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Notícias

22
nov
2005
(GERAL)
Micro é essencial na produção
A viabilização da cadeia produtiva de madeira e móveis na região amazônica passa necessariamente pela oportunidade de formas de atuação e gestão voltadas para as empresas de micro e pequeno porte, que são predominantes nesse ramo da atividade industrial. A recomendação consta de estudo sobre a cadeia produtiva da madeira encomendado pelo Banco da Amazônia (Basa) ao Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), vinculado ao Ministério de Planejamento e Gestão. O relatório deverá ser publicado pelo Basa, juntamente com os outros 12, como contribuição para o planejamento e execução de políticas de desenvolvimento sustentável nos nove estados amazônicos.

Segundo o trabalho do Ipea, que integra um conjunto de estudos solicitados pelo banco sobre as potencialidades de 13 arranjos produtivos locais na Amazônia, a formulação e implementação de políticas de estímulo ao desenvolvimento da cadeia produtiva de madeira e móveis na região devem privilegiar um conjunto de ações estratégicas específicas, prevendo a participação de agentes públicos e privados, parceria necessária para acelerar os esforços de aumento da competitividade da produção amazônica no país e no exterior.

Nesse contexto, mostra o estudo, é preciso observar os limites e potencialidades do ajuntamento produtivo baseado em pequenas empresas. “Não se pretende excluir as empresas de maior porte na estruturação da cadeia produtiva, uma vez que sua escala de negócios e capacidade de incorporar novas tecnologias ajuda a dinamizar o setor que é o terceiro mais importante da região em valor de produção”, observa o Ipea, enfatizando, porém, que “a maioria dos subespaços regionais não conta com empreendimentos de grande porte impulsionando a produção local”.

A propósito, lembra o Ipea que os elementos dinâmicos de uma cadeia produtiva englobam não somente a disponibilidade de recursos naturais, “mas também a capacidade de organizar articulações produtivas que se formam em torno da exploração, beneficiamento, logística de distribuição, comercialização e exportação dos produtos e subprodutos”.

Alternativas - Muitos especialistas, conforme frisa o Ipea, consideram que a concentração da produção em pequenas empresas é a estrutura propícia para lidar com os gostos e mudanças de mercado, oferecendo uma proteção natural para a cadeia produtiva. Todavia, embora essa predominância dos empreendimentos de menor porte já ocorra na Amazônia, alguns fatores vêm limitando o seu desenvolvimento e a formação de um pólo moveleiro de expressão nacional. Dentre esses obstáculos, o trabalho do Ipea cita alguns já identificados pelo Serviço de Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena Empresa (Sebrae) em estudo no Amapá. São eles: falta de visão integrada da cadeia produtiva; mão-de-obra pouco qualificada; matéria-prima empregada (madeira serrada) sem os requisitos mínimos de qualidade (dimensões e unidade); tecnologia de processamento obsoleta e rudimentar; altos níveis de desperdício de madeira; desconhecimento de técnicas de gestão e administração; atuação praticamente concentrada no mercado local; e inexistência quase completa de núcleos de desenvolvimento tecnológico (produção, design próprio, etc.).

Outra causa apontada pelo Ipea para a pequena verticalização e integração das atividades do setor na região é a dispersão espacial da atividade na Amazônia, o que impõe sérios problemas de desenvolvimento, inclusive quanto à capacidade de promover articulações produtivas com outros elos da cadeia.

Com base nessas constatações, o Ipea distingue dois eixos focais determinantes no desenho de políticas para a cadeia de madeira e móveis na Amazônia. O primeiro contemplaria a integração de atividades entre as empresas, para acelerar a obtenção de diversos avanços para o setor (gerenciais, de produto, tecnológicas etc), responsáveis por uma maior agregação de valor à produção final e elevação do nível geral de competitividade entre as empresas. O outro, de caráter mais mercadológico, envolveria as atividades que poderiam ser estimuladas como conseqüência daquela maior parceria interempresarial, como a promoção conjunta dos produtos da região (ou do pólo produtor), mediante ações de marketing, tornando-os mais conhecidos em outros mercados do País e mesmo no âmbito internacional.

