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REVISTA DA MADEIRA - EDIÇÃO N°103 - MARÇO DE 2007

Eucalipto

Mercado aponta uso do eucalipto para móveis

As probabilidades de uso da madeira de eucalipto para móveis existem desde longa data, estendendo-se por diferentes regiões do mundo. Historicamente, existem depoimentos favoráveis atribuídos a empresários da área moveleira dos Estados Unidos, mostrando a aceitação da madeira de eucalipto naquele país já no início do século XX.

Na Austrália, África do Sul e Argentina desde 1950, são fabricados móveis com algumas espécies de eucaliptos que produzem madeiras leves, de aspectos atraentes, de fácil trabalhabilidade manual e mecânica e boas características para tratamentos superficiais, sobretudo para colagem e polimento. A madeira de eucalipto também é utilizada, há algum tempo, no Chile, para abastecer a indústria de móveis e construção civil.

As espécies dos gêneros eucalipto e pinus se apresentam como grandes alternativas para a produção de madeira serrada no Brasil para os próximos anos. A indústria está investindo nessas espécies, projetando os seus suprimentos de matéria-prima no futuro.

A madeira de eucalipto começou a se destacar na indústria de produtos sólidos a partir da última década como fonte de matéria-prima de usos múltiplos. O eucalipto já vem sendo utilizado como madeira serrada em diversos países. No Brasil, esse uso, apesar de ter aumentado nos últimos anos, ainda é bastante incipiente.

Embora o eucalipto se apresente como uma alternativa para o abastecimento da indústria madeireira, essa matéria-prima possui limitações próprias e inerentes às madeiras oriundas de florestas de rápido crescimento. A esse fato, soma-se ainda a falta de conhecimentos tecnológicos, sendo apontados como principais entraves à utilização econômica da espécie.

Essa falta de informações técnicas existentes até pouco tempo, sobre as madeiras desse gênero, inviabilizava suas utilizações como peça acabada. Os problemas iniciais mais graves com a madeira de eucalipto eram as rachaduras demasiadas e as deformações.

A presença de certas características desfavoráveis, como a elevada retratibilidade, a propensão ao colapso e a presença de altos níveis de tensão de crescimento explica, em parte, esses principais defeitos. As tensões são esforços mecânicos gerados durante o crescimento da árvore que ajudam a manter o equilíbrio da copa, em resposta á ação de agentes ambientais.

Quando as árvores são derrubadas e suas toras são desdobradas e essas tensões são liberadas, provocando a formação de rachaduras de topo nas toras, e empenamentos e rachaduras nas tábuas, reduzindo, significantemente, o rendimento de madeira serrada.

Quase toda a madeira até então utilizada para os usos nobres foi proveniente de plantios voltados para a produção de celulose e carvão, privada de técnicas especiais hoje disponíveis. Assim, não há dúvidas de que, dentre as aplicações da madeira de eucalipto no Brasil, a sua utilização na indústria moveleira e na construção civil é a que se encontra mais evidenciada e com as melhores perspectivas. O quadro atual tem grandes chances de reversão, à medida que se romperem alguns preconceitos e se aprofundarem os estudos sobre os “gargalos” tecnológicos.

Características

A qualidade da madeira se refere à sua capacidade para atender aos requisitos necessários para a fabricação de um produto, ou ainda, a combinação das características físicas, mecânicas, químicas e anatômicas de uma árvore que permite a melhor utilização da madeira para um determinado uso.

Segundo o LPF/IBAMA, as espécies de Eucalyptus grandis W.Hill ex Maiden e Eucalyptus cloeziana F.Muell têm as seguintes características: o Eucalyptus Grandis W.Hill ex Maiden possui o cerne distinto do alburno, a coloração do cerne é rosa, o alburno é cinza-rosado. As camadas de crescimento são distintas, a grã é direita e a textura é média, apresentando figura tangencial em linhas vasculares pouco destacadas, com brilho moderado e cheiro imperceptível.

O Eucalyptus cloeziana também tem o cerne distinto do alburno. A coloração do cerne é marrom-rosado (5 YR 6/3) e o alburno é marrom-pálido (10 YR 6/3). As camadas de crescimento são distintas, a grã é reversa e a textura média. A figura tangencial de sua madeira é em linhas vasculares pouco destacadas, o brilho é ausente e o cheiro é imperceptível.

O conhecimento tecnológico sobre madeiras que têm potencial para utilização na indústria, como é o caso do eucalipto, contribui para introduzir essas espécies no mercado.

As madeiras de Eucalyptus grandis W.Hill ex Maiden e Eucalyptus cloeziana, secas ao ar, depois de cortadas tangencialmente apresentaram algumas tábuas com rachaduras de topo, de superfície e leves empenos. Esses pequenos defeitos não inviabilizaram a utilização das madeiras. De uma forma geral, a qualidade aparente apresentada pelas madeiras das duas espécies é boa, não havendo comprometimento no desempenho delas na fabricação dos móveis.

A madeira de Eucalyptus grandis W.Hill ex Maiden apresenta-se bem perante as máquinas e ferramentas. É uma madeira macia que não oferece resistência às serras e equipamentos de trabalho manuais. Sua grã direita certamente é uma característica positiva quanto à facilidade de trabalhabilidade da espécie. A cor rosa e o brilho moderado da madeira levaram a apresentação de um móvel esteticamente agradável. A superfície de acabamento da madeira de Eucalyptus grandis W.Hill ex Maiden é muito boa quando aplainada corretamente. A serragem produzida por essa madeira não causou nenhum tipo de irritação aos operadores. Essa madeira recebeu bem todas as lixas, da granulometria mais grossa (grã 60) até a mais fina (grã 280). A espécie também se comportou bem quanto ao uso de parafusos, pregos e na confecção de encaixes.

