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REVISTA DA MADEIRA - EDIÇÃO N°102 - JANEIRO DE 2007

Eucalipto

Madeira serrada de eucalipto

A produção global de madeira serrada de folhosa aumentou cerca de 100 milhões/m3/ano em 1970 para 132 milhões/m3/ano em 1990. Em 2001, esta produção declinou para menos de 100 milhões/m3/ano, reflexo do aumento das pressões ambientais e do aumento de madeira serrada provinda de florestas sustentáveis.

Por outro lado, a produção total de toras de eucalipto de plantios homogêneos para serraria e laminação está estimada em cerca de 3 milhões/m3/ano. Deste total, o Brasil é responsável por 37%, seguido pela Argentina, África do Sul, Austrália e Uruguai. Em 2015, a colheita total de toras (serraria e laminação) está estimada para 10 a 11 milhões/m3/ano, sendo que 1,5 milhões/m3/ano (13%) espera-se que seja toras de desbaste.

O eucalipto representa uma porção significativa da colheita global de madeira roliça de folhosa (estimado em 22% em 2000). No entanto, representa uma porção muito pequena (menos de 2%) da porção global de madeira serrada de folhosa. As estatísticas sobre madeira serrada de eucalipto ainda não são sistematizadas e ainda pouco disponíveis. No Brasil, os órgãos responsáveis apresentam estatísticas referentes apenas à madeira serrada de Pinus e serrados provenientes de floresta nativa, ressaltando a recente importância dada ao eucalipto como madeira serrada no país. A demanda estimada de madeira serrada de eucalipto no Brasil está sumarizada na Tabela 1.

No Brasil, ainda existe um número reduzido de empresas de maior porte que utilizam a madeira de eucalipto para desdobro. Contudo, têm-se observado um aumento de indústrias para produção de madeira sólida deste gênero. Esses empreendimentos estão concentrados nas regiões sul e sudeste do país e, de modo geral, estão enfrentando dificuldades em relação à disponibilidade de matéria-prima.

A qualidade da madeira serrada de eucalipto é um ponto básico para obter-se uma boa rentabilidade e depende das técnicas adotadas na formação da floresta até o desdobro e fases subseqüentes. Rotações longas de plantações de eucalipto proporcionam maiores diâmetros das toras, beneficiando a qualidade e acarretando maiores rendimentos no desdobro, além de maior estabilidade da madeira, devido à maior quantidade de cerne. A madeira de rotações mais longas possibilita, ainda, a obtenção de produtos de maior valor agregado, devido à maior proporção de madeira limpa, de qualidade superior. Toras de grandes diâmetros e rápido crescimento não necessariamente geram madeira de boa qualidade. Há a demanda de mais conhecimento e técnicas para seu processamento e secagem, assim como do cuidadoso controle de todas estas etapas para assegurar um produto de qualidade adequada.

Quando a matéria-prima provém de plantios homogêneos e é destinada à serraria, elimina-se a necessidade de classificação da madeira no pátio. As pequenas variações em diâmetro e comprimento dispensam ajustes nos equipamentos, reduzindo-se a necessidade de um tratamento particular para pequenos grupos de toras. Tal situação constitui um diferencial que se transforma em vantagem ao se trabalhar com madeira reflorestada.

O sistema de desdobro que utiliza madeira de eucalipto no Brasil, notadamente as de maior porte, utiliza, em sua grande maioria, serras de fita para o esquadrejamento das toras; em seguida, utilizam-se serras circulares múltiplas para a geração de tábuas. As regulagens destas serras circulares variam de acordo com as dimensões das peças que se pretende produzir e a quantidade de tábuas dependerá do número de serras circulares que compõem a multilâmina, da espessura e do diâmetro do bloco desdobrado.

A produtividade de uma serra multilâmina é bastante elevada, pois gera um número considerável de tábuas numa única passada. Isto difere do corte em serras de fita ou mesmo em resserras, que permite a obtenção de apenas uma única tábua por corte. Apesar da maior produtividade, o rendimento em madeira serrada é menor, em função das maiores espessuras dos fios de corte das serras circulares.

