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REVISTA DA MADEIRA - EDIÇÃO N°104 - ABRIL DE 2007

Colheita

Sistema De Colheita De Madeira Com Utilização De Cabos Aéreos

Desde 1966, quando foram instituídos os incentivos fiscais para florestamento e reflorestamento pela Lei 5.106, até 1986, houve um aumento na procura por terras desocupadas e relativamente baratas para implantação dos projetos florestais. Desta forma, as áreas montanhosas, com vegetação bastante degradada, fertilidade natural já exaurida e baixo valor de aquisição, foram alvo de grande procura. Assim, grandes empreendimentos florestais tomaram corpo nestas regiões.

Conforme estudo realizado pelos Técnicos Florestais da Florestal Vale do Ribeira, Áurio Oliveira, Geremias Perreto e Claudimar Correa e pelo Engenheiro Florestal Osmar Kretschek, com o advento da mecanização dos processos agrícolas, as terras acidentadas foram relegadas ao uso marginal ou simplesmente ao abandono, decorrendo um vazio econômico e social. Voltaram a ter importância pela criação de nova riqueza decorrente da significativa massa florestal aí implantada, como uma das poucas alternativas econômicas viáveis, dada a pouca aptidão para outras culturas.

Este cenário, aliado a uma infra-estrutura precária e desatendida à época, houve uma acentuada queda nos preços das terras, que foram sendo negociadas com interessados em criação extensiva de gado e empresas florestais. O custo da terra propiciou os investimentos ali realizados e hoje temos um grande potencial madeireiro a ser inserido no ciclo econômico.

Mais recentemente, com a valorização da madeira em função da maior demanda e escassez crescente, devido ao cerceamento ao uso de madeira de floresta nativa por imposições legais na região Norte do país, a procura atingiu também as áreas com maior dificuldade de colheita. Iniciou-se a utilização econômica das florestas plantadas em áreas acidentadas viáveis de serem utilizadas.

Nestas regiões onde não é possível a colheita convencional, justifica-se plenamente a aplicação de cabos aéreos, não só por razões econômicas, mas também por razões ambientais. Nas costas, independente da declividade, todo o corte é feito com motosserras, sem desgalhe ou destopo.

Em trechos da floresta onde a distância de arraste vai de 0 a 120 metros, são utilizados guinchos com capacidade de 18 ou 33 toneladas, com retorno manual, adaptados a tratores agrícolas. Em distância de arraste de 0 a mais do que 120 metros, justifica-se a instalação de torres de cabos aéreos que, dependendo da distância máxima, podem ser para 300m, 500m ou 600m.

Uma vez localizados os pontos de arraste, inicia-se a operacionalização da colheita. Para a instalação de uma torre se faz necessária uma planificação detalhada e implementação das etapas básicas:

Construção de via de acesso até o ponto, trafegável para caminhão de transporte ou equipamento de arraste;

Preparação de local, adequado para acomodar a torre e seus suportes de ancoragem, pátio de chegada e acomodação da madeira em troncos e processada, espaço de manobra de máquinas e veículos;

Localização de uma linha reta do ponto onde será instalada a torre, até o final do “eito”;

Escolha de tocos ou criação de outros suportes, adequados ao estaiamento do conjunto, tanto junto à torre quanto no final da linha, de árvore suporte e respectivos pontos de estaiamento;

Escolha, se necessário, de árvores que sirvam de suportes intermediários para o cabo principal, permitindo a superação de curvas positivas do relevo, de modo que o conjunto de carga não toque o solo;

Derrubada de todas as árvores não escolhidas, e que serão arrastadas, desde o fundo do “eito”, na parte mais baixa, até as mais próximas do local da instalação da torre, nesta ordem;

Instalação dos cabos de estai e dos suportes intermediários;

Finalmente a mudança da própria torre e a respectiva instalação, que pode levar de 40 minutos até duas horas.