Extração predomina na Amazônia, mas as indústrias estão no Sul e Sudeste Dentro desse raciocínio, o estudo do Ipea lembra que, apesar de o setor de extração de madeira se destacar na economia amazônica, a indústria brasileira está localizada quase que exclusivamente no Sul e Sudeste, com 75% das empresas sediadas no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo (que concentra 40% do faturamento), Minas Gerais e Rio de Janeiro. Além disso, também a exportação de móveis é concentrada naquelas duas regiões e cerca de 50% das vendas de móveis para o estrangeiro saem de Santa Catarina.

Enfocando peculiaridades, gargalos e perspectivas, o estudo detalha os dados e números da posição do Brasil no mercado mundial de madeira, a produção do setor no país e na Amazônia (inclusive em termos de manejo, sustentabilidade e certificação), a situação do setor de madeira/móveis em cada um dos Estados amazônicos e o comércio externo. Na parte específica sobre a cadeia produtiva, aborda características e elementos dinâmicos e de diferenciação e faz análise de competitividade.

Nas considerações finais, o estudo do Ipea para o Banco da Amazônia reitera que, embora a região amazônica já tenha presença importante no mercado nacional e internacional de madeiras tropicais, ainda se encontra muito distante de um nível minimamente aceitável de desenvolvimento do setor madeireiro, indicando, como problemas a ser superados, “a predominância de métodos predatórios de exploração, a ausência quase completa de práticas de manejo florestal, a comercialização de baixo valor agregado e a utilização de tecnologias rudimentares e ineficientes”, fatores que deprimem “os níveis de renda que a exploração madeireira já poderia estar propiciando à população regional”.

Mas, apesar de tudo isso - conclui o estudo -, a Amazônia é inegavelmente competitiva na produção de madeira e a superação dos obstáculos existentes “abrirá as portas para uma enorme expansão do setor, que pode ser feita obedecendo a critérios ecologicamente corretos e economicamente, em benefício da população regional”.

Parcerias desbravam caminho para viabilizar a cadeia produtiva do setor O trabalho do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada relativo à cadeia produtiva de madeira e móveis na região, solicitado pelo Banco da Amazônia, ressalta que, nos últimos cinco anos, surgirem evidências que apontam para mudanças de ordem qualitativa, principalmente no Pará, maior produtor e transformador de produtos madeireiros amazônicos.

No bloco dessas ações, o Ipea alinha várias parcerias: entre a Universidade do Estado do Pará (Uepa), através do Curso de Graduação em Tecnologia Industrial/Área de Tecnologia da Madeira, e a Associação das Indústrias Exportadoras de Madeira (Aimex), abrangendo estágio supervisionado dos universitários em unidades industriais; entre a Embrapa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e empresários madeireiros paraenses, visando o desenvolvimento de novos clones e disseminação de sistemas agroflorestais voltados para a expansão da silvicultura regional; entre o Sebrae e os agentes da cadeia produtiva madeira/móveis em todos os estados amazônicos, inclusive para participação em feiras nacionais e internacionais; e entre organizações não-governamentais, como o Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) e órgãos oficiais, especialmente Basa e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), contemplando o desenvolvimento de estudos de mercado.

São iniciativas - conclui o Ipea - destinadas a um maior aprofundamento do conhecimento sobre as especificidades técnicas, econômicas e sociais desse importante setor produtivo regional. Além dessas ações indutoras listadas pelo Ipea, merecem destaque também as numerosas pesquisas aplicadas apoiadas financeiramente pelo Basa, em convênio com universidades e outras instituições de pesquisa em toda a região, para estudos relativos ao aproveitamento econômico sustentável dos recursos florestais amazônicos. Igualmente, merece destaque a criação, em Manaus, do Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Design Tropical, do Centro de Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica (Fucapi), cujo projeto foi custeado pelo Banco da Amazônia.

No âmbito dessas iniciativas para a sustentabilidade do setor, inclui-se também a criação, pelo banco, de um programa de crédito específico para reflorestamento e manejo florestal (o FNO-Floresta), com recursos do Fundo Constitucional de Financiamento do Norte.

Fonte: Amazônia.org.br – 23/03/2004

Fonte:

Jooble Neuvoo