No setor florestal, a colheita e o transporte de madeira são as etapas mais importantes, economicamente, dada a sua alta participação no custo final do produto e os riscos de perdas envolvidos nessas atividades. Em torno de 40% a 50% dos custos de produção são devidos ao produto florestal e, destes, cerca de 50% referem-se aos custos de colheita e transporte.
Como a redução dos custos da colheita é vital para qualquer empresa, uma análise detalhada e por partes dos custos nos diferentes métodos de colheita, em cada atividade, tem um papel importante no entendimento dos mesmos, além de facilitar os estudos com o objetivo de reduzi-los.
No Brasil, os sistemas manuais e semi-mecanizados de colheita foram amplamente utilizados por falta de alternativas, empregando-se grande número de mão-de-obra, tornando a operação onerosa e muito perigosa. Com o aumento da demanda por produtos florestais, necessidade de maior rendimento das operações, escassez da mão-de-obra, aumento dos custos sociais e a abertura do mercado às importações de máquinas de alta tecnologia, houve uma intensificação da mecanização do setor florestal.
Estes fatores levaram a mecanização a tornar-se uma peça importante na busca do aumento da produtividade e do controle mais efetivo dos custos. A mecanização possibilitou, além do aumento da produtividade das operações de colheita, a diminuição da participação do homem no processo produtivo.
Ainda com relação ao processo da mecanização, a seleção de equipamentos e o desenvolvimento de sistemas operacionais constituem o grande desafio para a redução dos custos e da dependência de mão-de-obra nas operações de colheita e transporte florestal. A escolha do sistema a ser empregado varia em função de vários fatores, tais como, topografia do terreno, declividade, solo, clima, comprimento da madeira, incremento da floresta, uso da madeira, dentre outros, mas a sua seleção deve ser baseada em uma criteriosa análise técnica e econômica.
Com relação ao comprimento da madeira, em muitos países onde os métodos de colheita são mais avançados e a mão-de-obra é muito cara, os sistemas de árvores de maiores comprimentos têm recebido muita atenção. No Brasil, muitas empresas gradualmente estudam as vantagens da colheita de toras compridas e de árvores inteiras, dada a redução do processamento dessas, resultando numa economia do tempo de trabalho e nos custos operacionais.
Um estudo constatou que o custo da colheita no sistema de toras de 2,40 m foi 3,90% maior que no sistema de 5,50 m e que este tem um potencial de ganho muito superior ao de 2,40 m, uma vez que a empresa estava iniciando com o novo sistema.
A mecanização das operações de colheita e transporte passa necessariamente pelo aumento do comprimento da madeira, pois aquelas com comprimento de até 2,50 m aumentam os custos operacionais. Estudos indicaram que a colheita de madeira de 6,0 m apresenta os melhores rendimentos operacionais e os menores custos de produção.
Muitas empresas utilizam uma variedade de comprimento de toras, de acordo com os seus objetivos. Entretanto, buscando sempre a redução dos custos operacionais, as empresas têm estudado alternativas na variação do comprimento das toras, visando a um melhor aproveitamento do produto, ganho no transporte, aumento da produtividade e redução dos custos operacionais.
Em função disso, este trabalho tem por objetivo fazer uma análise técnica e econômica da colheita e transporte florestal entre os sistemas de toras com comprimento de 5,0 e 6,0 metros.
Seleção de sistemas
Algumas premissas básicas foram consideradas para realização deste estudo, visando a seleção dos sistema de colheita e transporte florestal:
a) para as análises comparativas foi considerado um período de depreciação de cinco anos para os equipamentos de colheita e transporte florestal;
b) devido ao elevado custo de aquisição, as máquinas e equipamentos deverão trabalhar 24 horas por dia durante todo o ano para a minimização dos custos operacionais;
c) o sistema escolhido tem que dar segurança de abastecimento, garantindo o
suprimento de matéria-prima às indústrias durante todo o ano;
d) As indústrias devem estar preparadas para o recebimento de madeira de maior comprimentos;
e) o sistema escolhido será utilizado independente da região e qualidade da floresta, porém, para áreas mecanizáveis.
Para a realização deste estudo foi utilizado o forwarder nas análises da operação de extração florestal ou baldeio, enquanto que para o transporte foi utilizado o “tritrem”. O forwarder utilizado foi o 6 x 6, com capacidade média de carga de 10.000 kg e produtividade entre 26 e 35 m³/hora, sendo esta uma máquina tipicamente florestal utilizada na operação de extração.
O “tritrem” é uma combinação especial de transporte de madeira constituído por três semi-reboques de dois eixos, acoplados entre si e com a unidade tratora possuindo “quinta-roda”, tracionados por um cavalo mecânico 6x4, com 340 c.v. de potência. Adotou-se este tipo de veículo no estudo, visto que testes já realizados em empresas do setor confirmam a sua eficiência, como a redução nos tempos gastos nas viagens, permitindo otimizar o sistema de transporte.
