Previsões do Ministério da Fazenda indicam que a economia brasileira crescerá mais em 2008 que em 2007, mesmo com uma desacelaração da economia mundial. O PIB do País terá uma elevação de 5% este ano e começará 2008 aquecido. A turbulência internacional tem poucas repercussões no crescimento do Brasil. O que interessa hoje é que o crescimento econômico está assegurado. O mercado interno poderá compensar o crescimento menor da economia mundial.
O economista Cláudio Adilson Gonçalez, da MCM Consultores Associados, diz que se não houver uma recessão na economia americana, o Brasil deve crescer entre 4% e 4,5% nos próximos anos. O Real vai se mantiver estável em relação ao dólar, com tendência de gradual desvalorização, e a inflação permanecerá sob controle também em 2008.
O problema é a possibilidade de a inflação crescer acima da meta em 2009. Naquele ano, os preços administrados, como a energia elétrica, devem sofrer um reajuste substancial e é provável também que seja necessário elevar os preços dos derivados do petróleo. Com essa alta, o BC pode voltar a aumentar a taxa de juros. Outro risco para a estabilidade é o crescimento da demanda acima da oferta.
Com a expansão do crédito e da massa real de renda, o consumo interno vem apresentando uma consistente trajetória ascendente assim como os investimentos está aumentando. A dúvida é saber se esses investimentos vão maturar em tempo suficiente de suprir o crescimento da demanda. Se isso não acontecer, o Banco Central (BC) terá, mais uma vez, que aumentar os juros para brecar o crescimento. O que poderia causar uma queda substancial dos juros, de acordo com o economista, seria um corte dos gastos do governo. Assim o BC poderia cortar rapidamente os juros, a moeda depreciaria e o crescimento seria sustentável. No entanto, a diminuição dos gastos públicos certamente não vai acontecer.
Já o Fundo Monetário Internacional (FMI), no Relatório de Perspectivas Econômicas para 2007, prevê que o Brasil deverá crescer a taxas de 4,4% em 2007 e 4,2% em 2008, O crescimento brasileiro, entretanto, ainda é menor que a média prevista para a América Latina: para a região, o Fundo espera expansão de 4,9%.
No mundo, a economia continua em rota para contínuo crescimento robusto em 2007 e 2008, embora em ritmo mais moderado do que em 2006. No relatório, o Fundo projeta que o crescimento global será de 4,9% neste ano, ante 5,4% em 2006. Os riscos parecem menores, à medida que o preço do petróleo declina e condições benignas financeiras globais têm ajudado a limitar contágio da correção no mercado imobiliário nos EUA e a conter as pressões inflacionárias.
Para a China, a projeção do FMI é de crescimento de 10% neste ano e de 9,5% em 2008. O crescimento da China deve continuar rápido em 2007 e 2008, embora abaixo do tórrido ritmo de 2006, enquanto a economia da Índia deverá continuar crescendo rapidamente. Para este último país, o Fundo prevê crescimento de 8,4% e 7,8%, respectivamente, em 2007 e 2008.
O FMI prevê crescimento da zona do euro (13 países que compartilham o euro como unidade monetária) em 2,3% tanto em 2007 quanto em 2008. Para o Japão, a estimativa é de 2,3% neste ano e 1,9% em 2008.
Para as projeções neste relatório, o Fundo estimou o preço do barril do petróleo em US$ 60,75 em 2007 e US$ 64,75 em 2008. Para a projeção feita em 2006, o preço estimado era de US$ 64,25 por barril.
Entre as principais economias avançadas, a desaceleração no crescimento em 2007 deve ser mais pronunciada nos EUA, prevê o FMI. O Fundo prevê que os EUA irão crescer 2,2% neste ano, abaixo dos 3,3% registrados em 2006.
Mas, ao longo do ano, a economia do país pode ganhar fôlego à medida que o peso do setor de imóveis tiver moderação. Para 2008, o Fundo projeta crescimento de 2,8%. De qualquer forma, o FMI reconhece que a questão central é se a deterioração de imóveis é temporária ou prolongada.
Projeção para 2008
O mercado financeiro aumentou a projeção de crescimento da economia para o próximo ano. De acordo com o Boletim Focus, a estimativa para o Produto Interno Bruto (PIB), soma de todas as riquezas produzidas no país, passou de 4,32% para 4,37%.
Para o investimento estrangeiro direto, os analistas têm expectativas de que chegue a US$ 33 bilhões no ano, a mesma estimativa anterior. A previsão para 2008 também permaneceu estável em US$ 25 bilhões.
Os analistas de mercado mantiveram as projeções para a taxa básica de juros (Selic) este ano em 11,25% e em 10,25%, no próximo ano. A estimativa para o superávit da balança comercial caiu de US$ 40,79 bilhões para US$ 40,78 bilhões para 2007. Em 2008, o resultado esperado é de US$ 34 bilhões, a mesma previsão anterior.
