Revista da Madeira - Edição nº 158

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Sistemas de plantio

Atualmente, há cerca de 1,79 milhão de hectares de pinus plantados no Brasil, com produtividade média variando de 18 a 37,6 m3 ha-1ano-1, havendo, porém, sítios e manejos em que esta produtividade ultrapassa os 40 m3 ha-1ano-1. Esta grande variabilidade já sinaliza um potencial de ganho de produtividade, desde que se identifiquem os fatores que a restringe, que podem ser de caráter técnico (genótipos e ambiente) ou operacional (qualidade de preparo de solo e nutrição, plantio e tratos culturais). Além disso, a cultura do pinus vem sendo diversificada em termos de espécies, procedências, progênies e clones, e expandindo suas áreas de plantio, formas de manejo (preparo de solo, adubação, espaçamento e desbastes). Mais do que nunca, os plantios de pinus são efetivamente fonte de multiprodutos, como a produção de madeira para fibras (celulose, chapas e MDF), para madeira serrada (diferentes bitolas), produtos sólidos, resina e resíduos, que vêm sendo utilizados como biomassa ou substratos orgânicos.

O plantio de pinus é formado por várias ações e constitui-se numa das etapas mais importantes para o sucesso do estabelecimento de florestas plantadas. O sistema de plantio mais adequado é definido com base no objetivo do empreendimento e no uso final da floresta. O sucesso depende de decisões e ações cuidadosas nas diversas etapas de sua implementação, como a escolha e a limpeza da área, o espaçamento, o controle de pragas e doenças, a definição do método de plantio e os tratos culturais.

Métodos de plantio

O plantio de pinus pode ser manual, mecanizado ou semi-mecanizado. O método de plantio a adotar dependerá da topografia da área, bem como da disponibilidade de recursos financeiros, mão de obra e de equipamentos disponíveis. Os métodos mecanizado e o semi-mecanizado são aplicados em locais com topografia plana, onde se possam usar plantadoras tracionadas por tratores. As plantadoras, normalmente, fazem o sulcamento, a distribuição do adubo e efetivam o plantio. No sistema semimecanizado, somente as operações de preparo de solo e os tratos culturais são mecanizados e o plantio em si é manual. O plantio manual é recomendado para áreas declivosas ou nas situações onde, mesmo em áreas planas, não é viável o uso de máquinas agrícolas, devido à presença de obstáculos como rochas superficiais, tocos ou outras culturas.

Operação de plantio

O estabelecimento de um plantio florestal inicia-se com o preparo do solo. Porém, esta operação deve ser precedida de definições como o espaçamento a ser adotado, os tipos e a frequência das operações de manejo, os tratos culturais e a adubação a ser aplicada. Com base nessas decisões, passa-se às seguintes ações:

1) Planejamento - definem-se as vias de acesso, o dimensionamento e o posicionamento dos talhões. Essas ações facilitarão as operações de plantio, os tratos culturais e as operações de proteção, principalmente controle de fogo e de retirada da madeira. O dimensionamento e o posicionamento dos talhões são de importância estratégica, pois afetam diretamente nas operações de exploração (derrubada e retirada da madeira) que representam mais de 30% do custo da madeira colocada no pátio da fábrica.

2) Vias de acesso- na construção das vias de acesso, deve ser considerada a distância máxima do arraste ou transporte da madeira no interior da floresta que, por razões técnicas e econômicas, deve ser de, no máximo, 150 m. Assim, os talhões devem ser dimensionados com, no máximo, 300 m de largura e comprimento entre 500 m e 1.000 m. O tamanho do talhão tem implicação direta na efetividade das operações de proteção da floresta contra incêndios. Portanto, especialmente em áreas declivosas, os talhões deverão ser menores do que nas áreas planas.

3) Aceiros - têm a função de separar os talhões, de servir de ligação às estradas de escoamento da produção e de conter o avanço dos incêndios florestais, especialmente os fogos rasteiros. Podem ter a largura de 4 m a 5 m entre talhões internos e até de 15 m quando ao longo das divisas de propriedades. A cada quatro ou cinco talhões contíguos, recomenda-se estabelecer um aceiro com 10 m de largura. É desejável que os aceiros sejam carroçáveis em aproximadamente 60% da sua largura. A área total ocupada pelos aceiros, considerando áreas planas ou suavemente ondulada, deve ser de 5% da área útil.

