MENU
Biomassa
Colheita
Controle de Qualidade
Desenvolvimento
Economia
Editorial
FIMMA
Incêndios Florestais
Motivação
Postes
Pragas Florestais
Sistema de Corte
E mais...
Anunciantes
 
 
 

REVISTA DA MADEIRA - EDIÇÃO N°104 - ABRIL DE 2007

Controle de Qualidade

Controle de qualidade nas indústrias madeireiras e moveleiras

Devido a uma primeira exploração florestal, muitas florestas do norte do Brasil, e em especial no estado do Acre, possuem como característica árvores que variam em suas dimensões, o que resulta em volumes baixos quando se comparando com áreas que ainda foram pouco exploradas.

A infra-estrutura no setor florestal alcança demandas técnicas, de logística e de suporte ao uso racional dos recursos naturais, e é um dos principais geradores de emprego e de renda à comunidade.

Já o setor madeireiro é composto pelas indústrias que realizam o primeiro beneficiamento das toras provenientes da floresta, caracterizam-se em sua maioria como serrarias e em alguns casos indústrias de compensados e laminados, sendo as duas últimas voltadas à fabricação de produtos destinados ao mercado externo e interno. Já os produtos resultantes das serrarias têm maior saída no mercado regional, porém com restrições quanto à qualidade devido ao menor poder de compra regional.

A quantidade de indústrias madeireira e moveleira vêm crescendo nos últimos anos devido ao aumento do consumo de matéria-prima utilizada nos processos produtivos. Esse aquecimento na demanda aumenta a concorrência entre as empresas, pois essas passam a disputar preferências dos clientes.

Por sua vez, os clientes podem se tornar mais exigentes com relação à qualidade do produto e do seu processo produtivo, ainda que isto ainda não seja caracterizado. O controle de qualidade se refere a um processo ou conjunto de atividades e técnicas operacionais que são empregadas para se cumprir os requerimentos de qualidade. Essa definição implica em qualquer operação que sirva para melhorar, dirigir ou assegurar a qualidade pode ser considerada uma atividade de CQ.

Sendo assim, a importância do controle de qualidade na produção, e também pela certificação de qualidade poderão tornar-se o diferencial entre as empresas trazendo assim uma maior satisfação de ambos os lados.

Através de um estudo específico procurou-se apresentar a cadeia produtiva de madeira e móveis da Região do Baixo Acre, relatar problemas, indicar recomendações e propor melhorias através de ferramentas de controle de qualidade.

Área de estudo

A região do Baixo Acre, com área total de 23.479,90 km², compreende os municípios de Rio Branco, Acrelândia, Bujari, Capixaba, Plácido de Castro, Porto Acre e Senador Guiomard.

O clima é caracterizado pelas altas temperaturas e elevados índices pluviométricos. Os principais tipos de solos encontrados são: Podzólicos Vermelho Amarelo Eutróficos e Podzólicos Vermelho Amarelo Álico/Distrófico, sendo a cobertura florestal predominante a Floresta Ombrófila Densa Aberta.

Foram realizadas visitas em serrarias, fabricantes de compensados, marcenarias e moveleiras, na cidade de Rio Branco e outros municípios da região, a fim de detectar falhas nos processos produtivos e avaliar o controle de qualidade realizado nas empresas.

A coleta de dados se deu através de entrevistas, visitas e revisões bibliográficas, com a finalidade de elaborar gráficos de diagnose caracterizando as marcenarias através de análise SWOT, Diagrama de Ishikawa, Técnica do 5W2H e Ciclo PDCA.

O objetivo do uso dessa metodologia foi aplicar algumas das ações e ferramentas de controle de qualidade que poderão vir a ser empregadas em empresas da Região do Baixo Acre.

O processamento procedeu-se nas dependências na Universidade Federal do Paraná – UFPR. A definição dos principais problemas apresentados pelo setor florestal e madeireiro levou em consideração somente as entrevistas e as visitas realizadas in loco, já para os moveleiros e marceneiros, além destas foi utilizado como base um levantamento realizado por técnicos do CETEMO/SENAI.

Para cada problema identificado foi aplicado o diagrama de Ishikawa e para cada sub-causa/conseqüência caracterizada no diagrama, efetuou-se a análise 5W2H, o que permitiu um maior detalhamento das sub-causas/conseqüências dos principais problemas do setor. A escolha desse método de análise se deu pelo fato de que estas ferramentas da qualidade trazem um maior detalhamento e compreensão dos problemas do setor, além de facilitar a visualização dos mesmos.

Análise SWOT

Foi usada como base para gestão e planejamento estratégico da situação apresentada pelas indústrias madeireiras e moveleiras da Região do Baixo Acre. É um sistema simples para posicionar ou verificar a posição estratégica das empresas no ambiente em questão, neste caso referente à cadeia produtiva madeira/mobiliário da região de abrangência deste estudo.

O termo SWOT é uma sigla oriunda do idioma inglês. Significa um anagrama de Forças (Strengths), Fraquezas (Weaknesses), Oportunidades (Opportunities) e Ameaças (Threats).

