Além dos equipamentos e sistemas de corte adequados, a madeira para ser beneficiada segue alguns passos, que são comuns em todas as indústrias de beneficiamento. Alguns requisitos não são normas obrigatórias, mas a grande maioria das indústrias de beneficiamento de madeira os seguem. Outros são procedimentos obrigatórios, e são fiscalizados pelo Ibama. Para agilizar o processo produtivo é preciso estar atento a todas as etapas da exploração.
Para que um projeto de manejo seja aprovado pelo Ibama é necessário que a empresa tome algumas providências antecipadas. No projeto de manejo deve constar um levantamento de todas as espécies, com o DAP (diâmetro na altura do peito) acima de 15 centímetros, e as propostas das áreas que serão exploradas durante um ano (talhões).
Baseado no inventário se faz um cálculo estatístico para determinar as espécies e seus volumes. No talhão a empresa faz o plano de corte, ou o levantamento das árvores que serão cortadas com um DAP de 45 centímetros. Dentro dos talhões são realizados inventários a cada 200 hectares para separar uma área de um hectare, para ser inventariada, e que também será explorada. Neste único hectare são realizados um levantamento de todas as espécies (de arbustos até árvores), que serão medidos todos os anos.
O objetivo desta medição é acompanhar o desenvolvimento e a recuperação da floresta, ou seja a sua sustentabilidade através do Inventário Florestal Contínuo (IFC).
Este inventário controla o estoque, a composição do povoamento, o aumento volumétrico por espécie e a mortalidade das espécies dentro do talhão no Projeto de Manejo. A exploração deve dar tempo à natureza para que esta possa se recuperar. Se a influência do corte destas árvores for muito grande, o Ibama aumenta o período de anos para que se possa voltar a explorar.
Além das medidas convencionais, o Ibama está solicitando das empresas que atuam neste ramo de atividade um projeto de reflorestamento de árvores nativas da região, um cuidado maior com as sementeiras (árvores que produzirão semente nas matas) e com as castanheiras.
A exploração da madeira já passou por diversas fases na história. Sua utilização é grande para as civilizações e desde a pré-história, vem sendo utilizada pelos homens. Em quase todos os objetos, tem madeira ou passou por algum beneficiamento em que tivesse utilizado a madeira. Seus sistemas de exploração variaram durante os séculos, mas os mais conhecidos são:
Serra manual - lâmina de ferro em forma retangular e de 2 a 3 metros de comprimento, com 15 cm de largura, com cabos de madeira nas extremidades e com dentes afiados usadas para cortar as árvores e certas formas de beneficiamento da madeira;
Moto-serras - serras motorizadas para corte da madeira com múltiplas finalidades (corte de árvores, corte de pranchas, vigas etc);
Serras a vapor - Serras usadas para beneficiar madeira através das caldeiras (ainda muito usadas) movimentam as indústrias no interior do estado onde não existe energia elétrica;
Serras Pica-pau - Podem ser elétricas ou a diesel (com polias ou motor estacionário). Seu sistema de corte é um vai-e-vem contínuo parecido com o movimento de um pica-pau furando uma árvore. Podem ser verticais ou horizontais. É um sistema muito lento e poucas serrarias o utilizam. São usados por pequenas empresas que não podem adquirir um equipamento mais moderno;
Serra Fita - Sistema de corte de madeira mais usado atualmente. São serras que podem ser elétricas ou a diesel (motor estacionário ou a polias). É uma serra em forma de uma fita circular que gira em torno de dois eixos. É mais rápida no corte da madeira e mais eficaz. Em termos de comparação enquanto uma serra pica-pau corta uma prancha de madeira a serra fita corta uma tora em pranchas;
Serra Induspan - Sistema de corte de madeira com duas serras circulares, uma na horizontal e outra na vertical. Muito usada para cortar peças sob medida.
São as serras que causam maior desperdício e danos ao beneficiamento da madeira na indústria, quando são utilizadas.
Corte das árvores
O corte das árvores na mata já foi indiscriminado e não se seguia critério algum para derrubá-las até o final dos anos 80. O importante era limpar a área para a pecuária ou a agricultura. Não havia nenhuma análise do solo para se saber se a área era propícia para aquela atividade. Mesmo em áreas onde não seriam derrubadas todas as árvores a destruição era grande. De acordo com o Ibama as árvores tropicais possuem uma grande massa de galhos e por onde elas passam em sua queda vão quebrando em média nove outras árvores menores e a floresta fica toda danificada prejudicando sua recuperação.
Agora com um novo programa de manejo das áreas florestais, introduzido pelo Ibama, o corte é seletivo. Deve-se lembrar que este procedimento não é muito comum entre os madeireiros, pois a maioria o desrespeitam.
Antes do corte a equipe realiza um planejamento de como fará a exploração e só então entra na mata, corta os cipós mais grossos, faz a orientação da colheita sinalizando as estradas com estacas ou fitas plásticas. Este procedimento é feito para que depois as máquinas possam realizar a abertura das trilhas com segurança.
