Atualmente, o termo qualidade está cada vez mais difundido e empregado por mais pessoas e por mais empresas, que descobriram aí uma fonte de ganhos econômicos e financeiros, e acima de tudo uma forma de introduzir mais um indicador de competição. O conceito da qualidade vem adquirindo importância em âmbito mundial como: qualidade de produtos, qualidade de serviços, gestão da qualidade total, controle da qualidade, sistema da qualidade, garantia da qualidade e outros.
Oferecer um produto de boa aceitação para o mercado consumidor (interno e externo) tem sido a preocupação das empresas e dentro desta categoria, são encontradas as empresas que beneficiam a madeira. Para que isso aconteça, o processo industrial de beneficiamento da madeira deve ser controlado, evitando os erros, as falhas (acidentes no corte) e os desperdícios.
É importante abordar o processo industrial de beneficiamento de madeira, do índice de aproveitamento e do índice de desperdício, na Região Norte e principalmente no Estado de Rondônia, porque a exploração de madeira nesta área do Brasil é uma atividade comum e não se tem um controle do que se perde no corte, no transporte e no beneficiamento.
A produtividade foi o tema abordado por um estudo realizado pelo pesquisador Luiz Carlos de Freitas, da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Este estudo visa realizar uma análise desde a obtenção da matéria prima na floresta até o beneficiamento do produto final e com isso estabelecer o aproveitamento e desperdício de madeira.
Delimitado o problema é possível, de forma mais objetiva, formular alternativas para a redução ou eliminação dos efeitos danosos, e mais facilmente chegar à definição de quais alternativas devem ser realmente implementadas. Por isso foi realizada uma pesquisa para mostrar todo processo de extração da madeira, passo a passo, e determinar em qual etapa o desperdício é maior e qual a quantidade desperdiçada no final das etapas.
Para o desenvolvimento do estudo foi feito, em primeiro lugar, um levantamento bibliográfico relacionado ao desperdício e ao controle estatístico da
produtividade. Esta etapa subsidiou a realização de um estudo de caso na empresa Madeiras do Brasil. A escolha desta empresa para a realização da pesquisa se deve ao fato de estar próxima a Porto Velho, possuir um potencial como beneficiadora de madeira e um projeto de manejo autorizado pelo IBAMA.
A pesquisa é um estudo de caso do tipo não experimental, baseado em uma empresa de beneficiamento de madeira, que somente serra ou desdobra as toras de madeira e as vende em formas de pranchas, caibro, vigotas e outros.
Como existem muitas espécies de madeiras que podem ser beneficiadas no projeto de manejo, realizou-se uma amostra da seguinte forma: todas as espécies de madeira que foram extraídas e beneficiadas com menos de 20 (vinte) toras não entraram na pesquisa. O objetivo desta amostra foi evitar uma quantidade de pequenas tabelas que não influenciariam no resultado final da pesquisa , visto que a forma de beneficiar a madeira é igual para todas as espécies.
Os dados foram coletados na mata, através da metragem cúbica dos "tocos das árvores", galhos ou toras desperdiçadas (com um raio acima de 20 cm), sempre pelo lado mais fino. Na empresa foi realizada a medida em metros cúbicos das toras antes do beneficiamento, e a medida em metros cúbicos da madeira depois de beneficiadas. O objetivo foi medir o desperdício etapa por etapa do processo, analisar em qual deles se desperdiça mais e tentar algumas soluções para o problema.
Sistema de Produtividade
As principais ferramentas para aprimorar um sistema de qualidade na produtividade de uma empresa são:
Diagrama de Causa e Efeito - também conhecido como Gráfico Espinha de Peixe ou Diagrama de Ishikawa. Mostra uma linha mestra que é a principal ação e várias pontas que convergem para o centro mostrando os sintomas, resultados ou efeito final de todas interações e cada uma dessas causas.
Histograma - é um resumo gráfico da variação de uma massa de dados.