De acordo com o modelo de cada conjunto, os alcances máximos dos cabos aéreos e respectivas larguras médias dos eitos de arraste são:

K300 – alcance de 300 metros e 15 metros de arraste lateral de cada lado;

K500 – alcance de 500 metros e 25 metros de arraste lateral de cada lado;

K600 – alcance de 600 metros e 25 meros de arraste lateral de cada lado.



As produções, até agora verificadas, não têm uma variação linear, pois as distâncias de arraste são diferentes, as capacidades de carga também diferem e os tempos de experiência com os equipamentos também são diferentes.

Com o modelo K300, tem-se uma produção de 41 árvores (0,7 st/árvore) por hora, correspondendo a 29 st por hora. Com os modelos K500 e K600, tem-se a produção de 53 e 50 árvores (0,7 st/árvore) por hora, correspondendo a 37 e 35 st por hora, respectivamente.

Processamento e riscos

Após o arraste primário, os troncos serão arrastados secundariamente por skidders, para serem processados, na margem das estradas e nos estaleiros. A madeira para serraria e para venda, é carregada na seqüência e a madeira de processo fica estocada para ser descascada e perder um pouco da sua umidade, podendo aí permanecer por até cinco meses.

Para este serviço, se utiliza um conjunto skidder e loader/slasher que atendem a contento a produção de duas torres cada. O descascamento é feito com descascadoras acopladas a tratores agrícolas.

Os sistemas convencionalmente usados na colheita da madeira em áreas declivosas oferecem maior risco de acidentes de trabalho pelo fato de envolver maior número de pessoas, operações repetitivas em condições inseguras como busca do cabo, extrema fadiga dos engatadores e baixa produção.

Além disso, envolve maior quantidade de estradas e carreadores, com a conseqüência de danos ambientais e custos permanentes mais elevados, sem otimizar a produção em condições de relevo fortemente ondulado.

Os conceitos de estradas para colheita florestal tomaram outros rumos, uma vez que a construção de um sistema viário, além de ser caro, é ambientalmente agressivo e permanente. Deve ser pensado para atender a atual colheita, a implantação de novas florestas e as próximas colheitas. Sua planificação deve ser de forma a atender os padrões técnicos mínimos e econômicos suportáveis pela atividade, minimizando as interferências danosas no terreno como perdas de área útil e favorecimentos a degradações.

Dependendo do sistema de colheita escolhido a rede viária, entre estradas e carreadores, deverá ter maior ou menor densidade, com todas as conseqüências advindas. Quanto menor a distância de arraste primário, ou primário e secundário, maior será a densidade do sistema viário. Pelo contrário, quanto maior a distância do arraste primário, menor a densidade da rede viária.

A utilização do sistema de cabos aéreos, dependendo da rede pré-existente, propicia uma redução de 40 a 60%, permitindo um maior investimento na qualidade das mesmas.

As razões da escolha de sistemas de colheita em torres com cabos aéreos em regiões de relevo fortemente ondulado se prendem ao atendimento das seguintes condições:

Minimizar o passivo ambiental em função do método de extração e da redução da densidade de estradas;

Adequação dos métodos de extração em função das características do terreno e distância de arraste;

Planejamento de rede viária em função da distância de extração, tipo de equipamento utilizado e forma de transporte;

Abertura e adequação de estradas com uso de escavadeira hidráulica;

Opção de instalação de estradas na parte mais elevada do terreno;

Definição das tecnologias adequadas e disponibilidade de máquinas e equipamentos, em função da topografia e distância máxima de extração;

Economicamente viável.

Com a utilização dos cabos aéreos em regiões de relevo fortemente ondulado, ocorre a redução do passivo ambiental, minimizam-se as erosões, reduz o assoreamento de corpos d’água, melhora a qualidade da água, atende às exigências ambientais legais como o Código Florestal e as Leis Estaduais, aumenta a segurança dos trabalhadores, melhora a qualidade de vida da comunidade onde está inserida e facilita a certificação de produtos florestais.