O comércio exterior brasileiro bateu novos recordes em 2006. As exportações ultrapassaram a meta estabelecida pelo governo federal e renderam US$ 137,5 bilhões, ante uma previsão de US$ 135 bilhões. O crescimento em comparação com 2005 foi de 16,2%. O secretário-executivo do Ministério de Desenvolvimento Indústria e Comércio, Ivan Ramalho, anunciou que a meta para 2007 é atingir exportações de US$ 152 bilhões.
Houve aumento das exportações para todas as regiões econômicas, sendo que o Oriente Médio ficou em primeiro lugar em termos de crescimento, com 35,7%. As exportações para a região chegaram a US$ 5,75 bilhões. A África ficou em terceiro lugar entre os destinos que mais cresceram, com uma ampliação de 26%. Os embarques para o continente renderam US$ 7,4 bilhões. Os países árabes estão localizados no Oriente Médio e na África.
As importações, por sua vez, cresceram ainda mais - 24,2% - e chegaram a US$ 91,4 bilhões. Apesar do aumento maior das compras do que das vendas externas, o saldo comercial também cresceu (3%) e ficou em mais de US$ 46 bilhões.
Os resultados das exportações e importações são recordes históricos e mostram que o comércio exterior atingiu um novo patamar, ao totalizar corrente de comércio (exportações mais importações) de US$ 228,9 bilhões em 2006, valor 20% acima dos US$ 191,1 bilhões de 2005.
Houve recorde nos embarques das três categorias de produtos, sendo que os manufaturados responderam pela maior fatia, seguidos dos básicos e dos semi-manufaturados.
As vendas externas do Brasil mais do que dobraram nos últimos quatro anos. Em 2002 os embarques somaram US$ 60,4 bilhões, o que quer dizer que houve um acréscimo de US$ 77,1 bilhões nas exportações durante o quadriênio.
No caso das importações, o crescimento foi de 93,5% em comparação com 2002, quando elas somaram US$ 47,2 bilhões. Nestes quatro anos, o saldo comercial acumulado atingiu US$ 149,2 bilhões, contribuindo para a melhoria das contas externas brasileiras e estabilidade da economia.
As exportações do Brasil aos países árabes deverão, em 2007, continuar a crescer acima das exportações brasileiras em geral. Segundo previsão feita pelo presidente da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, as vendas deverão aumentar em 15%. "É uma previsão bastante realista, pois já partimos de um patamar ampliado de exportações. O fato é que as vendas para os árabes cresceram mais do que a média nacional nos últimos três anos. Em 2006, por exemplo, segundo dados divulgados pela Câmara, elas chegaram a US$ 6,67 bilhões, 28,13% a mais do que em 2005. As exportações totais do Brasil aumentaram em 16,2% no ano passado.
Como o resultado, os árabes passaram em 2006 a absorver 4,8% das exportações brasileiras, atrás apenas dos Estados Unidos, Argentina e China. Desde o ano 2000, as vendas brasileiras às nações da região cresceram 345%.
De acordo com Sarkis, alguns dos fatores que influenciaram o desempenho em 2006 foram o preço de commodities como o açúcar e o minério de ferro, além da entrada de produtos de alto valor agregado na pauta, como aviões. Ele destacou, porém, que não só por causa do preço que os exportadores brasileiros tiveram ganhos com as commodities. No caso do açúcar, por exemplo, houve aumento da quantidade embarcada de 6 milhões de toneladas para 6,4 milhões de toneladas.
Os principais fornecedores árabes do Brasil em 2006 foram Argélia (US$ 1,97 bilhão), Arábia Saudita (US$ 1,61 bilhão), Iraque (US$ 596 milhões), Emirados Árabes Unidos (US$ 346 milhões) e Marrocos (US$ 329 milhões).
Oportunidades
O Sudão está dando mostras de que vai apresentar uma grande demanda no setor de construção civil nos próximos anos e as empresas brasileiras podem ser suas fornecedoras na área. A opinião é do coordenador de operações da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Rodrigo Solano. Importadores querem informações, por exemplo, sobre pisos fabricados no Brasil. Outros produtos indiretamente ligados ao crescimento da construção civil, como móveis e artigos de madeira também são procurados. Assim como já acontece em muitos países árabes, principalmente do Golfo, o Sudão começa a dar indícios de que pode vir a ter um boom na construção e nos setores correlatos
Um exemplo é o projeto Araak City, conjunto de vilas habitacionais criadas no Sudão. Já foram construídas 350 residências pelo projeto e devem ser feitas mais 400. As casas têm cinco quartos. As famílias sudanesas costumam ser grandes. Elas têm terraços, áreas verdes e garagem. Nas vilas também haverá, por exemplo, piscinas, jardins, clube de saúde, jardins de infância, supermercados, farmácia, salões de beleza e ruas pavimentadas.