4) Limpeza - as operações que compõem a fase de limpeza da área para plantio são a derrubada, a remoção e o enleiramento da vegetação e dos resíduos da exploração em fileiras. Recomenda-se retirar da área apenas o material lenhoso aproveitável, como a lenha e a madeira para usos diversos. O restante do material lenhoso (ramos, folhas e a casca), considerado como resíduo da exploração, deve permanecer no campo como reserva de nutrientes para as plantas
Dependendo da quantidade da vegetação a ser retirada e da topografia da área, podem-se utilizar equipamentos pesados como correntão (indicado para áreas de capoeira e cerradões), lâmina frontal empurradeira ou cortadeira. Esta última é mais indicada, pois causa menor movimentação de terra.

5) Preparo de solo - para o plantio da floresta, são demandados cuidados especiais, visto que dela também dependerá o resultado econômico da atividade. O principal objetivo do preparo do solo é proporcionar condições adequadas ao estabelecimento das mudas no campo, propiciando-lhes melhores condições de sobrevivência, nos primeiros meses de vida. As atividades necessárias nesse processo incluem o controle de plantas daninhas, o melhoramento das condições físicas do solo (descompactação do solo) e o manejo de resíduos (folhas e ramos) para que não prejudiquem a mecanização. Estes resíduos são importantes e precisam ser mantidos como matéria orgânica na área, onde atuam na ciclagem e na disponibilização de nutrientes às plantas.

No sistema de preparo dos solos para o plantio de pinus, a queima dos resíduos após a exploração é uma prática ainda muitas vezes utilizada. Ela objetiva limpar o terreno e facilitar as operações do reflorestamento. No entanto, a queima implica na eliminação de subprodutos aproveitáveis, morte dos microorganismos do solo, deterioração dos sítios, erosão e, por conseguinte, a contaminação ambiental. Desta forma, não se recomenda, sob hipótese alguma, o uso da queima.

O fogo sempre esteve presente em ecossistemas florestais. Em algumas áreas de declividade elevada e vegetação arbustiva, particularmente na região Sul do País, o fogo pode aumentar a erosão por:

• Deixar mais solto o solo e as rochas, causando deslizamentos superficiais;

• Expor o solo à ação do impacto das gotas de chuvas causando erosões por sulco.

• Tornar a camada superficial temporariamente repelente à água, aumentando o escoamento superficial, sem que ocorra a infiltração d’água no solo.

• Entupir os poros da superfície pela erosão do tipo “splash”.

Por outro lado, por desempenhar múltiplas funções no solo, o carbono orgânico (C) é considerado, sob condições tropicais e subtropicais, o principal indicador de qualidade e sustentabilidade ambiental. Desse modo, sistemas de manejo que preservem ou aumentem o seu estoque, via fixação de C, devem ser priorizados com o intuito de promover melhorias na qualidade do solo. O aumento do estoque de C no solo resulta em melhorias significativas em suas qualidades físicas, químicas e biológicas, refletindo positivamente na produtividade e na sustentabilidade do sistema.

Em áreas úmidas de florestas, o horizonte A do solo é entrelaçado com raízes finas e material grosseiro que raramente queima. O sistema radicular ajuda a reter o solo em chuvas erosivas e a vegetação rasteira retorna rapidamente. O uso anual de fogo pode diminuir a capacidade produtiva de uma área pelo fato de queimar a matéria orgânica nas camadas superficiais do solo. Ela é uma das principais fontes de ciclagem de nutrientes devido a sua maior capacidade de troca catiônica e maior retenção de umidade no solo, além de facilitar a agregação das partículas (areia, silte e argila) e de propiciar melhor ambiente à macro e microfauna dos solos. Sua degradação também ajuda a acelerar os processos erosivos dos solos. Desta forma, o uso da queima de resíduos superficiais pós-colheita do pinus é uma prática que não deve ser adotada nos sistemas florestais.

6) Plantio - A escolha da época de plantio do pinus é muito importante uma vez que o pegamento das mudas dependem da umidade superficial dos solos. Além disso, as condições climáticas (temperatura e precipitação pluviométrica, principalmente) afetam a absorção dos nutrientes pelas plantas. Em períodos de maior pluviosidade, as plantas absorvem mais nutrientes e, portanto, podem apresentar maior concentração destes em seus tecidos. Portanto, em épocas mais quentes e chuvosas, o plantio da maioria das espécies de pinus pode ter sucesso mais garantido.

A operação de plantio deve ser realizada observando-se alguns aspectos importantes, os quais deverão ser definidos previamente, com destaque para o espaçamento entre plantas, as operações de manejo previstas e os tratos culturais a serem feitos. Em plantios manuais, normalmente com espaçamento de 2,5 m entre linhas e 2,0 m entre plantas, o rendimento tem sido de: 1) Áreas de cultivo mínimo: média/homem.dia = 900 plantas; 2) Áreas escarificadas: média/homem.dia = 1.200 plantas.