A abertura das trilhas e estradas obedecem a alguns critérios como: evitar solos instáveis e minimizar a movimentação de terra. Isto facilita a drenagem da água. Devem ser abertas longe dos leitos de água, estreitas, limpando o mínimo possível da vegetação nativa para que a floresta possa se recuperar mais rápido. Posteriormente, limpam uma pequena área para servir de pátio, onde ficarão as toras evitando que os caminhões façam mais danos à mata.
As trilhas se ligam a uma estrada maior que escoará as toras da floresta. As árvores a serem cortadas, marcadas pelo sistema DAP, são demarcadas com uma plaqueta, um "X" bem grande com tinta ou ainda marcadas com cortes de terçado (facão). O corte é feito de maneira que as árvores caiam do lado que prejudique o menos possível a floresta evitando as espécies em crescimento, que deverão ficar intactas. O corte deve evitar derrubada de árvores nas proximidades dos "igarapés" (riachos), rios e lagos como forma de proteção das margens dos mesmos. Deve-se evitar também qualquer tipo de poluição da floresta durante o manejo, no acampamento. Após o corte é feito o desgalhamento e a toragem, deixando os troncos limpos para o transporte. O comprimento das toras depende de como será utilizada esta madeira e também da habilidade do operador de moto serras para aproveitar o máximo do tronco.
O transporte das toras, já cortadas e desgalhadas, de seu local de origem na floresta até o local onde está o caminhão é feito por um trator chamado "Skidder" (trator para operações dentro da floresta), que no passado arrastava de qualquer jeito o tronco e por isso vinha quebrando tudo que interrompesse seu caminho. Agora o reboque da tora é feito com cautela (por alguns madeireiros), levantando uma das extremidades para evitar destruição na área de manejo, que é fiscalizada pelo Ibama.
A mesma máquina coloca a tora em cima do caminhão, que a leva até o pátio da indústria, facilitando e dando rapidez ao transporte.
Após sua entrada na indústria as toras são colocadas em montes separados por espécies e numeradas, aguardando assim o seu beneficiamento, que pode ser imediato ou demorar algum tempo dependendo do estoque já existente na empresa.
Uma tora é transformado em pranchas e outras peças em poucos minutos por uma serra fita e a espessura é feita pela medida padrão (4cm) ou de acordo com a bitola pedida pelo cliente. O corte é feito de forma a aproveitar ao máximo as toras, mas mesmo assim a parte branca ou as costaneiras não são aproveitadas e vão para a carvoaria.
Desdobramento
Transformadas em pranchas as peças vão para a serra circular ou alinhadeira. Nesta etapa do processo, as pranchas são desdobradas ou repicadas para retirar as partes danificadas e o brancal. Geralmente, nesta etapa do processo, se retira as laterais das pranchas. São cortadas, nesta fase, os caibros, vigas, tábuas, ripas, sarrafos, mata-juntas e outras.
Após o repique, as peças vão para a destopadeira, uma serra circular que corta as pontas das peças no esquadro (ângulos de 90º). São eliminadas, nesta fase, as pontas tortas, rachadas, ardidas, podres e as que estão estragadas por qualquer motivo. Geralmente a peça é cortada no comprimento correto que se pede.
Acertadas, as peças beneficiadas de madeira são amontoadas em um local seco e plano, para evitar que o sol possa entortá-las. Geralmente são colocadas dentro de um barracão pois ainda possuem grande quantidade de água e podem entortar com a ação do calor solar. Assim, ficam a disposição dos clientes interessados.
Ao longo do processo de exploração da madeira, a indústria de beneficiamento desperdiça em várias etapas. Ao cortar a árvore na mata, raramente se executa o corte rente ao chão. O operador da moto-serra corta a árvore de duas formas: a mais comum é feita em uma posição que ele fique confortável, que não esforce sua coluna (no caso, em pé) e que fuja dos cupinzeiros. No caso de uma árvore com muitas raízes altas (catanas) se executa o corte mais alto.
Neste processo se perde uma quantidade de metros cúbicos já no toco. No repique do tronco da árvore, os galhos com um raio inferior a 20 cm são abandonados na mata e condenados a apodrecerem (a ramagem da árvore não é contada neste trabalho).
Já, na indústria de beneficiamento de madeira a perda é maior. Perde-se a casca, o "brancal" (parte situada após a casca que na maioria das espécies é uma madeira mole) e o miolo da tora (parte central da tora, que varia de 10 cm à 35 cm), que é rachado, oco ou mole demais.
Além destas perdas pode-se ainda acrescentar o pó da serragem que na maioria das madeireiras são queimados ou abandonados para que apodreçam.
A checagem deve ser feita no inicio, durante e depois do processo para que a operação de corte resulte um trabalho com o mínimo de desperdícios e o máximo de produtividade.
Fonte: Luiz Carlos de Freitas - Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. |