Com relação ao conjunto de pneumáticos, apresenta um custo de 64% inferior ao veículo similar (“treminhão”) e uma vida útil significativamente superior (13,5%).
A capacidade de carga do “tritrem” é a mesma do “treminhão”, porém, apresenta uma melhor distribuição por eixo em virtude do sistema de “tandens” e ao maior número de eixos da composição. Por isso, apesar de tratar de um veículo ainda em fase de testes e que requer licença especial do DNER para trafegar nas rodovias, acredita-se que será utilizado em breve por mais empresas do setor florestal.
Neste estudo foram feitas análises das operações de colheita florestal para dois sistemas de comprimento de toras. Para as análises comparativas dos sistemas foram utilizados dados reais com base na literatura especializada, considerando os parâmetros fixos e variáveis, utilizando-se para tal os programas de computador FORWARDE e TRANSROAD, desenvolvidos para ambiente operacional DOS, os programas são ferramentas computacionais para o planejamento das operações de colheita florestal utilizados para auxiliar na tomada de decisões com vistas à seleção de sistemas de colheita.
Sistemas de colheita
A variável discriminante considerada neste estudo para a seleção do sistema de colheita e transporte florestal foi o comprimento da madeira de 5 e 6 metros. De acordo com a classificação de sistema de colheita mais adotado e proposto pela FAO, os sistemas de toras de comprimento de 5 e 6 metros enquadram-se como Sistema de Toras Curtas (Short-Wood System). Nele, todas as operações básicas do corte florestal (derrubada, desgalhamento, traçamento, destopamento e embandeiramento) são executadas na própria área de corte, sendo a madeira preparada em toras de 2 a 6 m de comprimento.
Analisando os resultados, verificou-se que não houve diferença significativa na produtividade do forwarder em função do volume de madeira por hectare. Isto pode ser explicado pelo fato de essa variável não afetar diretamente a produtividade do equipamento.
Considerando-se uma distância de extração de 200 m e capacidade volumétrica do forwarder de 15 m³, houve um aumento de 14,6% na produtividade do forwarder quando aumentou-se o comprimento das toras de 5 para 6 metros. Para uma capacidade volumétrica do equipamento de 20 m³, esse índice subiu para 15,9%. Entretanto, quando a distância de extração passou para 250 metros, o ganho de produtividade do forwarder devido ao aumento do comprimento das toras, reduziu-se para 13,4% e 14,9%, para capacidade de carga de 15 e 20 m³, respectivamente.
De acordo com resultados apresentados, observa-se que os volumes de madeira por hectare não influenciaram nos custos de extração com o forwarder. A igualdade dos valores para os volumes se deve aos arredondamentos. Considerando a distância de extração de 200 metros e uma capacidade de carga do equipamento de 15 m³, ocorreu uma redução no custo da operação de 14,84% quando o comprimento das toras passou de 5 para 6 metros, enquanto que, para uma capacidade de carga de 20 m³, os custos reduziram-se para 16,17%.
Quando a distância de extração passou para 250 metros, os custos de extração com o forwarder, devido ao aumento do comprimento das toras, reduziram-se em 13,71% e 15,17%, para capacidade de carga do equipamento de 15 e 20 m³, respectivamente.
O estudo constatou que ocorreu uma redução no custo do transporte de madeira em torno de 11,1% em favor do transporte de madeira com 6 metros de comprimento. Em relação ao desempenho do veículo de transporte, observou-se um aumento de 10% no transporte de madeira com 6 metros de comprimento.
Os resultados obtidos concluíram:
a) O comprimento da madeira influenciou significativamente na produtividade e no custo da extração e do transporte florestal.
b) Em função da distância de extração e da capacidade volumétrica do Forwarder, haverá um aumento de até 15,9% na produtividade e uma redução de até 16,17% no custo em favor da extração da madeira com 6 metros de comprimento.
c) A mudança no comprimento da madeira de 5 para 6 metros promoveu uma redução de até 11,1% nos custos de transporte e aumentou em até 10% o desempenho dos veículos.
d) Uma indústria que consome cerca de 3 milhões de metros cúbicos de madeira (650 kg/m³) e com uma distância média de transporte de 50 km, poderia economizar ao ano em torno de R$ 810.000,00 com a operação de extração e R$ 702.000,00 com o transporte de madeira.
Autores: Carlos Cardoso Machado - Departamento Engenharia Florestal/UFV/ Viçosa-MG e Eduardo da Silva Lopes - Departamento Engenharia Florestal/UFV |