O Brasil perde anualmente R$ 17 bilhões com acidentes de trabalho. Os investimentos na segurança dos trabalhadores não passam de R$ 4,2 bilhões, no País. Mundialmente, avalia-se que cada dólar aplicado em prevenção pode trazer US$ 4 de retorno
Muitos são os danos causados pelos acidentes de trabalho. Além da perda de vidas e da incapacitação física de trabalhadores, os acidentes interferem na produtividade das empresas. De um modo geral, os colegas de um trabalhador acidentado passam por uma fase traumática após o episódio, diminuindo o ritmo de atividade. Outro ponto é que a indústria tem dificuldade em treinar um novo profissional para substituir a vítima, com agilidade suficiente para não haver perdas de produtividade.
Aos poucos, o País vem criando hábitos para que as medidas preventivas sejam tomadas, visando reduzir os acidentes de trabalho, mas ainda não são suficientes. Campanhas mais fortes devem partir do governo, mobilizando a sociedade, os empresários e os trabalhadores. O tema segurança do trabalho deve ser visto como investimento pois, se não gera lucros ao menos evita grandes prejuízos às empresas e à nação.
Para reduzir o índice de acidentes não basta à empresa comprar equipamentos. É preciso conscientizar o profissional a usar esses dispositivos. A prevenção envolve implicações econômicas e sociais relevantes e, por isso, deve ser tratada com a mesma seriedade e o mesmo rigor dispensados aos demais fatores associados à gestão empresarial, como a qualidade.
As conseqüências geradas pelos imprevistos são graves, muitas vezes irreversíveis e em números alarmantes. Para se ter uma idéia, entre 1971 e 2000 morreram no Brasil mais de 120 mil pessoas e outras 300 mil ficaram inválidas. Elas foram vítimas dos mais de 30 milhões de acidentes de trabalho registrados no período.
Os dados mais recentes, de 2000, contam 343.996 acidentes de trabalho registrados, com 3.094 mortos (mais de 8,5 por dia) e 14.999 de aposentados por invalidez. O Brasil é um dos 15 piores países do mundo nesse campo. Além dos 27,2 milhões registrados, que entram nas estatísticas, estima-se que os acidentes sejam pelo menos o dobro do que é divulgado, conforme observa o presidente da ANIMASEG, Silvio Franklin Martins.Com nove vezes menos acidentes que em 1970, temos hoje cinco vezes mais doenças profissionais. Os acidentes na ida e vinda do trabalho cresceram 2,5 vezes nos últimos 30 anos. De 1993 a 1999, o Brasil permaneceu na faixa de 400 mil acidentes por ano, ou seja, mais de 1 mil por dia ou 45 por hora.
No ano 2000 o Brasil perdeu R$ 17 bilhões, com 343.996 mil acidentes, (R$ 50 mil com cada acidente, em média). Os investimentos na segurança dos trabalhadores não passam de R$ 4,2 bilhões. Mundialmente, avalia-se que cada dólar aplicado em prevenção pode trazer US$ 4 de retorno.
Além, de acidentes propriamente ditos, rondam os trabalhadores as doenças profissionais: a maior parte vai acometendo a vítima lentamente e só é descoberta em estágio avançado. Boa parte delas é cumulativa e irreversível (podem não piorar mediante cuidados e tratamentos, mas não têm cura), bem como os problemas de audição.
As doenças do trabalho mais freqüentes são as DORT (Doenças Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho), que representam hoje mais de 50% dos afastamentos do trabalho e fazem suas maiores vítimas entre as mulheres (cerca de 70% do total).
Segundo pesquisa do SEBRAE, conhecem algo sobre leis de prevenção 22% dos pequenos empresários do comércio, 57% da indústria e 51% dos serviços. Não notificam acidentes de trabalho 24% das indústrias e 73% das empresas de serviços.
Leis
O Direito Penal protege o trabalhador no ambiente de trabalho. Ao contrário da responsabilidade civil e da acidentária que exigem dano, na criminal basta que haja perigo para que alguém seja responsabilizado. Pelo Art. 132 do Código Penal: "Expor a vida ou a saúde de outrem é perigo direto e eminente" . Assim, o empresário que não zela pela segurança do trabalho pode pegar detenção de 03 meses a 01 ano.
Atualmente, as empresas recolhem à Previdência uma taxa a título de seguro de acidentes do trabalho, que cobre os gastos do Ministério com os acidentados (R$1,8 bilhão em 1.999).
Riscos
Enquanto, a cada momento, novos riscos são gerados por novos métodos produtivos, alguns velhos problemas persistem em todo o mundo: o estresse ronda os escritórios e faz vítimas entre empresários e executivos.
Nos Estados Unidos, apurou-se que os ex-fumantes custam aos seus empregadores US$ 4,5 milhões ao ano em despesas com doenças. Os funcionários que sofrem de excesso de peso custam a eles US$ 3,2 milhões anuais e os fumantes custam US$ 2 milhões ao ano.
No campo, a Organização Mundial da Saúde estima que ocorram entre 2 e 5 milhões de intoxicações por pesticida ao ano em todo o mundo, das quais 40.000 são fatais
Equipamentos de prevenção
O mercado de equipamentos de proteção ao trabalho movimenta R$ 1,3 bilhão ao ano. Estima-se que, no Brasil, apenas 1 em cada 5 trabalhadores tenha à sua disposição os equipamentos de proteção necessários à sua atividade profissional.
Participação de EPIs (equipamentos de proteção individual) nas vendas em 2001:
Luvas : 34,7% - Calçados : 29,1% - Proteção respiratória : 12,2% - Óculos : 4,2% - Protetores faciais : 0,3% - Vestimentas : 9,3% - Cremes Protetores: 2,4% - Equipamentos contra quedas : 3,6% - Capacetes : 1,7% - Proteção auditiva : 2,6% .
O setor de equipamentos e produtos de segurança (abrangendo os segmentos de equipamentos de proteção coletiva – EPCs e proteção individual – EPIs) tem como uma de suas particularidades o fato de ser composto por empresas de diversos setores.
Embora os dois sejam igualmente importantes, o segmento de EPIs é mais enfocado, pela maior relevância em termos da identificação e do aproveitamento das potencialidades do design como fator de competitividade das empresas que fabricam esses equipamentos.
O exemplo do Japão
Atualmente, são gastos, em média, R$ 20 bilhões por ano com doenças e acidentes do trabalho no Brasil, segundo um estudo realizado por José Pastore, professor da FEA/USP e consultor econômico da CNI. Com o total do que é gasto em dez anos daria para pagar a dívida externa. Enquanto isso, no Japão a verba para as atividades de educação, treinamento e pesquisas vem do recolhimento do seguro contra acidentes de trabalho. Lá, quanto menor a prevenção, maior o desconto para o seguro.
Com base nas estatísticas de acidentes por setor de atividade econômica, o que apresenta maior risco é o de construção de represas hidrelétricas, que recolhe 1,7% da sua folha de pagamento. No Brasil, o seguro é mais caro para o setor que provoca mais acidentes, e não para empresas que não previnem.
A média anual brasileira de mortes por acidentes de trabalho formal é de quatro mil, num universo de 32 milhões de trabalhadores. Em 1999, entre os 393.946 trabalhadores registrados que sofreram acidentes, 44% foram na indústria. No Japão, antes do atuação do Centro Internacional de Segurança do Trabalho, a média era de sete mil mortes por ano. Hoje é de dois mil, num universo de 60 milhões de trabalhadores formais.
Maio/2002 |