Todos os segmentos envolvidos na cadeia produtiva da madeira devem reconhecer as mudanças sociais e culturais, estabelecendo como verdade absoluta que a transformação e uso de recursos naturais, em razão de suas características inerentes de complexidade e incertezas, não podem ser planejados e conduzidos separadamente de suas interações com vários outros valores da sociedade, como ética, justiça social, juízo de valores, assim como valores estéticos e, até mesmo, religioso. Todos esses temas passam a integrar as decisões de manejo e relações comerciais, o que as tornam complexas, aparentemente insolúveis e dependentes do envolvimento e participação dos envolvidos.
Esta é a conclusão de Heuzer Saraiva Guimarães, da Rigesa Celulose, Papel e Embalagens, após um estudo sobre a nova cadeia produtiva da madeira, considerando o atual ambiente de negócio que a contém.
Segundo Heuzer, de todas as mudanças que se observam no mundo atual, a conscientização e a mobilização das pessoas diante dos problemas sócias e ambientais do planeta constituem uma das mais salutares conquistas da sociedade moderna. Reconhecer e aplicar estas novas dimensões como base dos processos que caracterizam a cadeia produtiva da madeira é o grande desafio de sustentabilidade e competitividade dessa cadeia produtiva.
Dentre as mais importantes recomendações finais do X Congresso Florestal Mundial, realizado há vários anos em Paris , destaca-se a indicação de que o sucesso das plantações florestais depende da adequação da espécie, de sua origem e dos objetivos a serem alcançados. Mais do que as freqüentes controvérsias dogmáticas relacionadas com a introdução de espécies exóticas, as prioridades de manejo devem visar à manutenção do potencial produtivo do solo, assim como um certo nível de biodiversidade e rendimento sustentado. O manejo das plantações florestais deve ser planejado com o objetivo de transformar plantações em florestas.
Entretanto, a transformação de plantações em florestas não é um simples jogo de palavras, mas trata-se de uma mudança conceitual muito significativa, que incorpora as questões ambiental e social como partes integrantes do processo. Essa perspectiva multidimensional e multiescalar de manejo incorpora as complexidades e as incertezas inerentes aos ecossistemas naturais, consistindo numa abordagem sistêmica da cadeia produtiva da madeira.
A gestão florestal sustentável não fornece um portifólio de ações para responder a tais circunstâncias e tamanha prioridade de mudanças. Muito mais que isso, tal gestão deve se caracterizar pela constante busca de inovação em ciência e tecnologia, organização de propriedades florestais, desenvolvimento de negócios, mercados e instituições, formação de interesses políticos e engajamento comunitário.
É o momento em que as ações de garantia da sustentabilidade da cadeia produtiva da madeira devem ser cada vez mais baseadas em modelos sistêmicos de manejo da produtividade florestal, que considerem não a reposição periódica dos nutrientes exportados do solo em cada colheita, mas sim, a manutenção da qualidade e do potencial produtivo do solo ao longo do tempo.
Em decorrência das mudanças sociais e culturais, parece estar havendo consenso de que os problemas ambientais, em razão de suas características inerentes de complexidade e incertezas, não podem ser resolvidos separadamente de suas interações com vários outros valores da sociedade. Desta forma, todos esses temas passam a integras as decisões de manejo.
Portanto, estamos em um novo ambiente de negócios, mais volátil e complexo A sustentabilidade da competitividade da cadeia de valor das florestas plantadas requer inovações recorrentes, definição de novas forças e valores capazes de operar positivamente através do desenvolvimento de sua cidadania corporativa.
Este novo ambiente de negócios força uma significativa profissionalização da base da cadeia produtiva e demanda profunda integração de cada um de seus elos, tanto a montante, envolvendo fornecedores, quanto à jusante, antecipando demandas e garantindo ofertas cada vez mais heterodoxas, que não se limitam aos produtos madeiráveis e não madeiráveis.
Respeitando este novo ambiente de negócios, é fundamental que a cadeia produtiva da madeira seja contextualizada com base em uma visão sistêmica que caracterize a dimensão de cada um desses pilares, bem como as forças competitivas correlacionadas e os valores respectivamente atribuídos aos aspectos econômicos, ambiental e social.
Nesta análise, a partir da combinação do macroambiente (concorrentes, entrantes, fornecedores, clientes) e ambiente interno (recursos, captações e competências essenciais), estabelecem-se as vantagens competitivas sustentáveis que manterão a cadeia produtiva da madeira como fonte efetiva de criação de demanda e geração da oferta pertinente.
Assim, a análise da cadeia produtiva da madeira sob o novo prisma de um novo ambiente de negócios, estabelece que tão importante quanto atuar técnica e cientificamente visando ampliação da capacidade de oferta, minimização de impactos ambientais e inserção de preceitos sociais na estratégia de produção, é garantir reconhecimento de stakeholders e estabelecer procedimentos de estreita relação com os mesmos.
Segundo Heuzer, a descentralização da produção florestal e a integração dos três setores, representados principalmente pelo governo, empresários e organizações não governamentais, constituem um preceito básico para a evolução do setor de florestas plantadas. Somente esta integração é capaz de minimizar ou eliminar os riscos de desestabilização da cadeia produtiva da madeira, bem como desconsideração do estado de direito. |