUA e entre 1960 e 1988, aviões e helicópteros de todos os tipos e tonelagens, efetuaram mais de 48.000 horas de vôo por conta de atividades florestais, lançando cerca de 20 milhões de litros de água sobre mais de 1.050 incêndios florestais.

As primeiras tentativas de combate aéreo a incêndios foram feitas em 1930/31 em Spokane, Washington e Sacramento, nos Estados Unidos, onde foi utilizado um avião Hispano-Suisso da I Guerra Mundial adaptado com 2 pequenos tanques de água. Posteriormente foram realizados testes na Rússia, em 1934, nos EUA e Canadá, em 1937, e EUA e Austrália, em 1940.

No Canadá, em 1966, foi construído um avião anfíbio chamado CANADAIR CL-215, considerado o protótipo ideal para a extinção de incêndios florestais e que transportava até 5,5 t de água em seus tanques. Este modelo não precisava pousar para o reabastecimento de água. Havendo, nas proximidades, um lago ou rio com extensão mínima de 1.800 m ele reabastecia, apenas tocando a superfície líquida, e retornava ao local do incêndio.

No Brasil, os aviões anfíbios não teriam a mesma eficiência como no Canadá, pois não temos muitas áreas ideais para o reabastecimento de água, como lagos com grandes extensões.

Governo do Estado do Rio de Janeiro, por meio de Convênio celebrado em 20 de dezembro de 2000, com o IBAMA, adquiriram o primeiro avião de combate a incêndios florestais do Brasil, um Air Tractor 802F.

Este avião tem capacidade de transportar 3 mil e 100 litros de água, retardante, espuma ou qualquer outro tipo de produto. Além do combate aos incêndios florestais, esta aeronave também pode ser usada na aplicação de defensivos agrícolas, combate às manchas de óleo no mar, patrulhamento aéreo, detecção de agressões ambientais e em ações de defesa civil, especialmente para o levantamento aero-fotográfico de áreas vulneráveis a eventos adversos. O avião custou para o governo do Rio de Janeiro cerca de 1,5 milhões de dólares.

A quantidade de água necessária para o combate varia, principalmente, em função da quantidade de material combustível disponível para queima. Estima-se que para controlar um fogo de campo, utilizando um avião modelo IPANEMA, e levarmos em consideração uma distância de 15 km entre a pista de decolagem e o foco de fogo, esta aeronave poderá fazer cerca de 3 decolagens por hora.

As aeronaves usadas no combate aéreo a incêndios florestais podem ser vantajosas devido a sua capacidade de atacar rapidamente o incêndio, antes que ele adquira tamanho e violência e também podem rapidamente alcançar regiões com terrenos inacessíveis às equipes de terra e lançar grandes quantidades de água ou de retardantes químicos sobre o incêndio e em curtos intervalos de tempo. Aeronaves também conseguem mudar rapidamente de um incêndio a outro, extinguindo focos iniciais distantes entre si e protegendo homens e materiais. Alem disso, elas também podem ser empregadas em outras atividades, tais como no patrulhamento aéreo da área a ser protegida, transporte de homens e equipamentos de combate terrestre.

As estratégias podem ser divididas basicamente em 2 tipos: Ataque direto e indireto.

No primeiro caso, as descargas de água são lançadas diretamente sobre as chamas (no caso de incêndios pequenos) ou sobre os pontos mais quentes ou de atividade mais intensa (em incêndios de grandes proporções), identificados pela cor mais escura e maior densidade de fumaça. Também é empregado para cortar e reduzir uma frente de chamas. Ou para diminuir a temperatura ambiente e permitir maior aproximação dos homens que trabalham na extinção por terra.

No caso de ataque indireto, as descargas de água são lançadas adiante do incêndio, a fim de obter uma linha de contenção (aceiro molhado, por exemplo) onde o incêndio não ultrapassa ou então diminui de intensidade permitindo a aproximação do combate terrestre. Este tipo é especialmente útil e possível, quando se utilizam retardantes químicos, pois pode se estabelecer verdadeiro corta-fogo ou reforçar os já existentes.

Os incêndios florestais merecem uma atenção especial no mundo, e no Brasil não deve ser diferente. A falta de conscientização da população brasileira sobre os danos causados pelas queimadas é um grande obstáculo para que se façam investimentos e também que se evitem as queimadas criminosas.

A utilização de aviões e helicópteros no combate de incêndios florestais tem sido uma alternativa cada vez mais empregada no Brasil, sendo um método eficaz e que possibilita a aproximação de equipes de combate para perto das chamas, e também uma maneira de se fazer o monitoramento de áreas de riscos de incêndios.

O Brasil ainda está começando os estudos e investimentos neste assunto, mas com a adaptação de aeronaves agrícolas para o combate, pode se tornar uma alternativa interessante para empresas do ramo.

Jonas Felipe Salvador¹, Deyvid T. do Prado1, Aldo F. Lorenzon1, Eiad N. A. Othman1, Juliana de L. Gonçalves1, Paulo T. Fenner2

1Aluno de Graduação do 5º ano do curso de Engenharia Florestal – Faculdade de Ciências Agronômicas, UNESP/Botucatu; 2Professor Doutor do Departamento de Recursos Naturais da Faculdade de Ciências Agronômicas, UNESP/Botucatu.