Gráficos de Controle - criados por Shewhart mostram os limites superiores e inferiores dentro de duas paralelas. Determina a tendência futura.
Folhas de Checagem - utilizadas para registrar os dados, apresentam grande flexibilidade de elaboração.
Gráfico de Pareto - utilizado para classificar um processo por ordem de prioridade da maior para a menor.
Fluxograma - representações gráficas das etapas pelas quais passa um processo.
Diagrama de Dispersão - são técnicas gráficas para analisar as relações entre duas variáveis.
O controle estatístico existe para manter certos fenômenos dentro de padrões pré-estabelecidos. Os produtos resultantes de um processo industrial possuem requisitos de qualidade, que serão cumpridos se certas características básicas estiverem de acordo com o que foi planejado. Para o beneficiamento de madeira pode-se aplicar as mesmas idéias.
A estatística constitui-se numa excelente ferramenta quando se depara com problemas de variabilidade na produção ou controle de desperdício; não se trata de dizer que a Estatística acabará com os problemas e nem dirá como corrigi-los.
A produtividade é um fator importante para qualquer tipo de atividade próxima do homem e isto explica parte das revoluções e mudanças que se tem provocado nas empresas e nos negócios de qualquer espécie. Pode-se, em todos os tipos de atividades, aprimorar a produtividade melhorando a qualidade dos produtos.
A nova forma de competição global exige que as empresas estejam comprometidas com o contínuo e completo aperfeiçoamento de seus produtos, processos e colaboradores. No caso das empresas de beneficiamento de madeira deve haver uma preocupação com as questões ambientais e recuperações das florestas.
A qualidade é a ausência de defeitos e deve ser gerada a partir do processo produtivo. Mas a falta de informações, o mal gerenciamento e a pouca iniciativa levam as atividades a mostrarem o lado oposto da qualidade: a baixa e péssima produtividade. Esta fase é conhecida como desperdício e entendida como a perda que a sociedade é submetida devido ao mal uso de recursos escassos.
A eliminação do desperdício está associada à questão da qualidade na produtividade. Através da redução dos desperdícios, a empresa pode gerar recursos para alavancar seu sistema de melhoria de produção.
Defeitos
O defeito pode ser dividido em várias facetas distintas com suas explicações. Os principais são:
Refugos - produção que não satisfaz a padrões dimensionais ou de qualidade e, portanto, é rejeitado e vendido por seu valor de disposição.
Unidades Defeituosas - produção que não satisfaz aos padrões dimensionais ou de qualidade e é subseqüentemente retrabalhado e vendido através dos canais normais como mercadoria de primeira ou de segunda, dependendo das características do produto e das alternativas disponíveis.
Sobras - resíduos de materiais de certas operações fabris, que têm valor mensurável, mas de importância relativamente pequena.
Reclamações - este item acumula todos os custos relacionados às reclamações dos clientes. Esses custos e despesas também podem estar associados à garantia assegurada aos produtos vendidos. Porém, pode-se ter reclamações de clientes depois de transcorridos os prazos de garantia, dependendo da decisão empresarial de se assumir os encargos dos reparos, após o prazo de garantia.
Desperdício - material que se perde, evapora, encolhe, ou é resíduo que não tem valor de recuperação mensurável. Às vezes a disposição de desperdícios ainda obriga a empresa a custos adicionais como materiais radioativos ou queima.
Gestão Inadequada - administração incompatível com o meio e que causa sérios danos ao mercado empresarial como: estoque elevado, nível elevado de peças com defeito, atividades destinadas a reprocessamento ou retrabalho, grandes quantidades de rejeitados, constante desperdício de materiais, energia e tempo, imprecisão de término das operações, planejamento da produção com alterações por falhas no processo, alocação de recursos superiores aos necessários, para cobrir perdas, produção de lotes de pequeno porte para atender mudanças de programação da produção, atraso na entrega de pedidos e sobrecarga em outros ou excesso de produção, desperdício em termos de pessoal, trabalho muito concentrado em certas épocas e escasso em outras e desperdício na operação de equipamentos, por erros no ajuste de seus componentes ou por condições inadequadas de operação.