Cortes tangenciais sucessivos efetuados com serras de fita simples, não são indicados para a produção de madeira serrada de espécies que tenham elevadas tensões de crescimento, como é o caso do eucalipto. Após a retirada de cada tábua, o bloco remanescente se deforma por flexão, pela adaptação à nova distribuição residual, implicando na perda de uniformidade de espessura da próxima peça a ser serrada. Quando se utilizam toras de maior diâmetro, para se resguardar a qualidade da madeira de eucalipto, algumas empresas preconizam, a cada giro da tora, a retirada de, no máximo, duas tábuas por cada face de corte. Recomendam, ainda, a retirada de apenas uma tábua por cada face de corte em toras de menor diâmetro, exceto se a tora apresentar arqueamento acentuado. Isto pode ser explicado em função da elevada tensão de crescimento, usualmente presente nesta espécie. Ao girar a tora, as tensões seriam liberadas de forma balanceada, resultando em produtos de melhor valor de mercado, por apresentarem menos rachaduras. A automação da serraria pode facilitar a operação de desdobro com a rotação da tora no momento do corte.

Quando se pretende priorizar a qualidade das tábuas, recomenda-se que o desdobro inicial seja realizado com serras de fita (simples ou dupla) até que o bloco atinja pequenas dimensões. Nesse processo, a multilâmina geraria peças de qualidade e tamanho inferior, uma vez que a medula é pouco valorizada no mercado. Por outro lado, as tábuas geradas pela serra de fita possuem melhores valores no mercado por estarem normalmente livres ou apresentarem pequenas proporções de medula. Isto ocorre porque o operador do equipamento poderá decidir qual corte que gerará pranchas de maior qualidade. Neste sistema de corte, os blocos devem ser girados após cada corte, o que pode ser considerado uma desvantagem, pois diminui, consideravelmente, a produtividade de uma serraria.

Os critérios gerais de seleção para o corte devem, de modo geral, priorizar o corte na melhor face. Quando duas ou mais faces se mostrarem iguais, seleciona-se a mais distante da medula. Devem-se, ainda, serrar as tábuas priorizando a melhor classe de qualidade da madeira e ainda garantir que a face interna das tabuas também pertença a melhor classe de diâmetro. Salienta-se a importância de um treinamento adequado dos operadores do equipamento e, sobretudo, o entendimento das inúmeras particularidades presentes na madeira do eucalipto, bem como da classificação final do produto.

As costaneiras das tábuas devem ser retiradas simultaneamente, evitando, assim, a liberação desproporcional e assimétrica das tensões de crescimento, que pode ocasionar empenamentos. Neste processo, também, é muito importante serrar por classe e, o responsável pelo processo, deve conhecer tais regras para evitar produzir tábuas com larguras menores ou mesmo maiores que o definido. Sendo que é básico serrar para a máxima largura limpa da tábua. O operador deste equipamento deve estar atento para as espessuras fora do padrão e notificar tal problema. Observa-se, então, que o processo industrial é tão responsável para o aumento da qualidade quanto o planejamento adequado da madeira no campo.

A qualidade deve ser padronizada segregando a madeira de eucalipto por faixas de densidades: baixa, menor que 536 kg/m3; média, entre 536 e 725 kg/m3 e alta, acima de 725 kg/m3, por coloração (clara, rosada e vermelhada) e pela tradicional classificação por defeitos presentes na madeira. Sendo que, a alta qualidade deve ser a meta das tomadas de decisões dentro de uma serraria.

O ganho na qualidade das tábuas de eucalipto permite seu emprego em usos onde se tem maior valor agregado, como mobiliário, construções, artesanato, esculturas e, não apenas, como pallets, embalagens, divisórias e parte interna dos móveis. Tal fato vem de encontro às exigências de mercado, cada vez mais exigente em qualidade dos produtos. A adequação aos mercados de exportação deverá contemplar os critérios de conformidade dos produtos, passando pela qualidade e exigências dos consumidores.

No mercado internacional, é comum se pagar mais pelo produto em função da qualidade, independente da espécie ser reflorestada ou não. No Brasil ainda existe alguma reação quanto a pagar um preço expressivo para uma espécie de crescimento rápido. O mercado interno também sofre uma pressão de preços pela informalidade ainda bastante presente nas madeiras nativas.

O perfeito funcionamento do processo produtivo permite um maior número de produtos, com variadas classificações, além do atendimento de vários interesses dos consumidores. Com o controle de todos os parâmetros, resguarda-se a qualidade do produto final e permite-se obter uma madeira de eucalipto com padrões de qualidade comparáveis aos de outras madeiras já consagradas no mercado. Os estigmas ainda persistentes da madeira de eucalipto junto ao público consumidor são removidos quando se utiliza um produto de qualidade, com todo o seu envolvimento tecnológico.

Graziela Vidaurre - Doutoranda em Ciência Florestal - UFV

Benedito Rocha Vital - Prof. Depto de Eng. Florestal – UFV

José de Castro Silva - Prof. Depto de Eng. Florestal – UFV

José Tarcísio da Silva Oliveira – Prof. CCA – UFES.