Apesar da presença de uma certa oleosidade na madeira serrada de Eucalyptus grandis W.Hill ex Maiden, não houve interferência no recebimento de produtos de acabamento (seladora) apresentando o móvel acabado, um ótimo aspecto. Duas demãos de seladora foram suficientes para dar um bom acabamento ao móvel.

A presença de fibra reversa na madeira de Eucalyptus cloeziana, aliada à massa específica mais elevada, dificultou em parte a trabalhabilidade dessa espécie. Mesmo assim, a peça mobiliária produzida mostrou boa aparência e qualidade satisfatória. Os operadores de máquinas e ferramentas ao avaliar o desempenho dessa espécie, verificam que a madeira de Eucalyptus cloeziana mostra, de uma forma geral, algumas dificuldades por causa, sobretudo, da sua dureza, havendo em alguns casos queima da superfície pelas serras, arrepiamento superficial e até mesmo arrancamento de fibras. O pó da serragem da madeira deixa, no ar, um cheiro característico, causando algumas vezes, alergia.

A utilização de máquinas e equipamentos mais adequados, além de equipamentos de segurança a serem utilizados pelos trabalhadores, deverá resolver ou amenizar esses problemas. Observou-se também um desgaste mais intenso das lixas (tanto a grã 80 como a 280). A colocação de massa para amenizar os efeitos de pregos e parafusos não foi bem aceito no acabamento da madeira de Eucalyptus cloeziana. Outros produtos para esse tipo de acabamento deverão ser testados na tentativa de contornar ou amenizar o problema. Por outro lado, a peça recebeu bem a seladora no acabamento, sendo suficiente duas demãos.

De maneira geral, as madeiras de Eucalyptus grandis W.Hill ex Maiden e Eucalyptus cloeziana comportaram-se de forma muito satisfatória em relação a equipamentos e material de acabamento.

Pesquisa

Uma pesquisa de opinião foi realizada com os consumidores da cidade de Brasília, com o intuito de verificar a preferência quanto ao design, à cor, ao desenho e à comercialização dos móveis fabricados com as madeiras de Eucalyptus grandis W.Hill ex Maiden e Eucalyptus cloeziana. Foram entrevistadas cem pessoas abrangendo uma faixa etária entre 25 a 68 anos.

Considerando o quesito design, 48% dos consumidores entrevistados preferem o estilo moderno ou contemporâneo; 28% optaram pelo estilo clássico ou tradicional e 24%, dão preferência aos móveis rústicos.

Das pessoas entrevistadas, 86% investem em um móvel com design diferenciado. Observa-se que o design desenvolve um papel importante de marketing. Esse é um parâmetro fundamental a ser agregado na confecção de móveis de madeira de eucalipto. O design, além de agregar valor irá ser uma ferramenta de marketing para a indústria, pois o consumidor considera esse parâmetro muito importante na fabricação de peças mobiliárias.

As madeiras de Eucalyptus grandis W.Hill ex Maiden e Eucalyptus cloeziana apresentam densidade básica média, respectivamente, de 0,59 g/cm3 e 0,67 g/cm3. Os fatores de anisotropia de ambas as espécies estão compreendidos entre 1,5 e 1,9. Considerando a densidade e a retratibilidade dessas espécies, verifica-se uma boa aptidão para serem utilizadas no segmento moveleiro.

As propriedades mecânicas flexão estática e dureza também contribuem para indicar essas espécies nesse segmento. A espécie Eucalyptus cloeziana, em razão de suas propriedades de dureza e flexão estática (MOR e MOE) mais elevadas, também mostra aptidão para ser utilizada como piso. Certamente, nesse caso, um tratamento com substâncias preservantes será necessário.

A madeira de Eucalyptus grandis W.Hill ex Maiden apresenta bom comportamento perante as máquinas e ferramentas. É uma madeira macia, que não oferece resistência à cortes e trabalhos manuais. Sua grã direita certamente é uma característica positiva quanto à facilidade de trabalhabilidade da espécie. A cor rosa avermelhada e o brilho moderado da madeira levaram a apresentação de um móvel esteticamente agradável, com ótimo acabamento apontado pela maioria dos consumidores entrevistados.

A madeira de Eucalyptus cloeziana mostra pequenas dificuldades na presença de máquinas e equipamentos em razão, sobretudo, da sua dureza e da presença de fibras reversas. Por outro lado, a madeira recebeu bem a seladora, originando um bom acabamento. A mobília fabricada é de boa qualidade e sua cor cinza oliva é uma opção ao consumidor. Em relação ao estudo mercadológico com as peças fabricadas, as espécies apresentam boa aceitação pelo consumidor do Distrito Federal, destacando-se a madeira rosa avermelhada do Eucalyptus grandis W.Hill ex Maiden com desenhos evidenciados, a preferida pela maioria dos consumidores.

O consumidor, além de privilegiar, na compra de artefatos de madeira, quesitos como preço, qualidade e durabilidade, observa também a aparência do objeto, seu “design” e seus componentes, o que leva a cor a ser um fator importante na escolha.

Muitas vezes, o comprador é especialmente seduzido pela cor, que pode ser limitante na decisão da compra, além do desenho que deve apresentar harmonia. Ambas as espécies possuem quesitos positivos para sua utilização na indústria moveleira. Entretanto, o Eucalyptus grandis W.Hill ex Maiden para este estudo, teve a preferência do consumidor, em função sobre tudo da cor e do desenho apresentado pela madeira.

Fontes: Universidade de Brasília; Laboratório de Produtos Florestais (IBAMA), Brasília, DF