7) Operações do manejo - a produtividade da floresta plantada depende de fatores como a qualidade genética da semente utilizada, da capacidade produtiva do sítio e do manejo praticado. Entre as práticas de manejo, as de maior impacto na produtividade da floresta plantada são:

Controle de formiga - faz-se no pré-plantio de 15 a 30 dias antes; no pós-plantio aos 30, 60, 90 e 180 dias.

Controle de plantas daninhas - as intervenções, por roçadeira costal ou por meio da aplicação de herbicidas, são realizadas a cada seis meses até o segundo ano após o plantio. Após este período, o controle é feito anualmente até o quinto ano.

Poda - visa ao aprimoramento da qualidade das árvores, para obtenção de madeira livre de nós. Realiza-se a poda em dois momentos: 1) do primeiro ao terceiro ano, retirando-se 50% das ramadas inferiores; 2) segundo ao quinto ano, retirando-se até 3,2 m de ramadas inferiores. Com isso têm-se toras livres de nós até a altura comercial.

A poda deve restringir-se tanto quanto possível ao final do outono, inverno e início da primavera. Lesões no fuste causadas pelas podas são menos danosas no inverno (estação de dormência das gemas) do que durante a primavera e o verão. No inverno, além disso, há a vantagem de menor incidência de insetos.

Os desbastes intensos visando à redução da densidade populacional e disponibilização de mais luz, nutrientes e água às plantas são realizados aos dez anos de idade, quando se retiram 55% das árvores, tendo um sortimento aproximado de 60% para celulose, 30% para madeira tipo Tf (para desdobro com diâmetro de 20 cm a 25 cm) e 10% para biomassa (lenha para energia).

Espaçamento de plantio - o espaçamento entre plantas influencia a taxa de crescimento e a qualidade da madeira produzida, na idade de corte. Também influencia as idades, as intensidades dos desbastes, as práticas de manejo e, consequentemente, os custos de produção da área plantada. Além disso, essa variável é, provavelmente, uma das mais importantes para a qualidade e produtividade da matéria-prima a ser produzida. O espaçamento afeta fortemente o crescimento diamétrico dos troncos das árvores e, como está associado à densidade populacional, afeta também a intensidade de uso dos recursos hídricos e nutricionais do solo, bem como da luminosidade disponível na área. Se a densidade de plantio for demasiadamente alta (pequeno espaçamento entre árvores), não será apropriada para atender à demanda de crescimento ideal do povoamento, acarretando decréscimo no volume e na qualidade da madeira produzida. Se a densidade for demasiadamente baixa (espaçamento amplo entre árvores), as árvores não aproveitarão todos os recursos disponíveis e haverá menor produção de madeira por área. Portanto, o planejamento da densidade de plantio deve ter como base a obtenção do máximo de retorno por área. Normalmente, usam-se espaçamentos variando entre 3,0 m x 2,0 m e 3,0 m x 3,0 m, que possibilitam tratos culturais mecanizados e, 2,5 m x 2,0 m para plantios manuais, nos locais mais declivosos.

Características dos espaçamentos - espaçamentos amplos (densidade populacional baixa) possibilitam maior produção volumétrica por árvore e menor custo de implantação, mas requerem tratos culturais mais frequentes e desbastes tardios, além de produzir árvores com maior quantidade de ramos grossos e maiores conicidade de fuste. Espaçamentos pequenos ou restritos (densidade populacional alta) resultam em maior produção volumétrica por área, mas menor volume por árvore, rápido fechamento do dossel, menor frequência de tratos culturais requeridos e exigem desbastes precoces, produzindo árvores com fustes mais cilíndricos.

Adubação

Devido ao seu rápido crescimento e ausência de sintomas de deficiência, particularmente nas primeiras rotações, foi difundida a ideia de que plantações de pinus dispensariam a prática de fertilização mineral e que os preparos com a queima dos resíduos favoreceriam a disponibilidade de nutrientes acumulados na serapilheira para a próxima rotação. Vê-se assim, que a crescente importância econômica do pinus pode vir a ser fragilizada pelo inadequado manejo nutricional de suas florestas. No entanto, a importância relativa dos nutrientes e seus níveis de impacto variam, principalmente, em função das características do solo, da produtividade da floresta e dos manejos florestais aplicados em termos de resíduos (cultivo mínimo ou convencional), fertilização ou não dos sítios, grau de erosão e biomassa colhida (árvores inteiras, ou apenas o componente lenhoso).

Além disso, a grande diversidade geológica e pedológica de um local ou uma região condiciona respostas diferenciadas a um mesmo manejo, o que torna a determinação da sustentabilidade ambiental dependente do conhecimento preciso dos estoques iniciais de nutrientes e os fluxos dos sítios específicos. Conhecendo-se tais valores, torna-se possível simular o impacto de diferentes sistemas de manejo florestal sobre o balanço nutricional, possibilitando aprimorá-lo ou, ao menos, indicar ações preventivas de preparo de solo, manejo de resíduos ou fertilização para mitigar tais efeitos.