As recepções das casas e as escadas, segundo Solano, são revestidas em mármore, os quartos em porcelana e os banheiros e terraços em cerâmica. Os móveis e eletrodomésticos, como fogões e geladeiras, usados nas residências, são importados. Projetos como este já começam a demandar produtos de maior qualidade no país. Há também o projeto de construção do complexo Palace, que contará com três edifícios, e será construído na beira do rio Nilo.
Há várias empresas do Sudão que trabalham com importação de artefatos de madeira e móveis de qualidade, nicho no qual o Brasil pode entrar.
Iraque
As exportações do Brasil ao Iraque estão crescendo sem parar, embora continuem longe dos níveis dos anos 80, quando o comércio bilateral entre os dois países chegou a quase US$ 2,5 bilhões (R$ 5,2 bilhões) no pico, em 1985.
As exportações em 2006 chegaram a quase US$ 153 milhões (R$ 318 milhões), quase o triplo dos US$ 52 milhões (R$ 108 milhões) de 2005.
Em 2006 o Brasil importou US$ 596 milhões (R$ 1,2 bilhão) em petróleo iraquiano. Cálculos da Câmara de Comércio Brasil-Iraque indicam que outros US$ 52 milhões em produtos brasileiros chegaram ao Iraque passando pelas mãos de importadores e distribuidores baseados nos países vizinhos.
"Quando a exportação de frango brasileiro para o Kuweit deu um grande salto fomos investigar e concluímos que grande parte do produto estava indo para o Iraque", disse , o embaixador brasileiro para o Iraque, Bernardo de Azevedo Brito.
Mas mesmo com estas "operações triangulares" as trocas comerciais entre Brasil e o Iraque estão ainda muito abaixo do recorde de 1985, quando o Brasil exportou US$ 630 milhões (R$ 1,3 bilhão) em produtos e serviços para o país.
Segurança
A instabilidade e a falta de segurança no Iraque dificultam qualquer previsão confiável sobre a recuperação econômica do país, mas o governo e os empresários brasileiros se dizem otimistas com as perspectivas comerciais.
"O Iraque é um país que tem necessidades enormes de reconstrução e dinheiro do petróleo para pagar por elas", observa o presidente da Câmara de Comércio Brasil-Iraque, Jalal Chaya.
É verdade que fica muito difícil fazer negócios num ambiente de violência como aquele mas o país continua a precisar de itens essenciais que o Brasil tem condições de fornecer.
Chaya diz que além dos alimentos, que o Brasil já vinha vendendo há mais tempo, as empresas brasileiras também vêm conseguindo aumentar suas exportações de equipamentos de infra-estrutura elétrica e de transporte para o Iraque.
O embaixador Azevedo Brito observa que começa a haver mais abertura para que grandes empresas brasileiras entrem também na disputa pelos grandes projetos de infra-estrutura, como a reconstrução de estradas e de usinas elétricas.
Inicialmente, as autoridades americanas haviam determinado que apenas empresas de países que participaram da aliança militar que derrubou Saddam Hussein poderiam participar de licitações para obras públicas.
Mas além dos exércitos estrangeiros, há no Iraque também um governo soberano que tem seus interesses e quer ver as obras acontecerem mais rápido e com a participação de mais empresas.
Apesar de todos os problemas de segurança que ainda persistem, Azevedo Brito aposta que "em menos de cinco anos" o Iraque pode voltar a ter para o Brasil o peso comercial que já teve nos anos 80.
Por ora, o embaixador trabalha em um "núcleo de assuntos iraquianos" instalado na embaixada em Amã, na Jordânia, porque a violência torna muito cara - e potencialmente pouco produtiva - a manutenção de uma missão permanente no Iraque.. "Espero que nos próximos seis meses tenhamos uma previsão mais clara de quando será possível instalar uma embaixada em Bagdá", diz.
No terceiro encontro de altos funcionários dos governos árabes e sul-americanos, na sede da Liga Árabe, no Cairo, os 15 membros da delegação brasileira participaram da reunião plenária e dos trabalhos paralelos dos três comitês formados para estudar projetos comuns nas áreas de economia, ciência e tecnologia e cultura. Na bagagem, os brasileiros trouxeram várias propostas para serem apresentadas.
Entre as principais sugestões está um plano de ação dedicado ao aumento da cooperação econômica. "O plano brasileiro prevê ações concretas para facilitar e dar impulso às relações comerciais e econômicas entre os paises árabes e sul-americanos, que no nosso entender podem ter resultados concretos e positivos", disse o coordenador da Cúpula América do Sul-Países Árabes (Aspa) no Itamaraty, Ânuar Nahes.
Outros exemplos são a negociação de acordos para a isenção ou facilitação de vistos para empresários, o estimulo à assinatura de tratados de conexão aérea e marítima direta entre as duas regiões e a realização de um encontro bi-regional de autoridades reguladoras do sistema financeiro, do mercado de capitais e de representantes de instituições financeiras. |