Diagrama de Ishikawa

Representação gráfica que mostra a relação entre um conjunto de causas/subcausas que provocam um efeito/problema.

As principais causas ou conseqüências podem ser agrupadas em "famílias de causas" ou "principais categorias" para facilitar a análise das causas.

Técnica do 5W2H

É uma ferramenta para auxiliar a análise e o conhecimento sobre determinado processo, problema ou ação a serem efetivados.

São sete palavras em inglês, sendo cinco delas iniciadas com "W" e dois iniciadas com H: What (o quê), Who (quem), When (quando), Where (onde), Why (porquê), How (como) e How much (quanto custa).

Este método pode ser usado em três etapas na solução de problemas: (i) ação: investigando um problema ou processo, para aumentar o nível de informações e buscar rapidamente onde está a falha; (ii) plano de ação: montando um plano de ação sobre o que se deve ser feito, para eliminar um problema; (iii) padronização: padronizando procedimentos que devem ser seguidos como modelo, para prevenir o reaparecimento do problema.

Ciclo PDCA

Tem por princípio tornar mais claros e ágeis os processos envolvidos na execução da gestão, como por exemplo na gestão da qualidade das madeireiras e movelarias da região do baixo Acre. É aplicado principalmente nas normas de sistemas de gestão e deve ser utilizado (pelo menos na teoria) em qualquer empresa de forma a garantir o sucesso nos negócios, independentemente da área ou departamento (vendas, compras, engenharia, qualidade, etc.).

O ciclo segue os seguintes passos:

Plan (planejamento): estabelecer missão, visão, objetivos (metas), procedimentos e processos (metodologias) necessários para atingir os resultados.

Do (execução): realizar, executar as atividades.

Check (verificação): monitorar e avaliar periodicamente os resultados, avaliar processos e resultados, confrontando-os com o planejado, objetivos, especificações e estado desejado, consolidando as informações, eventualmente confeccionando relatórios.

Act (agir): Agir de acordo com o avaliado e de acordo com os relatórios, eventualmente determinar e confeccionar novos planos de ação, de forma a melhorar a qualidade, eficiência e eficácia, aprimorando a execução e corrigindo eventuais falhas.

RESULTADOS

Conforme o gráfico 01 observa-se que as necessidades mais comuns entre as marcenarias foram em obter capital de giro (50%), mão de obra qualificada (47%), processamento adequado das atividades (47%) e cuidados e manutenção de equipamentos utilizados (47%).

O Gráfico 02 mostra que 94% das marcenarias da Região do Baixo Acre produzem móveis e esquadrias, enquanto que somente 16% fabricam material para construção e 3% produzem torneados, estofados ou conjunto e peças individuais.

O Gráfico 03 mostra que 97% das marcenarias utilizam para a fabricação de seus produtos a madeira maciça, 63% utilizam a chapa dura, 53% MDF (Medium Density Fiberboard) e 44% compensado.

O Gráfico 04 mostra que a 56% das marcenarias tem sua área física reduzida, não ultrapassando a 250 m² e só 22% delas possuem área maior que 700m².

Observa-se no Gráfico 05 que 50% das marcenarias não possuem funcionários registrados sendo assim, trabalha-se apenas o proprietário com a ajuda dos integrantes de sua família ou através de contratos informais de trabalho.

No Gráfico 06 pode-se observar que 100% das marcenarias fabricam por encomenda, 38% em lotes, 31% não tem controle sobre a programação, e 19% produzem em série.

O gráfico 07 mostra as principais dificuldades indicadas pelas marcenarias, 78% encontram problemas durante o acabamento das peças, 41% iniciam o seu problema já no momento de obtenção da matéria prima. Outro problema é a falta de mão de obra qualificada (38%) para realização das atividades em cada processo. No entanto, não é tanto empecilho o espaço físico e a secagem da madeira para 3% das marcenarias.

No Gráfico 08 observa-se que 84% das marcenarias utilizam a usinagem da madeira no processo de fabricação dos móveis, outras atividades mais utilizadas é o pré-corte, lixamento, acabamento e montagem. São menos de 10% as marcenarias que fazem colagens, revestimentos e torneamentos das peças.

Com relação ao setor florestal a análise SWOT evidenciou que no quesito Forças, o principal ponto que dá suporte às empresas desse setor foram as instituições do Estado do Acre, Projeto Piloto de Manejo Florestal e Capacitação Técnica (PROMATEC), Secretaria Estadual de Florestas (SEF) e Fundação de Tecnologia do Acre (FUNTAC). Já para o setor madeireiro, as forças estão centradas na Associação das Indústrias de Madeira de Manejo do Estado do Acre (Assimmanejo), no apoio governamental e na qualidade intrínseca da matéria-prima. Para o setor moveleiro também foram encontradas como Forças o apoio do pólo moveleiro e de instituições de ensino apropriadas (SENAI, UFAC, SEBRAE), além da qualidade intrínseca da matéria-prima.

