Em 2018, taxa de desmatamento da Amazônia foi a mais alta da última década: 7,9 mil km². Numa região do Maranhão onde a Floresta Amazônica começa a dominar a paisagem, uma área de mata nativa acaba de ser destruída. O solo – agora exposto – aparece na tela de um dos computadores da equipe que monitora o desmatamento da maior floresta tropical do mundo, espalhada por nove estados brasileiros.
O dano ambiental é revelado nas imagens de satélite, interpretadas por profissionais que estão a mais de 2 mil quilômetros da mata recém-cortada. O trabalho de análise minucioso é feito em São José dos Campos, interior de São Paulo, de onde o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) acompanha há 30 anos a taxa anual de desmatamento da Amazônia.
O sistema de monitoramento do Inpe revelou que o Brasil já desmatou um total de 783 mil quilômetros quadrados de Floresta Amazônica – área que equivale a mais de duas vezes o território da Alemanha. Desse total, 436 mil quilômetros quadrados foram desmatados após 1988, quando o Inpe passou a monitorar a floresta anualmente.
Em 2018, a taxa de desmatamento da Amazônia foi a mais alta da última década: 7,9 mil quilômetros quadrados, dos quais cerca de 95% correspondem a cortes ilegais.
A história da vigilância por satélites começou às avessas. No fim dos anos 1970, o governo militar queria fiscalizar se a floresta estava sendo destruída como o programado: havia incentivo para substituir a vegetação por fazendas, e o Inpe foi convidado a criar uma forma de verificar se as árvores nativas estavam dando lugar a pastos.
Anos mais tarde, o cenário mudou. O país passou a sofrer uma grande pressão internacional por conta dos investimentos que estavam acabando com a Amazônia
Foi então que o país passou a medir as taxas anualmente. Em 1988, as imagens registradas por um satélite americano chegavam ao Inpe impressas em papel. Eram necessárias 229 fotos, cada uma com cerca de 90 cm x 120 cm, para analisar toda a Amazônia.
A técnica era artesanal: pesquisadores passavam anos debruçados sobre as fotos, circulando os pontos identificados como desmatamento para, depois, estimar o tamanho da área atingida. O relatório referente a 1988 só foi divulgado três anos mais tarde.
Atualmente, dados de três satélites são usados pelos pesquisadores: Landsat8, dos Estados Unidos; Liss3, da Índia; e Cbers4, resultado de uma parceria entre Brasil e China. Desde 2003, o trabalho foi digitalizado, e dois programas monitoram a Amazônia simultaneamente. O Prodes calcula as taxas anuais de desmatamento, e o Deter B, que “enxerga” a floresta com melhor resolução, aponta onde o corte está sendo realizado no momento em que ele acontece.
Monitoramento
O avanço da ciência permitiu mudanças na fiscalização. De início, equipes iam a campo de carro e faziam percursos nas estradas tentando identificar visualmente o desmatamento.
Três décadas depois, fiscais acompanham em tempo real – de Brasília – os alertas detectados pelo sistema do Inpe. Observam as áreas que estão em evolução e mandam uma equipe para evitar que a floresta caia.
Os desmatadores também se adaptaram à evolução do sistema. O corte de árvores em grande escala foi substituído por áreas menores para dificultar que os satélites consigam “enxergá-los”.
Antes, trabalhávam com seis áreas mais críticas, agora são 13. O desmatamento está mais pulverizado e em novos locais.
No cenário político, o principal impacto do sistema surtiu efeito a partir de 2004. Foi o ano em que o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm) entrou em vigor e as taxas começaram a cair.
Quando se olha para o histórico, reduziu em 72% o desmatamento da Amazônia. A fiscalização foi instrumento para induzir essa redução.
Nos últimos quatro anos, por outro lado, os números voltaram a subir.
O mercado está rejeitando cada vez mais produtos que vêm de áreas de desmatamento, forçando a legalidade. Também precisamos trabalhar mais em incentivos econômicos para quem conserva e punições severas para quem desmata.
Além da Amazônia, o sistema agora se estende até o Cerrado e o Inpe deve divulgar a taxa de desmatamento desse bioma. O plano é monitorar todo o território brasileiro até 2020.