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REVISTA DA MADEIRA - EDIÇÃO N°105 - MAIO DE 2007

Logística

A Integração da cadeia logística no Brasil e sua importância na exportação

Não há como ser eficiente sem pensar em um padrão adequado de logística. É a única forma de sobreviver em um mercado cada vez mais globalizado e competitivo. Nesta dinâmica, a qualidade já é pré-requisito em todos os setores, mas a busca por eficiência, economia de tempo e redução de custos pode representar sucesso nos negócios.

As características particulares de cada setor, produto e companhia exigem o desenvolvimento de soluções sob medida, que atendam as necessidades específicas de cada cliente.

A dinâmica do mercado globalizado nos remete a uma contínua reflexão sobre a concorrência, baseada no tempo. Existe a necessidade de redução dos ciclos operacionais e da descoberta de meios que melhorem a relação entre o tempo consumido em atividades que realmente adicionam valor, e aqueles que apenas somam custos.

Por este motivo, o setor de serviços logísticos tem apresentado crescimento acentuado no país, nos últimos anos. Dados do Centro de Estudos em Logística da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) apontam para um crescimento de 286% da receita total das empresas, entre 2000 e 2003, uma média anual de 57%. Em valores monetários, este percentual corresponde a uma elevação da receita de R$ 1,5 bilhão para R$ 6 bilhões.

Muitos fatores contribuíram para fortalecer essa área no Brasil: a queda da inflação, onde as empresas passaram a ter mais segurança para investir; o aumento da competitividade entre produtos nacionais e importados; o crescimento do número de postos de distribuição; e a nova lei de direitos do consumidor, rigorosa quanto aos prazos de entrega.

Entretanto, apesar dos avanços em relação ao passado, a logística ainda é um dos maiores entraves para a competitividade no Brasil.

Segundo pesquisa do Centro de Estudos em Logística do Instituto Coppead/UFRJ, as despesas com logística alcançam cerca de 17% do PIB. Como conseqüência, o impacto da logística no custo final dos produtos comercializados no Brasil atinge em torno de 15% a 16%, podendo chegar a 30% em alguns segmentos. Em países desenvolvidos este índice varia entre 9% e 10%.

As principais barreiras para o desenvolvimento da logística no Brasil, segundo pesquisa realizada pelo Centro de Estudos em Logística em conjunto com a consultoria Booz-Allen, são: infra-estruturais, regulamentação, cultura, capacitação de recursos humanos e a evolução do conceito de logística nas empresas brasileiras.

Além de eficiência, os serviços logísticos são dotados, cada vez mais, de segurança, o que os tornam ainda mais necessários. A informática permite o total controle da movimentação, desde a armazenagem da produção até a entrega das mercadorias no seu destino. A identificação e rastreamento dos produtos são realizados por meio de código de barras, que permite a sua localização a qualquer momento. Um chip ou plaqueta fixada leva todos os dados da nota fiscal e detalhes do produto transportado, inclusive com informações sobre fragilidade, destino, restrições, cuidados exigidos etc.

Desta forma, não basta à empresa ter um bom produto e eficiência na produção se não tem à sua disposição um sistema de logística adequado. O que ela ganhar na produção poderá perder na estocagem e distribuição. Ou seja, não cuidar adequadamente da logística significa desperdiçar dinheiro.

EVOLUÇÃO

Até 1990, quando teve início o processo de redução das alíquotas de importação, as empresas brasileiras não demonstravam maior preocupação com a questão da competitividade.

Acomodadas com a falta de competição, num ambiente de reservas de mercado, e convivendo com uma conjuntura favorável de demanda, as empresas davam pouca atenção às questões de qualidade e produtividade. Afinal de contas, porque empresas iriam investir em melhoria de qualidade, aumento de produtividade e melhores serviços aos clientes, se existiam um amplo mercado consumidor, um baixo grau de concorrência e uma elevada inflação que permitia aplicar os recursos financeiros com altas taxas de juros?