Ficou evidente que as principais ameaças no setor florestal e madeireiro foram a tendência de aumento no preço do produto, gerando uma concorrência com indústrias de compensados, laminados e MDF, descompromisso com a qualidade e inadequação das empresas com relação ao documento de origem florestal. Já no setor moveleiro, devido ao baixo preço pago por produtos industrializados, esse setor fica sujeito a produtos de menor qualidade e em muitos casos, refugo, alto preço de mercado e falta de financiamento para aquisição dos móveis fabricados pelas movelarias.

As principais fraquezas foram semelhantes nos três setores, sendo elas, a ilegalidade de matéria-prima e não aproveitamento de resíduos.

Os três setores apresentaram o crescimento do PIB do Estado, geração de emprego e certificação florestal como principais pontos no quesito oportunidades.

O simples controle de madeira certificada implica na adoção de medidas de gerenciamento da linha de produção de uma empresa.

Para o setor florestal foram feitos 3 diagramas de Ishikawa, sendo os problemas a sazonalidade da exploração, burocracia para plano de manejo e espécies florestais não comuns.

Uso de equipamentos obsoletos

Para o setor madeireiro foram feitos 4 diagramas de Ishikawa, sendo os problemas a falta de estrutura física, mão-de-obra desqualificada, pátios inadequados e equipamentos obsoletos .

Para o setor moveleiro foram feitos 7 diagramas de Ishikawa, sendo os problemas acabamento de má qualidade, falta de aproveitamento de madeira de segunda classe (Figura 04), falta de cuidados com os equipamentos, mão-de-obra desqualificada, processo de trabalho inadequado, técnicas de usinagem defasadas e utilização de matéria-prima de segunda classe.

Exemplo de empresa que aproveita a madeira não utilizada no processo produtivo. Esta madeira possui grande valor agregado quando transformada em pequenos artefatos

Os resultados do 5W2H forneceram informações importantes para melhorias de pequenos problemas (sub-causas/conseqüências) dos principais problemas verificados através da coleta de campo. Os itens how e how much apresentaram soluções para os três setores, sendo que na quantificação de valores, quando não foi possível definir um orçamento, foram apresentados os possíveis agentes responsáveis pela provisão destes custos de melhoria.

Ciclo PDCA

Ciclo PDCA para o setor florestal.

Ciclo PDCA para o setor madeireiro

Ciclo PDCA para o setor Moveleiro.

CONCLUSÃO

Os resultados deste relatório apresentam os principais problemas encontrados pelas empresas que compõem a cadeia produtiva madeira/mobiliário no Acre. Dentre os três setores analisados o que apresentou maior número de problemas foi o moveleiro e em especial os pequenos marceneiros.

Dentre as ferramentas da qualidade utilizadas para a apresentação dos problemas, o ciclo PDCA foi aquele que apresentou de modo mais simplificado e consistente algumas melhorias a serem efetuadas.

A maioria das empresas madeireiras estudadas depende de florestas de terceiros para abastecer de toras as suas indústrias; as principais restrições à entrada de novas firmas no mercado são a falta de mão-de-obra qualificada, uma burocracia excessiva, a necessidade de quantia significativa de capital e a disponibilidade de madeira em tora; a pronta entrega e a garantia da qualidade do produto são itens que se diferenciam, entre si, nas serrarias no Acre.

Em uma primeira análise, são recomendados melhoramentos das máquinas e equipamentos utilizados no processo de fabricação, assim como a manutenção adequada dos mesmos, como uma maneira de se obter uma maior exatidão nas dimensões dos produtos fabricados. Todavia, as pré-condições para que se consigam melhoramentos técnicos eficazes são as de que se estabeleçam critérios (Standard) de fabricação e que as funções do Controle de Qualidade sejam introduzidas e cumpridas nas fábricas. Os critérios de fabricação estão baseados nas normas que o processo de fabricação tem que seguir; o sistema de Controle de Qualidade registrará quando esses critérios estiverem fora dos intervalos de tolerância permitidos pelas normas, para que a direção da fábrica tome as medidas de correção cabíveis.

Muitas ações serão realizadas para que o controle de qualidade venha a ser o principal diferencial dos produtos de madeira e dos móveis produzidos no Acre. Não existe atualmente no Acre uma empresa que possua um sistema de gestão da qualidade. Os passos a serem dados para que as empresas venham a se adequar a padrões de qualidade são muitos, o que implica dizer que será necessário muito empenho e dedicação por parte de todos os agentes envolvidos na cadeia produtiva. O principal aspecto a ser desenvolvido pode estar relacionado à definição de padrões de qualidade para as empresas, mesmo que de modo incipiente, o padrão de qualidade serviria para a melhoria da qualidade intrínseca e de processos das empresas.

Mostra a presença de rajados escuros na peça, o que em muitos casos é tratado como um fator de desvalorização da madeira. Peças com essas características deveriam ser classificadas de maneira diferenciada

Mostra rachadura e nós na madeira a qual deveria estar sendo classificada de acordo com a qualidade da peça

Eng. Florestal MSc. Renato C. G. Robert.