Voltar

Notícias

22
nov
2005
(GERAL)
Paraná quer liderar negócios com créditos de carbono.
Especialistas vêem nas áreas de reflorestamento um grande potencial para o estado entrar forte nesse novo mercado. Os 600 mil hectares de área reflorestada no Paraná e uma aparentemente simples medida como a troca do óleo combustível pelo biogás na frota de ônibus das cidades paranaenses podem gerar milhões de reais ao estado no momento em que o Protocolo de Quioto entrar em vigor. A avaliação é da advogada ambiental Letícia Cardoso, tendo em vista a proximidade da ratificação do Protocolo pela Rússia. Prevista para o final deste ano, a adesão dos russos irá abrir para todo o mundo um mercado milionário que terá como moeda o dióxido de carbono (CO2), principal gás causador do efeito estufa.

Especializada no que é chamado de seqüestro de carbono (árvores em crescimento conseguem retirar da atmosfera volumes expressivos dos gases causadores do efeito estufa), Letícia, do escritório Vanzin & Penteado Advogados de Curitiba, estima que quando a quantidade de gás que é "seqüestrada" pela natureza, ou reduzida a partir da troca de combustíveis fósseis por energia limpa, for convertida em créditos, a tonelada de carbono poderá valer entre US$ 5,00 e US$ 20,00 num mercado futuro, que terá como principais compradores os países industrializados.

Com a proximidade da ratificação do Protocolo, Letícia nota que surgem os projetos de seqüestro de carbono no país , que terá como principal concorrente a China. Ela esclarece que somente os países em desenvolvimento podem gerar créditos de carbono, de acordo com o Protocolo de Quioto. "Foi uma forma encontrada pela convenção de fazer com que os países ricos invistam nos menos desenvolvidos".

Letícia diz que, enquanto a China ainda se organiza para explorar o seqüestro de carbono, no Brasil já existe uma comissão responsável pela orientação de projetos – a Comissão Interministerial de Mudanças Climáticas Globais - e até um mercado informal de venda de créditos. "São compradores que estão se antecipando ao Protocolo e conseguindo comprar créditos a preços mais baixos do que o projetado quando a prática for oficializada", explica.

O engenheiro florestal Marcelo Schmid, da consultoria paranaense STCP Engenharia de Projetos Ltda., cita o exemplo do governo holandês, que há pouco comprou US$ 15 milhões em créditos de carbono da mineira V&M Florestal. "A empresa gerou esses créditos através da redução da emissão de gás carbônico promovida pela troca do carvão mineral pelo vegetal na produção de aço", explica.

Potencial do Paraná

Para Schmid, o Paraná pode se tornar um vendedor potencial de créditos de carbono por já possuir uma grande área de reflorestamento de eucalipto e de pinus e milhares de hectares de áreas degradadas, ou devastadas, que podem ser recuperadas. "A partir do momento em que um projeto de reflorestamento for aprovado, o investidor já pode começar a negociar os seus créditos no mercado", afirma.

Schimid acredita que o grande negócio do Paraná é a plantação de pinus, que seqüestra de 13 a 18 toneladas de carbono por hectare ao ano. "São números ainda conservadores, que não levam em conta o ritmo de crescimento das árvores, que no Paraná é dez vezes mais rápido do que em outros países", considera. Já uma floresta de eucalipto chega a seqüestrar de 20 a 25 toneladas de CO2/ha/ano.

André Ferretti, engenheiro florestal da organização não-governamental Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS), vê também outras possibilidades de gerar créditos de carbono no Paraná. Segundo ele, em alguns aterros sanitários já existem projetos que eliminam a emissão do gás metano produzido pelo lixo, que é 21 vezes mais danoso ao meio ambiente do que o CO2, porém emitido em menor escala. "Além de gerar créditos que podem ser vendidos, o metano pode ser usado como fonte de energia", considera.

A corrida pelos créditos de carbono já resultou em três projetos coordenados pela SPVS no Paraná. Entretanto, nenhum deles se enquadra no Protocolo de Quioto, porque envolvem áreas de natureza nativa e não reflorestada. Ferretti explica que na ocasião em que eles foram criados, em 2000, ainda não havia sido estabelecido que projetos de "desmatamento evitado" (preservação de áreas com risco de desmatamento) gerariam créditos de carbono. "Apesar das empresas investidoras terem-se envolvido nesses projetos com essa finalidade, elas continuam acreditando e investindo", conta Ferretti.

Ele ainda explica que as três empresas - American Electric Power, General Motors e Texaco -, por serem americanas, não possuem a pressão dos demais países, já que os Estados Unidos não ratificaram o protocolo. "Para eles, esses projetos são exemplos para outras empresas americanas de que é preciso fazer algo para diminuir a emissão dos gases de efeito estufa", declara. Atualmente, os EUA respondem por 1/3 das emissões do mundo.

kicker: Aterros sanitários também podem gerar outros tipos de projetos

Danielle Sasaki

Fonte: Gazeta

Fonte:

Jooble Neuvoo