No início da década de 90 a situação começou a se modificar, pois nesta época houve um aumento de concorrência em função da abertura do mercado brasileiro ao mercado globalizado. Além disso, nesta mesma época, em conseqüência do plano real, houve um aumento no poder de compra dos consumidores. Já em seu relatório anual de 1990, o World Competitiviness Report questionava a capacidade das empresas brasileiras de sobreviverem à competição internacional, através apenas de investimentos na melhoria da qualidade e dos processos internos.

Com a globalização e o crescente aumento da competição tornou-se necessário olhar além das fronteiras individuais das empresas, na direção do canal de distribuição, buscando maior cooperação e integração, desde o consumidor final até o fornecedor de matéria prima.

A abertura do mercado brasileiro e o sucesso do plano real provocaram uma grande mudança no relacionamento cliente-fornecedor, o fornecedor passou a ser mais exigido pelos clientes e o aspecto preço passou a não ser mais o único fator determinante no processo de compra. Segundo dados da pesquisa feita pelo CEL (2003) o fator preço ainda é muito importante na decisão de compra no varejo, porém outras variáveis, como produto e serviços ao cliente, vêm apresentando-se cada vez mais como fatores significativos nas decisões de compra.

Das muitas mudanças ocorridas no ambiente empresarial, talvez a maior seja o enfoque na “velocidade”, alavancada pelo boom dos computadores e das telecomunicações. Tudo isso traz conseqüências nas práticas de trabalho das empresas, que devem desenvolver estruturas organizacionais capazes de responder com rapidez e flexibilidade às exigências do mercado.

Assim, a construção de uma vantagem competitiva baseada na competência logística, diferenciará a empresa no mercado, dificultando a cópia por parte dos concorrentes. Todavia como não há ambiente competitivo estático, caberá à empresa analisar o desempenho logístico sob uma ótica dinâmica, na qual seja levado em consideração o fato de que as necessidades dos clientes estarão continuamente em modificação.

A logística aparece neste contexto, como uma ferramenta fundamental, ao contribuir para o aumento da flexibilidade, melhoria nos serviços e redução dos custos; fatores imprescindíveis para qualquer empresa competir no cenário atual.

Diante deste novo contexto, caberá à empresa implementar estratégias de marketing, que levem em consideração esta nova realidade e que permitam diferencia-la de seus concorrentes.

Para implementar uma estratégia de marketing é fundamental levantar e conhecer todas as atividades relacionadas ao processo de conquista e atendimento a clientes. Logística é uma das competências chave que podem ser desenvolvidas como parte central da estratégia.

Desta forma, através de gerência dos processos logísticos pode se obter resultados diferenciados de satisfação do cliente, com redução de custos. A logística representa uma importante opção, não só porque aumenta a eficiência operacional, mas também por que pode levar de forma consistente a aumento da lealdade do cliente.

Nos últimos anos, a logística no Brasil passou por profundas transformações em direção a maior sofisticação. Essas transformações são evidenciadas em diferentes aspectos, sejam eles relacionados à estrutura organizacional, às atividades operacionais, ao relacionamento com os clientes, ou às questões financeiras. Por outro lado, o escopo das operações logísticas já ultrapassou claramente as fronteiras clássicas do transporte e da armazenagem.

Tradicionalmente, a logística sempre foi vista como um conjunto de atividades operacionais, gerenciadas de forma fragmentada por gerentes com baixo nível hierárquicos. À medida que o conceito de logística integrada foi difundindo-se entre empresas e tornando-se mais sofisticado, o nível hierárquico de seu principal executivo foi elevando-se, até atingir os patamares mais elevados das organizações. Esse fenômeno que ocorreu nos Estados Unidos da América e Europa, nas últimas duas a três décadas, parece já ter chegado ao Brasil.

A evolução da logística ao longo do tempo pode ser medida entre outras coisas pelo conjunto de atividades executadas no âmbito de sua responsabilidade. A observação das grandes empresas brasileiras indica uma significativa diversidade de atividades sendo realizada pela organização logística, os resultados sugerem alto grau de diversificação das operações, compatível com países mais desenvolvidos.