Com uma boa gestão da qualidade e da produtividade, pode-se atuar nas causas das perdas, usando um estudo detalhado da situação na qual ocorre o defeito, isto é:
(a) controlar estatisticamente e com freqüência o ambiente, a época e as condições;
(b) eliminar as perdas e os defeitos na área de retrabalho;
(c) desenvolver projetos voltados para a causa-efeito e sistemas de informações para acompanhar e avaliar a produção;
(d) eliminar estoques para compensar perdas de peças, e informações inúteis;
(e) aumentar a capacidade operacional;
(f) melhor a alocação dos recursos humanos, utilizando melhor os recursos da empresa; e
(g) produzindo bens e serviços adequados aos projetos que os originam.
Como tratar defeitos
Os defeitos dentro de uma organização empresarial podem ser eliminados ou reduzidos, dependendo da situação. Defeitos são considerados refugos ou perdas de fabricação, caso não possam ser retrabalhados, visando seu reaproveitamento. Caso possam ser retrabalhados, isto é feito da seguinte maneira:
Unidades defeituosas - A decisão de recuperar ou refugar faz parte do dia-a-dia do executivo da produção. Somente com a assessoria da controladoria esse problema é minimizado em termos econômicos e financeiros.
Tratamento das sobras - Possui um tratamento muito parecido com o dos refugos. Se puderem ser trabalhadas seguem o mesmo procedimento e as partes não aproveitadas, dependendo da atividade da empresa, são queimadas ou vendidas como sucata.
Tratamento dos desperdícios - como o nome já exemplifica são os produtos que se perdem no decorrer do processo ou que não possuem o determinado valor que merecem. Na maioria das vezes são queimados, jogados fora e não são aproveitados.
Para que o beneficiamento da madeira no Estado de Rondônia seja melhor aproveitado, são necessários melhoramentos no processo e na atitude dos madeireiros e da sociedade em geral tais como:
- No sistema de manejo e beneficiamento da madeira deve haver uma vontade política e um comprometimento maior por parte do Estado. A fiscalização feita pelo IBAMA é ineficiente. Inexistem equipamentos adequados e homens para realizar o trabalho.
- Maior interesse do Estado em criar uma linha de crédito para empresas que possam explorar esta madeira que é queimada. Com isso o Estado teria um retorno de um produto que é desperdiçado e está servindo apenas para aumentar a quantidade de gás carbônico (CO2) da atmosfera, quando é queimado;
- Utilizar, por parte da indústria, critérios melhores para aumentar a produtividade e reduzir ainda mais o desperdício no corte da serra fita, no alinhamento e na destopadeira;
- Aproveitar melhor os cortes durante o beneficiamento de cada espécie;
- Realização de estudos tecnológicos objetivando promover a inclusão de espécies potencialmente aptas para a exploração como "coração de negro", por exemplo;
- Padronização das dimensões de madeira serrada, secagem, acabamento e embalagem do produto final objetivando o mercado externo;
- Pesquisa de mercado em outras regiões para um melhor aproveitamento das sobras da região;
- As madeiras que ficam na mata, em forma de tocos e galhadas, representam uma grande quantidade de volume cúbico se for observada a quantidade explorada em cada mês. Este desperdício poderia ser usado na produção de pequenas peças, tais como brinquedos pedagógicos, artesanatos e cabos de ferramentas. Os tocos e os galhos mais grossos poderiam ser usados na confecção de esculturas e objetos de arte. Por enquanto ficam lá para apodrecerem. O interesse neles ainda é nulo;
- Maior conscientização do setor madeireiro em relação as espécies beneficiadas, a bio-diversidade da floresta e sua situação finita.
Fonte: Luiz Carlos de Freitas - Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. |