A possibilidade de esgotamento dos recursos naturais não preocupava a humanidade quando, no século XIX, a Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra, se espalhou pela Europa e pela América do Norte. Naquela época, o crescimento econômico estava inevitavelmente ligado a setores produtivos altamente poluentes.
Depois da II Guerra Mundial, a intensificação das atividades econômicas e o grande crescimento populacional começaram a colocar em xeque o modelo de desenvolvimento econômico vigente. Nunca a pressão sobre os recursos naturais havia sido tão intensa. A demanda mundial por diferentes fontes de energia é um exemplo disso. Em 1990, era quatro vezes maior do que em 1950 e 20 vezes maior do que em 1850. Nunca a humanidade cresceu tanto. Em 1950 éramos 2,5 bilhões de pessoas e agora já ultrapassamos a marca de 6 bilhões.
A antiga estratégia de somente tentar reduzir custos, com todas as ferramentas possíveis, não atende mais as necessidades do mercado globalizado. Agora o essencial é ampliar a agregação de valor na produção através do emprego de novas tecnologias, que permitem o desenvolvimento de novos produtos simultaneamente segundo os conceitos de design, de ergonomia e de desenvolvimento sustentado.
A base conceitual do ecodesenvolvimento, que fez emergir o axioma da sustentabilidade, exigiu uma profunda mudança na cultura industrial. A consciência ambiental na indústria não está focada apenas em aspectos econômicos e tecnológicos: a ecologia tornou-se um fator de crescente importância em todos os estágios do ciclo de vida de um produto.
A conferência das Nações Unidas de Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED-Rio’92), representou impulso decisivo para o movimento de normalização ambiental internacional. Em relação as propostas de normas ambientais, o comitê técnico especialmente designado para o assunto foi o de número 207, intitulado Gestão Ambiental, que conta com a participação de 56 países. Este comitê está interrelacionado com o comitê responsável pelas normas de qualidade de número 176. As normas foram batizadas de ISO série 14000 [ONU1996].
A ISO 14000 contém uma ampla área de gerenciamento. Inclui auditoria, selo ambiental, avaliação de desempenho ambiental, avaliação do ciclo de vida. Convém lembrar que uma dos normas da série ISO 14000 terá como objeto a avaliação de ciclo de vida (a ISO 14040 estabelecerá os principais elementos da ACV), ainda em fase de elaboração, que irá requerer uma base de dados e alguns impactos que ainda não têm padrões ou legislação.
Para entender os pontos fracos no ciclo de vida de um produto e para comparar as soluções que asseguram melhorias em cada estágio desse ciclo de vida, surge a necessidade de re-orientação das idéias de negócios: passar-se do tradicional negócio orientado para produto a um novo, orientado para produto e serviço.
Com a implantação, em 1993, do comitê específico e independente para gestão do Meio Ambiente, a ISO ampliou sua participação no tema de forma irreversível. Da atuação em normas técnicas de especificação de critérios e metodologias de medição de parâmetros, ela passou a elaborar normas de orientação gerencial para a organização em relação ao meio ambiente.
A análise de um produto para o recebimento do selo verde considera o levantamento global do impacto do mesmo em todo seu ciclo de vida, incluída a sua produção, marketing, distribuição, uso e descarte. A implantação de um sistema de selo verde tem normalmente recebido suporte financeiro de governos ou grupos interessados na matéria e, segundo estudos conduzidos pelo SELA (Sistema latino-americano), com apoio da OMC - Organização Mundial do Comércio, considerava pouco provável que a curto prazo o sistema pudesse se tornar autoconfiável. A grande maioria dos selos verdes não considerava o processo de extração da matéria-prima.
Foi criado, então, em 1993, o Conselho de Manejo Florestal (FSC - Forest Stewardship Council), organização internacional independente, que tem por finalidade incentivar o manejo sustentável das florestas. A certificação de unidades florestais exploradas por empresas é sua principal forma de atuação, embora, de forma geral, o FSC promova a qualidade ambiental, a cidadania e a consciência do consumidor.