Os principais fatores que interferem no crescimento das árvores de pinus no Brasil são a qualidade do material genético, as condições climáticas e as condições de solo onde são plantadas. Geralmente, são utilizados solos de baixa fertilidade natural, o que, de certa forma, afeta a produtividade. Para se evitar isso, são necessárias correções com aplicação de fertilizantes. Avaliações nutricionais nesses plantios são importantes para se fazer recomendações de fertilizantes. O conhecimento das deficiências nutricionais possibilita indicar os nutrientes que devem ser aplicados e, com isto, propicia um melhor aproveitamento dos nutrientes pelas árvores.

Os solos destinados ao plantio de pinus nas pequenas propriedades rurais são, normalmente, os de baixa fertilidade natural ou os que não servem para cultivos agrícolas. Embora a adubação do pinus não seja uma prática normalmente utilizada no Brasil, existem situações em que ela é necessária para que as árvores sejam produtivas. Os nutrientes mais frequentemente utilizados nas adubações minerais para espécies florestais são o N, P, K e, com menor frequência, B e Zn.

Em plantações florestais, é comum o uso de adubo simples, formado por apenas um composto químico. Neste caso, são utilizados:

• Sulfato de amônio e ureia, como fontes de nitrogênio;

• Superfosfato simples, superfosfato triplo e fosfato natural, como fontes de fósforo;

• cloreto de potássio e sulfato de potássio, como fontes de potássio; ou bórax, como fonte de boro.

A formulação do fertilizante varia de uma região para outra e com a cultura em que será aplicada. De maneira geral, o fósforo é aplicado em maior quantidade do que os demais elementos, por estar presente em menor concentração nos solos brasileiros.

Para se obter os melhores resultados com o uso de fertilizantes contendo NPK, o adubo deve ser aplicado o mais próximo possível da muda, para garantir o seu aproveitamento, sem causar danos às raízes. Deve-se tomar o cuidado de misturar bem o fertilizante com a terra, para evitar danos e até morte da muda devido à concentração salina. O ideal é esperar pelo menos um dia após a aplicação do adubo antes de efetuar o plantio, principalmente quando a adubação e o plantio são feitos na mesma cova.

Existem diferentes formas de se aplicar o adubo:

No fundo do sulco: distribuído no fundo do sulco de plantio, aberto pelo sulcador ou outro implemento;

Na cova de plantio: colocado no fundo da cova, antes do plantio, bem misturado com a terra para evitar danos às raízes das mudas;

Em cobertura: aproximadamente três meses após o plantio. Normalmente, colocado ao lado da planta, em faixas ou em coroa. Esta forma é utilizada para aplicar N e K, elementos que se perdem facilmente por volatilização e lixiviação.

Não existe recomendação de adubação baseada apenas nas análises de solo, nem específica para o pinus nos diferentes tipos de solos. De maneira geral, a adubação é feita para suprir os elementos nutrientes que estejam em níveis menores que os críticos no solo, conforme quadro abaixo discriminado.

Quadro 1. Níveis críticos dos teores de P e K no solo, com base nos resultados da análise química.
Elemento do solo Interpretação
Baixo Médio Alto
P (mg/dm3) > 3,0 > 3,0 - < 7,0 < 7,0
K (mmol(+)/dm3) > 0,5 > 0,5 - < 1,5 < 1,5

Fonte: BELLOTE, A. F. J.; NEVES E. J. M.. Calagem e adubação em espécies florestais plantadas na propriedade rural. 1ª edição. Colombo: Embrapa Florestas, 2001. 6p. (Embrapa Florestas. Circular Técnica, 54).

Quadro 2. Recomendações de adubação para pinus, com base nos níveis críticos de P e K no solo.

Interpretação N - P2O5 - K2O Fórmula sugerida kg/ha g/planta
P K
B B 30 – 120 – 60 8-32-16 300 180
B M/A 30 – 120 – 45 10-30-10 320 200
M B 30 – 90 – 60 8-30-20 240 140
M M/A 30 – 90 – 45 8-28-16 260 150
A B 30 – 60 – 60 8-28-16 180 100
A M/A 30 – 60 – 30 10-20-10 180 120

B = baixo; M = médio; A = alto.

Fonte: BELLOTE, A. F. J.; NEVES E. J. M.. Calagem e adubação em espécies florestais plantadas na propriedade rural. 1ª edição. Colombo: Embrapa Florestas, 2001. 6p.

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