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Notícias

22
nov
2005
(GERAL)
Ouro Branco: um negócio da China
Exportar madeira é, definitivamente, um negócio da China. Pelo menos é o que garante o empresário Mário Santini, proprietário da Madeireira Ouro Branco localizada no município de Capixaba, onde a empresa cresceu três vezes mais rápido que estava projetado, graças à alta procura de seu produto no mercado internacional.

Até o final deste ano a empresa terá sob seu domínio uma área de 60 mil hectares que irá explorar em sistema de manejo florestal. Embora a área seja extensa, seu projeto prevê a extração de madeira em apenas 4 mil hectares por ano.

São seis projetos de manejo em execução - um recém-aprovado pelo Ibama e outro em elaboração. A empresa não é proprietária das terras que explora, mas está planejando fazer isso, as áreas pertencem a fazendeiros e 14 deles terão fechado contrato até o final deste ano para manejar a madeira de suas terras.

Os proprietários da Ouro Branco agora estão trabalhando para conseguir sua certificação de madeira retirada de florestas manejadas, o que abrirá as portas do Mercado Comum Europeu e outros países mais exigentes quanto às questões ambientalistas, para firmar convênio com o instituto Imafloro, a fim de obter a certificação FSC, que além de exigir o respeito ao meio ambiente também requer que a empresa respeite seus operários oferecendo condições dignas de vida e trabalho.

Crescendo rápido

Quando foi instalada no Acre, há cinco anos, a madeireira Ouro Branco começou com 20 funcionários e projetou a meta de ter 60 em três anos. No segundo ano já tinha 120 e agora está com 165, com projeção para dobrar essa quantia nos próximos cinco anos, tudo isso apesar das máquinas cada vez mais modernas que está utilizando em sua linha de produção.

Mercado aberto

Os chineses compram 80% de toda a produção de soalhos de madeira da Ouro Branco - o restante tem seguido para Taiwan e Vietnã. Também já houve vendas para a Alemanha, Itália e Inglaterra, mas em menor proporção. Países como a Bolívia, Chile e Argentina também fizeram compras.

“O mercado de exportação está aberto e pronto para receber nossa madeira, mas é preciso ter cuidado com essa empolgação. Isso porque o mercado internacional é muito exigente em três pontos básicos que são a quantidade, regularidade no fornecimento e pontualidade na entrega. Enquanto uma empresa não estiver segura de que cumpre tudo isso, é melhor continuar treinando no mercado interno”, explica Mauro Santini, irmão do proprietário Mário Santini e o responsável em cuidar do processo de exportação dos carregamentos da empresa.

Ele justifica as últimas

afirmações. “Para fazer uma grande venda para o exterior e não conseguir cumprir o que reza nos contratos é melhor nunca ter exportado nada, porque você fica desacreditado e será muito difícil reconquistar esses clientes. Quero dizer que exportar é muito bom, mas é necessário fazer as coisas do jeito certo.”

Quanto à China, ele esclareceu que o país só compra peças de soalho serrado e com os quatro cantos devidamente aplainados, mas não terminados. “Eles têm 200 milhões de desempregados, é um mercado imenso, mas só aceitam produtos que possam ajudar a gerar ocupação e renda para alguém lá. É assim que eles estão conseguindo crescer a um ritmo de 10 ou 12% ao ano”.

Nem a cinza escapa...

Toda madeira que entra no pátio da Ouro Branco, mesmo a que não serve para ser usada na produção de soalho, recebe uma utilização prática. Os pedaços maiores são transformados em carvão e ensacados em embalagens que hoje podem ser encontrados nos supermercados de todos os municípios do Vale do Acre. O pó de serra é queimado em fornos especiais de incineração para aquecer o ar que passa pelas estufas e faz secar a madeira até que atinja entre 10 e 12% de umidade. Peças de madeira que não servem para fazer carvão são vendidas como lenha para padarias e cerâmicas. “Aqui nada é desperdiçado, pois até a cinza que retiramos dos fornos e caldeiras é dado para os agricultores fertilizarem suas lavouras.”

Preocupação social

Dos 165 funcionários da madeireira, 30 pertencem à Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA). São eles que estimulam os colegas a utilizar equipamentos de segurança como capacetes, luvas e botas com biqueira de aço oferecidos pela empresa. Todos os que trabalham em função perigosa na serraria ou na mata têm seguro de vida. Os que não têm moradia em Capixaba vivem nas casas oferecidas pela empresa na vila montada especialmente para isso. Ali elas não pagam aluguel, água ou energia elétrica. Em parceria com o Programa Mova, foi montada a primeira sala de alfabetização ainda no ano passado. A mesma turma, já alfabetizada, iniciou neste mês sua segunda jornada para completar o curso da primeira à quarta série. “Parece incrível, mas os funcionários que dão mais duro no serviço e que demonstram maior comprometimento com a empresa são justamente os mais interessados em estudar e melhorar de vida. Isso nos dá muita satisfação e vamos apóia-los até onde pudermos alcançar”, garante Santini.

Planejamento é essencial

Cláudio Selivon é o engenheiro florestal responsável pela empresa CAAP Florestal, que elabora e executa os planos de manejo que vêm sendo utilizados pela Ouro Branco. Ele trabalha com manejo florestal no Paraná, Rondônia e, por último, no Acre, desde quando se formou há 14 anos. “A aprovação dos projetos de manejo de antigamente era bem mais rápida, hoje demora um pouco mais, não porque o processo esteja mais lento, mas porque o conceito e as técnicas de manejo foram amadurecendo.”

“Agora levamos muito mais fatores em consideração na elaboração do plano de manejo. Respeitamos a complexidade do bioma para diminuir o impacto de nossa atividade na floresta. Nós, da Ouro Branco, trabalhamos com técnicas de impacto reduzido, muitas delas desenvolvidas por nós mesmos, pois esse trabalho é novo e está em evolução constante para garantir a continuidade deste sistema produtivo”, esclareceu. De acordo com ele, a partir do momento em que se inicia o inventário das espécies e do volume de madeira existentes na área, sua equipe consome, em média, dois meses para concluir a elaboração do plano de manejo. Os papéis são enviados ao Ibama que consome outros seis meses para verificar cada informação cumprindo os trâmites e prazos previstos em lei. “Além de realizar um bom planejamento de manejo, a redução do impacto é melhorado com a exploração de espécies não tradicionais que fazem aumentar o rendimento por área e embora não fossem conhecidas estão tendo uma excelente aceitação no mercado nacional e internacional. O carro-chefe são madeiras de cumaru-ferro, garapeira e jatobá, mas estamos explorando 14 dessas espécies que antes viravam cinza nas derrubadas ou apodreciam na mata.”

Novas espécies

Madeira que começava a se deteriorar com apenas seis dias depois de derrubada, a echinusa, popularmente conhecida como abiu ou crupishawa, sempre foi derrubada e queimada ou deixada para apodrecer. Os técnicos da Ouro Branco desenvolveram uma técnica através da qual ela é cortada e submetida a um tratamento com fungicida antes de iniciar o processo de secagem.

“Quando está seca, essa madeira é idêntica ao cedro rosa, só não suporta umidade, mas está sendo muito usada para fazer portas, divisórias internas e soalho. Nós só as derrubamos quando temos encomendas, mas sua aceitação está muito boa tanto no mercado nacional quanto internacional”, explicou.

Fonte: Página 20 – 30/06/2004

Fonte:

Jooble Neuvoo

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