Dentre as atividades logísticas, aquela que consome a maior parte dos recursos é o transporte. Esta também é a operação que apresenta os custos mais visíveis, por ser quase totalmente terceirizada nas empresas. No caso dos custos associados a outras operações logísticas, como a armazenagem e a gestão de estoques, nem sempre são considerados alguns custos menos visíveis ou que não representam desembolsos diretos, como os custos de oportunidade e depreciação.

Transporte

O custo de transporte representa a maior parcela dos custos logísticos na maioria das empresas. Ele pode variar entre 4% e 25% do faturamento bruto, e em muitos casos, supera o lucro operacional. O custo total de transporte nos Estados Unidos foi de US$ 529 bilhões representando 59% de todos os custos logísticos e 6,2% do PIB. No Brasil estima-se que estes custos estão na ordem de R$ 60 bilhões.

O sistema de transporte no Brasil, que ficou vários anos sem receber investimentos significativos, está passando por um momento de transição no que diz respeito as possibilidades de utilização de mais de um modal na movimentação de cargas por toda a cadeia de suprimentos.

Isto ocorre principalmente pelo processo de privatização de ferrovias e portos, execução de obras infra-estruturais e também pela iniciativa de vários embarcadores e prestadores de serviços logísticos.

Os tipos de produtos predominantemente transportados por mais de um modal são commodities, como minério de ferro, grãos e cimento, todos caracterizados como produtos de baixo valor agregado. Portanto, para que estes produtos sejam competitivos é indispensável um sistema de transporte eficiente, pois o custo de transporte é uma parcela considerável do valor destes produtos.

Para produtos de maior valor agregado, o fluxo de transporte por mais de um modal é bastante insipiente no Brasil. Nos Estados Unidos, o transporte rodo-ferroviário apresentou crescimento acumulado de 50% nos últimos 10 anos, tendo transportado cerca de 9 milhões de contêineres e carretas.

Como cada vez mais as empresas buscam redução nos custos logísticos e maior confiabilidade no serviço prestado, o uso de mais de um modal no Brasil surge como grande oportunidade para as empresas tornarem-se mais competitivas, visto que o modal rodoviário predomina na matriz de transporte do Brasil, mesmo para produtos/trechos onde não é o mais competitivo.

Embora se possa observar alguns exemplos de soluções logísticas que contemplem a utilização de mais de um modal, estas iniciativas ainda esbarram em questões infra-estruturais e de regulamentação, tais como: eficiência dos portos, terminais para integração entre os modais e regulamentação da operação de transporte por mais de um modal. A infra-estrutura do sistema de transportes no Brasil, quando comparada a outros países, ainda deixa muito a desejar.

Considerando-se os índices de extensão da malha/área territorial, pode-se perceber que o Brasil apresenta-se em situação bastante inferior a diversos países. Em relação à Argentina, por exemplo, a diferença relativa da malha ferroviária chega a ser de um terço, e em relação aos Estados Unidos é de pouco mais que um quinto.

Com gastos equivalentes a 10% do PIB, o transporte brasileiro possui uma dependência exagerada do modal rodoviário, o segundo mais caro, atrás apenas do aéreo. Enquanto no Brasil o transporte rodoviário é responsável por 58% da carga transportada (em toneladas-km), na Austrália, EUA e China os números são 30%, 28% e 19%, respectivamente.

Considerando os padrões norte-americanos, onde o custo do transporte rodoviário é três vezes e meia maior que o ferroviário, seis vezes maior que o dutoviário, e 9 vezes maior que o hidroviário, percebe-se o potencial para redução de custos se a participação do rodoviário vier a seguir os padrões internacionais, abrindo espaço para o crescimento de modais mais baratos. Considerando-se apenas as oportunidades de migração do rodoviário para o ferroviário, pode-se estimar uma economia de mais de US$ 1 bilhão por ano.

Os longos anos de estatização dos portos, ferrovias e dutos no Brasil, assim como os subsídios implícitos que existiam no passado e que ainda perduram, com menor ênfase, para o modal rodoviário (subsídio ao diesel, a quase inexistência de pedágios e a falta de regulamentos adequados sobre condições de trabalho dos motoristas) explicam em grande parte as distorções da matriz brasileira de transportes e as enormes ineficiências ainda hoje observadas.