Os princípios e critérios do FSC devem ser considerados conjuntamente com a legislação nacional, internacional e regulamentações. O FSC pretende complementar -- não suplantar -- outras iniciativas que apoiam, em todo o mundo, um manejo responsável de florestas. Suas atividades educacionais priorizam aumentar a consciência do público sobre a importância das seguintes questões:
melhoria das práticas de manejo florestal;
incorporação dos custos totais de manejo e de produção no preço de produtos de origem florestal;
promoção do melhor uso dos recursos florestais;
redução de danos e desperdícios;
importância de evitar o excesso no consumo e na exploração florestal.
Estratégias apontam as operações dos agentes do comércio e da indústria como cruciais na redução dos efeitos sócio-ambientais nocivos das atividades econômicas. Isso requer a implementação de processos de produção mais eficientes e procedimentos mais “limpos” de produção ao longo do ciclo de vida do produto, no tentame de minimizar ou evitar os resíduos.
Essa certificação é realizada por organizações credenciadas e resulta num selo verde que distingue e confere maior valor ao produto feito com os insumos extraídos da área florestal certificada. Entre outras, a medida recomendada é a inclusão da manutenção da biodiversidade pela utilização de sistemas agroflorestais, atendendo tanto a conservação do funcionamento do ecossistema, pela manutenção dos processos ecológicos básicos, quanto a premente necessidade humana de utilização dos recursos naturais.
Neste contexto, o mesmo significado do termo “Design” deve ser ampliado; o conceito de Design estratégico para sustentabilidade deve ser introduzido.
A expressão “Design estratégico para sustentabilidade” significa, o desenvolvimento de um sistema integrado de produtos, serviços e comunicação que é coerente com a perspectiva de sustentabilidade de médio a longo termo, sendo – ao mesmo tempo – economicamente exeqüível e socialmente apreciável.
Consumidores do mundo todo procuram produtos inovadores que integram funcionalidade e sustentabilidade. Compradores internacionais, principalmente da Europa, viajam pelo mundo inteiro em busca de matéria-prima e de produtos finais certificados. Na América do Norte, Austrália, Japão, França, Alemanha, Espanha, Suíça, Holanda, Bélgica, Áustria e Escandinávia já existem mais de 8.500 empresas (grandes, médias e pequenas) que procuram operar somente com madeira certificada. A empresa inglesa Homebase, sozinha, compra 550 mil metros cúbicos de madeira por ano para fabricar cerca de 5.500 produtos que utilizam a madeira ou o papel como matéria-prima, gerando no varejo um faturamento de mais de 700 milhões de dólares por ano. O Brasil supre apenas 7% desse mercado. O restante da madeira vem da Suécia, África do Sul, Finlândia e da própria Grã-Bretanha.
Isso motivou a formação no Brasil, em abril de 2000, do grupo de Compradores de Produtos Florestais Certificados, integrado por 59 empresas, 2 governos estaduais e uma prefeitura, e dois sindicatos moveleiros. Juntas, essas organizações demandam hoje 1.000.000 m3 de madeira bruta certificada, podendo chegar ao dobro disso, ou 2 milhões de m3/ano, caso toda a sua produção seja de madeira certificada. Cerca de 90% da madeira certificada adquirida pelo Grupo é de Eucalyptus e mais da metade (entre 60 e 70%) é utilizada em produtos destinados à exportação. O grupo de Compradores de Produtos Florestais Certificados estabeleceu como meta que, até 2005, suas compras de madeira serão 50% certificadas se oriundas de floresta nativa e 100% no caso de reflorestamento (plantações).
Dito de outra forma, a medula do Ecodesign é a integração de tais estratégias desde a extração da matéria-prima até o fim da vida do produto. A gestão da utilização da biosfera assegura o bem-estar. Das gerações atuais e das gerações futuras.
Prof. Dra. Eng. Mec. Marzely Gorges Farias
Prof. Dra. Design Denise Maria Woranovicz Pedroso |