Existe uma preocupação, difundida por toda a comunidade mundial, quanto a atual situação de mudança climática apresentada em todo o globo, e as suas conseqüências para o futuro da vida no planeta. Estas questões têm sido debatidas constantemente, gerando diferentes acordos em torno da questão do aprofundamento da discussão e difusão de mecanismos para melhoria da situação global.
A problemática do aquecimento do planeta demanda maiores estudos, dada a dificuldade em se atribuir, pela escala de tempo em que ocorre, precisamente as contribuições para este fato. Baseado em estatísticas mundiais, principalmente da composição gasosa da atmosfera, algumas inferências tem sido feitas sobre a influencia antropica na modificação do clima.
Resultante deste fato, o protocolo de Quioto procurou gerar mecanismos capazes de mitigar estes efeitos humanos no clima global, através de diferentes compromissos assumidos pelas nações quando da sua construção.
Para o Brasil, e para o setor florestal, a questão da participação das florestas na redução dos níveis gasosos, notadamente o CO2, representa uma série de oportunidades, no que concerne ao uso racional e sustentabilidade.
Diferentes mecanismos ainda devem ser gerados para promover uma maior eqüidade entre as nações do globo, de forma a compensar atitudes saudáveis das poluentes. Enquanto estes mecanismos estão sendo discutidos, a questão do mercado de certificados de redução desempenha papel central para o setor florestal nacional, incorporando um novo valor as operações florestais.
O comércio das cotas de carbono, seja no sentido de desenvolver mecanismos de trocas entre os países, seja no sentido de gerar créditos através de tecnologias menos poluentes, está previsto no protocolo e tem despertado interesses a nível empresarial e governamental.
As possibilidades envolvidas no fato de que alguns países enfrentarão sérias dificuldades para reverter os quadros atuais de emissões, dado o crescimento nacional, dentro dos padrões estabelecidos no protocolo, acenam para nações melhor estabelecidas, ambientalmente falando. Neste sentido, os termos do protocolo demandam algumas reflexões, quando acenam para uma estruturação mundial das economias, de um lado grandes produtoras de emissões, de outro lado as vocacionalmente armazenadoras.
Estabelecer níveis de preço capazes de justificar, de um lado investimentos em mitigação, de outro incentivos para desenvolvimento de projetos voltados a manutenção de imensos parques florestais, são essenciais nesta discussão.
Com o inicio da taxação sobre as atividades emitentes, vislumbra-se a possibilidade real de reversão destes recursos para as atividades seqüestradoras, como a florestal.
Os créditos podem ser obtidos através de projetos de reflorestamento, os quais são um novo produto, notadamente com um mercado promissor, que pode ser comercializado pelos proprietários de florestas.
BASE CIENTÍFICA
O setor florestal nacional deve estar preparado para responder a esta demanda mundial por mitigação de efeitos nocivos na atmosfera, bem como promover a difusão dos mecanismos de apropriação dos créditos correspondentes.
O estabelecimento de uma política centrada na utilização de informações científicas embasadas na pesquisa, como base na comercialização de cotas de carbono, é imprescindível para que o mercado consumidor tenha confiança na liberação de investimentos que deverão ser revertidos em projetos de sumidouros de carbono. O acompanhamento e monitoramento destes projetos, no que se refere a quantidade de carbono realmente armazenada, deve ser feito para que se possa garantir ao comprador/investidor a efetividade do investimento.
Em trabalho recentemente concluído, pesquisadores da Universidade Federal do Paraná, trabalhando com biomassa proveniente de povoamentos puros de bracatinga (Mimosa scabrella Bentham), estudaram a estrutura da fixação de átomos de carbono em reflorestamentos.
Desenvolvido em tese de doutorado, o estudo introduz novos conhecimentos que permitirão monitorar e otimizar a capacidade de armazenamento de carbono em povoamentos florestais.
Conclui o estudo que, apesar do crescimento geométrico da biomassa de carbono, quando relacionada aos respectivos diâmetros, as árvores dominadas são relativamente mais eficientes que as dominantes neste processo. Isto quer dizer que, na estrutura complexa de um povoamento, os indivíduos têm diferentes comportamentos em relação a sua condição bioquímica, variável esta altamente relacionada com as estrutura social (classes de diâmetro).
No que se refere aos projetos de quantificação de biomassa de carbono em florestas, pesquisadores têm levado em conta que o comportamento da coletividade florestal é padrão para todos os indivíduos. Isto tem feito com que, ao calcular o peso da biomassa de carbono em uma determinada área florestal, a simples visão cartesiana da relação biomassa total/biomassa de carbono tem levado a valores não muito próximos do estoque no campo. De acordo com o estudo desenvolvido, o erro da estimativa pode chegar a valores próximos a 20%
Quando analisadas em conjunto, as variáveis renda bruta e biomassa de carbono por classe de diâmetro apresentaram, respectivamente, correlação inversa, indicando que as árvores de menores diâmetros contribuem com menor valor monetário e maior valor de biomassa de carbono. Por outro lado, as árvores de maiores diâmetros contribuem com maior valor monetário e menor valor de biomassa de carbono. Ocorre, portanto, o que se poderia chamar de uma compensação natural, fazendo com que a renda auferida pela exploração do recurso direto (lâmina, serraria) possa ser contrabalanceada pelo benefício indireto (biomassa de carbono), de acordo com o objetivo de manejo, podendo-se otimizar a combinação dos produtos obtidos, de tal forma a fornecer ao mercado maior utilidade social. Da mesma forma, a otimização do processo de produção e obtenção de benefícios da floresta poderia estar vinculada aos mecanismos de mercado, equilibrando as variáveis de demanda e oferta dos produtos diretos, de acordo com as aptidões locais dos meios de produção, assim como cumprindo seu papel na mitigação dos efeitos adversos do clima e da qualidade de vida.
* Parte da tese de doutoramento.
Prof. Dr. R. ROCHADELLI : autor da tese. UFPR.
Prof. Dr. R.HOSOKAWA :orientador da tese. UFPR |