A projeção para o saldo de conta corrente, que envolve todas as transações comerciais e financeiras com o exterior, caiu de US$ 8,80 bilhões para US$ 8,60 bilhões, em 2007. Para o próximo ano, a estimativa subiu de US$ 2,21 bilhões para US$ 2,42 bilhões.
Os analistas mantiveram estável a estimativa para a taxa de câmbio em R$ 1,75 este ano. Em 2008, a previsão é que a taxa de câmbio fique em R$ 1,80, ante a projeção anterior de R$ 1,85.
Entre os integrantes do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), sigla que reúne os quatro países de desenvolvimento mais próspero, as economias brasileiras e russas adquiriram o grau de eficiência, estágio de desenvolvimento considerado de confiança para receber investimentos. A corrupção aparece como um dos principais problemas dos quatro, mas a Rússia, segundo os empresários, enfrenta mais problemas com a desonestidade.
As economias chinesas, na 34ª colocação, indiana, em 48º, e russa, na 58ª posição, foram mais bem colocadas que a brasileira, em 72º lugar. Os Estados Unidos apareceram na liderança, seguidos pela Suíça, Dinamarca, Suécia, Alemanha, Finlândia e Cingapura.
A crise de confiança política do povo brasileiro com os seguidos escândalos de corrupção também apareceu na pesquisa. O Brasil está em 126º lugar, entre os 131 países pesquisados, quando o assunto é confiança pública no trabalho dos políticos.
O crime organizado é outro problema apontado pelos empresários, o que deixou o país em 125º. A transparência do governo nas políticas de segurança também é questionável, já que neste item aparece apenas na 107ª posição. Outro motivo de desconfiança dos empresários está no sistema educacional, que coloca o Brasil na modesta 120ª posição do ranking.
Quanto à infra-estrutura, a pesquisa apontou que a qualidade dos portos brasileiros está entre os piores, aparecendo no 116º lugar. O tempo necessário para abrir uma empresa fez o país ficar em 123º, enquanto que os direitos trabalhistas e os gastos que envolvem contratar e despedir foram responsáveis por deixar entre os 30 piores países.
Análise
O Brasil se beneficia de grandes vantagens competitivas, entre as quais o tamanho do mercado doméstico, sua habilidade de absorver e adaptar tecnologias externas, além de aproveitar a tecnologia da informação e comunicação, especialmente a sofisticação industrial e capacidade de inovação.
O Brasil não tem infra-estrutura para crescer no ritmo de 5% ao ano desejado pelo governo, segundo a avaliação de especialistas e representantes da indústria ouvidos pela BBC Brasil.
De acordo com os especialistas em infra-estrutura, o crescimento brasileiro não depende apenas da política monetária - que envolve a definição da taxa de juros e do superávit primário - mas também de limitações físicas ao crescimento e ao escoamento da produção. Os principais gargalos da infra-estrutura são, segundo eles, as estradas, os portos e os projetos de geração de energia.
Eles apontam dois problemas fundamentais: a escassez dos investimentos públicos e a ausência de marcos regulatórios que atraiam o capital privado em áreas que o Estado não consegue investir.
Segundo projeções da Fiesp, se a economia brasileira crescer 4% ao ano, haveria escassez de energia elétrica a partir de 2009. De acordo com os cálculos feitos pela federação, o consumo de energia aumentaria 5,5%, caso o PIB brasileiro crescesse 4%.
Para o diretor da empresa de consultoria Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (Cieb), Adriano Pires, a economia brasileira tem um teto de 4% para crescer anualmente. A infra-estrutura atual de transportes e energia impediria um ritmo mais acelerado de expansão. “Hoje não se tem estrada, porto e energia para superar um crescimento econômico de 4%”, avalia Pires.
Outro problema, é que investimentos em infra-estrutura demoram entre três e sete anos para poderem ser utilizados pela indústria.
O investimento público em infra-estrutura tem caído no Brasil nas últimas décadas. Segundo estudo, a média anual de investimento no setor caiu de 5,3% do PIB, em 1969, para 2,2% em 2004. Em transporte, por exemplo, já houve momentos em que se gastou quase 2% do PIB, durante os anos 1970. Hoje o governo gasta menos que 0,5%, chegando ao máximo a 0,7% em um ou outro ano.
Se o Brasil começasse a ter um crescimento chinês, ele teria que ter investimentos chineses em energia. Mas que demoram muito tempo para se concretizar ou ficam muito caros.
Para os especialistas, os investimentos privados em infra-estrutura esbarram na falta de marcos regulatórios que incentivem a produção.
Fonte: Elaborada pela Equipe Jornalística da Revista da Madeira. |