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REVISTA DA MADEIRA - EDIÇÃO N°107 - SETEMBRO DE 2007

Preservação

Madeira de eucalipto preservada sob pressão

Introduzido no país no início do século passado, principalmente para fins energéticos, o eucalipto vem experimentando sensíveis melhorias silviculturais que tornam o espectro de utilização de sua madeira cada vez mais amplo – assunto amplamente focado na edição especial da “Revista da Madeira” dedicada ao eucalipto e publicada em 2003.

Ao longo do seu crescimento, a árvore produz anualmente certo volume de madeira. Em climas tropicais como o do Brasil, as camadas de crescimento não são muito distintas. A parte jovem da árvore, composta pelas camadas exteriores, mais recentemente formadas constituem o alburno (ou brancal), cuja função típica é a de condução da seiva para as folhas. Quando a árvore atinge certa idade, as camadas mais antigas de alburno cessam sua atividade condutora de seiva e se transformam em cerne cuja coloração é mais escura. Essa transformação é importante, na medida em que ela é responsável pela durabilidade natural da madeira. Por seu turno, o alburno sempre permanecerá susceptível aos agentes biológicos (fungos e insetos).

Do ponto de vista prático, espécies de eucalipto em forma roliça e que apresentam uma coroa externa de alburno não muito estreita poderão se utilizadas, desde que tratadas com produtos preservativos que lhe confiram a necessária durabilidade biológica.

No caso de utilização de madeira serrada para construção civil ou mesmo rural como haverá necessariamente exposição de cerne é necessário que este apresente durabilidade natural variando desde moderadamente durável (peças fora de contacto com o solo e ao abrigo das chuvas) até extremamente duráveis. As porções de alburno existentes nas peças serradas ou devem ser descartadas (quando em pequena porcentagem) ou então devidamente tratadas, de maneira análoga ao caso das madeiras roliças.

São exemplos de madeiras do gênero Eucalyptus utilizáveis e aceitas pelas normas da ABNT as espécies: citriodora, maculata, paniculata, alba, tereticornis, rostrata, etc.

Posto isto, surge a questão: como executar o tratamento, quando necessário e quais os parâmetros a serem adotados?

Na literatura existente, os métodos de tratamento costumam ser elencados em função de cinco ou seis níveis de risco (conforme a fonte consultada), indo desde a simples e rudimentar pulverização, até o tratamento sob pressão em autoclave, cada um com seu grau de abrangência em função dos referidos riscos de exposição. Fica patente nessas tabelas de classe de riscos que o único método que cobre todas as condições de uso é o tratamento sob pressão em autoclave.

As seguintes vantagens desse método sob pressão podem ser assim alinhavadas:

processo industrializado e portanto com elevado grau de uniformidade das peças tratadas;

controle continuado do teor de ingredientes ativos da solução de tratamento;

controle da retenção/absorção do produto químico na madeira. O cálculo do volume de madeira na autoclave e o conhecimento da relação cerne/alburno das peças permitem que o processo de pressão tenha duração para que o desnível observado na coluna medidora atinja o valor desejado e estabelecido a priori;

com isso as normas técnicas existentes embasadas em experiências nacionais e internacionais podem ser seguidas, como as que são apresentadas em seguida:

NBR 8456 – Postes de eucalipto preservado para redes de distribuição de energia elétrica;

NBR 9480 – Mourões de madeira preservada para cercas;

NBR 7190 – Projetos de estruturas de madeira;

NBR 7511 – Dormentes de madeira para vias férreas.

controle de qualidade de parâmetros como retenção e penetração de preservativo que, em última análise definem a eficiência do tratamento. Aqui a garantia é dupla, pois beneficia tanto o produtor como o consumidor:

NBR 6232 – Poste de madeira – Penetração e Retenção de Preservativos.

E por fim, mas nem por isso menos importante:

controle da poluição ambiental decorrente de:

operação com pessoal treinado;

no caso de tratamento com sais hidrossolúveis, a liberação do produto tratado só ocorre após um período que garanta que tenham terminado as reações de fixação dos sais na madeira, na forma de complexos insolúveis;

as boas usinas de preservação além de possuírem laboratórios próprios para controle de qualidade, possuem bacias de contenção em torno da autoclave e reservatórios de armazenamento de solução preservativa para circunscrever efeitos de eventuais vazamentos que possam ocasionar contaminação de solo e rios.

Atualmente o parque industrial brasileiro de usinas de tratamento de madeira pode atender a uma demanda de madeira tratada de reflorestamento que se afigura crescente e promissora para os próximos anos.

Ainda segundo a mesma fonte, para uma produção anual de 675 mil m³ de madeira preservada sob pressão, observou-se a seguinte distribuição:

moirões/estacas 65%

postes 15%

dormentes 15%

construção civil 5%

Segue-se, que apesar do parque industrial existente, a demanda ainda é tímida sobretudo no segmento construção.

Acredita-se que esse perfil seja alterado, em decorrência de um série de fatores:

pressão ecológica restritiva ao uso de madeiras nativas;

desmistificação sobre as alegadas deficiências do material madeira;

número crescente de normas abrangendo bens confeccionados com madeira (ABNT);

demanda deprimida em função do número crescente de pessoas que buscam melhor qualidade de vida, isto é, viver e ter em seu entorno, ambientes mais harmoniosos com a natureza;

melhoria dos conhecimentos silviculturais e da tecnologia na industrialização da madeira.

Espera-se que com esses fatores condicionantes, aliados a diminuição nas novas gerações de um preconceito de nossos antepassados ao uso da madeira, se possa ter, nos próximos cinco dez anos uma mudança radical do cenário que vem persistindo há décadas.

Os ingredientes estão todos aí e são francamente favoráveis. Basta apenas que os atores envolvidos não esmoreçam e continuem na luta.

Edson Francischinelli

Gerente Industrial da Icotema

Email: icotema@icotema.com.br.